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Rafael Venâncio de Souza ➢ PSICOFARMACOLOGIA DOS ANTIDEPRESSIVOS 1. Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS) - todos os ISRS compartilham a mesma característica importante: a inibição seletiva e potente da recaptação de serotonina devido à inibição do transportador de serotonina (SERT) - embora os ISRS compartilhem do mesmo mecanismo de ação, cada ISRS exerce outras ações farmacológicas secundárias além do bloqueio de SERT - são os antidepressivos com o melhor custo-benefício para os pacientes: baixo custo, facilmente acessível e perfil de tolerabilidade muito bom - os receptores pós sinápticos são os 5-HT1A e 5-HT7, e os que tem ação principal antidepressiva são os 5-HT1, 5-HT2, 5-HT4 (ação menor em comparação com os outros), 5-HT5, 5-HT6, 5-HT7, e os efeitos colaterais são pela ação em 5-HT2 e em 5-HT3 - os receptores 5-HT se subdividem em A, B e C (alguns tem a subdivisão D); por exemplo, o receptor 5-HT1 possui subdivisões como 5-HT1A, 5-HT1B e 5- HT1C - a subdivisão é feita com o intuito de entender as variadas funções e o mecanismo de cada receptor - EXEMPLO: se a serotonina que está sendo secretada se ligar ao receptor 5-HT1, principalmente o 5-HT1A, a resposta será enviar uma informação para o DNA da célula, que irá ESTIMULAR a produção de noradrenalina e dopamina - EXEMPLO: se a serotonina estimular 5-HT2A e o 5-HT2C (principalmente este), a resposta será enviar uma informação para o DNA da célula, que irá INTERROMPER a produção de noradrenalina e dopamina - essa classe de fármacos possui menos efeitos colaterais em comparação com as outras - os efeitos colaterais mais comumente encontrados (no início do tratamento) são: ① diminuição do apetite (ocorre principalmente pela ação no receptor 5-HT2A e do 5-HT2C à nível hipotalâmico) ② diminuição da libido (ocorre também pelo estímulo do receptor 5-HT2A e o 5-HT2C) ③ impotência (pode ser consequência da diminuição da libido) ④ náuseas e vômitos (ocorre pelo estímulo do receptor 5-HT3) - na imagem abaixo, há um neurônio serotoninérgico (preferência para a serotonina) - as vesículas sinápticas do neurônio pré-sináptico contendo o neurotransmissor são liberadas na fenda sináptica, se ligando ao receptor pós-sináptico 5- HT na membrana do neurônio pós sináptico - parte da serotonina é recaptada e parte é destruída pela MAO e pela COMT → Fluoxetina - MECANISMO DE AÇÃO: inibição do receptor 5-HT2C (lembrar que o 5-HT2C interrompe a produção de noradrenalina e dopamina), aumentando a noradrenalina e dopamina, o que estimula o paciente, reduzindo a fadiga e o cansaço, e também melhorando a concentração e a atenção - o ideal é usar a Fluoxetina durante o dia, pois o pico de ação durante a noite pode alterar o sono do paciente - por apresentar antagonismo pelo receptor 5-HT2C, pode diminuir o apetite – esse antagonismo contribui para o efeito antibulimia de doses mais altas de Fluoxetina, que é o único ISRS aprovado para o tratamento desse transtorno alimentar - os efeitos colaterais tendem a desaparecer com o uso contínuo das medicações, pois, com a utilização do fármaco, o SNC faz a neuromodulação, ou seja, se adapta ao funcionamento do fármaco - a Fluoxetina pode potencializar o efeito da Olanzapina (antipsicótico do grupo das tienobenzodiazepinas) devido ao antagonismo do 5-HT2C – para um paciente com quadro psicótico e com depressão, o ideal seria prescrever ambas as medicações - possui meia-vida longa, em torno de 14-16 dias (formação de metabólitos ativos) Rafael Venâncio de Souza - a Fluoxetina promove um importante bloqueio do complexo P450, ou seja, a meia-vida dos outros fármacos pode aumentar; um paciente idoso, que normalmente é polifármaco e já possui um déficit no metabolismo hepático, pode usar Fluoxetina, porém, é preferível que se use um antidepressivo que bloqueie menos o complexo P450, de modo a não