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M02_Farmacologia_analgésicos_anti-inflamatórios

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AN02FREV001/REV 4.0 
 30 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
FARMACOLOGIA DOS 
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
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CURSO DE 
FARMACOLOGIA DOS 
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
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MÓDULO II 
 
 
3 ANALGÉSICOS NARCÓTICOS OU ANALGÉSICOS OPIOIDES 
 
 
O ópio, substância original desse grupo farmacológico, é extraído da 
papoula, nome popular do Papaver somniferum, uma das muitas espécies da família 
das Papaveráceas, que se caracteriza por apresentar folhas solitárias e frutos 
capsulados. O Papaver somniferum provavelmente evoluiu de uma espécie silvestre 
nativa da Ásia Menor, ou de uma espécie denominada Papaver setegirum, que 
crescia nas terras em torno do Mediterrâneo. Das várias espécies de papoula 
conhecidas, somente o Papaver somniferum e o Papaver bracteatum produzem ópio 
em quantidade significativa. Contudo, esta última é destituída de expressão 
comercial. O conhecimento do ópio remonta talvez à pré-história ou, pelo menos, 
aos períodos históricos muito distantes. 
Os opioides são agonistas dos receptores opioides. Estes existem em 
neurônios de algumas zonas do cérebro, espinhal medula e nos sistemas neuronais 
do intestino. 
 
FIGURA 9 - PAPAVER SOMNIFERUM 
 
FONTE: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Papaver_somniferum_flowers.jpg>. 
Acesso em: 06 jun. 2013. 
 
 
 
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3.1 RECEPTORES OPIOIDES 
 
 
Os receptores opioides são importantes na regulação normal da sensação 
da dor. A sua modulação é feita pelos opioides endógenos (fisiológicos), como as 
endorfinas e as encefalinas, que são neurotransmissores. 
Existem três tipos de receptores opioides: mu (), delta () e kappa (). Os 
receptores mu são os mais significativos na ação analgésica, mas os do subtipo 
delta e kappa partilham de algumas funções. Cada tipo de receptor é ligeiramente 
diferente do outro, e apesar de alguns opioides ativarem todos de forma 
indiscriminada, os que já foram desenvolvidos ativam apenas um subtipo. 
Os opioides endógenos são peptídeos (pequenas proteínas). Os fármacos 
opioides usados em terapia apesar de não serem proteínas têm conformações 
semelhantes em solução às dos opioides endógenos, ativando os receptores em 
substituição destes. 
 
TABELA 2 - EFEITOS FUNCIONAIS DOS PRINCIPAIS RECEPTORES OPIOIDES 
 
FONTE: Adaptado de Rang & Dale, 2004. 
 
 
 
 
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3.2 EFEITOS FARMACOLÓGICOS DOS OPIOIDES 
 
Os efeitos farmacológicos dos opioides podem ser úteis ou adversos, 
conforme a dose e situação. Cada fármaco pode produzir efeitos de intensidade 
diferente conforme a sua especificidade para uns ou outros receptores, e outras 
características. 
 
 
3.2.1 Sistema Nervoso Central 
 
 
 Analgesia: os opioides reduzem a dor em ambos os seus componentes, 
o sensitivo e o emocional. São eficazes na dor aguda e na dor crônica. 
 Euforia e disforia: são necessárias maiores doses do que para causar 
analgesia. Em pacientes com dores crônicas não ocorre em geral este 
efeito. Consiste num sentimento de flutuar agradável e de bem-estar. A 
euforia pode degenerar ou ser substituída por disforia, um estado de 
ansiedade desagradável e mal-estar. 
 Depressão respiratória: os opioides diminuem a atividade do centro 
neuronal que controla o ritmo e intensidade da respiração. Em altas 
doses, a respiração pode cessar por completo (mais comum causa de 
morte na overdose). 
 Sedação: produzem estados de sonolência e confusão mental sem 
amnésia. 
 Miose: consiste na contração da pupila do olho. Ao contrário de muitos 
outros fármacos sedativos que produzem midríase (dilatação da pupila), 
os opioides levam à miose, um importante sinal na identificação de 
overdoses de opioides. 
 
 
 
 
 
 
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FIGURA 10 - DILATAÇÃO DA PUPILA 
 
Fonte: Disponível em: <http://mini-manual-tas.blogspot.com.br/2008/11/observao-pupilar.html>. 
Acesso em: 06 jun. 2013. 
 
