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ADDONAI TEIXEIRA MED20 - FPS 1 Anamnese (aná – trazer de novo + mnesis - memória) significa trazer de volta à mente todos os fatos relacionados com a doença e com o paciente. É a parte mais importante e difícil do método clínico. E ela tem uma posição ímpar e insubstituível na prática médica pois é o pilar da relação médico- paciente. Em essência, a anamnese consiste numa entrevista realizada oralmente, exceto em casos especiais, que podem se utilizar de Libras, da palavra escrita ou da participação de intérpretes/tradutores. Anamnese é o melhor instrumento para fazer triagem e analisar os sintomas, reconhecer problemas de saúde e preocupações e registrar a maneira como a pessoa responde a essas questões. E, mais importante, na maioria dos pacientes, o fator isolado mais importante para se chegar a um diagnóstico. Possibilidades e objetivos da anamnese: 1. Boa relação médico-paciente; 2. Conhecer os determinantes epidemiológicos; 3. Montar a história clínica; 4. Registrar e desenvolver promoção da saúde; 5. Avaliar o estado de saúde atual e passado do paciente considerando todos os fatores que influenciam no processo saúde-doença; 6. Conhecer os hábitos de vida, condições socioeconômicas e culturais; 7. Avaliar os sintomas de cada sistema corporal; Existem algumas maneiras diferentes de se fazer anamnese: - Deixar o paciente relatar livremente de forma espontânea sem nenhuma interferência; - Anamnese dirigida, na qual o médico conduz de maneira mais objetiva (deve exigir rigor técnico na realização); - Uma mista, que seria deixar o paciente relatar de maneira espontânea inicialmente, e depois conduzir. De qualquer forma, o método clínico da anamnese é flexível e uma boa entrevista, ou diálogo, consiste na coleta de dados que serão elaborados e bem aproveitados. Existe um tipo específico de paciente que é o informado ou expert. Nesse caso, se deve passar pelo processo de análise crítica das expressões e coerência das correlações estabelecidas por ele junto a ele. E, assim como com os outros tipos de pacientes, deve-se ter cuidado com as interpretações que ele faz dos seus sintomas e tratamentos. A anamnese é uma etapa importante e de aprendizado lento, portanto, até o examinador conseguir achar atalhos que não prejudiquem a entrevista, ela pode durar muitos minutos. A pressa é o erro técnico mais grosseiro que se pode cometer durante numa anamnese e pode resultar em consequências graves no atendimento. Outro erro técnico que deve ser evitado constantemente é o espírito preconcebido (pode ser uma tendência natural do examinador), que seria uma tendência de direcionar a anamnese. Caso o paciente assuma a condução da entrevista, o examinador deve a tomar de volta de maneira habilidosa, mas não-hostil. Recomendações para uma boa anamnese: 1. Aproveitar a oportunidade do primeiro contato para o estabelecimento de uma boa relação médico-paciente; O EXAME CLÍNICO – TEE 1: ANAMNESE ASPECTOS GERAIS ADDONAI TEIXEIRA MED20 - FPS 2 2. Cumprimentar e perguntar o nome. Não chamar idosos por termos como “vovô” ou “vovó”; 3. Demonstrar atenção à fala do paciente e identificar alguma condição especial (dor, sonolência, ansiedade, hostilidade, tristeza, confusão mental) para saber conduzir melhor; 4. Compreender contexto sociocultural; 5. Ser perspicaz e ter tato; 6. Ter cuidado para não usar perguntas que sugerem ideias preconcebidas; 7. Se comprometer não sendo breve e explorando o momento do diálogo; 8. Investigar bem os sintomas; 9. Elaborar mentalmente as queixas depois de obtê-las, para utilizar o raciocínio clínico; Para ajudar o paciente a relatar da melhor maneira suas queixas e padecimentos, existem algumas técnicas: apoio, facilitação (encorajar, balançar levemente a cabeça), reflexão (repetir para o paciente as palavras mais relevantes para o examinador), esclarecimento (definir claramente o que o paciente está relatando), confrontação (mostrar ao paciente algo sobre suas próprias palavras ou comportamentos), interpretação (fazer uma observação sobre algo dito pelo paciente), resposta empática (demonstrar compreensão e aceitação), silêncio (pode ser o mais adequado quando o paciente se emociona ou chora). Elementos Componentes da Anamnese A anamnese é desdobrada em algumas partes: 1. Identificação: Perfil sociodemográfico; 2. Queixa principal: motivo da consulta (sintomas ou problemas que motivaram a busca); 3. História de doença atual (HDA): Registro cronológico e detalhado do problema de saúde atual; 4. Interrogatório sintomatológico: Avaliação detalhada dos sintomas de cada sistema corporal; 5. Antecedentes pessoais e familiares: Avaliação do estado de saúde presente e passado do paciente, conhecendo os fatores pessoais e familiares; 6. Hábitos de