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GESTÃO DA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA AULA 6 Prof.ª Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, temos o objetivo geral de compreender os vários aspectos organizacionais relacionados à gestão da inovação. Para tanto, você conhecerá o conceito de cultura organizacional e como a cultura de uma empresa pode impulsioná-la, ou não, a ser uma organização inovadora. Também observará como as estratégias organizacionais estão relacionadas a um projeto inovador! Perceberá que a forma como a empresa se estrutura, por meio de planejamento, afeta as decisões e ações relativas à inovação. Compreenderá como ocorre a gestão da mudança e da inovação. E, finalmente, perceberá que, apesar da necessidade de inovação, há barreiras a serem suplantadas pelas empresas; por outro lado, há também uma série de fatores facilitadores para que a organização seja inovadora. Vamos lá! TEMA 1 – CULTURA ORGANIZACIONAL A cultura de uma organização pode ser entendida como o conjunto de comportamentos de um grupo de pessoas – como a maneira certa de pensar, agir e sentir – que foram adequados ao longo da história do grupo, e que por isso vão sendo transmitidos às gerações futuras. Dessa forma, a cultura serve tanto para dar identidade a uma organização, como para moldar as pessoas que a ela se integram. Se um indivíduo não aceita a cultura de uma organização, dificilmente terá condições de se manter associado a ela. Assim, uma organização só se manterá unida por meio de sua cultura, já que a cultura de uma organização “expressa os valores ou ideais sociais e crenças que os membros da organização chegam a compartilhar, manifestados em elementos simbólicos, como mitos, rituais, histórias, lendas” (Dias, 2013, p. 75). Em relação à inovação, a cultura organizacional pode ser vista como um de seus determinantes na medida em que pode servir para reforçá-la ou inibi-la. Por isso, para que uma organização seja inovadora há a necessidade de que sua cultura sustente essa característica, uma vez que a capacidade de inovar está baseada nas habilidades e nas atitudes das pessoas que compõem essa organização. A adoção de comportamentos voltados a mudança fomenta os processos de inovação, pois uma empresa com cultura criativa transmite interesse em e cria o ambiente adequado à inovação. 3 De acordo com Schein (2009, p. 23), a cultura de uma organização se manifesta em três níveis, que “variam de manifestações abertas muito tangíveis que se pode ver e sentir às suposições básicas, inconscientes e profundamente inseridas” na organização. São eles o nível dos artefatos, o nível dos valores e o nível de pressupostos básicos: Artefatos: nível mais superficial, relacionado aos elementos visíveis e possíveis de serem observados. Valores: aquilo que os integrantes da organização acreditam intuitivamente e que, junto com os artefatos, são as manifestações da cultura. Suposições Básicas: são ideias assumidas como verdadeiras e, portanto, inquestionáveis. Este grau de consenso resulta do sucesso repetido em implementar certas crenças e valores [...]. As suposições básicas [...] tendem a não ser confrontadas ou debatidas e por isso são extremamente difíceis de mudar. (Schein, 2009, p. 24-29) Figura 1 – Modelo de cultura organizacional que suporta a inovação Fonte: Gomes et al., 2017, p .57. Pode-se observar esses níveis em relação a uma cultura inovadora na Figura 1, que traz a estrutura de uma cultura organizacional orientada para a inovação. Ela é composta pelos elementos propostos por Schein em um constructo de quatro dimensões: (1) valores básicos compartilhados em toda a organização de apoio à inovação; (2) normas de toda a organização para a inovação; (3) artefatos perceptíveis de inovação; e (4) comportamentos orientados para a inovação. Essas dimensões influenciam a quinta dimensão, o desempenho de mercado. Para Gomes et al. (2017), os valores que promovem um senso de direção comum para todos os empregados, tais como assunção de riscos para a inovação, abertura e flexibilidade, têm influência nas normas organizacionais. As 4 normas