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Os tecidos do meio ambiente bucal estão sob a proteção de componentes de defesa inatos e adaptativos. A função desses componentes é regular a colonização de micro-organismos, assim como prevenir a penetração de patógenos ou de substâncias nocivas nesses tecidos. IMUNOLOGIA DA CÁRIE DENTÁRIA BEATRIZ CÂMARA DE OLIVEIRA TURMA 115 ODONTOCÁRIE DENTÁRIA acúmulo de biofilme associado à frequente exposição a carboidratos fermentáveis da dieta quedas de pH regulares e prolongadas bactérias acidogênicas e acidúricas desmineralização do dente DOENÇA BIOFILME-DEPENDENTE 1. 2. 3. 4. SALIVA Contém cerca de 108 micro-organismos viáveis por mL Promoção da colonização Fonte de nutrientes para os micro-organismos Remoção de micro-organismos Deglutição Componentes da imunidade inata e adaptativa -mais rápida que a divisão celular dos micro- organismos SA LIV A Gengiva saudável: Escasso ou nenhum fluido Doenças periodontais Remoção de bactérias não aderidas Componentes de defesa: Fonte de nutrientes proteicos para microorganismos Complexa mistura de componentes derivados do plasma sanguíneo que atinge o meio ambiente bucal através do epitélio juncional da gengiva. -Anticorpos (IgG, IgM e IgA oriundos do sangue); -Células do sistema imune; -Proteínas do complemento, peptídeos e enzimas antimicrobianas IMUNIDADE INATA NA CÁRIE DENTÁRIA Barreira física - Fluxo salivar e do fluido gengival Limpeza mecânica Quelantes de cálcio. FLUIDOS BUCAIS: Barreiras químicas contra patógenos bucais: Enzimas antimicrobianas; Peptídeos antimicrobianos; Glicoproteínas aglutinantes; Produção pelas células do epitélio de mucosa bucal e das glândulas salivares, além de células do sistema imune; Presentes em taxas relativamente constantes; Amplo espectro de atividade; Não dependem de estímulos específicos. BARREIRAS QUÍMICAS: Proteína encontrada em altas concentrações na saliva Também presente no FCG Atividade muramidase na camada de peptideoglicano da parede celular (maior susceptibilidade à lise osmótica); Muitos micro-organismos tem resistência à sua ação muramidase; Ativa autolisinas da parece celular bacteriana; Agrega bactérias Gram-positivas e Gram-negativas; Sinergia com outras defesas químicas. FLUIDO CREVICULAR GENGIVAL Lisozima Peroxidase Sistema peroxidase salivar (SPS, sialoperoxidase) Podem ser adsorvidas em várias superfícies do meio ambiente bucal Peroxidases: protegem as células do hospedeiro da ação tóxica de espécies reativas de oxigênio Metabolismo de estreptococos bucais peróxido de hidrogênio (H2O2 ) Saliva Íons tiocionato (SNC- ) Produção de hipotiocianato (OSCN- ) -peroxidase salivar – glândulas salivares -mieloperoxidase – polimorfonucleares Glicoproteína não-enzimática bacteriostática; Produzida pelas glândulas salivares, células epiteliais e fagócitos; Alta afinidade por Fe3+ Peptídeos antimicrobianos; α-defensina: neutrófilos β-defensina: epitélio gengival e glândulas salivares Saliva > FCG; Lise celular – instabilidade osmótica Saliva de crianças livres de cárie tem níveis mais altos de α-defensina que a de crianças com lesões ativas de cárie. pH ácido Mucinas Glicoproteínas relativamente insolpuveis Produzidas pelas glândulas salivares (exceto parótida) Material viscoso das superfícies mucosas Lubrificação, proteção contra desidratação e danos mecânicos, manutenção da viscoelasticidade, apreensão de micro-organismos e inibição da aderência bacteriana. MG1: alto peso molecular - viscosidade salivar - retenção de microorganismos MG2: baixo peso molecular - aglutina bactérias na saliva - eliminação pela saliva e deglutição OBS: interfere na adesão do Streptococcus mutans ao biofilme. Lactoferrina OBS: interfere na proliferação microbiana mesmo em pH ácido Defensinas Catelicidina Peptídeo antimicrobiano produzido por vários tipos celulares (ex: neutrófilos, macrófagos, ceratinócitos); Clivagem em fragmentos ativos LL-37; Imunomoduladora: quimiotaxia de leucócitos, cicatrização; Atividade bactericida – interação com fosfolipídeos (-) de membrana Ação contra Gram-negativas e Gram-positivas; LL-37 se liga ao ácido lipoteicoico da parede de S. mutans prevenção de formação de biofilme. IMUNIDADE ADAPTATIVA NO MEIO AMBIENTE BUCAL A principal ação do sistema imune da mucosa é a secreção de anticorpos! As superfícies mucosas possuem relativa vulnerabilidade e a secreção de anticorpos pelo sistema imune da mucosa constitui sua principal defesa, desempenhando