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Farmacologi� d� Sistem� Nerv�� Parassimpátic� Introdução Fármacos que facilitam a ação da acetilcolina, mimetizando-a, ou bloqueiam a ação dela, atuando na modulação do sistema nervoso parassimpático: agonistas dos receptores muscarínicos, anticolinesterásicos e antagonistas dos receptores muscarínicos. A acetilcolina pode se ligar a receptores muscarínicos e a receptores nicotínicos, sejam eles da junção neuromuscular ou neuronal. Os anticolisteráticos são de ação indireta, pois não apresenta uma ação agonista sobre o receptor, mas inibe a enzima que degrada o neurotransmissor, aumentando a concentração de acetilcolina. Os antagonistas se ligam a receptores, bloqueando as ações da acetilcolina. Fármacos utilizados em diferentes áreas da medicina Oftalmologia, psiquiatria, neurologia, gastroenterologia, ginecologia e toxicologia. Sinapse colinérgica O sistema nervoso parassimpático é crânio-sacral, sendo que as fibras pré-ganglionares geralmente acompanham os nervos paracranianos (3°, 7°, 9° e 10°), realizando sinapses mais próximas ao órgão alvo. Após o potencial de ação, ocorre a liberação de acetilcolina, estimulando a fibra pós ganglionar, que também libera acetilcolina para atuar sobre os receptores específicos dos tecidos inervados pelo sistema. Exemplos de efeitos produzidos pelo sistema nervoso parassimpático: contração da pupila, estimulação glandular, inibição sobre o sistema cardiovascular, contração de brônquios e estimulação de secreção, estímulo da atividade gastrointestinal e estimulação do músculo detrusor da bexiga. Esses efeitos são mediados pela liberação acetilcolina, interagindo nos receptores, principalmente, muscarínicos. Síntese de acetilcolina: a colina é ativamente transportada para o axoplasma, onde ela sofre ação da colina acetiltransferase, que, na presença de acetil-CoA, forma a acetilcolina. Esse neurotransmissor é estocado em vesículas próximas à membrana por meio de um sistema contra-transporte de prótons. Para que ocorra a exocitose da acetilcolina, é necessária a chegada de um potencial de ação, que promove a abertura dos canais de cálcio, fazendo com que a acetilcolina siga para a fenda sináptica. A acetilcolinesterase está ancorada na membrana plasmática e é responsável pela hidrólise da acetilcolina, sendo um fator limitante, pois finaliza a ação do neurotransmissor. Ação da acetilcolina sobre receptores muscarínicos M1, M3 e M5 são receptores muscarínicos excitatórios, que levam à promoção de fosfolipase C e mobilização de cálcio intracelular por meio da despolarização. M2 e M4 são ativadores de proteína G, inibindo adenilato ciclase e modulando a abertura de canais de cálcio, o que resulta em respostas inibitórias por meio da hiperpolarização. Locais de ação de fármacos a.) Ação direta: acetilcolina, betanecol, carbacol e metacolina. Atuação sobre o receptor muscarínico. b.) Ação indireta (inibidores de acetilcolinesterase): fisostigmina, piridostigmina, edrofônio e neostigmina. c.) Antagonistas muscarínicos: atropina, escopolamina e tiotrópio. Atuação sobre o receptor muscarínico. Embora atuando no mesmo sistema, uma vez que a acetilcolina se liga a ambos os receptores, a escolha do fármaco depende da ação necessária. Atuação da acetilcolina nos receptores muscarínicos A acetilcolina atua nos receptores muscarínicos de M1 a M5, especificamente na sinapse neuro-efetora, produzindo as seguintes respostas: a.) Olhos: contração do músculo do esfíncter da íris (miose) e contração do músculo ciliar (acomodação do cristalino para visão próxima); b.) Traqueia e brônquios: constrição e aumento de secreções brônquicas; c.) Ureter e bexiga: contração do músculo detrusor da bexiga e relaxamento do esfíncter; d.) Glândulas salivares: aumento de secreção abundante e aquosa; e.) Sistema gastrointestinal: aumenta a motilidade e o tônus da musculatura lisa. Fármacos de ação direta: agonistas dos receptores muscarínicos 1.) Ésteres da colina: acetilcolina, metacolina, betanecol e carbacol. A acetilcolina não é administrada, pois ela é rapidamente hidrolisada, apresentando um pico de cerca de 20 segundos. Esses fármacos apresentam ação sobre receptores muscarínicos, possuem suas ações antagonizadas por atropina e que desempenham atividade nicotínica. A utilização desses fármacos depende do órgão alvo e da sua suscetibilidade à acetilcolina. Os fármacos com atividade nicotínica apresentam mais efeitos colaterais. Dentre os fármacos de ação direta, o mais utilizado é o carbacol, pois ele apresenta maior especificidade aos receptores muscarínicos. 