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1 Hemorragia Digestiva Alta | Larissa Gomes de Oliveira. Hemorragia digestiva é qualquer sangramento que acontece ao longo do trato gastrointestinal e a divisão em alta e baixa é de acordo com a origem desse sangramento. É utilizado como marco topográfica, o ligamento de treitz, que fica na junção entre o duodeno e o jejuno. Então se a região que causou esse sangramento é proximal a esse ligamento, ou seja, está no esôfago, estomago ou duodeno, estamos falando de uma Hemorragia Digestiva Alta (HDA). Já os sangramentos distais ao ligamento de Treitz, são as Hemorragias Digestivas Baixas (que são hemorragias em intestino delgado, cólon, reto e ânus. As hemorragias altas são muito amis frequentes do que as hemorragias baixas, representando 80 dos casos de hemorragias digestivas, além disso, essas possuem também maior índice de mortalidade. Entretanto, apesar de ser mais comuns e com maior índice de mortalidade, parte dessas HDA vão cessar espontaneamente, mas isso não quer dizer que não deva investigar e tratar essa hemorragia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Com relação as manifestações clínicas, ocorre Hematêmese, que é o vomito com sangue, esse sangue pode ser vivo, ou um sangue escurecido e a hematêmese possui grande valor diagnóstico, porque um episodio bem caracterizado de hematêmese define uma hemorragia digestiva alta, isso quer dizer que 100% das hematêmeses correspondem a HDA, mesmo que a endoscopia não aponte a fonte do sangramento. (OBS: o sangramento bem caracterizado que compõe uma HDA é dito pois o paciente pode chegar à emergência e falar que está vomitando sangue, porem esse sangue não tem origem digestiva, esses são chamados de pseudohemorragia e pode ser um sangramento de cavidade oral, epistaxe, hemoptise e por isso é importante examinar a cavidade nasal e oral do paciente se o paciente está tossindo, pois se há tosse é provável que a causa seja respiratória). Uma outra manifestação clinica da HDA é a melena, que é a presença de sangue nas fezes (nesse caso, é a presença de sangue digerido nas fezes, o que deixa a evacuação escurecida e com odor fétido). A melena, diferente da hematêmese, também pode ser um sintoma de Hemorragia digestiva baixa. Há também a hematoquezia que é a presença de sangue vivo nas fezes (mas é um sintoma que ocorre mais na hemorragia digestiva baixa). 2 Hemorragia Digestiva Alta | Larissa Gomes de Oliveira. CAUSAS DA HDA Quando se fala em HDA, é importante que seja abordada os tipos dessa hemorragia, na qual ela pode ser dividida em: HDA varicosa e HDA Não Varicosa. Quando se fala de uma HDA varicosa, falamos também de uma hipertensão portal, causada por alguma doença hepática crônica. E esse sangue vem do rompimento de varizes esofagianas, mas as hemorragias varicosas são menos frequentes do que as não varicosas. A causa mais comum de HDA é uma causa não varicosa, que são as ulceras pépticas (corresponde a 44% dos casos) – as duas principais causas de ulcera são H.pylori e AINES (por isso na investigação deve perguntar e investigar a presença e uso desses). A segunda causa de HDA são as lesões da mucosa gastro duodenal (LAMGD) nque também pode ser causada por uso de medicamento como AINES e AAS, além disso, há também as ulceras de estresse, que são aquelas que podem aparecer em pacientes críticos. Também pode ocorrer HDA por refluxo gastroesofágico/esofagite, neoplasias e síndrome de Mallory-Weiss. CONDUTA DO PACIENTE COM HDA Muitas vezes a anamnese deve ser bem objetiva, pois o paciente perdeu sangue e em muitos casos está em quadro de síncope. A primeira coisa na abordagem desse paciente é confirmar se houve mesmo um sangramento, e a melhor forma de fazer isso é através da visualização direta do produto das evacuações ou do vomito do paciente. Porem nem sempre isso é possível e desse modo pode ser feito o toque retal, em que se o indivíduo teve um sangramento digestivo nas últimas 24 horas é muito provável que isso fique evidente no toque retal, mesmo que esse sangramento foi exteriorizado pela forma de hematêmese. Depois, é importante definir se o sangramento em questão é uma HDA ou HDB. Feito isso, é hora de pensar na provável causa desse sangramento. Para isso, algumas perguntas da anamnese vão auxiliar. Se o paciente tem dor epigástrica, em queimação por exemplo, se pensa em ulcera péptica, ou se ele faz uso frequente de medicamentos. Se ele tem história de doença hepática ou alcoolismo crônico, pode ser uma hipertensão portal, sangrando através de varizes esofagianas. Nesse caso, o exame físico pode ajudar mostrando estigmas de hepatopatia crônica, como circulação colateral, aranhas vasculares, icterícia, esplenomegalia, ascite. Além disso, uma massa palpável no exame físico, pode ser um tumor, e se tiver adenomegalia supraclavicular, é um exemplo clássico de câncer de estomago. É preciso buscar ainda sinais de repercussão hemodinâmica, como hipotensão, sudorese, taquicardia, palidez. 