primordialmente um mecanismo não-inflamatório que mantém antígenos desconhecidos e/ou potencialmente patogênicos fora do organismo. Trato gastrointestinal – gut ALT (GALT) Trato respiratório – bronchial ALT (BALT) Mucosa nasal – nasal ALS (NALT) Trato genitourinário Glândulas lacrimais Glândulas salivares Glândulas mamárias SISTEMA IMUNE DA MUCOSA: Mucosal Associated Lymphoid Tissue (MALT) FUNÇÕES *Principalmente: prevenir aderência bacteriana *Neutralização *Aglutinação OBS: pode agir sinergicamente com componentes da imunidade inata como mucinas. IgM Advinda do FCG; Atua principalmente a nível de biofilme subgengival; Ativação do complemento; Não parece estar diretamente ligada à imunidade à cárie; Deficiência de IgA: IgA secretória (IgAs) 2/3 da IgA produzida, é IgAs; Sob condições normais, é única classe ativamente secretada localmente no ambiente bucal; Pode estar adsorvida na PAE; Alguns micro-organismos produzem IgA proteases (S. sanguinis, alguns periodontopatógenos). ESTRUTURA adaptação de sua função em ambientes hostis. Principal componente imunológico da saliva e é considerada a principal efetora da imunidade adaptativa do meio ambiente bucal! *União pelas suas porções Fc através da glicoproteína Cadeia J formando um dímero *4 sítios de ligação antigênica *Componente secretor: resistência às enzimas proteolíticas do meio ambiente bucal. IgG Advinda do FCG / pequenas quantidades; Atua principalmente a nível do biofilme subgengival; Inibe a aderência microbiana e a glicosiltransferase; Ativação do sistema complemento pela via clássica; Opsonização = facilita fagocitose; *IgM é localmente nas superfícies mucosas com o objetivo de compensar a pouca ou ausente quantidade de IgA *Anticorpos IgM anti-S. mutans na saliva Colonização do Meio Ambiente Bucal pelos Estreptococos Vida intrauterina: ambiente estéril; Horas após o nascimento: Streptococcus salivarius e S. mitis Erupção dentária: S. sanguinis e S. mutans A Imunidade ao Streptococcus mutans tem Início Antes do Nascimento GESTAÇÃO: Imunidade Naturalmente Formada contra Streptococcus mutans NASCIMENTO: A concentração total de IgAs na saliva aumenta rapidamente, atingindo níveis semelhantes aos de adultos já na idade entre 4-7 anos. A maioria dos adultos saudáveis possuem IgAs específica para antígenos de S. mutans Linfócitos, macrófagos, neutrófilos, citocinas e anticorpos; IgA no leite materno: LEITE MATERNO: *Cerca de 20% do conteúdo proteico total *0.5-1 g/L OBS: transferência de IgA anti-S. mutans pela amamentação Os estudos para a criação de vacinas contra a cárie dentária têm evoluído desde que o S. mutans foi identificado como principal micro-organismo envolvido. Possibilidade de induzir a formação de anticorpos específicos anti-S. mutans antes da colonização. Os braços sistêmico e mucoso da resposta imune atingem o meio ambiente bucal pelo FCG e saliva. População-alvo antes da erupção dentária Ser segura; Induzir poucos possíveis efeitos/reações adversas; Oferecer proteção duradoura apropriada; Ter mais benefícios que riscos; Ter baixo custo e estabilidade. Primeiro experimento com resultados positivos; Macacos que receberam injeção endovenosa de células S. mutans desenvolviam menos cárie dentária; Reações cruzadas com autoantígenos cardíacos (febre reumática). IDEALMENTE, UMA VACINA DEVE: ORIGINALMENTE: células inteiras de S. mutans BOWEN (1969) ESTUDOS SUBSEQUENTES: Purificaçãoou síntese de subunidades estreptocócicas relacionadas com a aderência e colonização. “Administrar a forma morta ou atenuada de um agente infeccioso, ou um componente do micro-organismo, que não causa doença mas deflagra uma resposta imune que confere proteção contra a infecção pelo patógeno vivo.” Princípio Fundamental da Vacinação: Prevenção da Cárie Dentária Por Meio de Imunização Ativa Artificial Composição Antigênica do S. mutans O emprego de vacinas com base nos antígenos da parede celular dos estreptococos do grupo mutans têm se mostrado eficiente do ponto de vista experimental na redução da cárie dentária em ratos e macacos. Macacos rhesus Imunização via subcutânea com células inteiras de S. mutans Produção de IgG, IgM e IgA séricos e redução de cárie dentária 1. 2. 