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( Sarah Michalsky 2020.2, 101 )Rastreamento do Câncer Fatores de risco: - Não modificáveis. - Modificáveis. - História natural da doença: todos os fatores de alterações (mecanismos genéticos, ação do sistema imunológico) irão culminar no processo de doença que possui um ciclo/história natural. Há o período pré-patogênico (indivíduo exposto ao fator de risco, mas sem alteração identificável que possa chamar de doença – assintomático), período patogênico pré-clínico (a doença existe no ponto de vista biológico, mas não se manifesta clinicamente) e período patogênico clínico (manifestação da doença, natural do paciente procurar atendimento e diagnóstico). - Timing do diagnóstico e do tratamento: a importância do momento em que se começa a tratar o paciente é tamanha porque quanto mais precoce, melhor o prognóstico. PREVENÇÃO – DEFINIÇÃO - Pessoas não doentes: precisa haver uma ação que REDUZA AS CHANCES de determinada pessoa desenvolver câncer. - Pessoas doentes assintomáticas: medidas podem ser tomadas para DIMINUIR A CHANCE DE A PESSOA MORRER por causa da doença. - Pessoas doentes: o tratamento oncológico, mesmo aplicado em pessoas já doentes pode ser um tipo de “prevenção”, EVITANDO O PIOR DESFECHO QUE SERIA O ÓBITO. - Pessoas com doença incurável: desfechos ainda assim podem ser PREVENIDOS (incapacidade funcional, prolongar a sobrevida). NÍVEIS DE PREVENÇÃO - Prevenção primária: agir na fase pré-patogênica, eliminando a exposição ao fator de risco. - Prevenção secundária: detecção precoce que ao invés de impedir que a doença aconteça, ocorre o diagnóstico precoce dentro da história natural com o objetivo de aumentar a chance de cura (D1). Caso não seja possível aumentar essa chance, há aumento da fase clínica com a mesma taxa de sobrevida. - Prevenção terciária: cirurgia conservadora (preservar o máximo de tecido possível) complementando com radioterapia ou quimioterapia para diminuir as chances de morte e incapacidade. Exposure: momento de exposição ao fator de risco, ocorrendo uma alteração que predisponha o desenvolvimento da doença período pré-patogênico. Onset of disease (A): momento em que a doença no ponto de vista biológico está presente fase pré-clínica, assintomática. Early detection (B): se ocorrer o diagnóstico ANTES da doença ficar sintomática, a fase clínica passa a ser MAIS PROLONGADA. A sobrevida pode parecer maior, porque ao invés de contar a partir de C, conta-se a partir de B, porém a sobrevida é a mesma. Onset of symptoms and/or sings (C): momento que os sintomas aparecem fase clínica. Pode evoluir de diversas maneiras, de acordo com a gravidade da doença, gravidade do tumor e momento que o início do sintoma se deu. RASTREAMENTO - Do que se trata? Buscar uma coisa desconhecida que deixa sinais. - Qual o objetivo principal? Impedir ou reduzir a chance de ocorrência de um desfecho. Às vezes fala sobre prevenção secundária porque se busca o diagnóstico precoce. - Existem riscos? Custo (do teste e conduta a ser tomada após positivação), procedimentos são invasivos, problemas psicológicos (paciente perdeu o pai por algum câncer e em determinada fase da vida deverá ser realizado o rastreamento nesse paciente, seu psicológico estará afetado). - Se um teste é muito sensível ele detectará muitos casos e deverá ser analisado posteriormente quais são verdadeiro-positivo e falso-positivo. CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA RASTREAMENTO DE UMA DOENÇA Doença apropriada: - Fase pré-clínica de tamanho razoável que permita o rastreamento. - Tratamento precoce favorável deve ser melhor que o tratamento clínico (se tratar antes e depois for a mesma coisa, não tem o porquê rastrear). - Incidência considerável não adianta rastrear uma doença que atinge uma parcela mínima da população. Teste apropriado: - Sensibilidade e especificidade adequadas. - Custo e riscos precisa ser minimamente invasivo, aceitável a nível cultural e possuir custo apropriado. Programa apropriado: - Organização do sistema nacional ou territorial que seja adequado para realizar o rastreamento e seguir os casos posteriormente. - O