 
 Supressão da tosse: pequenas doses de opioides, ou formas fracas 
chegam para produzir este efeito supressor, que é decorrente da 
depressão do centro neuronal da tosse no cérebro. 
 Náuseas: podem produzir náuseas e vômitos se ativarem os centros 
quimiorreceptores do cérebro. 
 Trato gastrointestinal: também existem receptores opioides em alguns 
neurônios dos sistemas nervosos autônomos do intestino (plexo de 
Auerbach e plexo de Meissner). 
 Obstipação: os opioides provocam a diminuição da motilidade intestinal, 
que leva a maior absorção de água e fezes duras. 
 Constrição biliar: provocam espasmos nas vias biliares. 
 Outros: podem provocar hipotensão, prurido, imunossupressão, 
broncoconstrição. 
 
 
 
 
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3.3 USOS CLÍNICOS DOS OPIOIDES 
 
 
 Dores crônicas: os opioides são a primeira escolha no tratamento da dor 
crônica pós-operativa, no cancro e outras situações. É frequente ser dado 
ao paciente o controle de uma bomba, ativada por um botão, que injeta 
opioide de acordo com o seu desejo. Existe geralmente um mecanismo 
que previne a injeção de doses elevadas (que podem provocar danos 
graves), mas na grande maioria dos casos o controle pelo doente reduz a 
ansiedade e as doses acabam até por serem mais baixas. Nos doentes 
com dores não existe efeito eufórico, mas há efeito sedativo, portanto o 
paciente limita-se a carregar no botão quando sente dores, mas de forma 
a evitar o efeito de sonolência. O mais usado é a morfina. 
 Dores agudas intensas: em trauma, dor de cabeça (cefaleia), ou no 
parto. Não se devem usar nas cólicas biliares (litíase biliar ou pedra na 
vesícula) porque provocam espasmos que podem aumentar ainda mais a 
dor. Se a dor é de origem inflamatória são preferíveis os anti-inflamatórios 
não esteroides, ou opioides fracos como o tramadol, que também são 
analgésicos eficazes nessas situações. 
 Anestesia: em razão de suas propriedades sedativas, são por vezes 
usados na preparação antes da inalação de anestésicos gasosos mais 
potentes. 
 Supressão da tosse: alguns opioides fracos, como a codeína, são por 
vezes incluídos em preparações antitussigenas. Há risco de acumulação 
das secreções com infecção. Dispneia aguda, principalmente de causa 
cardíaca: os opioides, particularmente a morfina, são eficazes contra esta 
condição de emergência. Julga-se que o efeito é em razão da ansiedade 
com regularização da respiração e menor esforço cardíaco. 
 Diarreia: como produzem redução da motilidade intestinal são eficazes 
contra a diarreia. Não devem ser usados na diarreia em virtude de 
infecções. 
 
 
 
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3.4 USO DOS OPIOIDES ENQUANTO DROGA DE ABUSO 
 
 
Os opioides apresentam duas características que os tornam drogas de 
abuso particularmente perigosas: produzem euforia e bem-estar, mas a sua ação 
necessita de doses cada vez maiores para se manter no mesmo nível - fenômeno 
de tolerância. 
O opioide de abuso mais utilizado hoje é a heroína, um derivado da morfina 
com praticamente os mesmos efeitos, mas com maior solubilidade aquosa (o que 
facilita o seu consumo). É consumida pela injeção intravenosa com agulha. Esta 
forma de consumo leva a uma rápida subida das concentrações sanguíneas, e 
resulta numa ação inicial muito mais forte de satisfaçãointensa, seguida de um 
plateau de ação mais moderada e cada vez mais fraca. 
A tolerância dos opioides leva o consumidor recreativo a consumir doses 
cada vez maiores. Estas provocam alterações bioquímicas temporárias ou 
permanentes no cérebro. Julga-se que a produção ou sensibilidade às endorfinas e 
encefalinas, opioides naturais no ser humano, é reduzida, e o indivíduo passa a 
necessitar de doses de opioides exógenos cada vez maiores apenas para se sentir 
normal. Quase todos os efeitos do opioide manifestam tolerância, logo um 
consumidor de altas doses injeta quantidades de heroína que seriam mortais para 
um não consumidor em razão da paragem respiratória. O consumo de heroína leva 
à dependência física e psicológica. 
A dependência física é um desenvolvimento inevitável e universal no 
consumidor de heroína. É fisiologicamente impossível de evitar com o consumo 
regular. A cessação do consumo leva à síndrome de abstinência: caracterizada por 
tremores; ereção dos pelos ("pele de galinha"); suores abundantes; respiração 
rápida; temperatura elevada; ansiedade; hostilidade; vômitos e diarreia. Um sinal 
importante é a midríase (dilatação da pupila do olho). Esses sinais só desaparecem 
com a administração de um opioide, geralmente de forma instantânea. É apenas 
possível para o consumidor crônico parar de consumir opioides evitando a 
dependência física se houver consumo cada vez de doses apenas um pouco 
menores do fármaco, sem nunca aumentar a quantidade. 
 
