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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes Disciplina de Histocompatibilidade Período Emergencial Acadêmico (PAE) 21.1 Histocompatibilidade Caso Clínico: As infecções persistentes dos filhos de Sergei e Natasha Islayev Tatiana Islayev tinha 17 anos de idade quando foi admitida no Hospital Infantil de Moscou. Ela tinha uma grave dilatação dos brônquios, febre e tosse persistente com catarro amarelo-esverdeado. Ela vinha cronicamente doente desde os 4 anos de idade, quando começou a apresentar infecções repetidas nos seios da face, ouvido médio e pulmões, aparentemente devido a vários vírus respiratórios. A cultura do escarro mostrou Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae, e mais uma vez foi prescrito antibiótico para controlar a febre e a tosse persistentes. Seu irmão, Alexander, de 7 anos, também sofria de infecções respiratórias crônicas. Assim como sua irmã, desde muito novo começou a apresentar infecções virais repetidas e graves dos tratos respiratórios superior e inferior. Ele também tinha dilatação dos brônquios e cultura positiva para H. influenzae no escarro. Devido à doença crônica das crianças, os Islayev imigraram da Rússia para os EUA com toda a família (incluindo os filhos saudáveis de 5, 10 e 13 anos), onde esperavam receber um tratamento médico melhor. Ainda em Moscou, todas as crianças haviam recebido BCG quando recém-nascidas e também as vacinas de rotina (pólio oral, difteria, tétano e pertussis). As crianças também haviam sido vacinadas várias vezes contra influenza; Tatiana e Alexander toleraram muito bem todas essas imunizações. Exame Tatiana Alexander Normal IgG sérica > 1.500 mg/dL > 1.500 mg/dL 600-1.400 mg/dL Contagem de leucócitos 7.000 /mm³ 6.600 /mm³ 5.000 a 10.000 /mm³ Linfócitos 1.750 /mm³ (25%) 1.650 /mm³ (25%) 1.000 a 3.000 /mm³ (20-40%) Reativos anti-CD19 (B) 10% 10% Reativos anti-CD16 (NK) 4% 4% Reativos anti CD-3 (T) 86% 86% T reativos anti-CD4 > 90% > 90% T reativos anti-CD8 10% 10% Outros exames: função dos neutrófilos normal, títulos de complemento normais, testes cutâneos para hipersensibilidade tardia (com tuberculina e antígeno de Candida) normais; altos títulos de Ac contra os vírus herpes, citomegalovírus, sarampo, caxumba e catapora; baixos títulos de Ac contra cinco cepas diferentes de influenza e baixos títulos de Ac contra o vírus Epstein-Barr. Os resultados acima apontavam para uma profunda deficiência de células T CD8+; nenhum sinal de deficiência na resposta humoral; imunidade mediada por células normal A citometria de fluxo das células de Tatiana e Alexander detectou quantidades diminutas de moléculas MHC de classe I (menos de 1% da quantidade expressa pelo pai). A expressão de moléculas MHC de classe II era normal. Havia ainda uma outra possibilidade a ser explorada: uma mutação nos genes TAP1 e TAP2. A determinação das sequências de DNA desses genes revelou que tanto Tatiana quanto Alexander apresentavam uma mesma mutação sem sentido nos seus genes TAP2. Responda as questões abaixo: 1) Na sua opinião qual a causa dos problemas apresentados por Tatiana e Alexander ? 2) Por que os números de células T CD8 de Tatiana e Alexander eram baixos apesar dos números normais de células T CD4 ? 1) R: A deficiência de células T CD8+ e essa diminuição das moléculas de MHC classe 1. A molécula de MHC classe 1 é de extrema importância, pois todas as nossas células estão sujeitas a serem infectadas por patógenos intracelulares (como vírus por exemplo), e o MHC de classe 1 é o responsável por apresentar antígenos para os linfócitos T CD8, que irão matar essas células infectadas para acabar com o reservatório de infecção. Sendo assim, quando temos uma diminuição nas moléculas de MHC classe 1 e uma deficiência significativa nas células T CD8, não é possível realizar essa função de forma exata. Por este motivo Tatiana e Alexander contraem infecções virais repetidas. 2) R: A proteína TAP-2 tem papel fundamental na apresentação antigênica da molécula de MHC de classe I, Assim, mutações no gene de TAP2, provocaria falha no carregamento de péptidos a moléculas de MHC de classe I no retículo endoplasmático. Fenotipicamente, essa deficiência resulta em menor expressão de MHC de classe I na superfície das células. Devido à expressão reduzida de MHC de classe I na superfície celular, também é reduzida a eliminação de patógenos por linfócitos T citotóxicos. Como descrito anteriormente a TAP - 1 e 2 sintetizam proteínas que ajudam o peptídeo a se ligar à molécula de MHC classe 1, ainda no meio intracelular, permitindo assim, que a molécula se expresse nas superfícies celulares e apresente os peptídeos aos receptores linfocitários, presentes nas células T CD8+. No caso das moléculas de HLA de classe 2, são conduzidos peptídeos provenientes do sistema vesicular para a superfície celular, onde serão reconhecidos pelas células TCD4+ Nesse caso clínico, os pacientes possuem uma diminuição nas moléculas de MHC classe 1, e além disso, eles possuem uma mutação no gene da TAP2, que por sua vez, não permitirá que as moléculas se expressem nas superfícies celulares e apresente os peptídeos aos receptores linfocitários, presentes nas células T CD8+. O que explicaria os números normais de células T CD4+, seria justamente, por esses pacientes possuírem as moléculas de MHC classe 2 normais
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