interferir no metabolismo dos outros fármacos - a taxa de ligação da Fluoxetina às proteínas plasmáticas é alta, logo, as proteínas plasmáticas, por exemplo no idoso, precisam estar livres para o transporte de outros fármacos → Sertralina - MECANISMO DE AÇÃO: pequena inibição da proteína transportadora de dopamina (DAT), a qual faz a recaptação de dopamina presente na fenda sináptica de volta para o neurônio pré-sináptico e, ao utilizar doses maiores do medicamento, aumenta-se proporcionalmente a quantidade de dopamina presente na fenda sináptica, aumentando a energia do paciente, assim como a motivação e a concentração - MECANISMO DE AÇÃO COMPLEMENTAR: ação no receptor sigma 1, que, quando ativado, promove ação ansiolítica e ação antipsicótica – quando o paciente apresenta depressão psicótica, o uso de Sertralina com um antipsicótico é bem favorável para o tratamento - promove um menor bloqueio ao complexo P450 - a preferência de uso da Sertralina é durante o dia; a Sertralina possui apresentação de 50 e 100mg, sendo que o uso diário é de 200mg, e quando chega-se próximo à 200mg/dia, a ação dopaminérgica já é razoável → Paroxetina - MECANISMO DE AÇÃO: ação anticolinérgica, o que pode promover sedação, e, por promover a inibição da proteína transportadora de noradrenalina (NET), o paciente pode relatar ansiedade no começo do tratamento (já é um efeito esperado) - o ideal é começar o tratamento com baixas doses, aumentando-a com o passar do tempo, de modo a promover uma melhor adaptação da medicação pelo paciente - a inibição da NET é dose-dependente, ou seja, quanto mais aumenta a dose, maior será a quantidade de noradrenalina presente na fenda sináptica e, por esse motivo, em altas doses (60-70mg), a Paroxetina quase se comporta como um inibidor seletivo da recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRN); por esse motivo, Paroxetina é considerado um fármaco bastante potente - EFEITOS COLATERAIS: ① bloqueio da enzima óxido nítrico sintetase, responsável pela dilatação dos vasos sanguíneos dos corpos cavernosos no pênis, o que promove disfunção sexual; por esse motivo a Paroxetina não é indicada para pacientes idosos, pois estes já apresentam uma queda natural dos níveis de testosterona ② a Paroxetina age nos receptores 5-HT2A e 5-HT2C da medula, estimulando-os, promovendo certa disfunção sexual ③ agonismo nos receptores 5-HT2A no núcleo accumbens, no centro do prazer; quando há o estímulo desse receptor pela Paroxetina, ele irá diminuir a produção de dopamina, que atua diretamente no núcleo accumbens, reduzindo o prazer e a libido do paciente Rafael Venâncio de Souza ④ bloqueio α-adrenérgico periférico leve, mas que pode dificultar a ereção, e também, em alguns pacientes, causar hipotensão postural ⑤ bloqueio dos receptores H1, causando sedação - uma ação secundária da Paroxetina é, pelo fato de inibir a NET, melhorar os efeitos vasculares da paciente na menopausa (fogachos) → Fluvoxamina - é o 1º ISRS lançado - é o único ISRS com meia-vida menor que 24 horas (17-22 horas) - é um forte inibidor do complexo P450, porém, para compensar, possui baixa ligação às proteínas plasmáticas - MECANISMO DE AÇÃO: ① ação no receptor sigma-1, que é um receptor chaperone que auxilia outras células – auxilia no enovelamento do DNA, previne agregação de material genético, auxilia na tradução e transdução e estabiliza receptores na membrana ② estimula o Fator Neurotrópico Derivado do Cérebro (BDNF) – aumenta o número de sinapses, melhora o metabolismo neuronal, aumenta a síntese proteica - é considerado um fármaco neuroprotetor primário – a depressão em longo prazo causa dano neuronal, diminui o funcionamento cerebral, a inteligência é afetada, altera a bioquímica, etc → Citalopram - compreende dois enantiômeros (molécula assimétrica, imagem especular um do outro e não são sobreponíveis) R-S - o Escitalopram é derivado do Citalopram, porém