 
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A dependência psicológica é subjetiva e resultado da memória do prazer 
sentido em administrações passadas. Caracteriza-se por um desejo forte, por vezes 
violento, de consumir a droga. 
 
FIGURA 11 - CLASSIFICAÇÃO DOS OPIOIDES 
 
FONTE: Adaptado de Rang & Dale, 2004. 
 
 
 Morfina: o mais usado dos opioides, particularmente na dor crônica. 
 Codeína, dextrometorfano: opioides fracos usados como supressores da 
tosse, ou em dores moderadas. 
 Metadona: usada no tratamento de toxicodependentes, porque a 
síndrome da privação é mais branda. 
 Petidina: usada na dor aguda. 
 Buprenorfina: agonista parcial, maior meia-vida que a morfina. 
 Fentanil: alta potência. 
 Tramadol: não é opioide primariamente, mas sim facilitador da 
transmissão por serotonina. É agonista opioide mu fraco, usado em dores 
agudas e crônicas moderadas. 
 
 
 
 
 
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3.5 ANTAGONISTAS OPIOIDES 
 
 
São fármacos que têm efeitos de bloquear os receptores opioides, 
impedindo opioides endógenos ou administrados de atuar. 
A naloxona é usada em casos de overdose para evitar depressão 
respiratória fatal. Usada também para verificar dependência de opioides. 
 
FIGURA 12 - ANTAGONISTA OPIOIDE 
 
FONTE: Disponível em: 
http://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0910/naloxona/naloxona_ficheiros/page0007.htm. 
Acesso em: 06 jun. 2013. 
 
 
3.6 EFEITOS ADVERSOS 
 
 
A) Prurido 
 
É o efeito colateral mais comum. Ocorre em aproximadamente 60% quando 
da administração peridural ou intratecal por migração cefálica no líquido 
cefalorraquidiano (LCR) e interação nos receptores opioides do núcleo trigeminal, 
podendo ou não ser dose-dependente. Embora de causa incerta, parece não estar 
 
 
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relacionado com a liberação periférica de histamina, mas com a ativação central de 
um itch-center (centro do prurido) na medula ou de receptores no núcleo trigeminal 
ou raízes nervosas em virtude da migração cefálica do opioide. 
O uso de fentanil associado ou não a um anestésico local parece estar 
associado a uma menor incidência de prurido quando comparado à morfina. Em 
obstetrícia há maior incidência por interação com estrógeno. Os pruridos ocorrem 
principalmente na face, pescoço e tórax superior, com início em algumas horas pós-
injeção. Uma variedade de agentes tem sido utilizada para prevenir e tratar o 
prurido. O tratamento pode ser feito com naloxona, um antagonista efetivo, 
nalbufina, droperidol. O uso de anti-histamínico pode ser efetivo por efeito sedativo. 
Relativamente fácil de ser tratado, não é considerado importante em relação ao 
benefício alcançado com o uso do opioide. 
 
B) Retenção urinária 
 
De incidência muito variável, pode estar por volta de 70 a 80%, é mais 
observada em homens jovens. Sua ocorrência não é dose-dependente ou 
relacionada com a absorção sistêmica. O mecanismo envolve receptores opioides 
na medula espinhal sacral, com inibição do sistema nervoso parassimpático (SNP) e 
relaxamento do músculo detrusor, consequentemente aumentando a capacidade da 
bexiga. 
A retenção urinária associada à morfina tem início em 15 minutos e pode 
durar até 16 horas, sendo reversível com naloxona; deve-se ressaltar o risco de 
reversão do efeito analgésico do opioide. 
 
