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Duda Luizeto – med98 Aterosclerose, dislipidemia e síndrome metabólica • Aterogenese − É o desfecho final − É uma patologia inflamatória crônica de origem multifatorial que ocorre em resposta a agressão endotelial, acontecendo principalmente na camada íntima de artérias de médio (coronárias, carótidas, mesentéricas, renais e femorais) e de grande calibre (aorta) − Grande dependência genética e familiar − Agravamento segundo o estilo de vida e influência do meio ambiente − A dislipidemia, diabetes, tabagismo contribuem para a aterogenese − A lesão de aterosclerose começa desde a primeira década até o evento propriamente dito --> é uma doença silenciosa e aguda no momento que acontece o evento − A lesão inicial é a lesão do endotélio seguida por estrias gordurosas e com a presença do macrófago formando as células espumosas (evento inicial) ▫ É formada por uma matriz, área lipídica, área necrótica, colágeno, capa fibrótica ▫ Quanto mais estável a placa, maior a quantidade de capa fibrótica e menor o processo inflamatório ▫ Quanto mais instável, maior a quantidade de processo inflamatório ▫ A instabilidade d aplaca leva ao evento de aterotrombose (infarto ou AVC) • Do ponto de vista fisiológico e clínico, os lipides biologicamente mais relevantes são os fosfolipides (formação da membrana celular), o colesterol (formação de hormonios e vit D), os triglicerides (fonte de energia) e os ácidos graxos − Os lípides, insolúveis, são “empacotados” na corrente sanguínea em apolipoproteínas (solúveis) ▫ As apolipoproteinas tem funções estruturais, carreadoras efeitos sobre reações enzimáticas (co-enzimas) e interação com receptores − Em excesso, levam a formação de placas − Lipoproteinas: ▫ Quilomicrons e VLDL: lipoproteina de muito baixo peso ▫ IDL: densidade intermediária ▫ LDL: baixa densidade (apoproteina B100) ▫ HDL: alta densidade (tem uma quantidade maior de proteínas do que de colesterol) • Essas lipoproteínas são formadas pelo ciclo exógeno e endógeno e tem transporte reverso de colesterol − Ciclo exógeno: alimentação e formação dos quilomícrons (junção do colesterol, fosfolipes e triglicerídeos com a B48) que sofrem a ação da lipase lipoproteica havendo liberação de ácidos graxos pelo tecido e os remanescentes vão para o fígado − Ciclo endógeno: o fígado vai formar o VLDL que sofre ação de proteínas e na presença de cofatores (apoproteinas) vai passando de etapas. O VLDL se transforma em IDL que se transforma em LDL. O LDL é estocado no fígado e liberado o excesso na circulação − O transporte reverso é feito pelo HDL que “limpa” a circulação do colesterol em excesso • Relação do colesterol sérico e mortalidade cardiovascular − >200 = aumento da mortalidade cardiovascular 1. Hipertrigliceridemia • A hipertrigliceridemia é muito prevalente, atingindo cerca de 30% da população, entretanto seu papel no risco cardiovascular ainda não está totalmente estabelecido − O valor acima de 150 não aumenta o risco cardiovascular (ainda está sendo estudado) • Hipertrigliceridemia grave (>500) ou muito grave (>1000mg/dl) --> risco de pancreatite --> tratamento --> prevenção de pancreatite • Não tratar com fibrato a hipertrigliceridemia com valores poucos aumentados, somente com valores muito aumentados − Até porque a principal causa da hipertrigliceridemia em um paciente metabolicamente alterado é a hiperglicemia. Então, se você trata a hiperglicemia você consegue abaixar os triglicerídeos • Somente com a dieta os valores diminuem em 30% 2. Diagnóstico: avaliação laboratorial dos parâmetros lipídicos • Perfil lipídico completo pode ser obtido com jejum de 12h ou sem jejum (TG-VR depende do estado alimentar) • Se TG>440mg/dl sem jejum --> nova dosagem