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A pele É composta por três camadas de tecidos: epiderme (camada mais superior), derme/cório (intermediária) e hipoderme (tecido celular subcutâneo) Epiderme: epitélio estratificado cuja espessura apresenta variações topográficas desde 0,04mm nas pálpebras até 1,6mm nas regiões palmoplantares Derme/cório: fica abaixo de epiderme. Compreende um denso estroma fibroelástico no qual situam-se as estruturas vasculares, nervosas e os órgãos anexiais da pele, glândulas sebáceas, sudoríparas e folículos pilosos Hipoderme: composta de tecido adiposo Toda superfície é composta por sulcos e saliências, que são acentuadas nas regiões palmoplantares e nas extremidades dos dedos (local onde a disposição é absolutamente individual e peculiar – utilizada na identificação dos indivíduos através da datiloscopia e diagnóstico de enfermidades genéticas através das impressões palmoplantares, os dermatóglifos) Dermatóglifos: consistem na combinação de configurações básicas, redemoinhos, alças e arcos nas extremidades dos dedos, além de sulcos e cristas nas regiões palmoplantares. O desenvolvimento embriológico dos dermatóglifos é paralelo ao das glândulas écrinas, e os poros sudoríparos abrem-se nos sulcos que compõem essas estruturas. A correlação entre os dermatóglifos e doenças neurocutâneas evidencia as relações entre o desenvolvimento da pele e do SNC, podendo ambos ser acometidos por um mesmo distúrbio fundamental de embriogênese (as principais alterações nos dermatóglifos são devido defeitos cromossômicos) Há pacientes com ausência congênita de dermatóglifos e, também ausência de glândulas sudoríparas nas regiões palmares. Exemplos de síndromes com ausência de dermatóglifos: síndrome de Basin (ausência de dermatóglifos, queratodermia palmoplantar, contraturas digitais e milia congênita na face), Síndrome de Naegeli-Franceschetti, Displasia ectodérmica hipoidrótica ligada ao cromossomo X, Síndrome de Hay-Wells (síndrome AEC) Síndromes com alteração dos dermatóglifos: Fibrose cística (FC) e Síndrome de Rosentahl- Kloepfer (alterações tipo acromegalia, leucoma de córnea e cútis vértica girata), Síndrome de Down (há a chamada prega simiesca: o sulco transverso que se estende da margem radial à margem ulnar da palma da mão e os chamados trirrádios, pontos a partir dos quais os sulcos cutâneos cursam três direções em ângulos aproximados de 120°) Há alterações em que os sulcos não formam alças, dirigindo-se verticalmente às extremidades dos dedos, não se associando a outras anomalias A superfície cutânea, de acordo com os segmentos corpóreos, apresenta variações e pregas, articulares e musculares, orifícios pilossebáceos e orifícios sudoríparos A cor da pele é determinada pelo conjunto de fatores de ordem genético-racial (exemplo: quantidade de pigmento), fatores de ordem individual, regional, sexual (exemplo: espessura de seus componentes) ou conteúdo sanguíneo de seus vasos A pele exerce funções termorreguladoras, sob o comando do SNA sobre vasos, glândulas écrinas e músculos pilomotores na derme. Possui função sensorial de percepção de estímulos como tato, pressão, vibração, dor e temperatura. Receptores encontrados na pele: Corpúsculos de Vater-Pacini: localizam-se nas regiões palmoplantares e são específicos para a sensibilidade à pressão Corpúsculos de Meissner: situam-se nas mãos e nos pés, especialmente nas polpas dos dedos ao nível da derme papilar. Específicos para a sensibilidade tátil Corpúsculos de Krause/órgãos nervosos terminais mucocutâneos: ocorrem nas áreas de transição entre pele e mucosas. Encontrados na glande, prepúcio, clitóris, lábios vulvares e, em menor quantidade no lábio, língua, pálpebras e pele perianal. Reconhecem o frio Meniscos de Merkel-Ranvier: são plexos terminais de nervos de posição subepidérmica, localizados especialmente nas polpas dos dedos. Reconhecem tato e pressão