gráfico A representa um teste padrão-ouro, por exemplo: quem possuísse o nível de antígeno acima de 2 estaria afetado pela doença e quem estivesse abaixo desse nível não possuiria a doença. O teste captaria facilmente isso sensibilidade e especificidade 100%. - O gráfico B é o que ocorre na teoria: pessoas possuem níveis abaixo de 2 COM a doença e pessoas com níveis acima de 2 SEM a doença especificidade. PROGRAMA DE RASTREAMENTO Acesso: Restrito: - Populações de risco. - Acesso ao sistema de saúde para que as pessoas sejam atingidas. Universal: mesmo que sempre haja alguma restrição quanto a faixa etária e sexo. Organização: - Oportunístico. - Organizado: atenderia às questões de acesso e se organiza em identificar a atenção às pessoas que seriam indicadas ao rastreamento. Sistema: - Precisa que dê conta dos casos sintomáticos. - Precisa que dê conta dos casos identificados pelo rastreio. EFETIVIDADE - Incidência: indicador para descrever a ocorrência da doença. Quando ocorre o rastreio, inicialmente há AUMENTO DA INCIDÊNCIA da doença, depois estabilização e compatibilidade com a realidade. - Mortalidade: indicador para descrever a ocorrência da doença. No final, espera-se que a taxa de mortalidade diminua. Inicialmente há AUMENTO DA MORTALIDADE porque o número de diagnósticos também aumentou, depois estabilização e compatibilidade com a realidade. - Morbidade: diagnóstico mais precoce gera cirurgias menos invasivas e agressivas, menos pacientes com doenças metastáticas diminuição da morbidade. - Overdiagnosis: situação que é feito o diagnóstico de um tumor indolente que provavelmente não ficaria sintomático ao longo da vida. Por exemplo, o câncer de próstata entra na fase pré-clínica (A) e não ocorre o “onset of symptoms”. Se ocorrer o rastreamento no ponto B, há o overdiagnosis rastreamento que não precisaria ser feito. - Lead time bias, “viés de antecipação”: não dá para saber o momento que a pessoa passaria a apresentar sintomas, mas precisa ser considerado na hora de comparar. Se antecipar o momento do diagnóstico, aumenta-se o tempo de sobrevida conhecido que não necessariamente seria o real. - Exemplo do viés de antecipação. Se o rastreamento e diagnóstico for feito um ano antes, “parece” que o paciente viveu um tempo maior, o que é falso. - Lenght bias: viés causado pelo tamanho da fase pré-clínica fase pré-clínica menor diminui a chance do rastreamento detectar antes do aparecimento de sintomas. Bias = “viés” perturbação, erro, confusão incontrolável nos dados colhidos para avaliação que impossibilita a obtenção de informação precisa/apurada sobre o alvo de pesquisa. O mais clássico seria comparar dois grupos que possuem risco de morte pra alguma doença, caso o grupo A haja mais óbitos que o B, não pode afirmar que quem pertencer ao grupo A possui mais chances de morrer. Precisa saber se não foi selecionado população mais idosa, com maiores comorbidades, etc. - Intervalo A-B: fase pré-clínica. - Se esse período entre A e B for curto, ao aplicar o exame de rastreamento, é possível que não seja identificado (tumores agressivos). - Se o período for longo, a chance de ser detectado em uma fase pré-clínica é maior (tumores indolentes). Tumores de intervalo: - Verdadeiros: tumor realmente identificável no período curto de aparecimento entre o rastreamento “normal” e o rastreamento com achado tumoral. - Sinais mínimos: encontro do tumor que possuía sinais precoces no exame anterior e que passou despercebido. - Falso negativo: tumor que por alguma razão não apareceu (questão técnica). CÂNCER E RASTREAMENTO Benefício é claro: - Câncer de colo uterino. - Câncer de mama. - Câncer de colorretal. - Câncer de pulmão. Benefício pouco estabelecido: - Câncer de próstata. - Câncer gástrico (baixa incidência, mais presente em populações orientais). - Câncer de bexiga. CÂNCER DE PRÓSTATA Doença heterogênea: - Tumores indolentes: período pré-clínico MUITO LONGO, às vezes o paciente morre decorrentede outra comorbidade. - Tumores agressivos: período pré-clínico CURTO. - Incidência muito elevada. Tratamento: - RXT. - Prostatectomia: cirurgia muito delicada visto a localização anatômica da