C) Depressão respiratória 
 
O uso de doses apropriadas de opioides no neuroeixo não está relacionado 
com altas incidências de depressão respiratória quando comparado ao uso de 
opioides sistêmicos dose-dependente e gira em torno de 0,1-0,9%; a incidência de 
infusão peridural contínua parece não ser maior que o seu uso sistêmico. 
Sobre uso contínuo peridural de opioide hidrofílico, principalmente em UTI 
em pacientes monitorizados, amplos estudos têm demonstrado relativa segurança. 
 
 
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O mais temido dos efeitos colaterais pode ocorrer em minutos ou horas. É 
classificado em depressão precoce, que ocorre até duas horas pós-injeção, 
geralmente por fentanil/sufentanil, em razão da absorção sistêmica; e em depressão 
tardia, observada depois de duas horas pós-injeção, por migração cefálica no LCR e 
interação nos receptores opioides da medula ventral. 
Classicamente, com morfina ocorre depressão em seis a 12 horas pós-
injeção, até 24 horas pós. O uso concomitante de sedação com opioide EV e tosse 
durante a injeção aumentam o risco. Já em obstetrícia, o risco é menor graças ao 
aumento da ventilação por ação da progesterona. 
O risco é maior nas disfunções respiratórias, na insuficiência renal, se forem 
associados aos benzodiazepínicos, aumento da dose, idade avançada, uso 
concomitante de opioides sistêmicos, cirurgias prolongadas, presença de 
comorbidades e cirurgia torácica. 
O sinal clínico mais confiável desta complicação é a diminuição do nível de 
consciência, pois o paciente pode manter frequência respiratória normal com 
diminuição de PO2 e aumento de PCO2. O tratamento indicado consiste em oferta de 
oxigênio. O uso de naloxona profilática é controverso, uma vez que ainda não há 
subsídios que provem sua ação protetora. O tratamento é efetivo com dose de 0,1-
0,4 mg endovenoso. Contudo, a duração clínica de ação é relativamente pequena 
quando comparada com a duração do efeito na depressão respiratória e a 
necessidade de uma infusão contínua de 0,5-5 ug/kg/h pode ser necessária. 
 
D) Náuseas e vômitos 
 
Ocorre em aproximadamente 20-50% dos pacientes com administração de 
dose única de opioide e pode chegar a 45-80% em pacientes recebendo infusão 
contínua de opioide. Dados clínicos e experimentais sugerem que a incidência de 
náuseas e vômitos é dose-dependente. Uso de fentanil associado a anestésicos 
locais em infusão peridural contínua está relacionado com menor incidência de 
náuseas e vômitos quando comparado ao uso da morfina. Uma série de agentes 
tem sido utilizada com sucesso para tratar as náuseas e vômitos induzidos pelo uso 
de opioides no neuroeixo e incluem naloxona, droperidol, metoclopramida, 
dexametasona, escopolamina e ondansetrona. 
 
 
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E) Sedação 
 
É dose-dependente, ocorre mais comumente com sufentanil. Associados à 
sedação descrevem-se ainda casos de psicose paranoide, catatonia, alucinações; 
reversíveis com naloxona. 
 
F) Outras ações no SNC 
 
É raro observarmos rigidez muscular por opioide neuraxial, porém podem 
ser vistas mioclonias maisfrequentemente. Doses clínicas, mesmo altas, não levam 
à convulsão. A excitação do SNC ocorre pela migração do opioide via LCR para 
receptores não opioides em tronco cerebral/gânglio da base, com inibição da glicina 
ou GABA. 
 
G) Reatividade viral 
 
Há ligação entre pacientes obstétricos com uso de morfina peridural e 
herpes simples labial com reativação 2-5 dias após a anestesia peridural. A 
manifestação ocorre em mesmo local da infecção primária, principalmente em áreas 
da face inervadas pelo nervo trigêmeo. O mecanismo envolve a migração cefálica do 
opioide em LCR com interação com nervo trigêmeo. 
 
H) Outros efeitos colaterais 
 
A absorção sistêmica dos opioides administrados no neuroeixo pode estar 
associada à diminuição do esvaziamento gástrico e da temperatura (por inibir 
tremor), miose, nistagmo e vertigem, efeitos estes reversíveis com uso de naloxona. 
Foi associada também oligúria/retenção de líquidos, levando ao edema 
periférico, em razão da liberação do hormônio antidiurético (ADH) por migração 
cefálica dos opioides no LCR. Morfina no espaço peridural foi associada à 
ocorrência de ereção sustentada e dificuldade ejaculatória. 
 