Corpúsculos de Ruffini: formados por fibra nervosa que se ramifica, permeando o colágeno, e relacionam-se à sensibilidade térmica. Reconhece calor Embriologia Derivação da ectoderme: glândulas epiteliais (epiderme, folículos pilossebáceos, glândulas apócrinas, glândulas écrinas e unhas) Derivação do neuroectoderma: nervos, melanócitos Derivação do mesoderma: fibras colágenas e elásticas, vasos sanguíneos, músculos e tecido adiposo Embrião de 3 semanas: epiderme possui 1 camada de células morfologicamente indiferenciada (sua reprodução resulta no aumento do número de camadas e formação de anexos cutâneos) Início da formação do aparelho pilossebáceo: 9ª semana através da produção de moléculas sinalizadoras pelas células mesenquimais, pelos fatores de crescimento fibroblastos (FGF) e pelos fatores de inibidores das proteínas morfogênicas dos ossos (BPM: sua excessiva estimulação ou sua falta podem determinar redução de densidade os folículos pilosos) Moléculas sinalizadoras na formação do folículo piloso: proteínas Wnt (mais especificamente Wn10b), proteína SHH (moléculas com grande participação na morfogênese), Smads (antagonizam o TGF-beta: Smad 4 atua na diferenciação do folículo piloso por meio de mediação das BMP e a molécula Smad 7 bloqueia as BMP e o TGF-beta) 14ª semana: surgimento das glândulas écrinas inicialmente nas regiões palmoplantares, através de invaginações epidérmicas que se aprofundam e tornam-se espiraladas Os melanócitos são evidenciáveis na epiderme em torno da 11ª semana do desenvolvimento, tornando-se numerosos entre a 12ª e 14ª semana (melanoblastos: precursores de melanócitos que derivam da crista neural; migram e alinham-se ao longo da epiderme) Unhas: células epiteliais aglomeram-se diagonal e profundamente nos tecidos da falange, formando-se a matriz ungueal, que continuará se desenvolvendo até o nascimento e após este. Os primeiros elementos dessa matriz são detectados no dorso dos dedos do embrião aproximadamente na 10ª semana O conhecimento da estrutura da pele fetal tem grande importância pela utilização de biópsias feitas por meio de fetoscopia, para diagnose pré-natal de doenças genéticas em famílias de risco. Período adequado para exames: 18ª a 21ª semanas (nessa fase a epiderme está estratificada mas não queratinizada; zona de junção dermoepidérmica estruturada morfologicamente e imunologicamente quanto aos componentes; folículos pilossebáceos presentes; melanócitos funcionantes). Exemplos de diagnósticos: albinismo oculocutâneo (ausência de melanossomos), feto arlequim (presença de queratinização precoce), Sjogren- Larsson (hipergranulose e hiperqueratose), epidermólise bolhosa (EB) A epiderme Epitélio estratificado avascular É dividida em: córnea, lúcida, granulosa, espinhosa/camada de Malpighi, basal/germinativa (camada mais profunda) Camada germinativa/basal: possui dois tipos celulares (células basais e melanócitos). Os queratinócitos basais se dispõem com seu maior eixo perpendicular à linha formada pela junção dermoepidérmica, possuem citoplasma alongado e hipercromático; as células basais estão unidas entre si e às células espinhosas suprajcentes atravessem das pontes intercelulares (desmossomos: estruturas de adesão localizadas entre as células que dão suporte ao epitélio; presentes também no córtex de linfonodos e miocárdio). Ao nível da camada basal, já uma única placa de aderência (hemidesmossomos) disposta sobre a membrana basal, ligando a membrana plasmática das células basais à lâmina basal Os melanócitos presentes na camada basal estão na proporção de 1 melanócito para cada 10 células basais. As diferenças raciais de pigmentação (cor da pele) não dependem do número, mas sim da capacidade funcional dos melanócitos . Atuam como barreira contra radiação UV, em conjunto com as estruturas proteicas do extrato córneo e da produção dos grânulo de melanina,são capazes de absorver a RUV e proteger o