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Gestão de Riscos em Projetos Estudo de Caso Professor Paulo Sampaio 2 Unicesumar estudo de caso ESTUDO DE CASO – EMPRESA DE CONSTRUÇÃO CIVIL CONSTRIX1 Introdução O segmento da construção civil esteve em baixa no Brasil no final dos anos 90 e início dos anos 2000. Porém, a partir de 2004 experimentou um crescimento no setor sem preceden- tes, com taxas de desenvolvimento há muito não experimentadas pelas empresas atuantes no mercado nacional. Segundo Alves (2013), o PIB da Construção Civil nacional obteve um crescimento de 5,18% em média entre os anos de 2004 a 2008, passando por uma pequena queda em 2009 (cerca de 0,7 negativos) e voltando a apresentar um bom crescimento nos anos de 2010 e 2011. A empresa Neste cenário, destaca-se uma empresa de grande porte atuante no ramo da construção civil, tendo em seu portfólio de empreendimentos edifícios comerciais de alto padrão, con- domínios residenciais de luxo, quatro grandes Shopping Centers em regiões nobres da capital de São Paulo e mais duas cidades grandes do estado, além de várias outras constru- ções de médio e grande portes, contratadas por empresas que investiram em sedes próprias. A Constrix é uma empresa já consolidada no mercado, com vários casos de sucesso e refe- rência como uma organização que sempre esteve pronta a encarar desafios propostos no segmento da Engenharia e Construção Civil. No ramo há mais de 30 anos, teve a oportunidade de trabalhar direta e indiretamente com vários especialistas e até mesmo celebridades da área da Engenharia, Arquitetura e Design que assinaram seus empreendimentos e emprestaram seus nomes às obras, sempre de vanguar- da, realizadas pela empresa, com destaques em publicações do gênero e matérias específicas da imprensa especializada e regionais em relação à localização dos empreendimentos. 1Estudo de caso baseado na experiência profissional do autor. Unicesumar 3 estudo de caso O cenário Em um desses empreendimentos, porém, mais especificamente a construção de um condo- mínio residencial de alto padrão em uma região nobre da capital de São Paulo, destaca-se a importância da Gestão de Riscos em obras civis e suas implicações nas principais áreas de conhecimento do Gerenciamento de Projetos. O escopo da obra do condomínio contava com 4 torres, com 25 andares cada, contemplando dois apartamentos por andar, de metra- gens diferentes, além de áreas comuns como salões de festas, piscinas, espaços gourmet, academias e espaços fitness, brinquedotecas, salões de jogos, quadras de tênis e campo de futebol society, além da portaria central. O projeto do empreendimento foi aprovado no final de 2005 e as obras tiveram início em meados de 2006, com previsão de entrega final datada para Novembro de 2008. De acordo com o planejamento do projeto, deu-se início então à terraplanagem do terreno e as funda- ções das estruturas principais estavam previstas para serem entregues no final do primeiro trimestre de 2007. Nesse ínterim, vários recursos materiais, bem como de mão de obra e maquinário compartilharam o campo de obras, atuando principalmente nas atividades de terraplanagem e de escavações e estaqueamento do que viria a ser as fundações bases para a construção das torres individuais. Dentre os maquinários, estavam presentes dois grandes guindastes utilizados para movimen- tar materiais pesados, plataformas de metal e de alvenaria para trabalhos em elevação, além de serem utilizados para locomoção de outros equipamentos menores. Eram guindastes do tipo ‘lagarta’ com esteiras rolantes no lugar de rodas e pneus, com capacidade de elevação de até 2.000 toneladas. Estes tipos de guindastes são muito utilizados por poderem se mo- vimentar no local de trabalho com segurança, além de poderem prover estabilidade pelo motivo do guindaste estar centrado entre seus dois eixos. Porém, uma das desvantagens do uso deste tipo de equipamento é o seu transporte e retirada das obras, devido ao seu peso que pode chegar até várias toneladas, o que acaba por ser muitas vezes dispendioso. 