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Denise Ramos Pacheco Distúrbios Medulares Em cães e gatos Os distúrbios medulares podem ocorrer nos segmentos: • CERVICAL • CERVICOTORÁCICO • TORACOLOMBAR • LOMBOSSACRAL LESÃO CERVICAL: • Consciência: NORMAL → animal em alerta/vigília. • Nervos Cranianos: NORMAIS; pode ter Síndrome de Horner ipsilateral por conta da inervação simpática que passa pela região cervical. • Postura e Locomoção: NMS torácico e pélvico; paresia ou paralisia espástica (4 membros); dor cervical (pode ter ou não); alterações respiratórias (quando próximo de C1 e bulbo, mas não é tão comum ocorrer). • Reflexos: patelar → hiperreflexivo; radial → hiperreflexivo; biceptal → hiperreflexivo; por conta da ausência ou diminuição da modulação do reflexo pelo cérebro, já que a conexão entre a medula e a cabeça está interrompida na região da medula espinhal cervical. • NUNCA movimente o pescoço de um animal com suspeita de lesão cervical!!! • Propriocepção dos quatro membros alterada. • Obs: para perder a sensibilidade de dor profunda e superficial nos 4 membros com lesão cervical é raro, a lesão tem que ser muito grave. Instabilidade/subluxação atlanto-axial: → Acomete principalmente raças de pequeno porte (Poodle, Chihuahua, Pequinês, Spitz Alemão, Yorkshire Terrier). → Causas: → Anormalidades congênitas; → Anormalidades do desenvolvimento do áxis/atlas; → Anormalidades do desenvolvimento dos ligamentos; → Lesões traumáticas. → Sinais clínicos: → Locomoção com base ampla, propriocepção diminuída (déficit proprioceptivo nos quatro membros → pois quem comanda a propriocepção consciente é a cabeça, e quando há lesão cervical ocorre interrupção da comunicação entre o membro e a cabeça). Denise Ramos Pacheco → Tratamento: → Conservador: → Déficits neurológicos leves → colar ou colete cervical (6 semanas), confinamento (repouso, não deve pular em sofá, cama, etc.); → Cuidado com as complicações (acompanhar o paciente e feedbacks do tutor)! → Uso de analgésicos, dependendo do caso. → Cirúrgico: para déficits neurológicos mais severos, ou quando o tratamento conservador não obteve resultados. → Estabilizar e descomprimir. Síndrome de Wobbler (Espondilomielopatia cervical – EMC): → Acomete geralmente animais de raças grandes e gigantes. → “Bamboleio”: animal anda “rebolando”. → Classificada em 2 tipos: → COMPRESSÃO ÓSSEO-ASSOCIADA: alteração óssea. → Hereditária; → Cães jovens (ex: Dogue Alemão, Pit Bull); → Estenose cranial das vértebras cervicais, principalmente C4-C6. → COMPRESSÃO DISCO-ASSOCIADA: alteração em disco. → Cães de meia-idade (3-6 anos); → Doberman e Rottweiler; → Mais comum C6-C7, seguidas por C5-C6. Em casos de suspeita: RX cervical. Sinais clínicos → propriocepção em membros pélvicos e torácicos diminuída; tetraparesia ou tetraplegia. Ataxia proprioceptiva nos 4 membros; Marcha rígida com passos curtos MT; Marcha de base ampla e incoordenada MP; Dor cervical é comum. Reflexos medulares aumentados em membros pélvicos e torácicos, os quatro membros espásticos. Diagnóstico → exame físico + neurológico + complementares; RX simples, RM, TC, mielografia ou mielotomografia (exame contrastado da medula espinhal + tomografia). Tratamento: Denise Ramos Pacheco → Conservador: anti-inflamatórios + repouso. → Cirúrgico: para quadro progressivo, dor e/ou tetraparesia. → Descompressão e estabilização das vértebras cervicais (70-80% de sucesso); → Laminectomia dorsal; → Laminoplastia dorsal; → Slot ventral/cone invertido; → Hemilaminectomia. LESÃO CERVICOTORÁCICA: → Consciência: NORMAL → animal em alerta/vigília. → Nervos cranianos: NORMAIS; pode ter Síndrome de Horner ipsilateral (quando atinge as primeiras torácicas – T1, T2, T3) → Postura e Locomoção: NMI torácico; NMS pélvico; paresia ou paralisia flácida MTs; paresia ou paralisia espástica MPs. → Propriocepção em membro torácico: ausente ou diminuída, dependendo do grau da lesão. → Propriocepção em membro pélvico: ausente ou diminuído também, pois houve interrupção da conexão tanto dos membros torácicos quanto pélvicos com a cabeça. → Reflexo patelar: aumentado. → Reflexo biceptal: diminuído ou ausente, pois o reflexo chega na medula e não há conexão para fazer o arco