Prévia do material em texto
SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 1 Crises hiperglicêmicas ❖ Crises hiperglicêmicas englobam a cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH), duas complicações agudas mais graves do diabetes melito (DM). ❖ CAD e EHH são importantes causas de morbimortalidade entre pacientes diabéticos. ❖ EHH e a CAD são entidades distintas, mas é sugestivo que cerca de 20 a 30% dos pacientes que se apresentam com EHH têm acidose metabólica resultante de uma CAD concomitante. CAD ❖ CAD deficiência de insulina é mais intensa, ocorrendo produção de corpos cetônicos e acidose metabólica. ❖ Principal causa de mortalidade em crianças, adolescentes e adultos jovens com DM1 (cerca de 50% dos óbitos). ❖ Morbidade pouco elevada. ❖ Quadro se instala de forma AGUDA. ❖ Bom prognostico. ❖ Apresentação: Glicemia elevada > 250. Acidose metabólica Cetose – cetonemia ou cetonuria significativa > ++. ❖ Cetonuria pode acontecer em estado de jejum prolongado sem cetoacidose diabética e até mesmo no EHH, por isso, para classificar em CDA é preciso de uma cetonuria evidente. Incidência e prevalência ❖ Ocorre prioritariamente no DM1, tem sido vista com frequência crescente no DM2. ❖ Comum em crianças e adolescentes. ❖ Incidência maior em mulheres (DM1 tem incidência maior em mulheres). ❖ Dados recentes mostram que, em alguns países, pelo menos 30% dos casos ocorrem em indivíduos com DM2, e é tipicamente a apresentação inicial do DM2 com tendência à cetose. Fatores Precipitantes ❖ Infecção ❖ Parada de aplicação de insulina ou obstrução do cateter da bomba de infusão de insulina; ❖ Estresse cirúrgico e emocional; ❖ Endocrinopatias de hiperfunção; ❖ Uso de fármacos hiperglicemiantes, como corticosteroides, os tiazídicos e os antipsicóticos; ❖ Uso de cocaína pelo efeito dessa droga nos hormônios hiperglicemiantes. Fisiopatologia ❖ Alterações do nível de consciência ❖ Hipovolemia Resultante da desidratação intensa por conta da diurese osmótica. ❖ Diurese Devido à grande concentração sanguínea, os rins são sobrecarregados, não conseguem filtrar toda a glicose do sangue a qual retém muita água na tentativa de diluição e o produto final é excretado. ❖ Polidpsia, polifagia Decorrente da hiperglicemia. ❖ Náusea, vômitos ❖ Hálito frutado Devido a produção de cetonas voláteis. ❖ Taquicardia Liberação de catecolaminas e mecanismos compensatórios para hipovolemia. ❖ Respiração de Kussmall Corpo tentando compensar a acidose sérica na tentativa de eliminar CO2. ❖ Desidratação intracelular e total Devido a hiperosmolaridade sanguínea consequente da hiperglicemia a água é retida no sangue na tentativa de diluição. ❖ Hipercalemia Patogênese 1. Deficiência de insulina Falta de insulina ocasiona hipoglicemia intracelular. 2. Excesso de hormônios contrarreguladores Hipoglicemia intracelular ativa hormônios contrarreguladores (glucagon, cortisol, catecolaminas). 3. Metabolismo da gordura e favorecimento do catabolismo Excesso de glucagon ativa neoglicogênese, glicólise e lipólise. A proteólise acontece para degradar os aminoácidos e transformar em glicose por gliconeogênese. Ao mesmo tempo acontece a quebra de lipídeos em ácidos graxos livres para gerar energia e glicerol para formar glicose. 4. Oxidação hepática de AGL Os AGL no fígado vão sofrer oxidação e gerar corpos cetônicos. SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 2 5. Saturação hepática de corpos cetonicos - Ácidos graxos que vão ao fígado irão formar uma grande quantidade de acetil-CoA (para gerar energia), e seu excesso é desviado para formação de corpos cetonicos (beta-OH butírico, acetoacético e acetona) - Excesso de cetonas gera acidose metabólica com ânion gap elevado. Ânion gap: cargas eletrolíticas equilibradas no corpo. Porém, alguns ânions não mensuráveis estão dentro dos corpos cetonicos, que produzidos em excesso aumentam tais anions e desequilibra as cargas. 