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1 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Vasculite de Grandes Vasos VASCULITES SISTÊMICAS • Características gerais de vasculites: o As vasculites são doenças sistêmicas autoimunes o Levam a uma reação inflamatória na parede do vaso o Essa reação vai cursar com Isquemia e necrose tecidual de vários órgãos ou sistemas o Elas são classificadas em vasculites de grandes, médios ou pequenos vasos por seu acometimento preferencial PROFA. ESTEPHANIA PIGNATON 2 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Manifestações comuns de vasculites: o Febre → Geralmente febre vespertina e baixa o Fadiga o Astenia o Artralgia o Mialgia o Envolvimento de órgãos e sistemas → Cada tipo de vasculite tem afinidade com um determinado órgão VASCULITES DE GRANDES VASOS São a Arterite de Takayasu e a Arterite de Células Gigantes. • Elas têm em comum: o Acometimento da aorta e de seus ramos principais o Preferencialmente acometem mulheres o Geram inflamação granulomatosa na parede do vaso • Diagnósticos diferenciais: o Podemos pensar em algumas doenças (Ex.: Doenças do colágeno) ▪ Aterosclerose ▪ Infecção → Sífilis, tuberculose, aneurisma micótico e HIV ▪ Coarctação aórtica congênita ▪ Doença do IgG 4 ▪ Síndrome de Marfan ▪ Síndrome de Ehlers Danlos ▪ Síndrome da aorta média ▪ Síndrome Loeys-Dietz ▪ Neurofibromatose tipo 1 ▪ Displasia fibromuscular ▪ Amiloidose primaria ▪ Doença Erdheim-Chester ▪ Mediólise arterial segmentar ▪ Pós-radiação o Devemos lembrar que as doenças reumatológicas são sempre diagnósticos de exclusão ARTERITE DE TAKAYASU • Características gerais: o Acomete preferencialmente mulheres jovens (< 40 anos) 3 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Pico de incidência → 15 a 30 anos o Mais comum nos países asiáticos (Japão, Índia, Coréia) e Oriente Médio (Turquia) o Envolve a aorta e seus ramos (arco aórtico + seus ramos e aorta abdominal + seus ramos) o Principais ramos arteriais envolvidos: ▪ Subclávias ▪ Artérias carótidas comuns ▪ Artérias carótidas internas o Estudo brasileiro: ▪ 73 pacientes ▪ A Arterite de Takayasu foi a 2ª mais frequente ▪ 83,5% no sexo feminino (SP) ▪ Média de idade no diagnóstico → 27 anos • Etiopatogenia: o Ainda não totalmente esclarecida o Sabemos que indivíduos predispostos geneticamente (determinada combinação de genes) quando expostos a algum fator desencadeante, geralmente infecciosos, desencadeiam a cascata inflamatória, que vai culminar com a produção de interleucinas e com a lesão tecidual que dará a manifestação clínica o Base autoimune, fatores ambientais e genéticos → Inflamação com resposta imune mediada por células o Possível associação com o Mycobacterium tuberculosis (hipótese não confirmada) o Estímulo de expressão da proteína do choque (65 Kda) no tecido aórtico o Complexo de Histocompatibilidade de Classe I o A resposta é predominantemente resposta Th1 e Th17 • Fase aguda da doença: o Adventícia → Infiltrados perivasculares da vasa vasorum ▪ Infiltrado de células mononucleares (linfócitos CD4 e CD8, macrófagos, células plasmáticas) o Camada média → Infiltrada por linfócitos e formação de células gigantes com neovascularização o Íntima → Espessamento da íntima • Fase crônica: o Destruição das camadas elásticas → Substituídas por tecido fibrótico o Na clínica → Estenoses, dilatações e oclusões (a artéria vai estar toda estenosada, com áreas de dilatação, formação de pseudoaneurisma, áreas de oclusão etc.) • Manifestações clínicas: o Depende da duração, da fase da doença e de qual artéria está sendo envolvida 4 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Geralmente cursa com 3 fases ▪ 1ª fase → Muito difícil, fase que quase não conseguimos diagnosticar ❖ Paciente tem muito sintoma constitucional (Febre, mialgia, astenia, artralgia, sudorese noturna, emagrecimento e cefaleia) → Gera