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Ana Clara Bocato - Medicina T XV Tipos de câncer de pele MELANOMA - Os tumores de pele do tipo melanoma têm sua origem nos melanócitos, que são as células produtoras de melanina (pigmento marrom que dá cor à pele para proteger suas camadas mais profundas contra os efeitos nocivos da radiação do sol - UV). Apesar de serem mais comuns em pessoas de pele clara, os negros, orientais e seus descendentes não estão livres da doença. - Nos estágios iniciais, normalmente o melanoma se manifesta em forma de nevo, que se diferencia e das demais por alguma característica. - Apesar da menor ocorrência (±5%), é o mais agressivo, sendo responsável por aproximadamente 75% de todas as mortes causadas por cânceres de pele. - Esse tipo de câncer pode facilmente disseminar para os gânglios linfáticos e órgãos internos. NÃO MELANOMA - Os tumores de pele não melanoma representam cerca de 95% do total dos casos de câncer de pele e são os mais frequentes no Brasil, sendo mais comum em pessoas acima de 40 anos (porém, com a constante exposição de jovens aos raios solares, a média de idade dos pacientes vem diminuindo). - Corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. Apresenta altos percentuais de cura se for detectado e tratado precocemente. - Originam da camada superficial da pele e apresentam menor mortalidade quando comparados ao melanoma. - Apresenta tumores de diferentes tipos, sendo os mais frequentes o carcinoma basocelular (menos agressivo) e o carcinoma espinocelular. Afecções epiteliais pré-malignas e tumores intra-epidérmicos QUERATOSE ACTÍNICA E CORNO SUBSCUTÂNEO QUERATOSE ACTÍNICA - Também conhecida como queratose senil por aparecer na idade avançada, manifesta-se pela exposição a irradiação solar cumulativa, progressiva, persistente e duradoura, localizada preferencialmente nas áreas expostas. - Fotodano mais comum em caucasianos, caracterizada por pequenas lesões máculo-papulosas, discretamente salientes, de coloração acastanhada, com superfície rugosa. Às vezes, seu aspecto é de lesão atrófica e eritematosa com descamação. - O tratamento por ser feito com: 5-fluorouracila tópico: trata e, ao mesmo tempo, revela o início de algumas queratose ainda não constituídas em toda a sua plenitude clínica. Isso ocorre, pois, essa substância tem predileção por células em mitose, originando, nessas áreas, certo grau de eritema inflamatório intenso. É o Ana Clara Bocato - Medicina T XV tratamento mais usado por ser barato e prático, porém, pode demorar mais para ver os resultados. Cauterização elétrica/química ou crioterapia: destruição mecânica com nitrogênio líquido ou ácido tricloroacético – ATA (50-90%), mais bem indicado em grandes quantidades. Terapia fotodinâmica: emprega ácido metilaminolevulínico em creme e luz vermelha. Ingenol e Imiquimode. CORNO SUBCUTÂNEO - É mais um aspecto morfológico que propriamente uma entidade clínica. Trata-se de uma proliferação celular superficial compacta e corniforme de queratina assentada sobre uma base (estrato córneo). - A exérese cirúrgica, com exame histopatológico da base da lesão, é a conduta adequada. DOENÇA DE BOWEN - Lesão eritematoescamosa, com bordas bem delimitadas (porém irregulares), pouco infiltrada ou mínima, com área escamosa ou crostosa. - Infiltração: crescimento celular com aproximação à derme. - Pode ocorrer em qualquer área do corpo, mas principalmente no tronco. Restrita à epiderme, não passando pela camada basal. - Geralmente ocorre mais em adultos maduros ou idosos, sem predileção por sexo. - O tratamento pode ser feito cirurgicamente, quando há envolvimento dos anexos; terapia fotodinâmica; 5- fluorouracila; mas o mais utilizado é o Imiquimode a 5%, pois esse gera um processo inflamatório maior. ERITROPLASIA - Mácula eritematosa ou placa vermelho brilhante, bem delimitada, aveludada, finamente granulosa, com pouca ou nenhuma infiltração, que gradualmente se alarga. - Carcinoma espinocelular “in situ” nas mucosas. - O tratamento pode ser: Excisão cirúrgica: com maior dado tecidual, cirurgia micrográfica com detalhamento histológico na hora. Cauterização elétrica: não causa tanto dano celular, com melhor delimitação das bordas. 