com jejum de 12h • LDL-c --> fórmula de Friedewald (não utliza se o TG>400mg/dl) • Não-HDL-c: é tudo o que não é HDL (colesterol menos o HDL) • Fatores modificáveis e não modificáveis: − Esses fatores somados a dislipidemia aumentam o risco de doença aterosclerótica 3. Diagnóstico: anamnese • Deve-se procurar estabelecer a época do diagnóstico, assim como pesquisar nos familiares em primeiro grau, a ocorrência dessa enfermidade, de diabetes mellitus e de DAC prematura • Além disso, deve-se investigar o uso de medicamentos ou patologias que possam levar a dislipidemia secundária • A dislipidemia é dividida em primária (história de familiar de primeiro grau positiva, de DAC prematura) e secundária a. Quando suspeitar de dislipidemia primária? • É uma doença prevalente • Critérios diagnósticos de Dutch Lipid CLinic Network − CT> 310mg/dl em adultos e >230mg/dl em crianças − LDL-c >190 mg/dl em adultos e >160 mg/dl em crianças − Podem indicar hipercolesterolemia familiar − Pacientes com mais idosos podem apresentar arco corneano independente de hipercolesterolemia − >8 pontos no total = certeza de hipercolesterolemia familiar − 6-8 pontos no total = provável − 3-5 pontos no total = possível − <3 pontos no total = pouco provável • Sinais clínicos − Halo corneano, xantomas tendinosos, xantelasma --> típicos de hipercolesterolemia familiar − Xantoma eruptivo --> típico de hipertrigliceridemia b. Causas de dislipidemia secundária: • Mais prevalentes • A terapia com estrogênio oral (pílula) pode causar hipertrigliceridemia pelo estrogênio e também hipercolesterolemia pela ação dos progestágenos • O hipotireoidismo é responsável pela diminuição dos receptores de LDL aumentando-o na circulação • Os tiazídicos são substancias que pioram o perfil metabólico 4. Estratificação de risco e metas • Valores de referências e de alvos terapêutico do perfil lipídico (adultos > 20 anos) • Metas terapêuticas absolutas e redução porcentual do LDL-c e do não-HDL 5. Tratamento a. Não farmacológico • Mudança de estilo de vida: manter peso saudável, terapia nutricional, exercício físico (150 minuto, 3x/semana), cessar tabagismo, controlar consumo de álcool • Recomendações dietéticas: − Dieta balanceada: 50-60% de carboidrato, 15% de proteínas, 25-35% de gordura − Diminuir açúcar − Eliminar ácido graxo trans (gorduras de biscoito) − Diminuir ácidos graxos saturados (<10%) − Substituir os ácidos graxos saturados por mono/polissaturados (oleoginosas, abacate) − Aumentar as fibras (25g sendo 6g de fibra solúvel) • A dieta balanceada consegue diminuir bem os níveis de triglicerídeos b. Medicamentoso • Medicamentos que atuam predominantemente no colesterol --> estatinas e ezetimibe − O mais utilizado é a estatina --> inibidor da hidroxi cetil coenzima A • Está coenzima está na formação do HDL, então, a estatina inibe a formação do colesterol • Diminui os eventos finais cardiovasculares − O ezetimibe apresenta diminui os eventos finais cardiovasculares ▫ Ele inibe uma enzima da parede do intestino de absorver o colesterol • Medicamentos que atuam predominantemente nos triglicerídeos --> fibrato, ácido nicotínico e ômega 3 − Começa o tratamento com valores acima de 400 ▫ Exceção: começa o tratamento com TG>204 com HDL<34 − Ácido nicotínico (não é muito utilizado) --> para aumentar o HDL − Ômega 3 (não é muito utilizado) --> dose efetiva para diminuição de TG seria de 4-6g (muito elevada) • Inibidores da PCSK9 --> alirocumabe e evolucumab − A PCSK9 é uma enzima que está junto do receptor do LDL não deixando o receptor voltar para a superfície do hepatócito. Quando ela se junta ao receptor, ele é metabolizado no hepatócito. Então ao utilizar essa medicação, o receptor do LDL vai conseguir voltar para a superfície do