3 Hemorragia Digestiva Alta | Larissa Gomes de Oliveira. EXAMES COMPLEMENTARES Os exames complementares tem como objetivo avaliar quanto sangue o paciente perdeu e ajudar na investigação da etiologia. É importante que seja solicitado hemograma, para confirmar a perda de sangue e mostrar o quanto o paciente perdeu (é importante lembrar que a hemoglobina pode demorar até 24 horas para cair e mostrar a perda real do paciente). Além disso, é importante avaliar a função hepática que pode confirmar o sangramento varicoso, além de função renal, que pode evidenciar uma perda volêmica mais importante, já com baixo fluxo renal. É importante que seja solicitado também coagulograma, com o objetivo de identificar algum distúrbio de coagulação que pode estar predispondo o sangramento, além de tipagem sanguínea, pois esse paciente pode precisar de transfusão de sangue. CONDUTA GERAL Existe também uma conduta geral, em que esse paciente vai ficar em dieta zero, com oxigênio sob cateter (se necessário, ou seja, se não estiver saturando bem). O mais importante para esse paciente é a estabilização hemodinâmica, e para isso, é importante que seja feito um acesso venoso calibroso nesse paciente (o ideal são 2 acessos venosos periféricos calibrosos), e desse modo, deve ser feita a ressuscitação volêmica com cristaloide (como soro fisiológico, com o objetivo de manter a pressão sistólica PAS entre 90- 100 e a FC<100). OBS: é preciso ter cuidado com o paciente cardiopata que não lida bem com um grande volume, pode ficar congesto, e desse modo esse volume deve ser dado devagar, aos poucos, monitorando para não ocorrer edema agudo. É preciso intubar o paciente que estiver com sangramento volumoso, porque esse paciente corre o risco de bronco aspirar, ou também em paciente com Glasgow < 8 (que é um paciente que não consegue proteger a via aérea). Não é necessário que todo paciente com HDA receba transfusão de sangue, essa transfusão só vai ser feita, em paciente que está com a hemoglobina < 7 (Hb<7), no caso do paciente idoso ou com comorbidades, o objetivo é manter a Hb maior que 9. CONDUTA – NÃO VARICOSO Especificamente para o paciente com HDA não varicoso, é preciso decidir como vai ser feita a conduta desse paciente, se vai ser ambulatorial, na enfermaria ou na UTI. Aqui no Brasil não há tratamento ambulatorial de hemorragia digestiva. Existe alguns scores clínicos, como o Rockall e o Glasgow-Blatchford que indicam se o paciente tem baixo risco e poderia ser liberado da urgência sem endoscopia, na pratica, aqui no Brasil, se o paciente tem hemorragia digestiva, é internado. 4 Hemorragia Digestiva Alta | Larissa Gomes de Oliveira. Mas ainda é preciso decidir se esse paciente vai para a enfermaria ou UTI. Se ele tem instabilidade hemodinâmica, está hipotenso, ou taquicardico, ou o paciente idoso, com muita comorbidade, ou alguma repercussão sistêmica, acaba indo para a UTI.O paciente novo, estável, sem comorbidades, mantendo boa FC e boa PA, pode ser conduzido na enfermaria. TRATAMENTO HDA NÃO VARICOSA Sabemos que a principal causa de HDA é a ulcera péptica e que nessa doença é preciso controlar a acidez gástrica, por isso é recomendado o inibidor de bomba de prótons na HDA não varicosa, como o omeprazol. A indicação também é que seja feita uma endoscopia precocemente, nas primeiras 24 horas após a admissão (mas nunca antes de estabilizar o paciente). A endoscopia ajuda a confirmar o diagnóstico, a descobrir a etiologia e também fazer o tratamento. Existe a classificação endoscópica de Forrest que indica a chance de resangramento de uma ulcera péptica. O FORREST I, indica um sangramento ativo, esse sangramento é em jato ou um sangramento ativo e mais lento. O FORREST