organizacionais, por sua vez, fornecem uma orientação explicita sobre o que é apropriado ou inapropriado em relação às atitudes e comportamentos das pessoas que compõem a organização. Assim, normas específicas relacionadas à inovação influenciam os comportamentos inovadores. Os comportamentos inovadores podem ser motivados, por exemplo, por normas que estejam relacionadas com o reforço da criatividade e com a implementação de projetos. As normas também contribuem na criação dos artefatos da inovação. Um exemplo clássico de um artefato voltado à questão da inovação é o layout de algumas empresas voltadas à inovação, que se apresentam mais acolhedores, que proporcionam a reunião e convívio das pessoas, de modo que tenham a possibilidade de estarem juntos na criação de seus trabalhos, ambientes mais abertos e coloridos, espaços que contemplam o lúdico, a descontração e o envolvimento entre os funcionários. (Dini et al., 2014, p. 27) Figura 2 – Ambientes físicos incentivadores de inovação Créditos: colormaker/Shutterstock. Para Gomes et al. (2017), as normas e artefatos da cultura de uma organização levam os indivíduos a trabalharem de forma cooperativa, desenvolvendo o trabalho em equipe, que auxilia no desenvolvimento de novas ideias e de novas formas de desenvolver as tarefas do trabalho. Os autores ainda afirmam que há impacto positivo no desempenho de mercado da organização quando o comportamento das pessoas que a compõem é inovador e está focado no público-alvo, no marketing e na tecnologia; ou seja, a cultura organizacional 5 forneceria a unificação dos esforços individuais para que ocorra a entrega de valor para os clientes. Gomes et al (2017, p. 70) apontam que o modelo de Schein fornece uma estrutura que viabiliza reflexões sobre a cultura organizacional, e como ela pode promover uma cultura de inovação, visto que puderam observar que “os níveis distintos da cultura organizacional podem apoiar os tipos de comportamentos inovadores, que são fundamentais para o desempenho da instituição”. Assim, pode-se entender que uma cultura com aspectos inovadores facilitará o desenvolvimento de processos e de produtos inovadores. TEMA 2 – ESTRATÉGIA COMPETITIVA A inovação está atrelada à transformação de uma ideia tecnicamente viável em um produto com aceitação comercial. Portanto, os objetivos de inovação em uma organização devem estar alinhados a suas estratégias. A palavra estratégia tem origem grega, stràtégos, que significa a “arte do general”. O conceito se relaciona ao modo como se organizavam as forças militares para vencerem uma batalha, observando pontos fortes e fracos, tanto do inimigo quanto do seu próprio exército. Atualmente, pode-se comparar a competição entre organizações com as batalhas de uma guerra. Assim, o que era um conceito militar passa a ter sentido empresarial, para que as empresas possam manter uma vantagem competitiva em relação àquelas empresas que atuam no mesmo ambiente competitivo. Como vantagem competitiva a empresa pode, segundo Porter (1986), buscar um menor custo em relação a suas concorrentes, obtendo a liderança no custo total; pode buscar uma diferenciação em relação às outras empresas de seu setor de atuação; ou pode tratar das necessidades de um nicho específico de mercado, de tal forma que se torne a única a atender a um certo nicho – essa é uma estratégia de enfoque. Deve-se observar ainda que a competição não está relacionada somente àconcorrência, pois outras forças também atuam para que uma empresa tenha ou não vantagem competitiva. Conforme Porter (1986), tais forças são encontradas nos clientes, nos fornecedores, e em outras formas de concorrência que não a direta, como por exemplo a existência de produtos substitutos e de novas empresas entrantes no mercado de atuação. 