vida: Documentar hábitos e estilo de vida (alimentação, ocupação, prática de atividades físicas, utilização de drogas) 7. Condições socioeconômicas e culturais: condições de habitação, vínculos afetivos familiares, condições financeiras, filiação religiosa, etc. É o perfil sociodemográfico do paciente e serve para iniciar o relacionamento do examinador com ele, pois saber o nome é essencial para o vínculo. Dados da identificação obrigatórios para registro: 1. Nome; 2. Idade - cada grupo etário tem sua própria doença; 3. Sexo/gênero - há doenças que só aparecem em um sexo, além disso o processo de adoecimento é diferente entre os gêneros; 4. Cor/etnia – Cor branca, parda ou preta (é preferível usar o critério de cor, apesar de existirem particularidades clínicas de cada etnia); 5. Estado civil - é importante no aspecto social, médico-trabalhista e pericial; 6. Profissão; 7. Local de trabalho - nesse e no item anterior devem haver as seções: ocupação atual e ocupações anteriores (podem ter relação com a doença desenvolvida); 8. Naturalidade; 9. Procedência - geralmente é sobre a residência anterior do paciente; 10. Residência (atual); SEMIOTÉCNICA DA ANAMNESE IDENTIFICAÇÃO ADDONAI TEIXEIRA MED20 - FPS 3 11. Nome da mãe - diferenciar pacientes homônimos; 12. Nome do responsável/cuidador e/ou acompanhante - firmar relação de corresponsabilidade ética; 13. Religião – importância tanto objetiva, em alguns casos (ex: adventista), quanto subjetiva, em caso de confronto cientificidade x religião; 14. Filiação a órgãos/instituições previdenciárias e planos de saúde – possibilidades e alternativas a serem exploradas dentro da realidade assistencial do paciente. Geralmente é uma afirmação breve e espontânea, pode ser anotada entre aspas com as próprias palavras do paciente. Entretanto, deve-se ter cuidado com “diagnósticos” ditos pelos pacientes. Quando o paciente chega encaminhado por um colega ou outra instituição de saúde, se registra o motivo da consulta de maneira especial, por exemplo, “Avaliação pré- operatória de amigdalectomia. O paciente já teve vários surtos de doença reumática.”, caso o paciente tenha ido fazer uma avaliação antes de uma cirurgia de amigdalectomia. Sugestões de perguntas para obter a “queixa principal”: 1. “Qual o motivo da consulta?”; 2. “Por que o/a senhor/a me procurou?”; 3. “O que o/a senhor/a está sentindo?”; 4. “O que está o/a incomodando?”. Exemplos de queixas principais: 1. Dor de ouvido; 2. Dor no peito há 2 horas; 3. Exame da admissão para o trabalho. É um registro cronológico e detalhado do motivo que levou o paciente a procurar assistência médica. A HDA é a parte principal da anamnese e costuma ser a chave mestra para se chegar ao diagnóstico. Existem algumas normas para se obter uma boa HDA: 1. Deixar o paciente falar sobre a doença; 2. Identificar o sintoma-guia; 3. Descrevero sintoma-guia e analisá-lo; 4. Usar o sintoma-guia como fio condutor da história e estabelecer relações entre ele e os outros sintomas; 5. Verificar se a história tem começo, meio e fim; 6. Não induzir respostas; 7. Apurar evolução, exames e tratamentos realizados; 8. Resumir a história contada para o paciente, a fim de receber uma confirmação, acrescentamento ou correção. Sintoma-guia É o sintoma ou sinal que permite recompor a HDA com mais facilidade e precisão. Isso não significa que exista apenas um único e constante sintoma-guia para cada enfermidade. Ele não precisa ser necessariamente o mais antigo, mas o tempo deve ser levado em conta também. Apesar de não haver uma norma específica, orienta-se levar como sintoma- guia o de mais longa duração ou tomar como sintoma-guia a “queixa principal”. Passos da HDA 1. Identificar o sintoma-guia; 2. Determinar a época em que o sintoma começou (uma dica é relacionar o aparecimento com eventos da vida do paciente); 3. Investigar a maneira como evoluiu o sintoma, (o examinador deve ir estabelecendo a relação dele com as outras queixas); O sintoma-guia deve ser sempre a “espinha dorsal” da HDA. QUEIXA PRINCIPAL OU MOTIVO DA CONSULTA HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL (HDA) ADDONAI TEIXEIRA MED20 - FPS 4 Esquema para a Análise de um Sintoma Os elementos que compõem a análise de qualquer sintoma são: 1. Início; 2. Características do sintoma; 3. Fatores de melhora ou piora; 4. Relação com outras queixas; 5. Evolução; 6. Situação atual. PORTO, Celmo Celeno. Exame clínico: bases para a prática médica. 8ed. Rio de Janeiro: Gua- nabara, 2017. REFERÊNCIA OBS.: Sinal é uma manifestação clínica que outra pessoa percebe, principalmente profissionais de saúde. Ex: Cefaleia. Sintoma pode ser definido como uma queixa do paciente, uma manifestação relatada e sentida por ele. Ex: Dor de cabeça.
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