hepatócito − São medicações caras − Via subcutânea − Devem ser utilizadas no caso do paciente que não consegue atingir a meta em uso de estatina OU em pacientes com efeito colateral grave em uso da estatina c. Estatina • Tratamento crônico • Para pacientes diabéticos usar atorvastatina(SUS) ou rosuvastatina Hoje também temos a rosuvastatina junto com a ezetimiba sendo uma estatina de alta potencia • Efeitos potenciais das estatinas e tempo estabelecido • Efeitos colaterais: rabdomiólise e alteração hepática grave são raros. O paciente pode apresentar dor muscular • Após a instituição do tratamento, a reavaliação do perfil lipídico deve ser realizada após 4-12 semanas • Recomenda-se a dosagem dos níveis de transaminases (especialmente ALT) e de CK previamente ao início da terapia • Não há recomendação de dosagens periódicas em indivíduos assintomáticos 6. Conclusões • Existem cada vez mais evidencias que reduções mais agressivas do LDL-c levam a maior redução dos eventos cardiovasculares • Não existe um valor de LDL-c que seja seguro para todos, dessa forma o risco precisa ser calculado baseado nos fatores de risco de cada individuo • As estatinas são a pedra angular do tratamento das hipercolesterolemias • Em pacientes com elevado risco cardiovascular a adição de ezetimiba e os inibidores da PCSK-9 reduzem eventos cardiovasculares • Hipertrigliceridemia grave (>500) ou muito grave (>1000) – dieta de redução de gordura e carboidrato com simples com fibrato para reduzir o risco de pancreatite − Paciente com TG>204 e HDL<34 seria uma possibilidade de uso de fibrato • Estatina + fibrato = aumento do risco de complicações Síndrome metabólica • Conjunto de fatores de risco de origem metabólica inter relacionados: − Dislipidemia aterogênica (hipertrigliceridemia, níveis elevados de apolipoproteina B, partículas de LDL-c pequenas e densas e níveis baixos de HDL-c) − Hipertensão arterial − Disglicemia − Obesidade visceral − Estado pró inflamatório − Estado pro trombótico • A síndrome metabólica é fator de risco: − Duas vezes maior para desenvolvimento de doença cardiovascular nos próximos 5-10 anos − Cinco vezes maior de desenvolver DM2 • Principais critérios diagnósticos de síndrome metabólica − Pela IDF: ▫ Circunferência abdominal aumentada (90 para homens e 80 pra mulheres) + 2 critérios (TG>150 OU HDL<40 em homens OU HDL<50 em mulheres OU PA>130x85 OU presença de HAS OU glicemia de jejum maior que 100) − Pela endocrine society: ▫ 45-75 anos --> acima disso a idade já fator de risco + 3 dos seguintes riscos (circunferência abdominal, TG, HDL, glicose em jejum/TOTG/hemoglobina glicada) − Não existe consenso dos pontos de corte para crianças, mas as características a serem analisadas são as mesmas ▫ História do paciente e familiar: doença crônica, medicação, pequeno ou grande para idade gestacional, HF de DM2, síndrome metabólica na família ▫ Dados antropométricos ▫ Exame físico ▫ Solicitação de exames: se possível pedir o teste oral de tolerância (por quilo de peso) ▫ Se necessário exames adicionais (USG, bioimpedância) • Epidemiologia: − Alta prevalência − Aumento da prevalência com a idade e com o peso − Importância da prevenção da obesidade infantil para impedir a síndrome metabólica na idade adulta − É fator de risco para doença cardiovascular e diabetes • Existe obeso sem síndrome metabólica? Ela pode ocorrer no individuo com peso normal? − Sim, é o obeso que tem uma obesidade periférica − Sim, é a pessoa que tem uma obesidade visceral/abdominal • Os adipócitos são iguais? − O pre adipócito se diferencia em adipócito subcutâneo (protetora) e periférico (aterogênica) − A gordura vai se depositar no fígado, pâncreas, musculo... − A gordura visceral aumenta a resistência insulínica, a