sem o enantiômero R - R: ação anti-histamínica (promove sono) e NÃO inibe a proteína transportadora de serotonina (SERT), o que reduza ação do Citalopram – na realidade, interfere na capacidade do enantiômero S de inibir a SERT - S: inibe proteína transportadora de serotonina (SERT) - Citalopram é usado em comprimidos de 20mg e, como o Escitalopram não possui o enantiômero R, pode-se diminuir a dose pela metade - pouca ação no complexo P450 e possui baixa ligação às proteínas plasmáticas - é utilizado em pacientes com depressão e com dificuldade de dormir, e os achados no tratamento da depressão no idoso são favoráveis → Escitalopram - a solução para melhorar as propriedades do Citalopram consiste em remover o enantiômero R - não possui o enantiômero R, o que confere uma maior potência – remove as propriedades anti-histamínicas e a interferência no enantiômero S - pelo fato de não possuir o enantiômero R, permite a utilização em doses menores - pouca ação no complexo P450 e possui baixa ligação às proteínas plasmáticas aa → → Rafael Venâncio de Souza 2. Inibidores Duplos da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSN) - a imagem abaixo representa neurônios pré-sinápticos, cujas vesículas pré-sinápticas contêm noradrenalina e serotonina - os neurotransmissores, então, serão liberados na fenda sináptica e, posteriormente, serão recaptados por suas respectivas proteínas transportadoras - o inibidor duplo irá impedir a recaptação tanto da serotonina quanto da noradrenalina pela SERT e pela NET, respectivamente, o que irá aumentar as concentrações dos neurotransmissores na fenda sináptica, melhorando o estímulo nos receptores pós sinápticos - o diagrama retrata as características nas quais os antidepressivos irão agir; mostra a ação desempenhada por cada neurotransmissor - DOPAMINA: irá agir no humor, na motivação, no prazer, na atenção e no interesse nas coisas do dia-dia, além de estar relacionada ao sistema de recompensa - NORADRENALINA: irá agir no humor, na atenção, no interesse, no estado de alerta, na energia e na ansiedade - SEROTONINA: irá agir no humor, na ansiedade e nas obsessões e nas compulsões Rafael Venâncio de Souza - os inibidores da recaptação de serotonina-noradrenalina (IRSN) combinam a inibição substancial do SERT produzida pelos ISRS com vários graus de inibição do transportador de noradrenalina - são mais seguros que os antidepressivos tricíclicos, porém, possuem mais efeitos colaterais que os inibidores seletivos, principalmente em doses mais altas (por exemplo, aumento da pressão arterial) - os fármacos citados estão listados de acordo com a ação CRESCENTE noradrenérgica → Venlafaxina - a Venlafaxina desempenha ação maior na SERT do que na NET - ações serotoninérgicas da Venlafaxina são observadas em doses baixas, enquanto suas ações noradrenérgicas são progressivamente intensificadas conforme se aumenta a dose – AÇÃO DOSE-DEPENDENTE - a Venlafaxina pode ser utilizada em doses de 75-375mg; a dose entre 75 e 150mg possui uma ação serotoninérgica quase exclusiva e, quando passa de 150mg, progressivamente a Venlafaxina terá também uma maior ação noradrenérgica, apesar de que a ação serotoninérgica sempre será maior - pode causar sudorese e elevação da pressão arterial, além de causar reações de abstinência, às vezes muito incômodas, principalmente após a interrupção súbita de tratamento prolongado em doses altas, como náuseas e tonturas → Desvenlafaxina - a Venlafaxina é convertida em seu metabólito ativo, a Desvenlafaxina, pela CYP-2D6 – por ser metabólito ativo, pode-se utilizar doses menores; p.ex. 75mg de Venlafaxina equivalem à 50mg de Desvenlafaxina, que pode ser usada entre 50-250mg - à semelhança da Venlafaxina, a Desvenlafaxina inibe a recaptação de serotonina e de noradrenalina, porém suas ações de IRN são maiores do que suas ações de IRS em comparação com a Venlafaxina - a ação serotoninérgica