II, não está sangrando no momento, mas indica um sangramento recente. Podendo ter vaso visível (2A), coagulo (2B) ou hematina (2C). O FORREST III, vai ser uma ulcera que não está mais em atividade, já tem uma base limpa. O tratamento com o omeprazol em bomba, vai ser mantido para o paciente que é FORREST I ou II 2A (com vaso visível) 5 Hemorragia Digestiva Alta | Larissa Gomes de Oliveira. A endoscopia serve para diagnostico, mas também no tratamento, e o ideal é sempre usar duas modalidades de tratamento na endoscopia. No sangramento ativo, por exemplo, pode ser aplicado adrenalina para causar uma vasoconstrição e parar o sangramento e depois usar um outro método, como o método mecânico, que é a colocação de um clipe metálico na ulcera, ou térmico com o uso do argônio, por exemplo. Se o paciente foi tratado na endoscopia, não precisa ser feita uma nova endoscopia. Só vai ser feita uma nova endoscopia, se houver ainda uma suspeita de sangramento, por exemplo se a hemoglobina estiver caindo. Em 80% das vezes o sangramento vai parar espontaneamente, mas em cerca de 20% não, e se ele ressangrar, pode ser feita uma nova endoscopia, com uma nova hemostasia endoscópica. E se depois dessa segunda hemostasia, se o paciente voltar a sangrar pela terceira vez, é considerado uma falha terapêutica e aí ele vai para cirurgia ou embolização. É importante também eliminar o H.Pylori que é um dos principais causadores de ulcera. A principal forma de detecção de H.pylori é o teste de urease na endoscopia, ele dar muito falso negativo durante o sangramento, então se negativo, deve ser repetido. CONDUTA HDA VARICOSO Nesse caso sempre vai ser um sangramento grave, e deve ser encaminhado para a UTI. O sangramento varicoso na maioria das vezes se apresenta com hematêmese e melena. Não se deve esquecer da conduta geral, com oxigênio, estabilização hemodinâmica do paciente. Também se pensa em intubar se o sangramento for intenso e se o gasglow estiver menor que 8. Isso é importante porque o paciente hepatopata pode sofrer uma encefalopatia hepática, que pode deixar esse paciente em coma. O sangue no intestino desse paciente é metabolizado e libera amônia, no não varicoso isso não é um problema, porque o fígado transforma a amônia em ureia, no entanto, no caso de varicoso, o fígado não funciona direito e essa função fica prejudicada. Com isso, há um acumulo de amônia no sangue e essa amônia chega ao cérebro, gerando encefalopatia. Uma das condutas feitas para evitar esse acumulo de amônia, é a retirada do sangue do intestino antes que ele vire amônia e caia na corrente sanguínea. Para isso, é usado a Lactulose (25ml 12/12 horas), que vai fazer o paciente evacuar mais, eliminando esse sangue. É importante que seja administrado também antibiótico para reduzir infecção (na admissão e por dias). No paciente mais grave é usado ceftriaxona injetável, ou o ciprofloxacino venoso. E o medicamento usado para parar o sangramento é a Terlipressina, que age fazendo uma vasoconstrição esplâncnica, para reduzir o gradiente de pressão venosa portal, reduzindo o sangramento. 6 Hemorragia Digestiva Alta | Larissa Gomes de Oliveira. Desse modo, no caso da não varicosa, é utilizado omeprazol para reduzir a acidez, quando é varicosa, é utilizado Terlipressina para reduzir o sangramento. E quando o paciente chega e não se, é administrada sabe ainda a etiologia e precisa ter uma conduta imediata, é administrada omeprazol e terlipressina. Isso é importante pois a terlipressina dada precocemente ajuda a melhorar o prognóstico. E o uso dele ressangrar quando não toma a terlipressina, é muito maior. No caso da varicosa, o ideal é que a endoscopia seja feita até 12 horas da admissão e para evitar ressangramento. A endoscopia serve para encontrar a etiologia do sangramento e também para tratar. O tratamento pode ser com a ligadura elástica, colocando um elástico em volta da variz para que ela não sangre mais ou pode ser com cianoacrilato que é uma substancia colocada dentro da variz (esse caso é melhor em varizes gástricas, onde a ligadura pode não ser tão eficaz). Quando não para de sangrar pode ser usado também o balão de Sengstaken-Blakemore, com dois balões e uma sonda (um balão fica dentro do estomago e o outro no esôfago) e vai insuflar a depender da localização da variz, em que ele vai apertar a variz e impedir o sangramento.