FICHAMENTO DE "O TRIVIUM" DE IRMÃ MIRIAM JOSEPH [Capítulo 1 ao 7]

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FICHAMENTO DE O TRIVIUM DE IRMÃ MIRIAM JOSEPH
PRÓLOGO – CARLOS NOUGUÉ
Trivium e Quadrivium, as sete artes liberais, são o conjunto de estudos no medievo que antecede o ingresso à Universidade. A origem ideológica das sete artes remete aos pitagóricos, e a origem deste corpo didático está em “A pedagogia do Logos Divino” de Clemente de Alexandria. As doutrinas do Trivium (medievo inicial) remetem a Platão, Aristóteles, João Filopono de Alexandria. O Trivium da Irmã Miriam é serviçal do primeiro, e como a estrutura do medievo inicial foi feita antes da descoberta de Aristóteles e sua tradução ao latim, contraria um pouco as ordens de sustento e pedagógica apresentadas a seguir:
A ordem compositiva e pedagógica da Lógica (fundada em Tomás de Aquino)
Primeiro: da razão enquanto intelecto (a apreensão dos incomplexos)
Segundo: da operação da razão enquanto razão (do conhecido ao desconhecido), que se segue em 2.1.1. A forma do silogismo, 2.1.2. Matéria do silogismo; 2.2. Dialética, suspeita da verdade, indução por sentimento e 2.3. Discurso sofista. Aqui a gramática não faz parte da lógica.
O Trivium inicial, a ordem de sustento e pedagógica se caracteriza por: inclusão da poética na gramática, que deriva do belatrismo, baralhamento geral do ordo sustentationis e da ordem pedagógica, certa desordem sob o nome de dialética, que inclui o estudo da lógica vetus e os Tópicos de Cícero e certa dialética atribuída equivocadamente a Agostinho. 
A derrota das sete artes ocorreu no século XV, com Jean Amos Comenicus, estabelecendo as bases da pedagogia moderna em sua obra “Magna Didactica”. 
PREFÁCIO – NASSER
A palavra livre de artes liberais se refere a Liber, à procura livre, não imposta. A diferença da educação medieval e o ensino moderno é qualitativa, pois até a noção de educação não se aplica aqui.
O Trivium e o Quadrivium tomaram forma no império de Carlos Magno, com complementações metodológicas de Marciano Capela, Boécio, Flavio Cassiodoro, até chegar a Alcuíno. O sete das sete artes liberais tem um simbolismo, que significa graduação qualitativa, que é também o sétimo dia da criação e tem suas disciplinas relacionadas aos astros:
Retórica – Vênus Gramática – Lua Lógica – Mercúrio 
Aritmética – Sol Música – Marte Geometria – Júpiter Astronomia – Saturno
O Trivium foi o alicerce da escolástica. Assim temos que a gramática é que todos falem das mesmas coisas, a dialética problematiza o objeto da discussão (disputatio) e a lógica, o antídoto contra a verborragia vazia (funnus sine flamma). 
CAPÍTULO UM
AS ARTES LIBERAIS
O Quadrivium remete à matéria. O Trivium remete à mente. A lógica é a arte de pensar, a gramática a arte de inventar e combinar símbolos e a retórica a arte de comunicar. A aritmética e música são as quantidades descontínuas ou número; a geometria e a astronomia são as quantidades contínuas ou extensão. “A função do Trivium é treinar a mente para o estudo da matéria e do espírito, pois formam a substância da realidade” (p.33). Ele se relaciona com um grupo de disciplinas: línguas, oratória, literatura, história e filosofia. O Quadrivium se relaciona com a matemática e outras ciências, ramos da matemática superior, física, química, arquitetura, geometria, agrimensura, engenharia. 
A lógica trata da coisa como é conhecida, a gramática como é simbolizada e na retórica, de como é comunicada. As artes liberais são intransitivas, pois começam e terminam em si. São distintas das artes servis, que são utilidades às necessidades do homem e diferem também das artes do belo. A retórica é a arte mestra do Trivium, faz uso da lógica e da gramática. E a lógica é a arte de todas as artes. 