sempre será maior - a Desvenlafaxina tem eficácia na redução dos sintomas vasomotores (SVM) como fogachos em mulheres na perimenopausa, independentemente de estarem ou não depressivas; ainda, há uma ação boa na fibromialgia, uma vez que, quanto maior a ação noradrenérgica, maior será o alívio dos quadros álgicos → Duloxetina - a Duloxetina possui uma ação noradrenérgica maior que a Desvenlafaxina - suas ações noradrenérgicas podem contribuir para sua eficácia nos sintomas físicos dolorosos - A Duloxetina não apenas a alivia a depressão na ausência ou presença de dor, como também alivia a dor na ausência de depressão - a Duloxetina interfere menos na pressão arterial e nos sintomas de descontinuação - geralmente a Duolextina é utilizada em torno de 60-120ng/dia e é um inibidor da CYP450 (CYP2D6) – em pacientes hepatopatas, deve-se evitar o uso de Duolextina, e esses se beneficiariam mais do uso da Desvenlafaxina, por esta já ser um metabólito ativo - nocicepção é o mecanismo pelo qual os estímulos periféricos são transmitidos ao SNC, ocasionando a percepção de estímulos nocivos - uma das etapas da nocicepção é a modulação, que envolve neurônios moduladores à base de serotonina e noradrenalina, e é por meio dessa modulação que se promove uma modificação na transmissão do impulso nervoso antes de chegar no SNC, estabelecendo, assim, um limiar para a dor – esse limiar é para que nem tudo seja interpretado como dor, por exemplo, ficar em pé, andar, peristaltismo, etc - pelos núcleos pontos desce o sistema modulador descendente, que irá, por meio da serotonina, noradrenalina e endorfina, criar um limiar para a dor - quando o trato espinotalâmico sobe e passa pela substância cinzenta periaquedutal mesencefálica, esse irá enviar ramificações também para o córtex frontal, o que permite racionalizar a dor, criando representações cognitivas para a dor – a pessoa tem a sensação de dor pois o córtex sensitivo está recebendo o impulso doloroso, porém, ao racionalizar a dor, cada pessoa experiencia ela de uma forma - ao passar pela substância cinzenta periaquedutal mesencefálica, ramificações também serão enviadas para as amígdalas, o que cria uma memória traumática para dor, para que se evite situações que possam causar muita dor Rafael Venâncio de Souza 3. Inibidores da Recaptação de Noradrenalina e Dopamina (IRND) → Bupropiona - por inibir a recaptação de noradrenalina e de dopamina, ela apresenta uma tratamento do tabagismo e dependência química – a Brupopiona ocupa os DAT no corpo estriado e no nucleus accumbens de maneira suficiente para reduzir a fissura e melhorar a sensação de prazer do paciente, porém não o suficiente para provocar o uso abusivo - o uso da Bupropiona é indicado durante o dia pois, se usar durante a noite, pode levar a quadros de insônia - a Bupropiona tem um perfil cardiovascular seguro, podendo utilizar em idosos - a Bupropiona não causa disfunção sexual - a Bupropiona baixa o limiar convulsivante; o uso de Bupropiona em pacientes com epilepsia e crises convulsivante é contraindicado 4. Antagonistas de α2 como Desinibidores de Serotonina e Noradrenalina → Mirtazapina - a Mirtazapina é um antagonista de α2 pré-sináptico e, portanto, age como desinibidor da noradrenalina e da serotonina - ao inibir o receptor α2 pré-sináptico, libera-se a produção de serotonina e noradrenalina; o α1 libera, enquanto o α2 inibe – se eu bloqueio o que inibe, irá prevalecer a liberação - age como agonista do receptor 5-HT1A, estimulando a liberação de noradrenalina e dopamina - age como antagonista dos receptores 5-HT2A e 5-HT2C (lembrar que esses receptores, quando ESTIMULADOS, interrompem a produção de noradrenalina e dopamina), promovendo ação ansiolítica, antidepressiva e não causa disfunção sexual - age como antagonista do receptor 5-HT3, impedindo a manifestação de sintomas no início da adesão ao antidepressivo – receptores 