 
 
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FIGURA 13 - EFEITOS ADVERSOS DOS ANALGÉSICOS OPIOIDES 
 
 
 
FONTE: Yagiela; Neidle; Dowd, 2000. 
 
 
 
 
 
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3.7 CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS DERIVADOS OPIOIDES 
 
 
3.7.1 Cloridrato de tramadol 
 
 
O tramadol é um analgésico opioide de ação central. É um agonista puro 
não seletivo dos receptores opioides (mu, delta e kappa) com uma afinidade maior 
pelo receptor µ (mu). Outros mecanismos que contribuem para o efeito analgésico 
de tramadol são a inibição da recaptação neuronal de noradrenalina e o aumento da 
liberação de serotonina. 
O tramadol tem um efeito antitussígeno. Em contraste com a morfina, de 
uma maneira geral, doses analgésicas de tramadol não apresentam efeito depressor 
sobre sistema respiratório. A motilidade gastrointestinal também não é afetada. Os 
efeitos no sistema cardiovascular tendem a ser leves. Foi relatado que a potência de 
tramadol é 1/10 a 1/6 da potência da morfina. 
 
 
3.7.1.1 Propriedades farmacocinéticas 
 
 
Mais de 90% de tramadol é absorvido após administração oral. A 
biodisponibilidade absoluta é em média 70%, independente da ingestão 
concomitante com alimentos. Após administração intramuscular em humanos, 
tramadol é rápida e completamente absorvido: o pico médio de concentração sérica 
(Cmáx) é atingido após 45 minutos, e a biodisponibilidade é de quase 100%. 
O tramadol atravessa as barreiras, placentária e hematoencefálica. 
Pequenas quantidades de tramadol e do derivado O-desmetil são encontradas no 
leite materno (0,1 e 0,02, da dose aplicada respectivamente). A meia-vida de 
eliminação (t1/2) é de aproximadamente seis horas, independentemente da via de 
administração. Em pacientes acima de 75 anos de idade, a meia-vida de eliminação 
pode ser prolongada por um fator de aproximadamente 1,4. 
 
 
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3.7.1.2 Contraindicações do tramadol 
 
 
O tramadol (cloridrato de tramadol) é contraindicado em pacientes que 
apresentam hipersensibilidade a tramadol ou a qualquer componente da fórmula; 
nas intoxicações agudas por álcool, hipnóticos, analgésicos, opioides e outros 
psicotrópicos; em pacientes em tratamento com inibidores da MAO, ou pacientes 
que foram tratados com esses fármacos nos últimos 14 dias. Não deve ser utilizado 
em epilepsia não controlada adequadamente com tratamento. 
 
 
3.7.1.3 Posologia e administração 
 
 
Para se obter efeito ótimo, a posologia deve ser individualizada, ajustada à 
intensidade da dor e sensibilidade individual do paciente. O esquema posológico 
recomendado serve como regra geral. Deve ser selecionada a menor dose 
analgésica eficaz. O tratamento da dor crônica exige um esquema fixo de dosagem. 
As doses usuais diárias recomendadas a seguir preenchem as necessidades da 
maioria dos pacientes, embora existam casos que necessitem de doses mais 
elevadas. 
 
 
3.7.1.4 Posologia em adultos e jovens com mais de 16 anos 
 
 
 Cápsulas de 50 mg; 
 Solução oral 100 mg/mL: cerca de 20 gotas (50 mg); 
 Solução injetável (50 mg/mL): por via intravenosa o conteúdo de uma 
ampola por injeção lenta (1 mL, ou seja, 50 mg de cloridrato de tramadol, 
por minuto) ou em solução por gotejamento; por via intramuscular o 
conteúdo de uma ampola; 
 
 
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 Formulação Retard comprimidos revestidos 100 mg: 1 comprimido de 
liberação lenta (100 mg), duas vezes ao dia, de preferência pela manhã e 
à noite. Tramadol pode ser administrado com ou sem alimentos. 
 