reflexo (o membro perde a conectividade com a medula espinhal, portanto sua inervação está comprometida). → NMI (membro torácico): reflexos ausentes ou diminuídos, propriocepção ausente ou diminuída e membro flácido. → NMS (membro pélvico): membro espástico, mais rígido, pois não houve perda de inervação, apenas perdeu a conectividade com a modulação do reflexo pelo cérebro. LESÃO TORACOLOMBAR: → Consciência: NORMAL → animal em alerta/vigília. → Nervos cranianos → NORMAIS. → Postura e Locomoção → membro torácico normal; NMS pélvico; paresia ou paralisia espástica MPs; envolvimento de bexiga em alguns casos. → Membro torácico: normal, pois a lesão é posterior ao tórax. Animal tenta levantar com os membros torácicos, mas nos pélvicos tem paralisia ou paresia espástica, pois é NMS no membro pélvico. A conectividade da cabeça com o membro está interrompida, e o membro está hiper-responsivo ao reflexo patelar. Bexiga neurogênica pode ter nas lesões de cervical e cervicotorácica também, mas é mais evidente na lesão toracolombar. → Bexiga neurogênica → enche e não esvazia por completo (não consegue contrair bexiga efetivamente e tônus do esfíncter uretral externo fica contraído, então não sai a urina facilmente quando aperta a bexiga, e não tem força de contração de bexiga adequada → bexiga cheia e difícil de esvaziar). Trauma vertebromedular (TVM): → Região toracolombar → comum de ocorrerem traumas, pois só há a coluna nessa região, não existe a proteção pelo tórax, fazendo com que fique mais susceptível à traumas e/ou fraturas. → Os traumas podem ter causas: → PRIMÁRIAS: → Momento do trauma → fratura; extrusão traumática do disco; luxação; sangramento por rompimento de vasos. → SECUNDÁRIAS: Denise Ramos Pacheco → Por alterações bioquímicas e metabólicas → isquemia, necrose, edema, mielomalácea. Diagnóstico: → Imobilizar o animal para realizar exames (cuidado com a manipulação incorreta do animal)! → Histórico ou possibilidade de TVM; → Exames de imagem: RX, TC, RM, mielografia. → RX: luxação e fratura; → RM: processo hemorrágico (avaliar se possui hemorragias em canto de olho, ouvidos, nariz – podem indicar trauma). → Mielografia ou mielotomografia: extrusão/protusão de disco intervertebral. → Exames laboratoriais (avaliação de ruptura de bexiga, pneumotórax, etc.); → TCE? – Escala de Coma de Glasgow. Tratamento: → 1º: Imobilizar o paciente em uma superfície rígida. → 2º: ABC do trauma. → 3º: Lesão → INSTÁVEL: 2 dos 3 compartimentos vertebrais comprometidos (cirurgia imediata para estabilização vertebral); ESTÁVEIS: único compartimento afetado (tratamento conservador, se for em regiões cervicais ou lombossacrais; região toracolombar é difícil a estabilização dessa forma). → SE FOR LESÃO CERVICAL (TVM) → maior diâmetro do canal medular/vertebral cervical (ou seja, mesmo que haja inchaço da medula, há maior espaço); muito raro haver perda da sensibilidade profunda (melhor prognóstico). → SE FOR LESÃO TORACOLOMBAR → mais comum; mais graves pelo diâmetro do canal medular; instabilidade. → SE FOR LESÃO ENTRE L4 E SACRO → comprometimento da cauda equina; região suporta maiores deformações (melhor prognóstico), maior estabilidade da região garantida pela pelve. Síndrome de Schiff-Sherrington: → Animal com extensão dos membros torácicos, e flexão dos membros pélvicos (flácidos), mesmo a lesão sendo entre T3-L3. Lesão toracolombar pode perder conectividade entre o membro pélvico e o membro torácico. Existe essa conectividade entre os dois membros (o MP regula a atividade extensora do torácico, para modular o andar, pois sãoquadrúpedes; os animais tem coordenação rápida entre os membros, e quando há uma secção entre um membro e outro, o MP fica flácido e o MT fica com a musculatura enrijecida). Único caso em que tem a lesão toracolombar e há flacidez do pélvico e rigidez extensora do torácico. Ao longo do tempo tende a ir perdendo a rigidez do torácico, mas inicialmente quando pega um caso assim é essa síndrome, e deve-se realizar o RX da região TORACO-LOMBAR. → Perda da conectividade entre os membros. Os reflexos patelares estarão aumentados. O reflexo de dor em MP, em lesão grave, vai estar diminuído pois não tem conectividade com o córtex. Dor