DNA e outros constituintes celulares dos danos provocados por essas radiações Uma barreira química (determinada por lipídeos sebáceos, glicogofosfolipídeos e ácidos graxos livres no extrato córneo) tem efeitos bacteriostáticos seletivos para microrganismos patogênicos. Os ácidos graxos liberados a partir de triglicerídeos sebáceos pela microflora existente criam meio ácido (com pH ente 6 e 6,5) Na diferenciação da epiderme há a participação da derme: por meio de inter-relações entre fibroblastos e queratinócitos; modulação da diferenciação epidérmica, neuropeptídeos e citocinas, fatores de crescimento epidérmico (EGF) e fator transformador de crescimento-𝛼 (TGF-𝛼); fator de crescimento dos queratinócitos (KFG); fator transformador de crescimento- 𝛽 (TGF-𝛽); interleucinas IL-1ª, IL-6, IL-8, GM-CSF, vitamina A, retinoides e chalonas Possui quatro principais tipos celulares: quaratinócitos/ceratinócitos, melanócitos, células de Langherhans, células de Merkel Queratinócitos: Sua maturação (desde a camada germinativa às várias camadas da epiderme) é complexa e multifatorial, influenciada por fatores genéticos, sistêmicos e ambientais Na sua maturação, há formação abundante de queratina constituindo um estrato córneo impermeável, organizado por estruturas proteicas e lipídicas, que além de controlarem a passagem de água, eletrólitos e outras substâncias, impedem a invasão de microrganismos A síntese de várias moléculas que participam do citoesqueleto (composto pelos filamentos intermediários, os quais possibilitam a estrutura tridimensional da célula; pelos filamentos de actina, os quais participam da motilidade celular; e pelos microtúbulos, relacionados com o transporte intracelular de organelas) dos queratinócitos constitui parte da sua diferenciação Subclasses de filamentos intermediários que são reconhecidas: vimetintina (presente em células mesenquimais), neurofilamentos (presentes nas células neurais) e citoqueratinas (CQ: presentes nos epitélios e nas estruturas derivadas deles, como folículo piloso e glândulas) CQ: na maioria da vezes são encontradas aos pares, formando heterodímeros (a união de CQ diferentes estruturam filamentos que se ancoram na placa desmossômica e na placa interna dos hemidesmossomos). Possui distribuição tecidual específica para cada epitélio e seus anexos: na epiderme podem ter expressão suprabasal, no folículo piloso podem haver CQ basais e CQ hiperproliferativas (assim chamadas também em situações patológicas, como na epiderme da psoríase e em tumores). É possível considerar um padrão folicular e um padrão epidérmico da distribuição das CQ e esses padrões fazem com que elas sejam importantes marcadores de diferenciação epidérmica A derme Abundantemente vascularizada Desempenha intensa atividade imunológica, juntamente com a epiderme, como primeira linha de defesa do corpo em resposta a antígenos estranhos. Funciona também como proteção mecânica estruturada por fibras elásticas e colágenas Pelos Estruturas filiformes constituídas por células queratinizadas produzidas pelos folículos pilosos. Possuem uma parte livre (haste) e uma parte intradérmica (raiz) Tipos: fetal/lanugo (pilosidade fina e clara, idêntica aos pelos poucos desenvolvidos) e pelo terminal (cabelos, barbas, pilosidade pubiana e axilar) Anexos do folículo piloso: glândula sabácea (superiormente), músculo eretor do pelo (inferiormente), ducto excretor de uma glândula apócrina que desemboca no folículo (acima da glândula sebácea; só presente em certas regiões corpóreas) Porções do folículo piloso: infundíbulo (entre o óstio e ponto de inserção da glândula sebácea), acrotríquio (porção intraepidérmica do folículo), istmo (entre a abertura da glândula sebácea no folículo e o ponto de inserção do m. eretor do pelo), segmento inferior (porção restante, abaixo do m. eretor), bulbo piloso (fica na porção mais inferior do folículo piloso, onde contém a matriz