6 Figura 3 – Forças que governam a competição em um setor Fonte: Porter, 1986, p. 28. Uma estratégia revela os objetivos que uma empresa deseja e a forma de alcançá-los. Assim, se uma empresa pretende ter vantagem competitiva por meio da inovação, é necessário identificar com clareza esses objetivos e as oportunidades para inovar. Para tanto, é preciso entender o mercado de atuação da empresa e sua intensidade de inovação. Assim como há mercados mais tradicionais, cujos ciclos de inovação duram muitos anos, há mercados mais dinâmicos, cujos ciclos de inovação se modificam em poucos meses. Nesse sentido, Terra (2012, p. 19) aponta a necessidade de responder às seguintes perguntas: • Qual o impacto esperado da inovação para o crescimento do negócio? • Dado que a empresa tem uma ambição em termos de crescimento, qual percentual específico desse crescimento deverá ser resultado de novos processos, produtos ou novos negócios da empresa? • Será que apenas maior penetração nos mercados atuais ou expansão para outros mercados vai garantir os resultados empresariais necessários para o negócio? • O drive da inovação está nos processos internos ou nos modelos de negócio? • Quais os segmentos de mercado ou grupo de clientes que têm necessidades não plenamente atendidas? Como direcionar a inovação da empresa para esses segmentos? É possível observar que, para atuar com inovação, uma empresa precisa tomar uma série de decisões estratégicas, e compreender que há uma importante definição que muitas vezes passa despercebida: estratégia de 7 inovação e estratégia tecnológica não são a mesma coisa. Enquanto o “foco da estratégia de inovação tem um escopo muito mais ligado ao mercado, as necessidades dos clientes e ao posicionamento da empresa quanto à inovação”, a estratégia tecnológica “se ocupa de responder como a empresa vai conseguir os avanços tecnológicos necessários para executar a estratégia de inovação”. (Terra, 2012, p. 37-38) Quanto à estratégia tecnológica, as empresas precisam escolher entre desenvolver, comprar ou licenciar tecnologias, tendo em vista os recursos financeiros e humanos e o tempo disponível (Terra, 2012). Nesse sentido, o autor sugere alguns caminhos, desde a aquisição de pequenas empresas com grandes ativos intelectuais e tecnológicos, até aceitar a possibilidade de ser um fast follower, de modo a conseguir cópias rápidas de produtos concorrentes e, com base nessa cópia, desenvolver sua própria tecnologia. A decisão por ser um first mover leva ao risco de a organização não entender completamente as necessidades de seu cliente ou o problema do produto em potencial; corre-se o risco, além disso, de o próprio cliente não entender o apelo da nova tecnologia. Contudo, ser pioneiro em determinada tecnologia pode trazer uma marca: a organização se tornará proprietária daquela tecnologia, definindo seu mercado. Por outro lado, o fast follower pode refinar a nova tecnologia sem grandes riscos, já que ele pode observar o mercado e, com base nessa observação, aproveitar os recursos tecnológicos. No que se refere à estratégia de inovação, conforme Trías de Bes e Kotler (2011), deve-se observar: quanto de inovação a empresa deseja, como a empresa gostaria de concorrer, quais são os níveis de inovação requeridos, qual é o ritmo de aprovação dos projetos que alimentam o fluxo de inovação, e qual a disposição de recursos financeiros para alocar em inovação. Quando a organização se define pela estratégia de inovação, ela precisa entender como funciona toda a dinâmica referente às inovações, além de observar que tipo de inovação pretende utilizar. A organização precisa reconhecer a diferença entre inovações incrementais e inovações radicais, já que cada uma delas exige um gerenciamento distinto. Vale recordar que uma inovação incremental é aquela relacionada a pequenas melhorias no produto ou no processo. Já a inovação radical diz respeito a mudanças significativas no produto ou no processo, de forma a tornar obsoleta a situação anterior à inovação. Há situações em que a inovação radical 8 se torna disruptiva, modificando o status quo da empresa ou até mesmo do mercado em que atua. Segundo Trías de Bes e Kotler (2011), as organizações podem definir suas estratégias de inovação classificando projetos em três categorias, de acordo com o tipo de inovação: a incremental, que traz o menor risco e, normalmente, o menor investimento; a radical, com o maior risco; e um ponto intermediário entre as duas primeiras, denominado