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Ana Clara Quirino – 69 Página | 1 FACULDADE DE MEDICINA DE BARBACENA PRIMEIRA PROVA DE GASTROENTEROLOGIA AULA 1 – Prof. José Eugênio DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO Caso clínico: JMR, 26 anos, leucodermo, comerciante, natural e residente em Barbacena, IMC 28 (em sobrepeso). QP: azia há 5 anos. Relata azia há 5 anos, com piora há 6 meses. Define azia como queimação retroesternal, que sente 3 a 4 vezes por semana, com regurgitação líquida, sobretudo ao deitar. Refere ainda pigarro, tosse matinal, que vem piorando há 1 ano. Boca amarga eventualmente. Afirma ter ganho peso após o casamento, há 2 anos. Afirma piora quando ingere pão de sal, broa e quando come demais. Melhora quando usa leite, mas por pouco tempo. Nega uso de fármacos. Tabagista meia carteira dia, etilista social. Hipótese diagnóstica: doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). Conceito: o DRGE é a afecção crônica decorrente do fluxo retrógado (refluxo) de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos próximos, acarretando uma variedade de sintomas e/ou sinais esofagianos e/ou extraesofagianos, associados ou não a lesões teciduais, como a esofagite; Obs: os principais casos não vêm acompanhados de esofagite. Queimação retroesternal típica Causas: o Histórico familiar: principal; o Relaxamento transitório do esfíncter esofagiano inferior; o Redução do “clareamento” do ácido que retorna ao esôfago: o clareamento é a limpeza que o próprio esôfago faz e sua redução faz com que o ácido fique em retenção por mais tempo no esôfago; o Defeito na resistência do epitélio (muco): há pouco muco e o epitélio sofre com o contato do suco gástrico; Ana Clara Quirino – 69 Página | 2 o Agressividade do material refluído (pepsina, H, Cl, tripsina, sais biliares): alguns pacientes produzem mais acido clorídrico que outros; o Pressão abdominal (OBESIDADE): muito comum paciente com IMC > 25 ter DRGE. Prevalência: datafolha/2003 13959 indivíduos perguntados: Pirose – 1 vez/semana: 4,6% das pessoas tinham Pirose – 2 ou mais vezes por semana: 11,3% das pessoas tinham Foram excluídos da pesquisa os indivíduos com manifestações atípicas, pois a pergunta era somente sobre PIROSE, daí conclui-se que a prevalência é de no mínimo 12% da população, porem incluindo a DRGE atípica (sintomas não relacionados ao esôfago), chega a 20% da população. Formas de DRGE: 1. Doença do refluxo não erosiva: Forma mais frequente (entre 55 a 60% dos casos); Sintomas típicos e/ou atípicos; Ausência de lesões teciduais (não tem esofagite), ou seja, endoscopia normal ou também chamada de negativa; Na ausência do acesso à endoscopia, caso o tratamento clinico melhore os sintomas (teste terapêutico) é confirmado o diagnóstico. 2. Doença do refluxo erosiva: Forma menos frequente (40 a 45% dos casos); Sintomas típicos e/ou atípicos; Presença de lesões teciduais (esofagite) confirmadas pela esofagogastroduodenoscopia (endoscopia digestiva alta); Há 4 graus de esofagite: A, B, C, D; Quadro clínico: Manifestações típicas: sempre esofagianas; Manifestações atípicas: esofagianas e extraesofagianas. Ana Clara Quirino – 69 Página | 3 Manifestações típicas: esofagianas Pirose (“azia”): é a queimação retroesternal, principal sintoma típico; Regurgitação: percepção de fluxo gástrico até a boca ou hipofaringe (pode ser bolo alimentar ou líquido); Pirose + Regurgitação: 90% de certeza do diagnóstico Geralmente aparecem entre 30 a 60 min. após as refeições, sobretudo nos obesos; Sintomas que ocorrem no mínimo 2 vezes por semana nas últimas 4 semanas caracterizam possível DRGE (quadro arrastado); A intensidade e frequência dos sintomas não indicam necessariamente presença de esofagite, ou seja, pode ser erosiva ou não erosiva; Obesidade e atividade física pioram os sintomas. Obs: pessoas magras também podem ter refluxo, associado à herança familiar. Manifestações atípicas: Esofagianas: Globus faringeus: é a sensação/percepção