As artes da linguagem são normativas, regulam segundo uma norma. A correção é a norma da fonética, ortografia e gramática; a eficácia é a norma da retórica e a verdade é a norma (meta) da lógica, pensar corretamente para se chegar à verdade, é aqui que se concerne à produção.
CAPÍTULO DOIS
NATUREZA E FUNÇÃO DA LINGUAGEM
Com a linguagem podemos comunicar o pensamento, volições e emoções. Os animais também são capazes de expressar emoção, porém só o homem é capaz de formar frases para expressar pensamentos.
Temos modos de comunicação (comunicar ideias através de um meio material), como a imitação, que não pode expressar a essência das coisas; o símbolo, que tem um significado convencional. Na verdade, todo signo tem significado, seja natural ou convencional. Símbolos podem ser temporários ou permanentes, e palavras imitativas não são símbolos. A língua falada é o sistema de símbolos originais e fundamentais, a língua escrita é o substituto mais importante e o único entendido de forma geral. Os símbolos especiais são aqueles concebidos por especialistas para expressar uma ideia em determinado campo do conhecimento, são linguagens intencionais, não precisam de tradução. Os símbolos comuns são aqueles que constituem línguas comuns (nacionais), são mais ambíguas. Uma das tentativas de uma linguagem internacional foi o Esperanto ou o Basic English (não existente atualmente). Uma língua morta é mais fácil de ser entendida. 
A natureza da linguagem é comunicar através de símbolos, ela é um sistema de símbolos para expressar nossos pensamentos, volições e emoções. A palavra é constituída de matéria e forma, tal como a realidade física. A matéria (potência de uma essência) é o signo sensível, a forma (o ato de uma essência) é o significado por convenção. Na linguagem falada, o som é matéria (fonética), na escrita é o sinal ou notação (ortografia). A forma é o significado (semântica). 
Na linguagem se emprega quatro tipos de símbolos para representar o real, dois para o indivíduo e dois para a essência (a palavra pode significar indivíduos e essências): nome próprio ou descrição empírica (para indivíduos ou agregados) e nome comum ou descrição geral (para essências). “O grosso da linguagem é composto de nomes comuns” (p.45). Palavras são símbolos de ideias sobre a realidade. O conhecimento abstrato é menos vívido que o sensível, porém o primeiro é mais claro. Os sentidos produzem a percepção do objeto, os sentidos internos (imaginação, memória sensível e sentido comum) que produzem imagens do objeto individual percebido, que é retido na memória e através da abstração o intelecto produz o conceito. Dessa forma, não há nada no intelecto que já não estivesse nos sentidos, o intelecto necessita de material para trabalhar. A classificação dos símbolos se dá através das dez categorias aristotélicas. 
DIMENSÕES LÓGICA E PSICOLÓGICA DA LINGUAGEM
A linguagem tem aspectos lógicos e psicológicos. A dimensão lógica é seu conteúdo de pensamento (definição, tal como disposto no dicionário). Em retórica isto é chamado de denotação (esta dimensão é desejada em documentos legais, científicos e filosóficos). A dimensão psicológica é seu conteúdo emocional. Em retórica é chamado de conotação, desejável na poesia e na literatura. O som é uma das características que afetam a dimensão psicológica, por isso aqui é indesejável um estilo pedante. A combinação de palavras também afeta esta dimensão. As línguas têm efeitos emocionais nas palavras, devido sua evolução histórica e alusões; que dependem da dimensão psicológica da linguagem. Aquilo que é falso logicamente pode ser verdadeiro na dimensão psicológica (contendo verdade emocional). 
