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1 CARDIOLOGIA - TORTO Miocardite _____________________________________________________________________________ Definição É uma doença inflamatória do miocárdio, que possui um infiltrado inflamatório denso e necrose ou degeneração dos miócitos adjacentes. É uma das principais causas de morte súbita em adultos jovens e crianças. A miocardite é mais incidente em homens jovens, mas sua prevalência é de difícil definição. Isso porque possui diferentes etiologias que precisam ser muito bem esclarecidas frente ao diagnóstico. Etiologia Causas infecciosas ✓ Vírus: são os mais comuns causadores de miocardite. Os principais são enterovírus (como Coxsackie), parvovírus B19, herpes- vírus humano 6, Epstein-Barr, adenovírus e citomegalovírus. ✓ Protozoários: o destaque é para o Trypanosoma cruzi, causado da doença de Chagas. Essa é a forma prevalente no Brasil. ✓ Outros: bactérias (Chlamydia), fungos, helmintos etc. Causas não infecciosas ✓ Doenças autoimunes: dermatomiosite, artrite reumatóide, Sjögren, LES, granulomatose de Wegner etc. ✓ Reação de hipersensibilidade a fármacos. ✓ Doenças sistêmicas: Síndrome de Churg-Strauss, colagenoses, sarcoidose, esclerodermia etc. ✓ Outros: IAM, hipotermia, rejeição do transplante, radiação. 2 CARDIOLOGIA - TORTO Quadro clínico Os sinais e sintomas da miocardite é variável e depende muito do grau e extensão de acometimento inflamatório miocárdico. E, apesar da infecção viral ser notadamente uma das principais causas de miocardite, apenas 30% dos quadros apresentam sinais infecciosos (respiratório, gastrointestinal ou sistêmico). Quadro agudo Os sintomas mais frequentes são dor torácica aguda, semelhante a dor anginosa, associada a alterações transitórias no eletrocardiograma (ECG), além da elevação dos marcadores de necrose miocárdica (pseudoinfarto). Além disso, uma insuficiência cardíaca aguda (manifestada por dispneia e fadiga) também pode estar presente. Arritmias (taquicardia sinual + comum), choque cardiogênico e morte são complicações comuns. Quadro subagudo Os quadros subagudo e crônico são, em sua maioria, assintomáticos. Podem se apresentar como cardiomiopatias dilatadas, em que há uma redução da função cardíaca, com consequente evolução para insuficiência cardíaca direita e/ou esquerda. Os sintomas de insuficiência cardíaca, portanto, ilustram o quadro clínico desses pacientes. Um exemplo é a doença de Chagas em sua forma habitual de apresentação. Mais raramente, a miocardite pode se apresentar com alterações eletrocardiográficas apontando distúrbios de condução atrioventricular de grau variado, associado ou não a bloqueio de ramo. Sintomas de formar específicas não infecciosas ✓ Por hipersensibilidade: rash, febre, eosinofilia periférica. ✓ Autoimunes: timoma, taquicardia ventricular ou bloqueios avançados, outras manifestações autoimunes. ✓ Sarcoidose: arritmias ventriculares e bloqueios avançados. Diagnóstico Laboratório e exames de imagem ✓ Marcadores inflamatórios: VHS e PCR podem estar elevados ou não. ✓ Marcadores de lesão miocárdica: o melhor marcador dosado é a troponina T ou I; eles indicam necrose do miocárdio secundária a inflamação, conferindo pior prognóstico. Valores normais não afastam o diagnóstico. ✓ Sorologia: apesar de não ser um exame de rotina, no Brasil ele deve ser pedido para pacientes de áreas endêmicas de Chagas. 3 CARDIOLOGIA - TORTO ✓ ECG: - agudo: distúrbios de repolarização e bloqueios; infra ou supradesnível de ST de região cardíaca específica ou difusa; arritmias supraventriculares ou ventriculares - subagudo/crônico: sobrecarga de ventrículo; bloqueio de ramo esquerdo; supradesnível de ST difuso e infra de PR (quando há perimiocardite). ✓ Ecocardiograma: observa a agressão inflamatória miocárdica, revelando disfunção ventricular esquerda, difusa ou regional, diminuição da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, disfunção diastólica e trombos intraventriculares. ✓ RM cardíaca: está indicada na avaliação diagnóstica de miocardite associada a disfunção ventricular recente. ✓ Angiotomografia coronariana: utilizada para descartar uma SCA. ✓ Cintilografia miocárdica: avaliação de disfunção ventricular esquerda, detecção inflamação. Biópsia endomiocárdica Teste padrão ouro para o diagnóstico da miocardite, permitindo a comprovação da inflamação miocárdica com ou sem persistência viral. Os critérios de indicação para biópsia são: ✓ Classe I (NE B): IC de início recente (<2 semanas), sem causa definida, não responsiva ao tratamento usual e com deterioração hemodinâmica. ✓ Classe II (NE B): IC de início recente, sem causa definida e associada a arritmias ventriculares ou bloqueios atrioventriculares de segundo ou terceiro grau. ✓ Classe IIa (NE C): IC de início > 3 meses e < 12 meses, sem causa definida e sem resposta à terapia. 4 CARDIOLOGIA - TORTO ✓ Classe IIa (NE C): IC decorrente de cardiomiopatia dilatada de qualquer duração, com suspeita de reação alérgica e/ou eosinofílica. ✓ Classe IIb (NE C): arritimias ventriculares frequentes na presença ou não de sintomas, sem causa definida. NE → nível de evidência. Algoritmo de diagnóstico Tratamento O tratamento depende do resultado da biópsia (análise histológica + imuno- histoquímica + pesquisa viral). ✓ Se a inflamação for negativa: terapêutica convencional para IC hemodinamicamente estável (betabloq, IECA/BRA e diurético). ✓ Se a inflamação for positiva e houver persistência viral: associar o tratamento antiviral. ✓ Se a inflamação for positiva sem persistência viral: tratamento imunossupressor com prednisona.
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