semirradical. Os autores comentam que, ao fazer tal classificação, as organizações podem analisar quanta inovação podem desencadear e, assim, compreender se a sua estratégia é mais agressiva ou mais conservadora. Figura 4 – Matriz de tipos de inovação Fonte: Trías de Bes; Kotler, 2011, p. 261 Após a definição da estratégia de inovação, é preciso implementá-la. A sugestão aqui é montar um portfólio dos projetos que a organização pretende colocar em prática. Como portfólio entende-se uma lista de propostas, classificada de acordo com dificuldade, potencial e risco. O portfólio demonstra a combinação de critérios estratégicos, técnicos e financeiros reunidos pela organização. Conforme Terra (2012, p. 43) a “definição e a revisão estruturada da carteira de projetos representam a tangibilidade do modelo de inovação da empresa”. Dessa forma, a gestão do portfólio auxilia a organização quanto às decisões estratégicas e ao uso otimizado dos recursos organizacionais. 9 Figura 5 – Exemplo de portfólio de projetos Fonte: Elaborado com base em Trías de Bes; Kotler, 2011, p. 268. O método gráfico de portfólio auxilia na análise da distribuição dos projetos de inovação de uma organização. O gráfico de bolha é um dos métodos mais utilizados na gestão do portfólio. Ele é composto por cores para demonstrar a complexidade de cada projeto, e pelo tamanho de cada bolha, o que representa a quantidade de recursos investidos no projeto. Ao usar ferramentas, o planejamento das estratégias de inovação se torna mais visível; portanto, fica mais simples controlar e fazer as mudanças e correções que forem necessárias ao longo do processo inovador. TEMA 3 – PLANEJAMENTO DAS ORGANIZAÇÕES A inovação, em termos de vantagem competitiva, é tão relevante para uma organização que não se deve deixá-la a cargo exclusivo de um departamento de P&D, em especial porque a inovação deixou de ser um produto de uma área da empresa para se transformar em um processo que perpassa toda a organização. Assim, é necessário planejar um modelo organizacional que seja adequado ao tipo de inovação que se pretende ter na empresa. Conforme Terra (2012), aquelas organizações com uma estrutura organizacional mais flexível são mais adequadas para alavancar inovações, pois permitem melhor aproveitamento da competência das pessoas, facilitando sua articulação nos projetos de inovação, em contraposição a empresas com estruturas mais rígidas, que são naturalmente mais lentas em seus processos de inovação. Dificuldade Baixa Alta Ba ix o Al to Ri sc o 10 Nesse sentido, organizações mais inovadoras são aquelas que permitem que as ideias circulem por toda aempresa, e até mesmo de fora para dentro, quando stakeholders externos também são convidados a participar dos processos de inovação. Estruturas que privilegiam a integração e a colaboração entre áreas e pessoas são fundamentais nesse processo. Há uma tendência das organizações de atender a essas necessidades por meio de equipes multifuncionais que trabalham com maior descentralização. Exemplos práticos desse tipo de estrutura organizacional são os squads, equipes de trabalho autônomas e autogeridas, compostas de três a dez membros, no máximo. A ideia é que o squad tenha liberdade para desenvolver todos os aspectos do produto em que esteja trabalhando no momento. Figura 6 – Exemplo de squad Crédito: Jefferson Schnaider. Em um squad, são agrupados todos os profissionais necessários para alcançar os objetivos de inovação projetados pela empresa. Dessa forma, é 11 possível ter um programador junto com uma pessoa responsável pela parte financeira e outra responsável pela produção, por exemplo. Juntos, eles cumprem as metas estipuladas para o grupo, ao mesmo tempo que têm autonomia para tomar decisões em relação à sua tarefa. Nesse tipo de estrutura organizacional mais orgânica, há o cuidado de manter margens de controle adequadas, com no máximo sete subordinados por gestor, para que ele possa conhecer com profundidade todas as atividades desenvolvidas por seus subordinados. Esse tipo de estrutura tem sido usado mais frequentemente para empresas do tipo startup. Startups podem ser entendidas