2.) Alcalóides: pilocarpina e muscarina. Fármacos de ação indireta: inibidores da acetilcolinesterase A inibição da acetilcolinesterase faz com que a quantidade de acetilcolina da fenda sináptica aumente. Essa inibição pode ser reversível, pois a enzima permanece acetilada, sendo de uso terapêutico; ou irreversível, que são fármacos tóxicos, ou seja, a enzima não é regenerada. No tratamento de intoxicação, existem compostos regeneradores enzimáticos, entretanto, eles não são eficientes no caso de envelhecimento enzimático. Classificação química dos inibidores da acetilcolinesterase a.) Álcoois simples com grupo amônio quaternário: edrofônio, ambenônio e demecário (ação rápida: dois a dez minutos); b.) Ésteres do ácido carbâmico de álcoois que possuem grupo de amônio quaternário ou terciário: neostigmina e fisostigmina (ação mais demorada: minutos a horas); c.) Derivados orgânicos do ácido fosfórico: compostos organofosforados, como diisopropilfluorofosfato, paration e malation (ação muito prolongada: envelhecimento enzimático). Usos terapêuticos dos inibidores da acetilcolinesterase a.) Trato gastrointestinal (M2 e M3): o estímulo da atividade vagal no trato gastrointestinal aumenta o tônus e a amplitude de contrações e a atividade secretora do estômago e do intestino. Tratamento de íleo paralítico pós-operatório, distensão abdominal pós cirúrgica e atonia gástrica. Fármacos: betanecol, neostigmina e fisostigmina. b.) Trato urinário (M2 e M3): contração do m. detrusor da bexiga, com aumento da pressão miccional e do peristaltismo uretral, e relaxamento do trígono e do esfíncter. Tratamento para a incapacidade de urinar ou esvaziar completamente a bexiga em casos de retenção urinária (pós-operatório) e bexiga neurogênica. Fármacos: betanecol, neostigmina e fisostigmina. c.) Efeitos oculares (M3): contração do músculo liso do esfíncter da íris e contração do músculo ciliar, o que facilita o efluxo do humor aquoso para o canal de Schlemm (drenagem da câmara anterior). Tratamento de miose rápida para cirurgia oftálmica (catarata) e de glaucoma. Uso tópico de cloreto de acetilcolina, carbacol, cloridrato de pilocarpina e fisostigmina. d.) Glândulas salivares, secretoras lacrimais e salivares (M3): aumento das secreções (lágrima e saliva). Tratamento da boca seca (xerostomia) e síndrome de Sjogren. Fármacos: pilocarpina e cevimelina. Metacolina: utilizada em teste de função pulmonar para determinar o diagnóstico de asma. e.) Miastenia (fraqueza, queda da pálpebra superior, dificuldade em engolir e falar), fadiga, falta de ar ou visão dupla): doença autoimune de destruição dos receptores nicotínicos na placa terminal pós-juncional. Fármacos: piridostigmina, neostigmina e ambenônio. f.) Doença de Alzheimer: deficiência de neurônios colinérgicos, diminuição da atividade enzimática CAT e aumento de colinesterase. Fármacos: donepezila, tacrina, galantamina e rivastigmina. Os fármacos não curam a doença de Alzheimer, mas retardam seu desenvolvimento. Efeitos colaterais A maioria dos efeitos colaterais está relacionada ao excesso de estimulação parassimpática: broncoespasmo, aumento das secreções bronquiais, náuseas, vômitos, diarreia, emergência urinária, hipotensão e bradicardia. Contraindicações Asma, DPOC, obstrução urinária, obstrução do trato gastrointestinal, doença ácida péptica, doenças cardiovasculares, instabilidade vasomotora, epilepsia, parkinsonismo, presença de obstrução mecânica, inflamação gastrointestinalaguda e peritonite. Fármacos anticolinesterásicos irreversíveis Inseticidas organofosforados e gases tóxicos. Reversível de uso terapêutico: ecotiofato (uso ocular). Ações dos compostos sobre os receptores muscarínicos: barramento de visão, hiperemia conjuntiva e miose, lacrimejamento, sudorese, rinorreia, sialorréia, hipersecreção brônquica, broncoespasmo, dispnéia, bradicardia, hipotensão, incontinência urinária, diarréia, tenesmo, náuseas e vômitos. Ações dos compostos sobre os receptores nicotínicos: palidez, taquicardia, hipertensão, diminuição do reflexo tendinoso, fasciculações e cãimbras, fraqueza e paralisia muscular. Ações gerais: convulsões, letargia, sonolência, confusão mental, coma, respiração Cheyne-stokes, depressão respiratória e dispneia. Tratamento das intoxicações: atropina (antagonista competitivo da acetilcolina), pralidoxima (intoxicações envolvendo organofosforados) e obidoxima. Monitorização laboratorial das intoxicações agudas: dosagem da atividade das colinesterases, pois possui grande correlação com a quantidade de produto absorvida, assim como com o quadro clínico apresentado pelo paciente. Fármacos parassimpatolíticos São fármacos antagonistas dos receptores da acetilcolina presentes nas células efetoras. Os parassimpatolíticos são capazes de reduzir a resposta mediada pelos nervos parassimpáticos por meio de antagonismo competitivo com a acetilcolina, se ligando aos receptores muscarínicos. Exemplos: atropina, escopolamina e tiotrópio. Classificação dos fármacos antagonistas de