5-HT3 estão localizados na zona de gatilho quimiorreceptora do tronco encefálico, onde medeiam náuseas e vômitos, bem como no trato gastrintestinal,onde medeiam náuseas, vômitos, diarreia e motilidade intestinal, quando estimulados - age como antagonista do receptor H1, ou seja, atua como um anti-histamínico, promovendo a sedação – por isso o ideal é o uso da Mirtazapina durante a noite, principalmente para aqueles pacientes que apresentam dificuldade de dormir, evitando uso abusivo de benzodiazepínicos; por ter ação anti-histamínica, pode aumentar o apetite, logo, deve-se ter cuidado com pacientes com obesidade e diabetes mellitus OBS: a Mirtazapina não bloqueia nenhuma proteína de recaptação, o que permite associá-la a outros antidepressivos, visto que não haverá interação entre eles; a Mirtazapina e a Amitriptilina são as medicações de maior potência entre os antidepressivos OBS: quanto maior a dose utilizada, MENOR é a sedação – isso se dá por um aumento da noradrenalina e da dopamina; a Mirtazapina é utilizada entre 15-45mg e, quando se utiliza a dose de 45mg, o efeito sedativo é bem menor 5. Antagonistas/Inibidores da Recaptação de Serotonina → Trazodona - a Trazodona inibe a recaptação de serotonina, ou seja, bloqueia a ação da SERT - a Trazodona inibe os receptores 5-HT2A e 5-HT2C – a Trazodona libera a produção de noradrenalina e de dopamina, e reduz o Glutamato, que é um neurotransmissor excitatório Rafael Venâncio de Souza - quanto maior a dose utilizada de Trazodona, menos sono o paciente sentirá – as doses baixas exploram as ações poderosas da Trazodona como antagonista de 5HT2A, assim como suas propriedades como antagonista dos receptores de histamina H1 e α1-adrenérgicas, mas não exploram adequadamente suas propriedades de inibição do SERT ou dos receptores 5HT2C, que são mais fracas - a Trazodona, assim como a Mirtazapina, possuem perfil cardiovascular seguro, podendo ser usados em pacientes idosos - a Trazodona, em doses altas, em alguns pacientes, pode causar priapismo devido à inibição do 5-HT2C – não é um efeito colateral comum, é mais raro 6. Agomelatina - a depressão pode alterar os ritmos circadianos, causando defasagem de fase no ciclo de sono/vigília, assim como alterações de diversas medidas fisiológicas dos ritmos circadianos, desde achatamento do ciclo diário da temperatura corporal até elevação da secreção de cortisol durante o dia, bem como redução da secreção de melatonina, cujo pico ocorre normalmente à noite e no escuro - a Agomelatina tem uma ação principal agonista dos receptores MT1 e MT2, que são receptores melatoninérgicos – a Melatonina age melhorando a arquitetura do sono - a Agomelatina tem ação antagonista dos receptores 5-HT2A e 5-HT2C, liberando noradrenalina e noradrenalina – ação antidepressiva - é utilizada para pacientes que possuem uma rotina diária estabelecida e que dorme nos horários corretos, de modo a melhorar os ritmos circadianos, além da de depressão Rafael Venâncio de Souza 7. Vortioxetina - é um agente multimodal – fármaco que combina múltiplos modos de ação monoaminérgica - a Vortioxetina inibe a recaptação de serotonina por meio do bloqueio da SERT - ação antagonista do receptor 5-HT3 – além de evitar sintomas como náuseas e enjoo, melhora a cognição que foi perdida durante a depressão - ação antagonista dos receptores 5-HT7 e 5-HT1D – auxiliam no efeito antidepressivo e na melhora da cognição - ação agonista parcial do receptor 5-HT1B – ação importante para restaurar o padrão de memória que se tinha antes da depressão - ação agonista do receptor 5-HT1A – estimula a liberação de noradrenalina e dopamina 8. Antidepressivos Tricíclicos - se chamam tricíclios por conta da presença de 3 anéis na estrutura molecular - foram sintetizados para o tratamento da esquizofrenia, porém não atuaram bem como antipsicóticos; foi observado, contudo, um bom desempenho como antidepressivos - são medicações que devem ser conhecidas, visto que são medicações encontradas nos postos de saúde, farmácias públicas, etc - os tricíclicos são antidepressivos com alta potência, sendo indicados para casos mais graves - apesar da alta potência, deve-se ter cuidado com os tricíclicos devido aos efeitos colaterais que podem gerar - EXEMPLOS: Amitriptilina, Nortriptilina, Clomipramina, Imipramina - MECANISMO DE AÇÃO: inibição da recaptação de noradrenalina e, em algum grau, inibição da recaptação de serotonina – a Clomipramina já age de forma contrária, visto que ela inibe a recaptação de serotonina e inibe, em algum grau, a recaptação de noradrenalina - certas patologias que necessitam de mais serotonina disponível, caso opte-se por um tricíclico, deve-se escolher a Clomipramina; a Clomipramina é bastante utilizada no transtorno obsessivo-compulsivo (transtorno de ansiedade) → Mecanismos Secundários A. Antagonistas dos Receptores 5-HT2A e HT2C - ao interromper a ação pós-sináptica desses receptores de interromper a produção de noradrenalina e dopamina, há uma aumento da disponibilidade desses neurotransmissores B. Bloqueio dos Receptores Colinérgicos Muscarínicos (M1) - desempenha ação anticolinérgica, podendo causar constipação, boca seca, visão turva e retenção urinária C. Bloqueio de Receptores Histamínicos (H1) - desempenha ação anti-histamínica, podendo causar sedação e ganho de peso - ao aumentar a dose do tricíclico, o efeito sedativo vai diminuindo devido ao bloqueio dos receptores 5-HT2A e 5-HT2C D. Bloqueio dos Receptores α1-adrenérgicos - pode causar hipotensão ortostática e tontura, principalmente em idosos E. Bloqueio dos Canais de Sódio Sensíveis à Voltagem - os canais bloqueados se encontram no cérebro e no coração, desencadeando arritmias devido prolongamento do intervalo QT e convulsões (em pacientes epilépticos pode precipitar a ocorrência de convulsões; caso haja necessidade de se usar tricíclico em paciente epiléptico, deve-se aumentar a dose do anticonvulsivante) Rafael Venâncio de Souza - os tricíclicos não devem ser usados em: ① pacientes com IAM recente (menos que 1 mês) pois pode ter algum distúrbio da condução elétrica ② pacientes com algum tipo de arritmia ③ pacientes com glaucoma de ângulo fechado – o efeito anticolinérgico aumenta a pressão ocular ④ paciente com íleo paralítico ou megacólon – o efeito anticolinérgico produz constipação ⑤ períodos de gravidez e lactação – na gravidez, o fármaco mais seguro é o Escitalopram, enquanto que, na lactação, o mais seguro é a Paroxentina, seguido pela Sertralina e Fluvoxamina ⑥ idosos – arritmia, hipotensão ortostática (risco de fraturas, principalmente do colo do fêmur, correndo risco de desenvolver embolia gordurosa e infecções nosocomiais), ação anticolinégica – um idoso já tem déficit de acetilcolina, a qual é importante no lobo frontal para o raciocínio; ao promover a ação anticolinérgica, pode-se precipitar sintomas demenciais – EM IDOSOS SE USA FÁRMACOS ANTICOLINESTERÁSICOS 9. Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAOs) - os IMAOs foram descobertos acidentalmente, quando se observou que um fármaco antituberculose – a Iproniazida – ajudava a aliviar a depressão concomitante em alguns dos pacientes portadores de tuberculose, pois atuava na depressão ao inibir a enzima MAO; todavia a inibição da MAO não estava relacionada com suas ações antituberculose - MECANISMO DE AÇÃO: inibição da ação da MAO, enzima que metaboliza monoaminas (noradrenalina, serotonina e dopamina) – os IMAOs são fármacos com potência alta no tratamento da depressão, visto que aumenta a disponibilidade das monoaminas → Tipos de Monoamina Oxidase (MAO) - existem dois tipos de monoamina oxidases conhecidas: a MAO-A e a MAO-B - a MAO-A se caracteriza por ter preferência principalmente pela serotonina e noradrenalina – pouca preferência pela dopamina – e é encontrada no cérebro, no