próstata. - Sequelas: impotência, incontinência urinária, cistite, proctite actínica. PSA (antígeno prostático específico): - Exame de sangue que mede uma proteína produzida na próstata (resíduo do metabolismo) e que está AUMENTADA NO SANGUE quando há câncer de próstata. - Valor de corte acima de 4ng/mL teria especificidade e sensibilidade acima de 75% a 80%. - Densidade de PSA: medir o tamanho da próstata por ultrassom transversal. É o valor do PSA dividido pelo tamanho da próstata. Quanto maior o valor do PSA em relação ao tamanho, maior a especificidade e sensibilidade ao câncer. - Velocidade do PSA: quanto maior, maior a possibilidade de câncer. - PSA-T / PSA-L: o PSA produzido pelo tumor tende a ficar ligado à albumina. Então, quando o PSA-T é grande e PSA-L é pequeno, aumenta a especificidade do câncer. - Custo não é muito alto. Riscos: - Psicológicos. - Realização de exames invasivos. - Overdiagnosis levando ao overtreatment. Conduta se teste for positivo: - Confirmação do diagnóstico por biópsia guiada por USG TR (invasivo). - Tratamento definitivo por radioterapia e prostatectomia. Estudos: ERSPC (European Rand. Trial of Screening for Prostate Cancer): - Europa. - 182.000 participantes. - Redução de óbitos por câncer de próstata em 20% em quem fez rastreamento. - Aumenta com o aumento do seguimento. - Conclusão: NÃO SE JUSTIFICA O RASTREAMENTO. PLCO (Prostate, Lung, Colorectal, Ovarian): - USA. - 76.000 participantes. - Falha em mostrar redução da mortalidade por screening. Recomendações: - NÃO REALIZAR O RASTREAMENTO DE CÂNCER DE PRÓSTATA PORQUE OS RISCOS SUPERAM OS BENEFÍCIOS. CÂNCER DE MAMA - Tipo de câncer mais comum em mulheres no mundo. Doença heterogênea: - Diversos subtipos moleculares. - História natural longa: demora 8 anos para dobrar de tamanho. - Anatomia da mama favorece por ser um órgão externo. Testes: - Mamografia. - USG. Malefícios possíveis do rastreamento: - Psicológicos. - Complicações relacionadas à biópsia. - Overtreatment é menor em relação ao câncer de próstata porque a MAIORIA DOS TUMORES É AGRESSIVA e possui história natural diferente (maior mortalidade). - Custos. Recomendações: Reino Unido: - 50 aos 71 anos. - Exames a cada 3 anos. EUA: - Início aos 45 anos. - Até expectativa de vida < 10ª. - Frequência anual. Brasil: - 50 a 69 anos. - Bianual. Alto risco: - Câncer de mama pregresso (já tratado). História familiar positiva: - Ferramentas de predição que calcula o risco. - Mutação de BRCA 1 e 2. - Irradiação torácica entre os 10 e 30 anos de idade. CÂNCER DE COLO UTERINO - Em 1900 o câncer cervical era a principal causa de óbito oncológico entre mulheres nos EUA. - Nos anos 1950 – trabalho de Papanicolaou e Traut escovado a partir de técnicas histológicas que permite analisar alterações celulares pré-malignas. - 2006 – redução com vacina contra o HPV. Recomendações: - O rastreamento do câncer cervical pode impedir entre 70 a 80% dos óbitos pela doença (prevenção secundária). - O diagnóstico e tratamento de lesões pré-invasivas pode reduzir a incidência da doença (prevenção primária). Teste: - Colpocitologia. No Brasil: - Dos 25 aos 64 anos. - Dois exames anuais. - Os subsequentes a cada 3 anos. CÂNCER DE PULMÃO - História natural mais curta (período pré-clínico menor, mais agressivo). - Dificuldades em termos de sensibilidade e especificidade. Biópsia: - Técnicas modernas (transbrônquica, USG). Redução de mortalidade estabelecida em população de alto risco: - 55 a 77 anos. - 30 maços x ano (carga tabágica número de maços por dia x número de anos). - Parou de fumar há menos de 15 anos. - Tomografia de baixa dosagem, com resolução de imagem menor e menor radiação. CÂNCER COLORRETAL - Doença frequente. - Período pré-clínico prolongado. - Sequência adenoma carcinoma (primeiro ocorre a displasia no tumor benigno, mas com a alteração nuclear pode evoluir para adenoma que sofre mais alterações morfológicas para se transformar em carcinoma maligno). Teste: - Colonoscopia. - Riscos e benefícios. - Reduz incidência e mortalidade. - Colonoscopia a partir dos 50 anos, caso venha normal em três anos, realizar dois exames anuais de 5 em 5 anos até os 65 anos.