O tramadol em cápsulas e comprimidos revestidos não deve ser mastigado 
ou partido. Eles devem ser engolidos inteiros com quantidades adequadas de 
líquidos. 
Se após administração de dose única de 50 mg de tramadol (equivalente a 
uma cápsula, 20 gotas de solução oral ou uma ampola de 50 mg) o alívio da dor não 
for alcançado dentro de 30-60 minutos, uma segunda dose única de 50 mg pode ser 
administrada. 
Em caso de dor grave, se a necessidade for maior, uma dose maior (100 mg 
de tramadol) pode ser considerada para dose inicial, a critério médico. 
Dependendo da intensidade da dor, o efeito dura de quatro a oito horas. 
Normalmente, não se deve exceder doses de 400 mg/dia (correspondente a oito 
cápsulas de 50 mg, 20 gotas x oito vezes, oito ampolas de 50 mg, quatro ampolas 
de 100 mg ou quatro comprimidos de Tramal® Retard 100 mg). 
Entretanto, no tratamento da dor grave proveniente de tumor e na dor pós-
operatória grave, podem ser necessárias doses mais elevadas, sempre a critério 
médico. 
Para o tratamento da dor aguda pós-operatória, doses ainda maiores podem 
ser necessárias para a analgesia pretendida no período imediatamente pós-
operatório. Geralmente, as necessidades após 24 horas não são maiores que a 
administração normal. 
 
 
3.7.1.5 Uso em pacientes com insuficiência renal e/ou hepática 
 
 
Na dor aguda, o tramadol (solução oral, solução injetável e cápsulas) é 
administrado apenas uma vez, ou em pequeno número de vezes. Portanto, não é 
necessário ajuste de dose. O tramadol não deve ser administrado aos pacientes 
 
 
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com insuficiência renal ou hepática grave. Em casos menos graves, deve-se 
considerar o prolongamento dos intervalos entre as doses. 
 
 
3.7.1.6 Uso em idosos 
 
 
Na dor aguda, o tramadol é administrado apenas uma vez ou em pequeno 
número de vezes. Portanto, não é necessário ajuste de dose. Na dor crônica, 
normalmente não é necessário um ajuste da dosagem em pacientes idosos (até 75 
anos) sem manifestação clínica hepática ou insuficiência renal. Em pacientes idosos 
(acima de 75 anos) a eliminação pode ser prolongada. Portanto, se necessário, o 
intervalo da dose deve ser aumentado de acordo com as necessidades do paciente. 
 
 
3.7.2 Codeína e associações 
 
 
A codeína é frequentemente associada a outros analgésicos não opioides, 
como o paracetamol (Tylex) ou a AINES, como o diclofenaco (Codaten). 
 
 
3.7.2.1 TYLEX®: composição 
 
 
Os comprimidos de 7,5 mg e 30 mg contêm: paracetamol 500 mg; fosfato de 
codeína 7,5 mg e 30 mg respectivamente. 
 
 
 
 
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3.7.2.2 Posologia e administração 
 
 
A dose deve ser ajustada de acordo com a intensidade da dor e a resposta 
do paciente. De modo geral, de acordo com o processo doloroso, recomenda-se: 
Tylex 7,5 mg: um comprimido a cada quatro horas. Tylex 30 mg: um comprimido a 
cada quatro horas. Nas dores de grau mais intenso (como por exemplo, as 
decorrentes de determinados pós-operatórios, traumatismos graves, neoplasias) 
recomendam-se dois comprimidos a cada quatro horas. 
 
 
3.7.2.3 Efeitos da superdosagem de codeína 
 
 
3.7.2.3.1 Intoxicação letal 
 
 
A intoxicaçãopor codeína ocorre quando se administra juntamente com 
outros princípios ativos analgésicos, anti-histamínicos, sedativos, estimulantes ou 
como componente em preparações antitússicas. Por isso, os sintomas são, em 
alguns casos, de difícil identificação. 
Os sintomas iniciais da overdose são frio, pele molhada, o rash cutâneo, 
confusão mental, hipotensão, bradicardia, fraqueza e miose. Depois, surgem 
sintomas como perda de consciência (podendo chegar ao coma), pupilas em forma 
de cabeça de alfinete, respiração fraca e lenta, cianose, pulso fraco, hipotensão 
grave, espasmos gastrointestinais e biliares. Mais raramente pode causar edema 
pulmonar, espasmos, contrações musculares e convulsões (principalmente em 
crianças). O principal e mais perigoso efeito é a depressão respiratória. 
A morte por falência respiratória pode ocorrer passadas duas a quatro horas 
após a ingestão oral de codeína. 
 