intestino, no fígado, na placenta e na pele (é a principal forma da enzima fora do cérebro) - A MAO-A no cérebro precisa ser inibida para que ocorra eficácia antidepressiva com o uso de IMAO, vistoque esta é a forma pela qual a MAO metaboliza preferencialmente a serotonina e a noradrenalina, duas das três monoaminas ligadas à depressão e às ações dos antidepressivos, ambas as quais apresentam níveis cerebrais aumentados após a inibição da MAO-A - a MAO-B metaboliza a dopamina e a tiramina – pouca preferência pela noradrenalina e pela serotonina – e é encontrada no cérebro, nas plaquetas e nos linfócitos - inibidores seletivos da MAO-B são utilizados no tratamento da doença de Parkinson – a doença de Parkinson se manifesta devido à queda de dopamina, logo, ao inibir a MAO-B, aumenta-se a disponibilidade de dopamina; o tratamento de um paciente com Parkinson consiste no uso de agonista dopaminérgico + inibidor da MAO-B Rafael Venâncio de Souza → Classificação quanto ao padrão de ligação do fármaco com a MAO Padrão de Ligação Irreversível Reversível Tranilcipromina Seleginina Fenelzina Moclobemida Isocarboxazida - os IMAOs irreversíveis são aqueles que, quando se ligam à MAO, impedem sua ação permanentemente; a atividade enzimática da MAO só retorna após a síntese de novas enzimas - os IMAOs reversíveis se ligam à MAO e bloqueiam sua ação, porém podem ser removidos da enzima pela inibição competitiva por substratos da MAO, ou seja, quando as taxas de noradrenalina, de serotonina e de dopamina aumentam muito, os IMAOs reversíveis se deslocam da MAO e esta começa a agir nos neurotransmissores; quando os níveis de neurotransmissores abaixam novamente, os IMAOs reversíveis se ligam novamente - os IMAOs reversíveis são drogas inteligentes que não causam o efeito de aumento da pressão arterial, além de não necessitar de restrição dietética por conta da tiramina – quando a tiramina libera noradrenalina, ocorre competição pela ligação à MAO, e, se os níveis de noradrenalina forem altos o suficiente, pode deslocar o IMAO; isso possibilita a destruição normal da noradrenalina extra e, assim, reduz o risco de reação à tiramina → Tiramina - a tiramina é um aminoácido que é metabolizado pela MAO e, quando a tiramina está em alta concentração no organismo, é capaz de estimular a liberação de noradrenalina na fenda sináptica, e o mecanismo que ajuda a reduzir o excesso desse neurotransmissor está bloqueado (que é a MAO), favorecendo o aumento do efeito simpatomimético - a tiramina está presente em queijos, vinhos, enlatados, frutos do mar, chopps, etc - o corpo costuma ter imensa capacidade de processar a tiramina, e uma pessoa em média é capaz de processar, aproximadamente, 400 mg de tiramina ingerida antes que ocorra elevação da pressão arterial, porém, na presença de IMAO, 10mg de tiramina já são suficientes para elevar a pressão arterial – CONSIDERA-SE MUITO ARRISCADO PRESCREVER IMAOs PARA PACIENTES QUE NÃO TÊM CONDIÇÕES DE FAZER RESTRIÇÕES DIETÉTICAS Rafael Venâncio de Souza → Interações Medicamentosas A. Drogas Simpatomiméticas - não se deve utilizar IMAO em pacientes que usam drogas de ação simpatomimética, principalmente α1 - os IMAO elevam a noradrenalina, porém essa ação por si só não causa tipicamente elevação da pressão arterial - a estimulação α1 direta de um descongestionante nasal (Fenilefrina) combinada com a elevação da noradrenalina que ocorre quando o paciente está em uso de IMAO pode ser suficiente para causar hipertensão ou mesmo crise hipertensiva - não se pode utilizar IMAO para um paciente asmático, visto que as medicações para asma são simpatomiméticas, produzindo uma crise hipertensiva B. Drogas Estimulantes - Metilfenidato – inibição da recaptação de dopamina e noradrenalina - Anfetaminas – inibição da MAO e inibição da recaptação de noradrenalina e dopamina C. Antidepressivos - antidepressivos tricíclicos D. ISRS - não