ansiedade para o paciente e para o médico porque normalmente há uma busca falha pela causa desses sintomas ❖ Há o aumento de algumas interleucinas, o vaso não está diretamente acometido, por isso é difícil fazer o diagnóstico ▪ 2ª fase → Ainda um pouco difícil de diagnosticar, mas já envolvimento de inflamação instalada na parede do vaso ❖ Muitas vezes o paciente queixa de dor cervical, dor no trajeto de carótida ❖ Carótidas acometidas → Carotidínia e dor cervical ❖ Aorta torácica acometida → Dorsalgia ▪ 3ª fase → Mesmo na 3ª fase é difícil o diagnóstico, mas o paciente já tem áreas de estenose, oclusão (+ ramos proximais do arco aórtico), dilatação e aneurisma. Então, pode ter: ❖ Redução ou ausência de pulso ❖ Discrepância de PA nos MMSS ❖ Sopro arterial ❖ Claudicação de extremidades • Diagnóstico – Critérios classificatórios (ACR 1990): o Pelo menos 3 dos 6 critérios para diagnóstico de AT (sensibilidade de 90,5% e especificidade de 97,8%) ▪ Idade de início da doença menor que 40 anos ▪ Diminuição dos pulsos braquiais ▪ Claudicação de extremidades Manifestações clínicas por acometimento vascular – Prestar atenção em todos esses sintomas em pacientes que não têm comorbidades e são jovens 5 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Diferença maior que 10mmHg na pressão sistólica entre os membros superiores ▪ Sopro na artéria subclávia ou aorta ▪ Alterações arteriográficas de aorta e seus ramos principais → Compatíveis com áreas de estenose, formação de aneurisma, áreas de dilatação etc. • Diagnóstico – Exames de imagem: o Arteriografia, US doppler, AngioTC, AngioRNM e 18 FDG PET CT o Arteriografia ▪ Foi o padrão-ouro para o diagnóstico por várias décadas ▪ Vantagens: ❖ Determina extensão da doença → Conseguimos ver todo o arco aórtico e os ramos dele, toda a aorta abdominal e os ramos dela etc. ❖ Novas lesões e piora das pré-existentes ▪ Desvantagens: ❖ Invasiva e uso de contraste → Paciente com comprometimento de função renal devemos muito pesar o risco-benefício ❖ Não visualiza alterações em parede do vaso → Incapaz de detectar lesões precoces ▪ A arteriografia não é mais recomendada pelo EULAR para diagnóstico de AT ❖ Principal indicação → Guiar procedimentos ▪ Apesar de já considerada padrão ouro, não é + indicada pelo EULAR, porque é muito invasivo e envolve alto uso de recursos e um risco processual mais elevado em comparação com outras modalidades de imagem ❖ Além disso, não fornece nenhuma informação sobre a morfologia da parede, embora as alterações luminais sejam representada com detalhes ❖ A principal indicação para angiografia convencional em LVV é atualmente parte de intervenções vasculares, como angioplastia transluminal percutânea com balão ou implante de stent o Ultrassom Doppler: ▪ Mostra as áreas de estenose, dilatação, aneurismas e oclusões vasculares ▪ Permite o diagnóstico precoce → “Sinal do halo” (permite ver o edema ao redor do vaso) ▪ Principalmente para artérias carótidas ▪ Limitação para visualizar aorta torácica ▪ Uma alternativa para pacientes com claudicação de MMSS e MMII o Angiotomografia: ▪ Método diagnóstico e acompanhamento da AT → Comparação de tomografia com intervalos ▪ Permite ver bem o lúmen vascular e a parede do vaso 6 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Consigo ter uma boa visualização da aorta e ramos, artérias pulmonares e coronárias ▪ Na mão de um profissional experiente, é capaz de diferenciar aterosclerose e AT → Consegue ver se o espessamento é mais característico de doença aterosclerótica (principal diagnóstico diferencial) ▪ Tem como limitação para seu uso de rotina a exposição à radiação e ao contraste iodado o Angioressonância: ▪ Considerada como 1ª escolha para o diagnóstico ▪ Tem uma alta resoluçãoda anatomia, mostrando o espessamento da parede do vaso, alterações do lúmen e formação de aneurismas ▪ Pode superestimar a