como empresas que estão iniciando no mercado com forte ênfase no desenvolvimento de produtos inovadores. No entanto, Terra (2012) ressalta que, além da flexibilidade necessária ao dia a dia de uma organização inovadora, no caso de empresas mais tradicionais e de grande porte, também há a necessidade de definir uma governança própria para a inovação, de maneira a alinhar todos os processos necessários para se colocar a inovação em prática, pois mesmo que haja uma estrutura que possibilite a flexibilidade, é possível que os inovadores se sintam deslocados em relação aos processos burocráticos de uma grande empresa. A governança pode ser entendida como um sistema para a direção e o monitoramento de uma organização, auxiliando nos relacionamentos entre os sócios, o conselho de administração (caso exista), a diretoria, e outras partes interessadas que interfiram nas decisões estratégicas. Uma boa governança tem por objetivo preservar e aumentar o valor da empresa, facilitar o acesso ao capital, e contribuir para a sua longevidade. Cabe a essa governança amparar os inovadores da organização no que se refere a recursos financeiros, recursos humanos, e outros recursos necessários para que a inovação se efetive. De acordo com Terra (2012) quanto mais as organizações pensam a inovação como estratégia organizacional, mais as decisões sobre a inovação se aproximarão do CEO (Chief Executive Officer); assim, estarão mais voltadas para o mercado e menos para a tecnologia, e até podem ganhar um grande grau de autonomia em relação aos negócios da empresa. Assim, uma estrutura para inovação nesse tipo de organização deve levar em conta esses fatores. A figura a seguir mostra as diferentes estruturas de auxílio à inovação, de acordo com sua importância para a competitividade da empresa. 12 Figura 7 – Estruturas para inovação Fonte: Terra, 2012, p. 56. TEMA 4 – GESTÃO DE MUDANÇA E INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Pode-se entender a mudança como uma transformação ou, como conceituam Robbins et al. (2014, p. 475), “uma alteração de ambiente, estrutura, tecnologia ou pessoas de uma organização”. A mudança faz parte da rotina das organizações, especialmente as organizações voltadas à inovação, pesquisa e desenvolvimento, e assim deve ser gerida de forma a manter a eficácia no alcance dos objetivos organizacionais, mesmo com todas as transformações sofridas ao longo do tempo. Ou seja, além de criar inovação, esse tipo de organização deve estar atento às transformações de sua própria estrutura e gerenciá-las. O processo de gestão de mudança tem por objetivo conduzir a transição de indivíduos, grupos e organizações do estado atual para um estado futuro, seja ele desejado e planejado, seja ele emergente. Os gestores de organizações cujo objetivo é a inovação precisam compreender como as mudanças ocorrem para que possam alinhar o processo de mudança em si com os benefícios que se deseja alcançar com o processo. Na sua forma mais simples e eficaz, a gestão da mudança envolve o trabalho com grupos de partes interessadas da organização, para ajudar a entender o que essa mudança significa, fazer e manter a transição, e por fim superar quaisquer desafios. Já a gestão diz respeito aos ajustes organizacionais 13 e comportamentais que precisam ser feitos para acomodar e manter a mudança. (PMI, 2016, p. 23). As mudanças que ocorrem nas organizações têm origem nas mais diversas fontes. Elas podem ser de origem externa, provenientes de avanços tecnológicos, mudanças demográficas, pressões socioeconômicas, entre outras variáveis que se encontram fora da organização. Mas também podem ser de origem interna, tendo sua origem dentro da empresa, como resposta do gestor às necessidades do cliente, às alterações dos custos, às expectativas dos colaboradores internos, à necessidade de melhoria no desempenho, entre outras situações, afetando desde uma única área até a organização como um todo. Figura 8 – Mudança organizacional Créditos: Dino Osmic/Shutterstock. Conforme Souza (2010), é relevante compreender a origem do processo de mudança, na medida em que o gestor poderá ou não antecipar o