se deve utilizar IMAO com ISRS, pois acarretará acúmulo extremo de serotonina, o que leva à Síndrome Serotoninérgica – essa síndrome ocorre devido à hiperestimulação do receptor 5-HT2A no hipotálamo - pacientes com Síndrome Serotoninérgica podem manifestar enxaqueca, mioclonia, agitação psicomotora e confusão, hipertermia (a TAX pode chegar até 41°), convulsões, coma, colapso cardiovascular, lesão cerebral hipertérmica permanente e, até mesmo, morte em casos graves do espectro - um antídoto para a Síndrome Serotoninérgica é a Ciproeptadina crise hipertensiva Rafael Venâncio de Souza Rafael Venâncio de Souza OBS: Circuitos da Depressão - é necessário aprender os circuitos da depressão para entender os sintomas da depressão que o paciente manifesta - HUMOR DEPRESSIVO: está relacionado com a queda de serotonina no córtex pré-frontal ventromedial P: Gostaria de saber se em pessoas tristes sem o quadro de depressão ocorre essa mesma queda de serotonina no córtex pré-frontal ventromedial? R: Para ser depressão tem que ter 15 dias de humor triste, preenchendo esses critérios sim. Quando tem episódio de tristeza com menos tempo, é uma reação ao stress ambiental, então não necessariamente há queda de serotonina. A tristeza é um estado passageiro de humor. - FADIGA: está relacionado com a queda de noradrenalina e de dopamina no córtex pré-frontal - PERDA OU GANHO DE PESO: está relacionado com a queda de serotonina no hipotálamo - CONCENTRAÇÃO E INTERESSE: a perda disso está relacionada com a queda das três monoaminas (principalmente dopamina) no córtex pré-frontal - PRAZER: a perda disso está relacionado com a queda de dopamina no núcleo accumbens – está relacionado com o Sistema de Recompensa – o sistema de recompensa é o circuito que processa a informação relacionada à sensação de prazer e de satisfação - DISFUNÇÃO EXECUTIVA E APATIA: está relacionado com a queda de noradrenalina e de dopamina no córtex pré-frontal dorsolateral - PENSAMENTO DE MORTE E IDEAÇÃO SUICIDA: está relacionado com a queda de monoaminas no córtex pré-frontal dorsolateral - SENSAÇÃO DE CULPA E INUTILIDADE: está relacionado com a queda de monoaminas no córtex ventromedial e nas amígdalas - AGITAÇÃO OU RETARDO PSICOMOTOR: está relacionado com a queda de monoaminas no córtex pré-frontal e no estriado - TRANSTORNOS DO SONO (INSONIA E HIPERSONIA): está relacionado com a queda de monoaminas no hipotálamo ⮚ Efeitos Colaterais com o Uso de Antidepressivos - os efeitos colaterais, principalmente nos quadros serotoninérgicos, acontecem nos receptores serotoninérgicos 5-HT2A, 5-HT2C, 5-HT3 e 5-HT4 - a sensação de aumento da ansiedade, principalmente na 1ª semana do uso antidepressivo, ocorre devido estímulo dos receptores 5-HT2A e 5-HT2C localizados principalmente no córtex pré-frontal ventromedial, nas amígdalas e no sistema límbico - no início do tratamento, o paciente pode queixar-se de sintomas motores (tremores) devido o estímulo dos receptores 5-HT2A nos gânglios da base - a disfunção sexual ocorre devido estímulo dos receptores 5-HT2A e 5-HT2C localizados na medula - a diminuição do prazer e da libido devido estímulo dos receptores 5-HT2A localizados no núcleo accumbens – lembrar que, quando o receptor 5- HT2A é estimulado, ocorre interrupção de liberação de noradrenalina e de dopamina - a ocorrência de náuseas durante o tratamento se dá pelo estímulo do receptor 5-HT3 no hipotálamo - a ocorrência de aumento de peristaltismo e diarreia se dá pelo estímulo dos receptores 5-HT3 e 5-HT4 OBS: DEVE-SE ORIENTAR O PACIENTE DE QUE É NORMAL ACONTECER ESSES EFEITOS COLATERAIS NO COMEÇO DO TRATAMENTO E QUE IRÁ DESAPARECER NO DECORRER DO TRATAMENTO OBS: o começo do tratamento com antidepressivo deve ser feito com doses baixas, aumentando-as gradativamente, de modo que os efeitos colaterais sejam mínimos no começo do tratamento
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