 
 
 
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3.7.2.3.2 Intoxicação crônica 
 
 
A codeína não é muito usada como substância abusiva, contudo causa 
alguma dependência. Quando em caso de intoxicação crônica, os sintomas clínicos 
nem sempre são evidentes. Quando existem, são principalmente pupilas em forma 
de cabeça de alfinete e alterações rápidas de humor. 
Os sintomas de abstinência são: câimbras, alterações gastrointestinais 
(vômitos, diarreia ou constipação), suores, febre, calafrios, aumento da respiração, 
insônia, tremores, midríase, lacrimejamento e mialgia. 
 
 
3.7.2.4 Condutas na sobredosagem de codeína 
 
 
Em caso de sobredosagem, é necessário proceder a ventilação artificial; a 
administração, por via intravenosa, de fluidos e vasopressores; a monitorização 
contínua dos gases sanguíneos, do pH, da respiração, da pressão sanguínea e da 
consciência. O paciente deve ser mantido aquecido. Caso o paciente esteja 
completamente consciente, pode considerar-se a lavagem gástrica, isto se ainda 
não tiverem passado mais de duas horas. Também se pode administrar carvão 
ativado para reduzir a absorção da codeína. A diálise não é indicada. 
Como antídoto existe o naloxona, um antagonista opioide competitivo. É 
administrado por via intravenosa, em doses sucessivas desde 0,4 até 2 mg, até que 
seja obtida uma resposta. 
 
 
 
 
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3.7.2.5 Precauções para o uso de codeína 
 
 
 Nos casos de trauma craniano ou outras lesões intracranianas, ou quando 
há um aumento prévio da pressão intracraniana, os efeitos da depressão respiratória 
característicos dos narcóticos podem ser intensificados. Os analgésicos do tipo 
narcótico podem provocar efeitos colaterais que chegam a mascarar o quadro clínico 
decorrente de traumas cranianos. A administração deste produto assim como de 
outros analgésicos narcóticos pode mascarar o diagnóstico ou a evolução clínica de 
pacientes com quadros de abdômen agudo. 
 Tylex deve ser administrado com cautela em pacientes idosos ou 
debilitados, e em pacientes portadores de insuficiência hepática ou renal, doença de 
Addison ou hipertrofia prostática. 
 Uso na gravidez e lactação: o emprego de Tylex® não é recomendado 
durante a gravidez e lactação, uma vez que a segurança de seu uso por mulheres 
grávidas e lactantes ainda não foi estabelecida. 
 
 
3.7.2.6 Interações medicamentosas 
 
 
O emprego concomitante de Tylex® com outros depressores do sistema 
nervoso central (por exemplo: outros analgésicos narcóticos, tranquilizantes, 
sedativos, hipnóticos e álcool) poderá provocar um efeito depressivo potencializado 
ou aditivo. Nestes casos, a dose de uma ou ambas as drogas deverá ser reduzida. 
O uso de antidepressivos inibidores da MAO ou antidepressivos tricíclicos com 
preparações de codeína pode provocar aumento do efeito antidepressivo ou da 
codeína. 
Anticolinérgicos e codeína, quando usados concomitantemente, podem 
produzir íleo paralítico. Uso pediátrico: a segurança e a eficácia da administração de 
Tylex® em crianças abaixo de três anos de idade ainda não foi estabelecida, 
portanto, seu uso não é recomendado. 
 
 
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3.7.2.7 Reações adversas 
 
 
Os efeitos colaterais mais frequentemente observados incluem tontura, 
sedação, náusea e vômito. 
Também pode ocorrer em raros casos: euforia, disforia, constipação e 
prurido. Alguns desses efeitos colaterais podem ser aliviados se o paciente 
permanecer deitado. 
 
 
3.7.2.8 Indicações 
 
 
 Tylex® 7,5 mg é indicado para o alívio de dores de intensidade leve, 
como as que acompanham os estados gripais e pequenos ferimentos ou 
contusões. 
 Tylex® 30 mg é indicado para alívio de dores de grau moderado a 
intenso, como as decorrentes de traumatismos (entorses, luxações, 
contusões, distensões, fraturas), pós-operatório, pós-extração dentária, 
neuralgia, lombalgia, dores de origem articular e condições similares. 
 
 
 
 
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4 TRATAMENTO DE DOR OROFACIAL 
 
 
Como pode ser o tratamento da dor dentária aguda? 
 
