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1 Princípio da condição mais benéfica: alguns aspectos que merecem esclarecimento Em primeiro lugar, indaga-se em que consiste essa “habitualidade”, já que o legislador não a conceitua. Explicamos, inicialmente, que o legislador não pode definir “habitualidade” de forma genérica, pois ela irá variar de acordo com cada benefício concedido, uma vez que existem benefícios diários, semanais, mensais, semestrais, anuais... Então, como identificar quais seriam habituais? A tendência de nossos tribunais tem sido no sentido de considerar habitual tudo aquilo que gera uma expectativa de repetição. Por exemplo: suponhamos que uma empresa pague o 14º salário aos seus funcionários no ano de 2012. Ela não estava obrigada a isso, mas o fez. Trata-se de uma situação eventual, esporádica. No entanto, se essa empresa concede o mesmo benefício no ano de 2013, pagando novamente um 14º Salário – que não é obrigatório por lei – a tendência é que em 2014 já exista uma expectativa desse pagamento por parte dos empregados. Os tribunais considerarão que se tornou habitual. Portanto, uma vez caracterizada a habitualidade na respectiva concessão, o empregador não poderá suprimi-la, sob pena de violação ao princípio e à regra do Art. 468 da CLT. Ressalva-se, aqui, o benefício que foi submetido a termo ou condição, pois, nesse caso, o empregado (ou o setor) precisará cumprir o requisito para a sua concessão. À guisa de exemplo, se o pagamento suplementar está condicionado ao resultado positivo do setor ou a determinadas metas, não há que se falar em “incorporação” se a meta não foi atingida ou implementada. Em termos de consultoria prática prestada a empresas, essa pequena orientação pode evitar um número sem limites de demandas judiciais. As cláusulas benéficas interpretam-se restritivamente. Portanto, o empregador tem o direito de disciplinar as condições para a concessão de benefícios. Por fim, cabe examinar a matéria nos casos em que a condição benéfica é decorrente de previsão em instrumento normativo. Por força da Resolução 185/2012, o TST mudou a redação da Súmula 277, que passou a ter o seguinte teor: Súmula nº 277 do TST 2 CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012. “As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho”. Não era o entendimento do TST até então, apesar da larga discussão doutrinária acerca da matéria. Ora, os acordos e convenções coletivos de trabalho possuem prazo de vigência e são negociados mediante concessões recíprocas das partes. Portanto, encerrada a vigência dessas normas, o benefício concedido por força da sua previsão não deveria se incorporar ao contrato de trabalho, podendo ser retirado. Assim entendeu o TST até a modificação de 2012. Hoje, com a nova redação da Súmula 277 TST, se a norma coletiva trouxer previsão, por exemplo, de hora extra remunerada com adicional de 70% sobre o valor do salário hora contratual, tal direito irá se incorporar ao contrato, salvo se sobrevier uma nova norma coletiva dispondo expressamente sobre o tema. Não basta, portanto, que a norma encerre seu prazo de vigência, já que a súmula é expressa em estabelecer a sua ultratividade.
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