de um bolo que sobe e desce na região na garganta, muito comum nos períodos de estresse. Alguns autores referem como manifestação da DRGE e outros referem como manifestação funcional, sem relação com a DRGE; Disfagia: dificuldade para engolir; Causas: Peri-esofagite: ocorre quando a cicatrização de repetição da esofagite cria uma aderência do esôfago no mediastino, reduzindo seu peristaltismo (distúrbio de motilidade) no terço distal do esôfago (onde ocorre a esofagite). Na endoscopia não há nenhum achado e o diagnóstico é feito pela manometria; Estenose péptica: ocorre pelo excesso de cicatrização da esofagite formando fibrose dentro do esôfago e estreitando a luz do esôfago. Diagnóstico feito por endoscopia. Odinofagia: dor para engolir; Causa: úlcera esofagiana Hemorragia; Dor torácica não cardíaca (DTNC) ou dor de origem presumível do esôfago. Orais: Disgeusia: é a mudança/perversão do paladar, o paciente queixa uma sensação de gosto amargo na boca (não confundir erroneamente com problema no fígado); Escurecimento dos dentes: menos comum. Ana Clara Quirino – 69 Página | 4 Pulmonares: Tosse crônica; Crise de asma ou bronquite; Pneumonias de repetição, principalmente em crianças. Otorrinolaringológicas: Rouquidão; Pigarro: é a secreção agarrada na garganta. Se o paciente for fumante pode ser a causa do cigarro, mas se ele não fuma é um dado relevante; Laringite “crônica”; Sinusite “crônica”; Otite “crônica”. Obs: o esôfago de Barrett é considerado por alguns como manifestação atípica, mas é uma complicação da DRGE, não tem sintoma nem típico e nem atípico. Lembrar que as manifestações atípicas extraesofagianas podem não apresentar sintomas digestivos, logo, alguns pacientes procuram médicos não gastroenterologistas. Resumo dos principais sintomas atípicos: Pigarro Tosse Disgeusia Globus faringeus Dor retroesternal Sintomas noturnos: o São os pacientes que tem sintomas somente à noite, também chamado “refluidor noturno”; o Ocorre devido ao “ACID POCKET” (bolsa de ácido que fica acima do bolo alimentar e reflui após a última refeição); o O paciente pode acordar com sensação de sufocamento, o que pode confundir com apneia do sono. Ana Clara Quirino – 69 Página | 5 Hérnia hiatal: o Pode estar presente ou não na DRGE; o Etiologia indefinida; o Conceito: é uma protrusão através do hiato esofágico do músculo diafragmático, herniando o estômago, que sobe em direção ao esôfago; o É classificada em: Hérnia de hiato por deslizamento: parte do estômago sobe em direção ao esôfago e está dentro da cavidade torácica (o estômago desliza em direção ao tórax). Corresponde a 90% dos casos; Hérnia de hiato por rolamento ou paraesofágica: um pedaço do estômago entra pelo hiato em direção ao tórax ao lado do esôfago. Geralmente assintomática. Normal: estômago infra-diafragmático (abdominal) e esôfago supra-diafragmático (torácico) Normal Hérnia Hiatal por deslizamento Ana Clara Quirino – 69 Página | 6 Esôfago de Barret: o É a principal complicação da DRGE; o Conceito: “substituição do epitélio escamoso estratificado do esôfago pelo epitélio colunar do estômago contendo células do intestino (metaplasia intestinal)”; o O epitélio do estômago tem que estar especializado, ou seja, tem que haver metaplasia intestinal. Caso haja epitélio colunar do estômago e não tenha metaplasia intestinal não caracteriza esôfago de Barrett; o DIAGNÓSTICO OBRIGATORIAMENTE HISTOPATOLÓGICO (obrigatório fazer biópsia do esôfago); o Existem dois tipos: Barrett longo: > de 3 cm (5% das DRGE) Barrett curto: < 3 cm (10% das DRGE) o Risco para adenocarcinomade esôfago: quando há displasia (neoplasia intraepitelial) Displasia de baixo grau: risco de 0,5% a 2% Displasia de alto grau: risco de 10% o Risco de DRGE (sem Barrett) para neoplasia maligna de esôfago: 0,2% Raio X com contraste: hérnia por Deslizamento (parte do estômago dentro do tórax). Raio X com contraste: hérnia por rolamento (sem importância clínica)
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