6. Hiperglicemia Muita glicose produzida sem entrar pro meio intracelular por falta de insulina 7. Hiperosmolaridade plasmática Desidratação intracelular: pra tentar compensar a osmolaridade e dissolver a glicose. Desidratação global: excesso de glicose sobrecarrega o rim que elimina água em excesso por conta da hiperosmolaridade da glicose acarretando em: 8. Glicosuria e diurese osmótica ❖ A queda de insulina e aumento do glucagon, ativa lipase no tecido adiposo, que atua sobre os triglicerídeos, degradando-os em ácidos graxos e glicerol. ❖ Os ácidos graxos que vão ao fígado irão formar uma grande quantidade de acetil-CoA, e seu excesso é desviado para formação de 2 ácidos fortes: beta-OH butírico e o acetoacético, que por descarboxilação no pulmão e na bexiga, formam as cetonas. ❖ Ao mesmo tempo que ocorre a lipólise, ocorre a proteólise no músculo esquelético, liberando aminoácidos para formar glicose, no processo de gliconeogênese no fígado. ❖ A diminuição de insulina provoca menor captação de glicose pelos tecidos, que associada a produção hepática acentuada de glicose, causa hiperglicemia. ❖ A queda da proporção insulina-glucagon no fígado promove aumento da produção de cetonas assim como de glicose. ❖ Em resposta à deficiência aguda de insulina e ao estresse metabólico da cetose, os hormônios que antagonizam a ação da insulina (corticosteroides, catecolaminas, glucagon e GH) estão bem elevados. ❖ Têm-se aumento da produção de glicose e cetonas e diminuição de sua utilização levando ao acúmulo delas no sangue. Clínica ❖ Pode ser a manifestação inicial do DM1 em 15 a 20% dos adultos e em 30 a 40% das crianças e dos adolescentes afetados pela doença. ❖ Costuma ser considerada pouco frequente no DM2, e surge em situações de estresse intenso: infecções graves, infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC). ❖ O aparecimento da CAD é precedido por um dia ou mais de poliúria e polidipsia associadas com fadiga acentuada, náusea e vômitos. ❖ Pode seguir com confusão mental e progredir pro coma franco. ❖ À medida que se acentua a acidose metabólica, o paciente começa a hiperventilar, levando a alcalose respiratória, respiração acidótica (KUSSMAUL) e hálito cetônico. ❖ Ao exame físico, percebe-se evidencia de desidratação em um paciente comatoso com respirações rápidas e profundas, com dor abdominal. ❖ Hipotensão postural com taquicardia indica alta desidratação e depleção de sal. ❖ Descompensão do DM: quatro p’s; ❖ Dor abdominal ❖ Desidratação, taquicardia, hálito cetonicos, alteração respiratória (taquipneia). ❖ Sinais de fator precipitante (procurar infecções) ❖ Hipotensão ❖ Hipercalemia Diagnóstico Exames laboratoriais mais importantes são: ❖ Glicemia: varia de 250 a 600 mg/dl, podendo em poucos casos ser < 250. ❖ Corpos Cetônicos: podem ser dosados no sangue ou na urina e habitualmente encontramse elevado no estado de CAD. ❖ Gasometria: revela acidose metabólica (pH e HCO3 diminuídos) com alcalose respiratória (Pco2 diminuída). ❖ Eletrólitos: sódio (pode estar diminuído, norma, ou aumentado no plasma, apesar do déficit corporal total de sódio), potássio (apesar do déficit corporal total, a concentração de K no soro é usualmente normal), fósforo (ocorre déficit). A CAD sempre estará envolvida com o déficit total de Na, K, Cl, P, Ca e Mg. ❖ Ânion gap: tem como principal utilidade fazer o diagnóstico diferencial das acidoses metabólicas. ❖ Ureia e creatinina: podem estar elevadas pela desidratação e aumento do catabolismo proteico. ❖ Ácido úrico: encontra-se aumentado devido à inibição da excreção renal. ❖ Amilase e lipase: podem estar aumentadas. ❖ Hemograma: pode ocorrer uma leucocitose, sem necessariamente estar envolvida uma infecção, ou seja, pode ter a ver como estresse (aumento do cortisol e norepinefrina). ❖ Urina I: glicosúria e cetonuria. SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 3 ❖ Pesquisa de fatores precipitantes como infecção. Tratamento Os objetivos do tratamento de emergência de CAD são: ❖ Reposição volêmica ❖ Correção dos distúrbios metabólicos Antes de repor insulina sempre observar K+, para não causar hipocalemia, já que a insulina faz K+ migrar para extracelular. ❖ Correção dos distúrbios eletrolíticos ❖ Detecção de fatores precipitantes EHH ❖ Consequente do déficit relativo de insulina, podendo levar a hiperglicemia significativa, desidratação e hiperosmolaridade. ❖ Denominação “estado hiperglicêmico hiperosmolar” tem sido preferida pelos autores porque: 1. Pequenos graus de cetose podem ocorrer no EHH; 2. Coma somente ocorre em cerca de 30 a 50% dos pacientes, enquanto nos demais há graus variados do nível de consciência (sonolência, obnubilação e torpor). ❖ O estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH) é uma complicação aguda grave que geralmente ocorre em paciente com DM2, principalmente idosos. ❖ O EHH tem como característica apresentar-se com desidratação grave, ausência de cetonuria, níveis glicêmicos sempre elevados, frequentes sinais e sintomas neurológicos e alto índice de mortalidade. ❖ Apresentação: Glicemia > 600mh/dl Ph > 7,3 Osmolaridade