4 Unicesumar estudo de caso O problema Pois bem, terminadas as utilizações destes equipamentos é de praxe, e parte do planejamen- to, a retirada dos mesmos do canteiro de obras, pois suas presenças deixam de ser produtivas e começam a obstruir a atuação de outros maquinários e do corpo operário. Fazia parte do plano inicial a desmontagem dos guindastes principais no próprio local para que estes fossem transportados por caminhões até as dependências do fornecedor dos equipamen- tos. Porém, por questões de cumprimento de prazos (que já se encontravam apertados), optou-se pela retirada dos equipamentos sem desmontá-los, pois a construtora Constrix nessa altura dos acontecimentos não dispunha de tempo hábil para aguardar a desmonta- gem e retirada dos maquinários em partes e de forma gradativa. Frente a este novo cenário, o engenheiro responsável pela locação e administração dos ma- quinários junto à sua equipe contratou do mesmo fornecedor um terceiro equipamento, que seria operado para a remoção dos dois equipamentos que haviam sido utilizados na obra até então. O fornecedor garantiu que este era um procedimento padrão e que não haveria problemas, pois os guindastes seriam movidos para caminhões específicos para este tipo de transporte, além de ter a possibilidade de redução de custos por conta de o frete incidir apenas uma vez no transporte de cada maquinário. Frente a esta proposta, a equipe de lo- gística aderiu a esta alternativa e elaborou um aditivo no contrato de prestação de serviços pelo fornecedor, que modificava o escopo do serviço a ser prestado e foi assinado por ambas as partes. A ocorrência do risco não identificado Na data de remoção dos maquinários, foram enviados dois caminhões preparados para este tipo de transporte, bem como um terceiro guindaste (desta vez com rodas e pneus ao invés de esteiras rolantes do tipo ‘lagarta’) para removê-los e acomodá-los nos caminhões para o transporte. A operação estava prevista para tomar apenas uma manhã de trabalho no can- teiro de obras. Iniciado o procedimento, o primeiro guindaste – este um pouco menor de tamanho e com menor capacidade de elevação – foi içado e acomodado no primeiro ca- minhão, ao qual já prosseguiu para as instalações do fornecedor. Entretanto, na tentativa Unicesumar 5 estudo de caso de içar o segundo guindaste, eis que os cabos de sustentação e elevação do guindaste de remoção não suportaram o peso do maquinário e romperam, deixando que este caísse de uma altura de aproximadamente 6 metros do chão e rolasse até o muro de divisa com outro condomínio já pronto e habitado, adentrando a propriedade e invadindo a área de play- ground, que felizmente e por conta do horário, encontrava-se sem a presença de qualquer pessoa no momento da queda. Apenas os brinquedos foram completamente danificados. Passado o susto da queda, invasão e destruição do playground do condomínio vizinho pelo guindaste do tipo lagarta, as obras foram paralisadas e medidas de segurança foram tomadas pela equipe de segurança do trabalho da organização para que novos impactos não ocor- ressem, como o isolamento da área e acionamento de medidas de contenção. Acionaram o engenheiro-chefe responsável pela execução da obra, mas este se encontrava neste dia em outro canteiro de obras numa cidade distante cerca de 7 horas de viagem de carro do local do incidente, tendo delegado suas funções para o segundo engenheiro em comando e responsável por todas as ações durante sua ausência. O engenheiro-chefe soube do caso e solicitou para que não tomassem nenhuma ação enquanto ele não chegasse e que já estava retornando para a capital – faria a viagem de carro, pois a cidade não dispunha de aeropor- to nas suas proximidades. A reincidência do erro O dono da empresa fornecedora dos maquinários quando ficou sabendo do incidente reuniu seus melhoresespecialistas e dirigiu-se para o local. Reuniu-se com a equipe de en- genheiros responsáveis pela obra e juntos apuraram os fatos recém-acontecidos, os quais ficaram evidentes de que ocorreram por conta de erros de cálculos de dimensionamento de cargas elevatórias para remoção do segundo guindaste, assumindo total responsabi- lidade. Tais riscos não foram devidamente dimensionados por sua equipe de logística (e nem pela equipe de projetos da Constrix) e sabia que teria que arcar com os custos não só de remoção do maquinário e reparação, como também indenizatórios. Para tanto, acionou imediatamente a disponibilização e transporte de outro equipamento de sua proprieda- de, desta vez, mais robusto e melhor dimensionado para este tipo de operação. Apesar da 6 Unicesumar estudo de caso insistência dos responsáveis pela obra de não permitirem este tipo de atuação, respeitan- do e