superficial e profunda no torácico, animal sente dor, mas não vai conseguir retirar o membro, pois ele não tem como fazer a flexão do membro (rigidez da musculatura extensora, não consegue flexionar). Denise Ramos Pacheco Material apresentado na aula. Doença do Disco Intervertebral: → Ruptura do anel fibroso e o disco vai para o canal medular, comprimindo a medula → Mais comum dessa lesão tipo 1: maioria da toracolombar (segmento muito grande, se houver um deslocamento ele sofre ruptura do DIV principalmente). Mais comum entre T12, T13 e L1. Cervical é mais raro → Rompeu (extrusão): sinais clínicos AGUDOS → DDIV tipo 1 Material apresentado na aula. Diagnóstico: → RX, TC, RM, mielografia. Tratamento DDIV toracolombar: → DDIV graus 1 e 2: → Analgésicos; → Anti-inflamatório não esteroidal (AINE); → Relaxante muscular (Diazepam, por exemplo). → DDIV graus 3, 4 e 5: → Emergências cirúrgicas → hemilaminectomia + tratamento clínico. → Em casos de lesão grave toracolombar o indicado é sondar os animais, cateterizar a bexiga e tirar toda a urina pelo menos 3x por dia nas primeiras 2 semanas. Depois disso a bexiga consegue voltar a Denise Ramos Pacheco ter um pouco mais de funcionamento, aí dá para manusear comprimindo a bexiga em casa. NÃO FAZER ISSO NO INÍCIO POIS PODE ROMPER A BEXIGA!!! Material apresentado em aula. Tratamento DDIV cervical: → Aguda x crônica; → Classificação: → GRAU 1 – dor cervical intensa, pescoço baixo, andar rígido. → GRAU 2 – dor e ataxia. → GRAU 3 – tetraparesia ou tetraplegia. → Para dor e alterações neurológicas leves (graus 1 e 2): → Alguns animais podem se beneficiar de talas cervicais. → Tetraparesia/plegia ou dor intensa intratável: → Descompressão cirúrgica (slot ou fenda ventral – complicações). Diagnósticos diferenciais de paresia abrupta: → Embolia fibrocartilaginosa: agudo; êmbolo pós-esforço; assimetria do neuro; dor inicial que desaparece após algumas horas. O êmbolo pode vir de fragmentos de fibrocartilagem de tecido/estrutura próxima que faz embolia no local. Pode ter melhora espontânea em cerca de 20 dias. Recomenda-se fisioterapia. O diagnóstico é feito por RM. Material apresentado na aula. DDIV CRÔNICO → não há ruptura do disco, apenas protusão, com compressão da medula espinhal. Tratamento DDIV tipo 2: → CONSERVADOR: → AINEs; Denise Ramos Pacheco → Anti-inflamatório esteroidal; → Analgésico (ex: gabapentina) a longo prazo; → Acupuntura, fisioterapia, repouso (animal não deve subir em sofás, escadas, etc). exercícios como caminhada leve e natação podem auxiliar no tratamento. → CIRÚRGICO: → Depende da localização (slot ou fenda ventral – complicações); hemilaminectomia; laminectomia; slot ventral. Diagnósticos diferenciais: crônico e subagudo → Discoespondilite bacteriana ou fúngica; → MEG; → Discoespondilose; → Processos neoplásicos; → Brucelose; → Mielopatia degenerativa – Pastor Alemão. LESÃO LOMBOSSACRAL: → Consciência: NORMAL → animal em alerta/vigília. → Nervos cranianos: NORMAIS. → Postura e Locomoção: membro torácico normal, NMI pélvico; paresia ou paralisia flácida MPs; diminuição de reflexo patelar e perineal; pode ter envolvimento de bexiga, esfíncter anal e cauda. → Propriocepção em membros torácicos normal, em membros pélvicos diminuído ou ausente. Material apresentado em aula. Síndrome da Cauda Equina: → Promove estenose lombossacra degenerativa. → Raças: Poodle (mais comum a causa congênita); Pastor Alemão (mais comum congênita e adquirida). → Acomete região entre L7-S1. → Sinais clínicos: → Dor lombossacral ou membros pélvicos; → Hiperestesia (dor constante, formigamento) e automutilação; → Arrastar – dígitos dos pélvicos; → Redução do movimento da cauda; → Incontinência fecal e/ou urinária; → Relutância em saltar ou subir degraus ou superfícies. Denise Ramos Pacheco → Diagnóstico: → RX, RC, Mielografia e/ou RM (fornece mais detalhes), mielotomografia também. → Tratamento: → CONSERVADOR (apenas dor, sem outras alterações): → AINE + analgésico + repouso. → Discoespondilite – ATB. → CIRÚRGICO (quando o quadro progride mesmo com repouso, animal não consegue andar ou a dor não diminui): → Laminectomia dorsal (para descompressão). → Estabilização lombossacral. Material apresentado na aula.