AMBIGUIDADE DA LINGUAGEM
Um símbolo que tem significado convencional é ambíguo, essa ambiguidade pode ser usada por imposição ou intenção. A primeira imposição é quando o símbolo refere-se a outro. A segunda imposição, chamada de imposição zero, é o uso reflexivo, em si, gramatical (a gramática é a ciência da segunda imposição); e a terceira é a ambiguidade da natureza do fantasma (ideia), que pode vir a ser por conta da palavra que a imagem evoca, do uso do nome comum para uso geral e nomes comuns ou próprios porque têm vários significados. A ambiguidade deliberada é buscada na comunicação estética ou literária (figuras de linguagem). Aqui a lógica diz respeito às operaçõesdo intelecto, a retórica é o discurso estendido, para melhor comunicar, dirigir-se também à imaginação. E a gramática é o requisito de todas, é a expressão de todos os estados da mente. 
Faculdades da mente: cognição (inferior ou sensória que produz percepções e superior que produz conceitos) e apetição (inferior que são os instintos e superior que são as volições). 
CAPÍTULO TRÊS
GRAMÁTICA GERAL
A gramática geral é a relação das palavras com as ideias com a realidade, é mais filosóficas, está mais ligada à lógica e à metafísica. Difere da especial em relação à análise morfológica e da análise sintética. A gramática especial é a relação das palavras com as palavras, concordância de adjetivo e substantivo. 
MORFOLOGIA NA GRAMÁTICA GERAL
Dividimos as palavras em categoremáticas e sincategoremáticas. As palavras categoremáticas simbolizam o ser, portanto caem nas dez categorias de aristotélicas, assim são substantivos e atributivas (verbo, adjetivos). As sincategoremáticas são as palavras que só têm sentido (significado) junto a outras palavras, não são classificados nas categorias, são as palavras gramaticais, de duas classes: determinativas (artigos) e conectivas (preposição e conjunção). Assim, as categorias morfológicas são: substantivos, atributivos, determinativos e conectivos. Aqui “as interjeições não tem importância lógica” (p.77). 
MORFOLOGIA CATEGOREMÁTICA
Substantivos: nominativos; genitivos; dativo (objeto indireto) e acusativo (objeto direto). 
Atributivos: verbos, substantivos verbais, adjetivos verbais e adjetivos.
Verbo: sua função essencial é expressar um atributo com a noção de tempo. “O tempo verbal é uma mera variação acidental” (p.83).
Modos: modos indicativos e potenciais são capazes de expressar uma verdade ou falsidade. Modos interrogativo e volitivo não podem. 
O pronome relativo tem três funções: faz-se de substantivo, conecta orações e subordina orações a outra. 
CLASSES DE VERBOS
Transitivo: uma ação que começa no sujeito e vai até o objeto,
Intransitivo: ação que começa e termina no agente,
Cópula: é ao mesmo tempo uma cópula e um verbo, liga um atributo ou um substantivo ao sujeito (predicado adverbial ou predicado substantivo). 
ATRIBUTIVOS: formas verbais nominais
São infinito, particípio e gerúndio. Assim como o verbo nominal, a forma nominal expressa um atributo junto com a noção de tempo e indica o tempo verbal. A forma não afirma, mas expressa modo. Os advérbios são atributos de atributos. 
MORFOLOGIA SINCATEGOREMÁTICA: determinativas (artigos e dêicticos) e conectivos. 
ANÁLISE SINTÁTICA DA GRAMÁTICA GERAL
A análise sintática é a forma, a análise requerida é o material. A análise sintática que é menos importante, mas que tem mais detalhe inclui: sujeito simples, predicado simples, uma oração, modificador de modificador e conectivos. A outra análise que mostra cada unidade funcional (materialmente classificada) inclui: uma palavra, uma sintagma e uma oração. 
CAPÍTULO QUATRO
OS TERMOS E SEUS EQUIVALENTES GRAMATICAIS: DEFINIÇÃO E DIVISÃO
O conceito é uma ideia que representa a realidade, é um termo potencial que se atualiza quando é comunicado através de um símbolo. O termo é uma ideia em trânsito, é dinâmico. É a forma do conteúdo lógico das palavras, e só as palavras categoremáticas fazem este último. O termo é o elemento da lógica. 