acatando as ordens e diretivas do engenheiro-chefe, não foi possível explicar e apurar como o plano de resgate do guindaste foi colocado em prática pelo fornecedor proprietá- rio dos equipamentos. Outro guindaste, também sobre rodas e pneus, só que desta vez com maior capacidade ele- vatória foi levado até o local para resgatar o equipamento que jazia na propriedade vizinha, a esta altura com diversos curiosos e imprensa local presentes para presenciarem e noti- ciar a tragédia, inclusive a que estava por vir. Após o devido isolamento da área, iniciou-se o procedimento de resgate, tendo inclusive que ser derrubada parte do muro que dividia o condomínio vizinho e parte do canteiro de obras para que fosse possível o (quarto) guin- daste adentrar as dependências e iniciar o resgate do maquinário. Durante a execução dos procedimentos, o engenheiro-chefe havia retornado e estava indignado com o que estava acontecendo. Várias discussões e incansáveis negociações entre a empresa contratante dos serviços (Constrix) e o fornecedor de serviços, além do representante legal do condomínio afetado, acertaram que os procedimentos de resgate seriam executados na manhã seguinte, sendo acompanhados por todos os interessados, uma vez que era desejo de todos resolve- rem a questão o quanto antes para que não repercutissem de maneira ainda mais negativa. Na manhã seguinte iniciaram-se os procedimentos de remoção do guindaste, com todas as medidas de segurança possíveis de serem implantadas. Porém, para surpresa e indignação de todos os presentes, o maquinário ao ser içado e prestes a ser removido do local, pendeu para o lado oposto ao do caminhão de resgate e rompeu novamente os cabos de sustentação do guindaste principal, desta vez caindo pesadamente com uma porção de sua estrutura destruindo boa parte da piscina secundária do condomínio. O choque foi tão violento que rompeu parte do fundo da piscina, destruindo sua estrutura interna e provocando seu va- zamento total para as dependências do estacionamento subterrâneo. Unicesumar 7 estudo de caso Este vazamento, que não foi apenas de água, mas também de parte da estrutura de alvenaria da piscina, encanamentos e outros materiais, danificou alguns veículos que ali se encontra- vam, de propriedade de alguns moradores do condomínio. Os prejuízos foram incalculáveis, pois por se tratar de um condomínio de alto padrão somente veículos importados e de custos elevados estavam no local no momento deste segundo incidente. Novamente não havia ninguém no local e no momento da queda, e não houve vítimas sob nenhuma circunstân- cia, a não ser por danos materiais. Os resultados A empresa fornecedora dos serviços de logística e de locação dos guindastes foi novamen- te responsabilizada por todos os danos e a principal a arcar com as sentenças indenizatórias. Porém, a empresa Constrix também foi processada e teve que arcar com parte das indeni- zações, desde a responsabilidade parcial sobre a remoção do maquinário e limpeza da área, a reconstrução do patrimônio destruído, bem como a indenização dos veículos avariados e processos indenizatórios movidos individualmente por alguns dos condôminos e pela empresa administradora do condomínio. O condomínio de alto padrão foi finalmente entregue, com sete meses de atraso em relação à data inicial, por conta de embargo da obra pela justiça durante os processos judiciais e de outros atrasos decorrentes do acontecido. A empresa Constrix teve sua margem de lucros abruptamente reduzida, quase amargando prejuízos por conta dos incidentes ocorridos. Ao final das obras e entrega dos apartamentos, bem como das áreas comuns, os responsá- veis pelas obras elaboraram uma documentação de lições aprendidas, para que situações de risco desta magnitude não tornassem a se repetir em seus empreendimentos e proje- tos de construção civil. 8 Unicesumar estudo de caso REFERÊNCIAS ALVES, A. V. ESTUDO SOBRE O MERCADO DE TRABALHO DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA: AVALIAÇÃO DA CAPACITAÇÃO E OFERTA – 2000-2012. Disponível em: <http:// monografias.brasilescola.com/engenharia/estudo-sobre-mercado-trabalho-construcao-ci- vil-brasileira.htm>. Acesso: 12 Nov. 2015. PORTOPÉDIA, tudo sobre transportes, logísticas, comércio e turismo. Disponível em: <https:// portogente.com.br/portopedia/guindaste-73053>. Acesso: 13 Nov. 2015.
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