As medicações mais utilizadas para o tratamento da dor dentária aguda são os 
anestésicos locais, os AINEs convencionais, os coxibs e os opioides. Os anestésicos 
locais são comumente utilizados para propiciar controle da dor durante procedimentos 
odontológicos. Os anestésicos locais de longa duração de ação, tais como a etidocaína e 
a bupivacaína, podem também ser utilizados para retardar o início da dor após cirurgia. 
Os analgésicos opioides diferem dos analgésicos não opioides, tais como a 
aspirina, os AINEs convencionais e os coxibs, em muitos aspectos. Os analgésicos 
opioides, em alguns casos, propiciam um grau mais alto de alívio da dor quando ela é 
mais intensa; os opioides, entretanto, ao contrário dos AINEs convencionais e dos coxibs, 
não possuem propriedades redutoras da febre (antipiréticas). Os opioides podem também 
produzir tolerância e/ou dependência física e também não possuem propriedades anti-
inflamatórias, em adição as suas propriedades analgésicas, o que é uma vantagem dos 
AINEs convencionais e dos coxibs. 
Os AINEs são mais eficazes no tratamento da dor após procedimento quando 
administrados imediatamente antes ou imediatamente após a realização deste 
procedimento; isso previne a síntese de prostaglandinas associada ao trauma tecidual. O 
uso tardio de AINEs propicia analgesia e inibe a subsequente formação de 
prostaglandinas, mas não influencia os efeitos das prostaglandinas que já se formaram. 
Além disso, uma vez que os AINEs convencionais inibem as plaquetas por meio da 
inibição da COX-1 (a única forma de COX contida nas plaquetas), há muito tempo existem 
preocupações sobre o seu potencial de causar sangramento excessivo durante a cirurgia. 
Os coxibs não afetam a função plaquetária e, portanto, constituem uma opção razoável 
para a analgesia perioperatória. 
É importante observar que as respostas dos pacientes aos AINEs específicos 
variam. A ausência de resposta a um determinado AINE não impede o uso bem-sucedido 
de outro. 
A dor dentária leve a moderada pode ser tratada com os AINEs convencionais 
(incluindo a aspirina), os coxibs ou o paracetamol. Os AINEs convencionais administrados 
isoladamente podem proporcionar alívio adequado da dor cuja intensidade seja de leve a 
 
 
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moderada, como aquela associada aos procedimentos odontológicos. A dor que não 
responde aos AINEs convencionais ou aos coxibs isoladamente deve ser tratada com uma 
combinação de um AINE convencional, coxib ou acetaminofeno (paracetamol) com um 
analgésico opioide, tal como a codeína. Mesmo quando são insuficientes isoladamente 
para controlar a dor, os AINEs convencionais e os coxibs podem reduzir a dose de opioide 
necessária para alcançar alívio. A dor intensa ou persistente pode ser tratada com uma 
combinação de um AINE convencional ou um coxib e um opioide mais potente, tal como a 
morfina. 
Ao selecionar um esquema analgésico,os dentistas estimam o grau de dor 
esperado após um procedimento específico e consideram suas experiências clínicas 
anteriores; entretanto, é importante avaliar a eficácia do esquema prescrito, uma vez que as 
respostas dos pacientes variam. As experiências e as respostas prévias do paciente ao 
tratamento analgésico podem também constituir uma grande ajuda para a seleção de 
medicações específicas. 
Em geral, a administração de analgésicos antes da cirurgia odontológica deve ser 
feita em esquema regular, pelo menos inicialmente, pois assim podem ser alcançadas 
concentrações plasmáticas mais estáveis do agente, com menos exacerbação da dor. Uma 
vez estabelecida a dor, os receptores e as vias de dor podem ficar sensibilizados e a dor 
pode evoluir. A prevenção da dor pode ser alcançada frequentemente com doses mais 
baixas da medicação do que as requeridas para o alívio da dor. Posteriormente, no 
transcorrer do tratamento, à medida que a necessidade de analgesia declina, as 
medicações podem ser administradas de acordo com a necessidade. 
 
 
 
 
 
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4.1 ESQUEMAS PROPOSTOS PARA O TRATAMENTO DA DOR OROFACIAL 
 
 
FIGURA 14 – ESQUEMA PARA O TRATAMENTO DA DOR OROFACIAL 
 
FONTE: Arquivo Pessoal do Autor. 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO II

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