5-fluorouracila e Imiquimode são as mais utilizadas. Ana Clara Bocato - Medicina T XV PAPULOSE BOWENOIDE - Caracteriza-se por múltiplas pápulas ou placas verrucosas (crista de galo), bem delimitada e não infiltrada, hipercrômicas ou eritematoacastanhadas, preferencialmente localizada na genitália externa (pênis, vulva, região perianal, períneo e região inguinal de adultos jovens sexualmente ativos) - Etiologia relacionada a HPV (tipos 16, 18, 31 e 33). - As lesões podem involuir espontaneamente, persistir de forma benigna ou evoluir para doença de Bowen. - Tratamento, quando feito, é por cauterização química (ATA) ou elétrica. As drogas não têm muito resultado clínico. Tumores epiteliais malignos CARCINOMA ESPINOCELULAR OU EPIDERMOIDE (CEC) - Tumor maligno constituído por proliferação atípica de células espinhosas, de caráter invasor, podendo ocorrer metástases. - Tem origem na camada mais superficial da epiderme, e em geral, atinge áreas do corpo expostas ao sol, ou até em queratose actínicas. Acomete a membrana basal e pode se disseminar. - São fatores de risco a exposição ao sol (luz UV), pele clara, tabagismo, exposição ao arsênico e derivados do alcatrão. Além disso, ter histórico familiar, leucoplasias, infecção por HPV, imunodepressão (transplantados) e desordens como xeroderma pigmentoso. - Manifestações clínicas: pápula infiltrada, queratematosa pelo processo de necrose central (sem irrigação sanguínea adequada), dura, com lesão de crescimento vegetante. Também é comum observar glomerulados de vasos sanguíneos. - O tratamento pode ser feito por: Exérese e sutura Criocirurgia Linfadenectomia: retirada de uma pequena parte do sistema linfático quando há infiltração neoplásica no mesmo, ou de forma preventiva. Radioterapia e quimioterapia: tratamento mais invasivo e com mais efeitos colaterais, geralmente usado em casos mais graves da doença. Terapia imunológica com Cemiplimabe: produção de anticorpos contra moléculas-alvo, inibindo a via inflamatória (anti-BP1 bloqueia receptores BP1 e os linfócitos não conseguirão mais se ligar, destruindo o tumor pelo sistema de defesa). CARCINOMA BASOCELULAR (CBC) - Surge nas células basais, que estão na camada mais profunda da epiderme. Raramente se disseminam além de seu local de origem, sendo pouco letais. Ana Clara Bocato - Medicina T XV - Localizado com maior frequência nas áreas expostas do corpo. - Tem como causas principais a exposição ao sol (ação crônica do UVB), irradiações radioterápicas e exposição ao arsênico. - Manifestações clínicas: nódulo ulcerativo, pápula rósea, com brilho perláceo (que o difere do CEC), crosta hemática, cresce progressivamente com posterior ulceração. TEREBRANTE - Placa com ulceração central, invasão rápida e de grande destruição de estruturas adjacentes. - O tratamento cirúrgico e muito mutilante. ESCLERIDERMIFORME - Placa branco-amarelada, raramente ulcerada,dura, lisa escleroatrófica, com aspecto de cicatriz. - A lesão alastra-se de maneira insidiosa e é diagnosticada de forma tardia. - Pode ser difícil discernir os limites do tumor, devendo ser valorizada uma boa margem de segurança na sua excisão cirúrgica. SUPERFICIAL - Placa eritemoescamosa, emoldurada por bordas irregulares e ligeiramente elevada, discretamente infiltrada. - Pode ter vários focos de lesão. - Tratamento é feito com Imiquimode. PIGMENTADO - Forma nódulo ulcerativo com variável pigmentação melânica (do castanho ao preto), pápula enegrecida. - Dermatoscopia: os achados mais frequentes são ninhos ovoides (concentrações de melanina) e vasos arboriformes. - Tratamento pode ser feito com excisão e sutura, criocirurgia, eletrocauterização, cirurgia micrográfica, radioterapia e Imiquimode, cada caso deve ser analisado individualmente. Tumores melanócitos MELANOMA - Tumor maligno de melanócitos a partir da transformação maligna das células da junção dermoepidérmica. - Pode acometer pele, mucosas, tendões e tecidos aponeuróticos. - Possui duas fases de crescimento: radial (superfície) e vertical (se aprofunda e invade camadas dérmicas mais profundas na forma de massa em expansão). - Epidemiologia: - Tumor de maior letalidade entre adultos jovens (77% das mortes por câncer de pele). - 6º câncer mais comum nos EUA, com incidência aumentando em 3x nos últimos 20 anos. Ana Clara Bocato - Medicina T XV - 80% dos casos ocorrem em áreas de exposição intermitente ao sol. - São fatores de risco a exposição solar UVA (envelhecimento e manchas solares) e UVB (queimaduras, vermelhidão e bolhas), genética (principalmente as de primeiro grau), bronzeamento artificial antes dos 35 anos, imunossupressão (transplantados). - Além disso, são também fatores de risco fototipo mais baixo e sardas (efélides), xeroderma pigmentoso, ter 10 ou mais nevos atípicos (displásicos) aumentando o risco em 32x, e a síndrome do nevo displásicos (lesões suspeitas quando possuem irregularidades e características importantes, devendo ser removidas) com aumento do risco em 500x. - Melanomas não surgem apenas de nevos, podendo surgir também de