receptores muscarínicos Os fármacos abaixo são escolhidos de acordo com a ação terapêutica desejada: Atropina e congêneres de ocorrência natural: ésteres alcalóides de aminas terciárias do ácido trópico e escopolamina. Moléculas semi sintéticas e sintéticas (diferem dos fármacos naturais na duração de ação e nos efeitos farmacológicos): - aminas terciárias (pirenzepina, tropicamide, diciclomina e benzatropina); - aminas quaternárias (patrópio, tiotrópio, propantelina e glicopirrolato). As aminas apresentam diferenças quanto aos aspectos farmacocinéticos: as aminas terciárias apresentam maior lipossolubilidade e são melhores absorvidas; as aminas quaternárias apresentam baixa lipossolubilidade, apresentando dificuldade para atravessar a barreira hematoencefálica. Sintéticos: seletividade por subtipos de receptores muscarínicos - pirenzepina (M1), darifenacina e solifenacina (M3). Atropina Relatos de uso em dor de cabeça, inflamação e afecções dolorosas que afetam os movimentos. Correlação entre doses e efeitos da atropina: - concentração terapêutica (entre 0,5 e 2,0 mg) → discreta diminuição da frequência cardíaca, xerostomia e inibição da sudorese; - 5,0 mg → taquicardia, palpitações, xerostomia, midríase e visão borrada; - 10 mg → alucinações, delírio e coma; - 100 mg → dose letal. Dentre os efeitos terapêuticos, a administração da atropina varia de acordo com a dose administrada: a redução da salivação e a velocidade de micção se iniciam a concentrações menores do que a frequência cardíaca e a acomodação visual. Outros efeitos terapêuticos: cicloplegia, ausência de resposta à luz e redução da atividade gastrointestinal (antiespasmódico). Usos terapêuticos da atropina a.) Olhos: relaxamento do m. esfíncter da íris (bloqueio de M3), resultando em dilatação pupilar (midríase), e relaxamento do m. ciliar (bloqueio de M3), resultando em perda de acomodação visual (cicloplegia). Para tratamentos oftalmológicos também podem ser utilizados escopolamina, homatropina, ciclopentolato e tropicamida, sendo que a escolha do fármaco depende da duração de efeito desejada e da concentração administrada. São utilizados em exames de refração, cirurgias oftálmicas e tratamento de estrabismo. b.) Glândulas: diminuição de secreção salivar e de outras glândulas exócrinas (bloqueio de M3). Utilizados para endoscopia digestiva alta e cirurgia geral (intubação). c.) Pulmões: relaxamento da musculatura lisa traqueobrônquica (bloqueio de M3), resultando em broncodilatação, e redução da secreção traqueobrônquica (bloqueio de M3 das células secretoras). Uso de tiotrópio e ipratrópio em DPOC e de brometo de metilescopolamina em rinite alérgica, sinusite e resfriado comum. d.) Coração: doses maiores de 2 mg promovem taquicardia (bloqueio de M2 nos nodos SA e AV). A pressão arterial é minimamente alterada, pois os vasos apresentam baixa inervação colinérgica. Utilizados em infarto agudo do miocárdio (redução de tônus vagal excessivo, bradicardia sinusal ou bloqueio AV) e em controle do ritmo cardíaco alterado pela isquemia. e.) Trato gastrointestinal: relaxamento da musculatura lisa e redução da motilidade (bloqueio M3), redução da secreção (bloqueio de M3 em células secretoras e bloqueio de M1 em gânglios entéricos). Utilizados para intestino irritável, aumento do tônus (espasticidade) ou motilidade (antiespasmódico). f.) Bexiga urinária: relaxamento da musculatura lisa da bexiga urinária e da uretra (bloqueio de M3), resultando em redução da frequência urinária. Utilizados em paraplegia espástica (aumento da capacidade da bexiga urinária), redução de frequência urinária, enurese noturna e cólicas renais (redução do tônus da musculatura uretral) g.) Sistema nervoso: na prevenção de cinetose (doença do movimento) utiliza-se escopolamina como profilaxia, pois consiste em um amnesiogênico; em doença de Parkinson, os antimuscarínicos são utilizados com fármacos que aumentam a síntese de dopamina no sistema nervoso central (ex.: levodopa, carbidopa e selegilina), visando a redução de tremores e rigidez muscular. obs.: A cinetose é causada por uma perturbação no reconhecimento do movimento pelo sistema vestibular, pois o corpo está parado, mas o ambiente está em movimento, gerando conflito de informação e perturbação do equilíbrio corporal. f.) Diminuição do tônus parassimpático: intoxicação por agentes que aumentam a atividade do parassimpático, como muscarina, anticolinesterásicos e gases tóxicos (anticolinesterásicos). Efeitos colaterais dos antimuscarínicos Hipertensão ocular, constipação, retenção urinária, boca seca, confusão mental, ansiedade, visão borrada e fotofobia. Contraindicações dos antimuscarínicos Comprometimento neurológico, idosos, lactentes e crianças pequenas e hipertrofia prostática.
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