escopo do processo. Para o autor, as mudanças internas, por serem mais previsíveis e desejadas, permitem planejamento prévio, facilitando assim a preparação do ambiente organizacional e minimizando os naturais focos de resistência que sempre surgem nesses processos. Já as mudanças externas podem ter seus sinais ignorados, esquecidos ou não percebidos. O autor ressalta que, mesmo quando os sinais são considerados, muitas vezes as organizações têm dificuldade para avaliar corretamente o seu impacto e o tempo em que a mudança ocorrerá. Entretanto, independentemente do fato de a fonte ser externa ou interna, todas as mudanças, grandes ou pequenas, envolvem a adoção de novas formas 14 de pensar, novos processos, novas políticas, novas práticas e novos comportamentos. Gerenciar todos estes aspectos de uma mudança com sucesso requer que o gestor trabalhe de forma estruturada e que reconheça o tipo de inovação sob sua responsabilidade. Rocha (2009, p. 28) destaca que existem três tipos distintos de inovação que devem ser observadas pelo gestor em seus processos de mudança: a inovação incremental, a semirradical e a radical. A autora explica que na maioria das empresas o gestor irá lidar com a inovação incremental, visto que esse tipo de inovação representa uma “maneira de extrair o máximo valor possível do modelo de negócio ou dos produtos e serviços existentes, sem fazer mudanças significativas ou grandes investimentos”. No entanto, Rocha (2009) alerta para o fato de que uma inovação incremental é facilmente absorvida pela concorrência. Logo, não traz vantagem competitiva no médio ou longo prazo. Portanto, a empresa estaria desperdiçando recursos em produtos que não são mais competitivos ou que estão em mercados esgotados. Assim, as empresas devem investir não somente em inovações incrementais, mas também em inovações semirradicais e radicais, equilibrando investimentos, jáque as inovações incrementais não trazem mudanças significativas de valor para a organização, embora sejam mais seguras e previsíveis em relação às inovações radicais. Rocha (2009) explica que uma inovação semirradical traz mudanças substanciais à organização e causa alguma ruptura no modelo de negócios ou na tecnologia, alavancando o ambiente competitivo e provocando uma inovação de dois estágios. A autora sinaliza que nem sempre as empresas estão preparadas, e por conta disso podem se ver impossibilitadas de prosseguir a mudança. Dessa maneira, esse tipo de inovação exige uma administração simultânea das mudanças no modelo de negócios e na tecnologia. Já a inovação radical é constituída por “mudanças substanciais que afetam simultaneamente o modelo de negócios e a tecnologia, transformando o cenário competitivo de um setor, na medida em que modificam as regras da competição” (Rocha, 2009, p. 29). Tais inovações provocam mudanças difíceis de implementar e gerenciar. Logo, há a necessidade de compromisso da alta direção com a disponibilização dos recursos necessários para sustentar essas 15 ideias radicais e para buscar a formação de parcerias com outras empresas que possam auxiliar nos processos de transformação. O conhecimento do tipo de mudança pela qual a empresa inovadora está passando auxilia o gestor no planejamento, no desenvolvimento e na implementação de ferramentas essenciais para o processo de mudança, de maneira a identificar os movimentos de transformação, em especial os externos, que possam maximizar os efeitos positivos e minimizar os impactos negativos da mudança na organização. TEMA 5 – INOVAÇÃO ORGANIZACIONAL – BARREIRAS E FACILITADORES A necessidade de se obter vantagem competitiva em relação aos concorrentes faz com as organizações busquem por inovações, assim se diferenciando no mercado. Dentre as inovações possíveis, existem as organizacionais; segundo a OCDE (2005, p. 65), são aquelas que se referem “a implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local e trabalho ou em suas relações externas”. Para a sua implementação, há uma série de facilitadores e de barreiras a serem considerados. No que diz respeito aos elementos facilitadores, são aqueles fatores do ambiente organizacional que influenciam de modo positivo no processo de inovação, podendo estimular a implementação de novas ideias e práticas (Avi; Trzeciak; Varvakis. 