inflamação de parede arterial e é limitado em ramos distais e para calcificação aórtica o PET-CT (18F-FDG Tomografia por Emissão de Positrons): ▪ Método de imagem não invasivo ▪ É usado o radioisótopo 18F-FDG ❖ Tem avidez por células inflamatórias (monócitos e macrófagos) ❖ Captação aumentada de glicose → Onde tem muita inflamação tem muito consumo de glicose. Então, o exame consegue detectar esses locais onde a glicose está sendo consumida rapidamente ❖ Os locais do corpo que normalmente têm maior consumo de glicose (fígado e coração) ficam + escuros na imagem → As áreas inflamadas aparecerão em um tom mais forte ou parecido com esses locais ▪ Associado com tomografia computadorizada → Para uma avaliação anatômica • Tratamento (recomendações EULAR 2018): o Utilizamos corticoide em dose de 1mg/kg/dia, de mais ou menos 40 a 60 mg ▪ O objetivo é em 2 a 3 meses essa dose estar bem reduzida já entre 15 e 20 mg ▪ Diminuir a prednisona para no máximo 10 mg/dia após 1 ano o Além disso, associamos um tratamento imunossupressor adequado à realidade do paciente e à gravidade da doença (metotrexato, micofenolato, azatioprina, leflunomida, ciclofosfamida etc.) ▪ Doença + localizada, de único ramo, ramo não tão importante para mortalidade → Tendemos a usar o metotrexato e a azatioprina ▪ Doença + difusa, com acometimento grave (por exemplo de coronária, carótida etc.) → Geralmente usamos o ciclofosfamida ou micofenolato o Reavaliamos o paciente depois de 6 meses, instituindo essa terapia imunossupressora o Quando o paciente não responde → Recorremos aos imunobiológicos (os que utilizamos são os anti TNF e anti- IL6 / tocilizumabe) 7 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ARTERITE DE CÉLULAS GIGANTES • Características gerais: o Antigamente denominada de arterite temporal o É a mais comum vasculite primária após os 50 anos de idade – pico aos 80 anos o Envolvimento arterial: ▪ Craniano → Principalmente um ramo da artéria carótida externa (artéria temporal) ▪ Extra craniano → Aorta, subclávia, vertebral, carótida, axilar, ilíaca e femoral ❖ Esse acometimento pode estar combinado ao acometimento craniano entre 30 e 74% dos casos o 50% dos pacientes terão associado um quadro de Polimialgia Reumática ▪ Dor e rigidez matinal de músculos das regiões cervical, ombros, membros superiores e cintura pélvica ▪ O paciente fica limitado, mas, diferente das miopatias inflamatórias (poliomiosite, dermatomiosite), em que o paciente fica limitado por fraqueza ou diminuição de força, na polimialgia reumática a limitação é por dor ▪ Não há elevação de CPK • Patogênese: o Há um gatilho, sendo um agente infeccioso na maior parte das vezes, que é reconhecido pelo receptor da célula dendrítica, que vai apresentar ao linfócito e desencadear toda a resposta inflamatória o Muito TH1 e TH17 → Vão culminar com a produção de IL-6 e IL-12 • Manifestações clínicas: o Devemos suspeitar de arterite de células gigantes em idosos principalmente com cefaleia nova (temporal, geralmente unilateral), febre, perda ponderal, dificuldade para mastigar, anorexia, dor em musculatura escapular e pélvica, elevação de VHS e PCR ▪ Quando há a suspeita e é visto que o paciente tem um acometimento da artéria temporal que tem a possibilidade de ser arterite de células gigantes → Procurar manifestações extracranianas o Arterite intracraniana: ▪ Carótida interna e externa: ❖ Cefaleia: + região temporal ❖ Sensibilidade temporal ❖ Amaurose fugaz ❖ Perda visual (NOIA) ❖ Claudicação de mandíbula → Dificuldade para mastigar e dor (bem sugestivo de art. de células gigantes) ❖ AVC o Arterite extracraniana: ▪ Aorta e ramos principais (subclávia, vertebral, carótida, axilar, ilíaca, femoral): ❖ Complicações → Aneurisma, dissecção, estenose e ectasia ❖ Claudicação de membros, isquemia digital e ausência ou redução de pulso 8 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Laboratório: o É bem parecido entre a de células gigantes e a de Takayasu o O paciente geralmente tem: ▪ Anemia de doença crônica normocítica e normocrômica ▪ Plaquetose ▪ VHS/PCR elevados (provas inflamatórias) ▪ Às vezes elevação discreta de transaminases e redução da albumina ▪ Fator e reumatoide geralmente são não reagentes → Não tem anticorpo como marcador de doença • Critérios classificatórios: o Se há pelo menos 3 dos 5 critérios, há elevadas sensibilidade (93%) e especificidade (91%) para arterite de células gigantes o A biópsia não é isenta de complicações, apresenta resultados negativos e tem elevado custo ▪ Por isso, a importância de outros exames complementares, sobretudo as técnicas de imagens • Suspeita clínica: o Cefaleia e/ou perda visual + Elevação de VHS/PCR o Se for necessária biópsia da artéria temporal, o ideal é que seja feita até 2 semanas após iniciar tratamento ▪ Não devemos nunca postergar o tratamento, principalmente em paciente com perda visual instalada ▪ Se não for possível realizar em até 2 semanas, o ideal é que nem seja feita, porque a inflamação reduz muito rapidamente com o tratamento • Biópsia: o Normalmente da artéria temporal o Foi muito tempo considerada padrão-ouro → Por muitos ainda é considerada, mas é invasiva o Tem alta especificidade (100%), mas uma sensibilidade baixa (15- 40%), porque muitas vezes o lugar que se realiza a biópsia no trajeto da temporal pode não estar inflamado (a inflamação não é toda por igual) • Métodos de imagem: o Ajudam muito no diagnóstico o Podem ser usados: ▪ Ultrassom doppler 9 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Angiotomografia ▪ Angioressonância ▪ PET • Recomendações do EULAR: o Na suspeita clínica, dar preferência pelo método de imagem o Tentar individualizar o método de imagem de acordo com manifestação clínica do paciente o Realizar imagem precoce → Até 1 semana após dos sinais e sintomas (corticoide reduz inflamação precocemente, então se esperar muito pode não aparecer muita coisa) o Alta suspeita clínica e de imagem → Não necessita de biópsia da artéria temporal o Manifestações intracranianas → US de artérias temporais ± axilares é recomendado como 1ª escolha o Há o sinal do halo → Quase patognomônico o RNM pode ser uma alternativa quando suspeita de manifestações clínicas intracranianas o TC e PET não são recomendados para avaliação de inflamação de artérias cranianas o Manifestações extracranianas → Podemos usar US, RNM, TC e PET o US é limitado para aortite (arco aórtico) Ultrassom – O sinal do halo é esse sinal de edema ao redor do vaso. Quando o profissional é experiente, ele consegue ver até o espessamento da camada íntima e da camada média Angio RNM – Também é possível ver o edema ao redor da parede do vaso, ficando mais branquinho → Mais água, mais inflamação 10 REUMATOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Tratamento (recomendações do EULAR): o Se há uma suspeita forte e o paciente não tem grandes contraindicações: ▪ Há perda visual? ❖ Sim → Pulso intravenoso de metilprednisolona 250-1000 mg (3 dias) ❖ Não → Prednisona ou equivalente 40-60 mg (corticoide via oral) o Tocilizumabe → Usado em casos de doença refratária (paciente não responde ao tratamento de 1ª escolha) ou recidivante, aumento dos eventos adversos ou complicações pelo corticoide ▪ Alternativa → Metotrexato (quando a doença é mais localizada e não vai gerar tanta morbidade e mortalidade) o Terapia antiplaquetária ou anticoagulante não deve ser usada rotineiramente para o tratamento de LVV → Estudos mostram que não trouxeram benefícios o Monitoramento da atividade de doença → De acordo com manifestaçõesclínicas e com VHS/PCR (queda = melhora), além de métodos de imagem para comparação PET CT – Há uma área que capta mais, de acometimento de um vaso extracraniano
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