produção de citocinas inflamatórias e acumulo de ácidos graxos ▫ Citocinas inflamatórias: PAI1, IL-6, TNF-alfa, Leptinia ▫ A diponectina e a vinfastina são citocinas anti aterogênicas − Exame padrão outro para avaliar gordura visceral = tomografia ou ressonância ▫ Também podemos usar a densitometria, bioimpedância − Critérios clínicos: circunferência abdominal, circunferência cervical, relação circunferência abdominal/altura • Fisiopatologia da síndrome metabólica: obesidade visceral --> resistência insulínica --> aumento de ácidos graxos --> lipólise aumenta --> acumulo de gordura ectópica --> produção de citocinas inflamatórias • Perfil dos lipídeos plasmáticos na SM (aterogênico) − Triglicerídeos elevados − HDLc baixo − LDL limítrofe − Padrão LDL pequena e densa − APO B elevada • Apesar de não fazerem parte dos critérios para diagnóstico da SM, são complicações frequentemente associadas: − Acantosis nigricans − Microalbuminúria (OMS): marcador de lesão renal − Estados pró-trombóticos − Disfunção endotelial: evento inicial da aterosclerose − Estado pró-inflamatórios e hiperuricemia − Doença hepática gordurosa não alcoólica − Câncer − Apneia obstrutiva do sono − Hipogonadismo (homem) − Hiperadrogenismo/SOP (mulher) − Doença de alzheimer a. Avaliação clínica • História clínica: idade, tabagismo, prática de atividade física • História patológica pregressa: hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, DAC, AVE, SOP, doença hepática gordurosa não alcoólica, hiperuricemia. Uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteroides, beta bloq, diuréticos) • História familiar: hipertensão, diabetes e doença cardiovascular (idade) b. Tratamento • Como melhorar a resistência insulínica? − Sensibilizadores de insulina --> usar preferencialmente as glitazonas, mas também pode usar metformina (sem comprovação em perda de peso), análogo do GLP-1 (perda de peso) e inibidor da GLT2 (glifozinas que aumentam a liberação de glicose na urina) − Paciente diabético muito descompensado você pode usar insulina, mas você tem tendência a aumentar o peso do paciente • Pode usar as mesmas medicações da obesidade, principalmente o análogo do GLP1 (diminui a resistência insulínica e tem perda de peso) • Objetivo: tratar a HAS, DM2, disfunção endotelial e reduzir eventos de aterosclerose cardiovascular • A mudança do estilo de vida é fundamental na melhora da SM, podendo até reverter a SM • A farmacoterapia deverá ser direcionada para: − Obesidade (drogas anti-obesidade como o análogo do GLP1 e sibutramina) − Metabolismo glicídico (glitazonas/metformina/ISGLT/análogos do GLP1) ▫ Dar preferência aos sensibilizadores insulínicos − Hipertensão (IECAS/BRA/BCCs) ▫ Evitar diuréticos e beta bloqueadores − Dislipidemia (estatina) ▫ Associar a ezitimiba ou fibrato em algumas situações c. Resumindo • Paciente adulto sem diagnóstico de doença cardiovascular ou DM2 --> avaliar risco metabólico (obesidade, HDL, triglicerídeos, hipertensão e glicemia) • Se tiver 1 –2 componentes --> reavaliação a cada 3 anos • Se pré diabético --> reavaliação anual − Caso não responda a mudança do estilo de vida, iniciar metformina • Se tiver 3 dos 5 -= síndrome metabólica − Mudança do estilo de vida, restrição de sal, dieta, ingestão moderada de álcool, cessar fumo − Perder 5% ou mais • Hiperlipidemia --> usar estatina d. Conclusão • A síndrome metabólica é um fator de risco de CV e de DM • A resistência insulínica é o mecanismo base para a síndrome metabólica − Antes da resistência insulínica temos a obesidade visceral • Os produtos dos adipócitos estão envolvidos na patogênese da síndrome metabólica • A mudança do estilo de vida é fundamental para tratar síndrome metabólica
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