3. Reação cruzada com autoantígenos do tecido cardíaco possibilidade de indução de doenças autoimunes em humanos. RISCOS! Imunização Por Via Sistêmica Subcutânea Imunização -Via Mucosa induzir imunidade no tecido linfoide associado ao trato gastrointestinal (GALT) Alvo Principal: Aumento da acidez no estômago; Longa distância entre intestino e boca; Microcápsulas ou micropartículas sistema de distribuição para melhorar a resposta imune das mucosas. Desafio: Estudos com ingestão de S. mutans tem mostrado resultados conflitantes: Cápsulas = macacos: não induziu aumento de IgA / humanos: aumento temporário de IgAs na saliva. Intubação gástrica = resultados melhores que a forma solúvel. Em geral: memória imunológica limitada *não há aumento dos níveis de IgAs ou aumento por tempo limitado; Via Oral Glândulas Salivares Menores Indução da resposta imune no tecido linfoide sobrejacente das glândulas salivares. Aplicação tópica de GTF no lábio inferior de humanos após profilaxia produção local de anticorpos nas glândulas salivares menores atrasou a reacumulação S. mutans e houve aumento de IgA na saliva (acompanhamento de 41 dias) Injeção direta de células de S. mutans ou de GTF purificada na glândula salivar de macacos e ratos Aumenta IgAs, reduz atividade de cárie e colonização, porém danifica a função das glândulas Imunização intranasal de humanos com antígenos de S. mutans também são capazes induzir uma resposta mediada por IgAs; Alvo principal: induzir imunidade no NALT Vantagens: método não-invasivo e proximidade entre nariz e boca; Desafio: Geralmente, a administração intranasal do antígeno vacinal isolado não consegue estimular totalmente o NALT e induzir respostas imunes duradouras. Busca por adjuvantes vacinais mais eficazes. Ex.: proteína de fusão Flagelina-Ag I/II => 60% redução de cárie dentária em ratos (Yan, 2013) Capaz de promover uma elevada e prolongada resposta imune; Enterotoxinas - Escherichia coli e Vibrio cholera Acoplamento de antígeno com a unidade não-tóxica da toxina da cólera foi eficaz em suprimir a colonização de S. mutans. Desafio: remover o componente tóxico e manter a propriedade adjuvante desses compostos. OBS: Vias mucosas = dificuldade de produzir e manter anticorpos suficientes e com efeito protetor duradouro / frequentemente requerem adjuvantes Intranasal Adjuvantes Imunológicos Adjuvare (latim) – Ajudar Molécula ou substância capaz de amplificar ou intensificar a cascata de eventos imunológicos que compõem a resposta imune. Imunização Por via gengivo-Salivar Ativa Método não-invasivo – aplicação tópica no FCG; Busca por uma resposta imune mais restrita ao meio ambiente bucal; Gengiva com população de neutrófilos, monócitos, linfócitos e plasmócitos: área potencial para imunização local; Prevenção da Cárie Dentária Por Meio de Imunização Passiva Clorexidina seguida de aplicação tópica de anticorpos monoclonais contra Ag I/II nos dentes: Introdução passiva de anticorpos na dieta, água potável, dentifrícios e enxaguatórios; IMUNIZAÇÃO PASSIVA: transferência de anticorpos específicos, principalmente contra o S. mutans *prevenção de recolonização por S. mutans por 100 dias; *proteção contra cárie em primatas não- humanos. Soro e leite bovino com IgG específico após imunização sistêmica de vacas: Ovo de galinha imunizado com anticorpos anti-Gbp de S. mutans; Inserção de genes responsáveis pela síntese de anticorpos específicos em plantas ou alimentos. *redução de cáries em ratos Desafio: imunidade conferida é temporária = é necessário fornecer o anticorpo de forma contínua Vantagem: método local não invasivo = riscos minimizados CONSIDERAÇÕES FINAIS Cárie dentária = Problema de saúde pública; Evidências ainda limitadas ao nível experimental; Necessidade de ensaios clínicos em humanos para atestar a segurança e eficácia; Embora tecnologias modernas possam contornar algumas dificuldades, entidades comerciais não tem demonstrado interesse; Outra vacina pediátrica? Consequências para o ecossistema bucal? Até que ponto a prevenção de colonização por S. mutans previne a doença? Há formas de prevenção de cárie sem riscos envolvidos? VACINAÇÃO CONTRA CÁRIE DENTÁRIA? Quais são as principais defesas químicas do sistema de defesa inato no meio ambiente bucal que podem ter ação na imunidade à cárie dentária? Discorra sobre a estrutura, produção e função da IgA secretória presente na saliva. Discorra sobre a imunidade naturalmente formada contra Streptococcus mutans. Quais os principais componentes antigênicos da estrutura do Streptococcus mutans? O que é vacinação? Quais as potenciais vias de administração exploradas nos estudos investigando vacinas anticárie? QUESTÕES PARA ESTUDO!
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