mutações “de novo”. ANAMNESE E EXAME FÍSICO - Importante perguntar sobre histórico familiar (familiar próximo que já teve algum tipo de câncer, e principalmente o de pele), condição geograficosocioeconômico (morador de áreas com forte incidência solar, condições de se proteger com protetores solares, educação sobre cuidados com a pele, renda para esse cuidado etc.) - Exame físico: dermatoscopia (10-220x), mapeamento corporal (20-70x). - Sempre orientar sobre os cuidados com a pele, seja ela branca ou preta, ambas estão susceptíveis ao melanoma. SINAIS E SINTOMAS - Aumento do diâmetro e espessura. - Alteração da cor. - Prurido. - Sangramento. - Ulceração. - Lesões novas. - Lesão melanocítica: rede pigmentar, glóbulos marrons agregados, linhas e projeções, pigmentação azul homogênea e padrão paralelo. MÉTODO DIAGNÓSTICO ANÁLISE DOS PADRÕES: - Método mais utilizado na dermatoscopia e com maior acurácia diagnóstica, foi descrito por Perhamberger em 1987, e define padrões dermatoscópicos característicos das lesões pigmentadas da pele. - A presença de rede pigmentar ou reticular (favo de mel), glóbulos ou pontos (Cobblestone), nevo azul (homogêneo), paralelo (região palmo-plantar), e starburst (explosão estelar). - Pode haver presença de crisálidas, estrias fibrosas na lesão. - Multicomponentes: - Múltiplas cores. - Rede pigmentar irregular ou área proeminente. - Estrias radiadas ou pseudópodes (dedos de luva). - Véu azul-esbranquiçado. - Áreas de regressão (despigmentação ou peppering) Ana Clara Bocato - Medicina T XV - Glóbulos distribuídos irregularmente. - Pontos pretos periféricos. - Borrões ou blotches (áreas de hipopigmentação ou hiperpigmnetação). REGRA DO ABCD - A: assimetria (pontos 0-2, peso 1,3). - B: bordas (pontos 0-8, peso 0,1). - C: variação de cor (pontos 1-6, peso 0.5). - D: diâmetro (maior ou menor que 6 mm (pontos 1-5, peso 0,5). - Análise dos resultados: T <= 4,75: lesão benigna T > 4,75: lesão suspeita ou atípica T > 5,45: lesão maligna MÉTODO DOS 11 PONTOS - Critérios negativos: simetria e monocromia. - Critérios positivos: - Véu azul-esbranquiçado. - Despigmentação pseudocicatricial. - Múltiplas cores. - Retículo pigmentado proeminente. - Estrias radiadas. - Múltiplos pontos marrons. - Pontos e glóbulos pretos periféricos. - Múltiplos pontos azul-acinzentados. MÉTODO DOS 7 PONTOS - Critérios menores, 1 ponto cada: - Projeção irregular. - Pontos e glóbulos irregulares. - Manchas de pigmentos irregulares. - Estruturas associadas à regressão. - Critérios maiores, 2 pontos cada: - Rede pigmentar atípica. - Véu azul-esbranquiçado. - Padrão vascular atípico. T < 3: lesão benigna T => 3: lesão maligna LISTA DE COMPROVAÇÃO EM 3 PONTOS - A presença de dois ou três critérios caracteriza a lesão como suspeita e passível de excisão. É o método mais utilizado para triagem. - Os critérios são: - Assimetria de cores e estruturas. - Rede atípica. - Estruturas azuis ou brancas. SUBTIPOS DE MELANOMA EXTENSIVO SUPERFICIAL - O mais comum (70% dos casos), acometendo adultos entre 30 e 60 anos. - Localizado principalmente nas pernas das mulheres e dorso dos homens. - Seu crescimento inicial é radial, posteriormente pode também crescer em profundidade (Breslow). NODULAR - Segundo tipo mais comum (15-30%). - Localizado principalmente tronco, cabeça e pescoço, acometendo mais homens entre 50 e 60 anos. - Não precisa necessariamente ser hiperpigmentada. - Seu crescimento é vertical. Ana Clara Bocato - Medicina T XV ACRAL LENTIGINOSO - Mais frequente em negros e asiáticos, seu diagnóstico geralmente é tardio. - Acomete mais pessoas entre 70 anos. - Localizado principalmente na área subungueal (polegar e hálux, com forte pigmentação da crista. - Sinal de Hucthinson: derrame de pigmento melânico nas bordas próximas e lateral, indicando propagação superficial do tumor. - Melanoníquia: caracteriza-se pela presença de estrias longitudinais de coloração café ou negras na lâmina ungueal, resultado de um aumento no depósito de melanina. LENTIGO MALIGNO - É o melanoma mais invasivo ou infiltrativo (ultrapassa a membrana basal), com evolução bem longa. - Acomete mais idosos com fotoenvelhecimento, principalmente nas áreas do nariz e região malar. CONDUTA - Realizar biópsia se suspeita, de preferência excisional. A biópsia longitudinal é indicada para os membros (linfonodos sentinela). - Microscopia confocal, mas ela não substitui o anatomopatológico. - Breslow é utilizado como fator prognóstico, sendo o precoce com melhores resultados. - Atenção com pacientes jovens do sexo feminino e lesões em extremidades.
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