2017, p. 10). Os fatores que facilitam a inovação organizacional estão relacionados a questões de liderança, clima e estrutura organizacional, conforme podemos observar no quadro a seguir. Quadro 1 – Fatores facilitadores de inovação Cultura pró-criativa: preocupação com o crescimento humano; ênfase na performance; direitos iguais para todos; delegação de poder. Apoio da alta administração e apoio da gerência de nível médio; apoio a grupos de trabalho e colaboradores; diversidade de competências do grupo responsável pela implementação; divulgação de informações sobre inovação; estratégias para incorporar a inovação às rotinas organizacionais; participação de colaboradores provenientes do meio externo; planejamento de ações necessárias à implementação; reconhecimento do valor e da necessidade de 16 inovar; perspectiva sistêmica da inovação e de interações entre unidades organizacionais. Clima organizacional; participação; atividades desafiantes; liberdade; assistência ao grupo de trabalho; interação e colaboração; apoio à criatividade; tolerância às diferenças; ambiente físico; incentivo às novas ideias; salários e benefícios; influência de chefias e de empresa com relação ao apoio às novas ideias; disponibilidade de recursos. Recursos físicos; ligação com a estratégia; ferramentas de gestão; espírito de equipe; aprendizagem contínua. Suporte organizacional; estrutura organizacional; suporte da chefia; suporte aos grupos de trabalho; liberdade; autonomia; salários; benefícios. Estratégia de inovação; cultura da inovação; estrutura organizacional e pessoas; recursos para inovação (físicos e financeiros); métricas para a inovação; gestão do processo de inovação; gestão de projetos de inovação; gestão de equipe; gestão de portfólio de inovação; vozes indutoras de inovação (tecnologia/sociedade/organização). Ambiente físico adequado; clima favorável entre os colegas de trabalho; liberdade e autonomia; atividades desafiantes; salários e benefícios adequados; ações da chefia e da organização em incentivos e apoio a ideias novas; disponibilidade de recursos tecnológicos e materiais. Fonte: Elaborado com base em Avi; Trzeciak; Varkaris, 2017, p. 10-11. Aliado a todos esses fatores, destacamos ainda a estratégia de inovação; a comunicação; as competências para a inovação; as pessoas com espírito de equipe, interação e colaboração; e o envolvimento externo, com ênfase nas tendências de tecnologias e novos mercados que uma empresa precisa pensar para ser inovadora. Conforme Avi, Trzeciak e Varkaris (2017), os elementos facilitadores que mais se destacam entre todos os atores pesquisados são o apoio da alta administração; a liberdade e autonomia; o ambiente físico adequado; a existência de atividades desafiantes na organização; uma cultura da inovação; a disponibilidade de recursos (físicos e financeiros); uma estrutura organizacional adequada; salários e benefícios consistentes com o trabalho; e uma estratégia de inovação sólida. Para Avi, Trzeciak e Varkaris (2017), todos esses elementos contribuem para que a organização tenha condições de apoiar e aproveitar as 17 oportunidades que surgem em termos de processos inovadores, contribuindo assim para a geração de valor por meio da inovação. Já as barreiras dizem respeito a qualquer elemento que influencie de forma negativa os processos de inovação de uma organização, impedindo, atrasando ou elevando excessivamente seus custos. O quadro a seguir traz algumas barreiras à inovação num contexto organizacional. Quadro 2 – Barreiras à inovação Falta de motivação; déficit de competências; falta de comprometimento da alta administração; intolerância às falhas; ausência de treinamento; fluxo de comunicação impróprio; problemas de obstrução por parte de alguns departamentos; falta de integração interfuncional; rigidez na estrutura hierárquica; política interna; falta de tempo; crenças e valores que não apoiam novas ideias; falta de recursos financeiros e tecnológicos; aversão ao