sérica > 320mOsm/kg ❖ NÃO TEM ACIDOSE ❖ Evolução insidiosa Incidencia e prevalencia ❖ Muito raro do DM1 com nítido predomínio no DM2 (manifestação inicial em 17% dos casos). ❖ Predomínio em idosos, mas pode aparecer em qualquer idade (20% casos < 30 anos). ❖ É descrito em crianças e adolescentes com DM2 e 1. Fatores precipitantes ❖ Infecção (pneumonia e infecção urinária); ❖ Fármacos hiperglicemiantes (corticosteroides, altas doses de tiazídicos, betabloqueadores e antipsicóticos atípicos, como olanzapina, clozapina e aripiprazol). ❖ IAM, AVE e pancreatite. ❖ Nutrição parenteral. ❖ Endocrinopatias de hiperfunção (síndrome de Cushing, acromegalia e tireotoxicose). ❖ DEFICIENCIA DE LIQUIDOS. Fisiopatologia ❖ Desidratação ❖ Coma, rebaixamento do nível de consciência À medida que a osmolaridade sérica excede 320 a 330, a água é retirada dos neurônios cerebrais, resultando em obnubilação mental e coma. ❖ Polifagia, polidpsia, poliúria. ❖ Diurese osmótica grave. ❖ Vômitos Patogênese ❖ Não muito bem conhecida. ❖ Deficiência parcial ou relativa de insulina pode iniciar a síndrome pela redução da utilização de glicose pelo músculo, gordura e fígado, enquanto promove hiperglucagonemia e aumenta o débito de glicose hepática. ❖ O resultado é hiperglicemia que leva a glicosúria e diurese osmótica com perda obrigatória de água. Clínica ❖ A instalação de um estado hiperglicêmico, hiperosmolar não cetótico pode ser insidiosa, precedida por dias ou semanas de sintomas de fraqueza, poliúria e polidipsia. ❖ O exame físico revela a presença de desidratação profunda (queda da pressão arterial em ortostase e elevação do pulso, taquicardia supina, choque, membrana mucosas secas, turgor cutâneo reduzido). ❖ O paciente pode estar letárgico, confuso ou comatoso. Diagnóstico Testes laboratoriais mostram: ❖ Glicemia: variando de 800 a 1200 mg por dl. ❖ Cetonúria: ausente ou em mínima quantidade. ❖ Sódio: normal, diminuído ou aumentado, porém devido a desidratação mais intensa que na CAD, os níveis de Na+ podem estar bem mais elevados. ❖ Potássio: normal, diminuído ou raramente aumentado. ❖ Ureia e creatinina: além do aumento do catabolismo proteico, seus níveis séricos se encontram frequentemente mais elevados do que na CAD pela desidratação mais intensa. ❖ Osmolaridade plasmática: >320 mOsm/L, podendo atingir níveis muito mais elevados devido a intensa desidratação. SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 4 Tratamento ❖ Feito com reposição de fluidos, reposição de eletrólitos e insulinoterapia. Hipoglicemia As reações hipoglicêmicas são as complicações mais comuns que ocorrem em pacientes com diabetes que são tratados com insulina. A hipoglicemia pode ser causada por: ❖ Atraso na refeição, atividade física incomum sem complementação alimentar ou na dose de insulina, agentes orais que estimulem as células β pancreáticas (sulfonilureias, meglitinidas, etc.). A hipoglicemia ocorre mais comumente em casos de uso das sulfonilureias em periodo prolongado. Sinais e sintomas Podem ser divididos em: ❖ Aqueles que resultam da estimulação do sistema nervoso autônomo ❖ Aqueles que se originam de neuroglicopenia (glicose insuficiente para função normal do SNC) Glicose sanguínea < 54mg por dl: ❖ Apresentar sintomas do SNS: taquicardoa, sudorese, palpitações e tremor. ❖ Apresenta sintomas do SNP: náusea e fome. Sintomas neuroglicemicos Se esses sintomas forem ignorados e a glicemia cair ainda mais, aparecem: ❖ Irritabilidade, confusão, visão borrada, cefaleia e dificuldade de falar. ❖ Declínio ainda maior de glicemia pode causar perda de consciência e convulsão. Não percepção hipoglicêmica: ❖ Resulta de falência do sistema nervoso simpático em responder à hipoglicemia, devido a um “costume” de episódios hipoglicêmicos. ❖ Essa adaptação do SNC a episódios recorrentes de hipoglicemia deve-se a uma regulação 3 aumentada dos transportadores GLUT-1 na barreira hematocefálica e transporte aumentado de glicose para dentro do cérebro, em contradição aos níveis baixos de glicose sanguínea. Fatores precipitantes em diabéticos A hipoglicemia em diabéticos tratados com insulina ocorre devido a 3 fatores: Aspectos comportamentais: ❖ Injeção de muita insulina, consumo excessivo de álcool (principalmente com fome), durante ou após o exercício. Comprometimento dos sistemas contrarregulatórios: ❖ comprometimento da resposta do glucagon e das respostas simpático-suprarrenais. Complicações do diabetes: ❖ Neuropatia autonômica, gastroparesia e insuficiência renal.