do pelo, onde se introduz a papila), papila (estrutura conjuntiva vascularizada e inervada) Ao contrário das células germinativas da epiderme que possuem uma única linhagem de células, as células da matriz do pelo são capazes de produzir 6 diferentes tipos de linhagens: as 3 camadas componentes da bainha radicular interna e as 3 camadas do pelo propriamente ditas Principal componente do pelo: queratina Não crescem continuamente, ou seja, há um alternância de fases de crescimento e repouso, constituindo o ciclo do pelo. Fases: Anágena: intensa atividade mitótica da matriz; o pelo se apresenta na máxima expressão estrutural; duração de 2 a 5 anos no couro cabeludo Catágena: os folículos regridem a um terço de suas dimensões anteriores; interrompe-se a melanogênese na matriz e a proliferação celular diminui até cessar; as células da porção superior do bulbo continuam sua diferenciação à haste do pelo, que fica constituída somente do córtex e da membrana radicular interna, até que o bulbo se reduza a uma coluna desorganizada de células; a extremidade do pelo assume forma de clava, ainda aderido por retalhos de queratina ao saco folicular; dura cerca de 3 a 4 semanas Telógena: desprendimento do pelo (no couro cabeludo dura 3 meses); os folículos mostram-se quiescentes, reduzidos à metade ou menos do tamanho normal e há uma desvinculação completa entre a papila dérmica e o pelo em eliminação Alguns autores consideram normal a eliminação média de até 100 fios de cabelo por dia Fatores que influenciam o ciclo piloso: influência de condições intrínsecas ao folículo e a fatores sistêmicos, nutricionais, emocionais, hormonais (androgênios em particular) Os pelos servem como proteção nas áreas orificiais (narinas, conduto auditivo, olhos) e, no couro cabeludo, como proteção aos raios UV. Nas áreas intertriginosas, reduzem o atrito e, finalmente, pela sua abundante inervação, fazem parte do aparelho sensorial cutâneo Na protuberância da bainha externa do pelo, abaixo da inserção da glândula sebácea, localizam-se as células tronco epidérmicas, que também dispõem-se em agrupamentos no epitélio interfolicular e na base das glândulas sebáceas. Portanto, existem células-tronco localizadas na protuberância do folículo piloso, nas glândulas sebáceas e no epitélio interfolicular. Na porção inferior da protuberância, identificam-se também células-tronco relacionadas a melanócitos. Além das células-tronco descritas, existem na pele outras com potencial de diferenciação para outras linhagens celulares, células precursoras derivadas da pele que podem diferenciar-se em células adiposas, hepáticas, neurais, condrais e ósseas Locais potencialmente suscetíveis a entrada bacteriana, como folículos pilosos e glândulas écrinas, ainda produzem peptídeos antimicrobianos (AMPs), com cargas predominantemente catiônicas, e uma capacidade de interagir com membranas bacterianas através de ácidos amino-hidrofóbicos, e promovem uma barreira química à infecção Considerações sobre as propriedades e formulações terapêuticas tópicas A função da barreira cutânea é fundamental à homeostase do organismo, e a capacidade de atravessar essa barreira é inerente às propriedades das formulações. Ativos biológicos (hormônios, por exemplo) terão capacidade de atravessá-las sem maiores dificuldades, enquanto outros de origem mineral serão barrados na superfície Didaticamente há 3 níveis de penetração percutânea: contactação (quando o produto atinge a camada emulsionada); a permeação (quando permeia entre as lamelas da cama córnea); absorção (quando atravessa a camada córnea, tendo então livre acesso as demais camadas epidérmicas, podendo atingir a derme e a corrente sanguínea) Produtos de origem animal penetraçãomais do que os de origem vegetal, e estes mais que os de origem mineral. Substancia polares como a água, terão sua penetração limitada por gradientes osmóticos e forças eletrostáticas