Termos empíricos referem-se a indivíduos ou agregados. Termos gerais à essência, espécie e gênero. Termos absolutos são aqueles entendidos por si mesmos. Termos relativos são entendidos em referência a outro (categoria de relação). Termos contraditórios podem ser positivos (estar no real) ou negativos (estar ausente). Termos concretos representam a realidade como é na ordem do ser. Termos abstratos apresentam uma substância ou acidente abstraído da realidade concreta. Termos coletivos são atribuídos a um grupo e não aos seus membros e os termos distributivos são aplicados a membros individuais de um grupo isolado. 
Isto é, os termos podem ser diferentes categórica, genérica, específica e individualmente. Os termos podem ser repugnantes ou não (em sentido lógico). São repugnantes quando incompatíveis. Todos os termos individuais diferentes são repugnantes, os específicos diferentemente também e os temos contrários e contraditórios. 
A extensão de um termo se refere à realidade dos objetos referidos (conjunto total) a intensão (com s pois é um termo lógico) às qualidades (características) que compõem seu significado, o conjunto das características. A árvore de Porfírio expressa a relação inversa de extensão e intensão. A definição torna explícita a intensão de um termo. A definição lógica expressa a essência de uma espécie em termos de seu gênero, não pode ser elaborada para um conceito transcendental ou individual. Só a espécie pode ser definida. A definição distintiva é a definição pela propriedade, não é essência nem parte da mesma, mas resulta dela. Há outros tipos de definições, tais como: causal, descritiva, por exemplo, gramatical e retórica (por etimologia, sinônimos e arbitrária). 
Regras para a definição: ela deve ser conversível (convertida), positiva, clara, livre, simbolizada por estrutura gramatical paralela. 
DIVISÃO
A divisão lógica é a análise da extensão do termo e a definição é a análise da intensão. A divisão lógica inclui três termos: o todo lógico (gênero), a base (o aspecto metafísico) e os membros divisores (espécies). A divisão de um gênero em suas espécies constituintes nunca lida com o indivíduo, mas com a divisão de grupos em grupos menores. Na divisão por base, temos, por exemplo, objetos naturais; que a divisão será a acidental, enquanto que para objetos artificiais a divisão será essencial. 
CAPÍTULO CINCO
PROPOSIÇÃO E SUA EXPRESSÃO GRAMATICAL
A proposição é uma relação de termos positiva ou negativa e é da sua natureza ser verdadeira ou falsa. Na proposição modal as necessidades são: metafísica, física, moral e lógica. A Proposição categórica será simples ou completa.
 
CAPÍTULO SEIS
RELAÇÕES DE PROPOSIÇÕES SIMPLES
A lógica e a retórica têm em comum a invenção e a disposição. A primeira é descobrir material para o raciocínio e a segunda de relacionar com propriedade esse material. A lógica mais a disposição significam: divisão, definição, enquadramento das proporções e a relação delas. A retórica mais a disposição significam: ordenamento apropriado das partes de uma composição, introdução, corpo e conclusão de acordo com os princípios de unidade, coerência e ênfase. Os tópicos lógicos da invenção são gerais e os tópicos retóricos da invenção são particulares.
Conjunção, oposição, edução e silogismo são relações de proposições. O silogismo pode ser simples, hipotético, disjuntivo e um dilema. A oposição é uma relação formal (correta ou incorreta) e a conjunção é uma relação material. A edução torna explícito tudo o que está implícito em dada proposição (obversão e conversão). 
CAPÍTULO SETE
SILOGISMO SIMPLES
O silogismo é uma proposição com três termos, é composto pela premissa, que é a relação entre duas proposições por meio de um termo comum, e pela conclusão. Existe o silogismo hipotético, simples, disjuntivo e o dilema. A matéria é suas três proposições (menor, maior, média) e sua forma é sua necessidade lógica, sua figura e o seu modo. O silogismo tem apenas três termos e três proposições. O termo médio deve estar distribuído. O modo do silogismo é A E I O. A entimema é um silogismo abreviado pela omissão de uma proposição. Sorites são uma cadeia de entimema ou silogismos abreviados, a conclusão se torna a premissa da seguinte.