risco; priorização de ações de curto prazo; desconfiança em relação à inovação; temor do desconhecido. Descrença em relação à inovação; dificuldades de integração interorganizacional; excesso de atividades; escassez de tempo; falta de apoio da alta administração; limitações em termos de pessoas, recursos financeiros e tecnológicos; obstáculos provenientes do meio externo; priorização de atividades fim e/ou de curto prazo; receio das consequências da inovação; resistência à inovação por perda de poder; resistência à inovação por senso de acomodação. Ausência de um processo de inovação sistemático; perdas de informação sobre mercado e tecnologias; perdas de possibilidades de parcerias externas; ausência de setor comercial ou de marketing; dificuldades para captar clientes e analisar cenários; ausência de parcerias com outras empresas, universidades e institutos de pesquisa; perda de pessoal qualificado; dificuldades para manter pessoal qualificado; resistência dos empregados à mudança; falta de uma abordagem sistêmica da inovação. Estrutura organizacional; características da chefia; relações interpessoais;cultura organizacional; comunicação. Escassez de recursos; dificuldade de planejamento; grau de influência sobre decisões; pouca liberdade para expressar dúvidas. 18 Custos elevados; dificuldade para controlar o custo da inovação; risco excessivo; dificuldade de acessar recursos financeiros; problemas para manter pessoal qualificado; falta de treinamento de funcionários internos; suporte insuficiente do governo; turbulência econômica; perda de informação de mercado e tecnologia; perdas da infraestrutura regional. Fonte: Elaborado com base em Avi; Trzeciak; Varkaris, 2017, p. 11-12. Pode-se observar que as barreiras são tanto de ordem externa quanto de ordem interna. As organizações não têm grande inferência sobre os elementos externos, mas precisam se preparar para enfrentá-los. Já as barreiras de origem interna são melhor conhecidas, mas nem por isso mais facilmente gerenciáveis. Destaca-se em especial a questão da resistência às mudanças. Para Souza (2010), o principal problema da resistência é a sua capacidade de neutralizar o próprio processo de mudança, que muitas vezes é vital para a sobrevivência da organização. Portanto, identificar onde estão e quais os tipos de resistência, de forma a desenvolver estratégias para lidar com a resistência, é uma atividade fundamental para uma organização que se pretenda inovadora. Figura 9 – Resistência à mudança Créditos: eloku/Shutterstock. 19 Fomentar os elementos facilitadores e impedir o surgimento ou o agravamento das barreiras auxiliar a criar um clima organizacional adequado, capaz de produzir estímulos à inovação de modo eficaz, com impacto na competitividade organizacional. FINALIZANDO Nesta aula, você teve a oportunidade de entender uma série de elementos de gestão organizacional que impactam nos processos de inovação das empresas. Para tanto, você estudou o que é cultura organizacional e como ela influencia no comportamento inovador de uma empresa. Além disso, pode concluir que as estratégias de uma empresa que se pretende inovadora devem estar atreladas a seus projetos de inovação. Na sequência, acompanhamos juntos as diferentes estruturas organizações que precisam ser planejadas para os diferentes tipos de empresa inovadora. Apontamos que a gestão da mudança auxilia a manter os processos de inovação eficazes. Finalmente, pudemos compreender os fatores que nos auxiliam, e entender que também há fatores que dificultam os processos de inovação de uma empresa! 20 REFERÊNCIAS AVI, E. N.; TRZECIAK, D. S.; VARVAKIS, G. Barreiras e facilitadores à inovação: abordagem individual e organizacional. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE CONHECIMENTO E INOVAÇÃO, 7., 2017. Anais... Disponível em: <proceeding.ciki.ufsc.br/index.php/ciki/article/download/259/114/>. Acesso em: 8 fev. 2019. DIAS, R. 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Para tanto, você estudou o que é cultura organizacional e como ela influencia no comportamento inova... REFERÊNCIAS
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