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Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 Definição: 🎔 incapacidade do coração de conseguir cumprir sua função de bomba e atender à demanda tecidual, ou a necessidade de aumentar a pressão de enchimento ventricular (pressão diastólica final) para atender a essa demanda. 🎔 pode ocorrer em pacientes com função sistólica preservada, o que é avaliado pela fração de ejeção (FE) do paciente. Pacientes com FE≥50%, apresentam insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp), enquanto pacientes com FE≤40% apresentam insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr). 🎔 salienta-se a diferenciação entre “insuficiência miocárdica”, que ocorre quando a função miocárdica é comprometida primariamente, e a “insuficiência circulatória”, que se dá quando uma anormalidade de algum componente da circulação secundariamente, compromete o coração e é responsável pela manifestação da IC. Epidemiologia: 🎔 a American Heart Association (AHA) estimou que em 2006 nos EUA existiam 5 milhões de pessoas com IC. 🎔 o Framingham Study estima a epidemiologia da IC como 8 casos por 1000 homens entre 50 e 59 anos, chegando a 66 por 1000 entre homens e 79 por mil entre mulheres dos 80 aos 89 anos. 🎔 maior prevalência entre a população negra do que na branca. 🎔 a IC é a segunda principal causa de admissão foi a ICC, atrás apenas da pneumonia. 🎔 a ICFEp parece apresentar mortalidade menor que a ICFEr, em virtude da função sistólica preservada. 🎔 na América Latina, incluindo o Brasil, a IC devida à doença de Chagas tem importante prevalência. 🎔 primeira causa de internação pelo SUS por doença cardiovascular, e principal causa nos pacientes acima de 60 anos de idade. 🎔 a incidência e a prevalência da IC aumentam com o crescimento da população acima dos 65 anos. 🎔 a sobrevida estimada no nosso meio com 1, 2, 3, 4 e 5 anos de evolução sob tratamento medicamento foi de 84%, 72%, 67%, 63% e 52%, respectivamente. Termos Específicos: 🎔 Duração : aguda, subaguda ou crônica. IC aguda quando de recente começo e crônica de longa duração. Quanto maior a duração, mais completo o remodelamento (modificação do coração), com manifestações mais típicas de retenção hídrica periférica. Inversamente na forma aguda, por exemplo, após um infarto agudo do miocárdio (IAM), pode não haver as manifestações crônicas, mas pode haver congestão pulmonar. 🎔 IC de ventrículo direito ou esquerdo ou mista : clinicamente, a IC esquerda caracteriza-se pela presença de sinais e sintomas de congestão pulmonar (dispneia aos esforços, tosse noturna, dispneia paroxística noturna, ortopnéia, crepitações pulmonares). A IC direita está relacionada aos sinais e sintomas de congestão sistêmica (estase jugular, edema de membros inferiores, hepatomegalia dolorosa, ascite), ambas podem ter baixo débito cardíaco. A disfunção do ventrículo esquerdo pode causar disfunção do ventrículo direito. 🎔 Redução de fração de ejeção de ventrículo esquerdo (FEVE) ou direito (FEVD) : quando a fração da FEVE e/ou FEVD de ejeção de ventrículo esquerdo/direito é reduzida, é chamada sistólica ou mais comumente IC com fração de ejeção reduzida (IC FEVEr); inversamente, é chamada de IC com FEVE preservada (FEVEp) (diastólica), quando a FEVE não é comprometida. Na IC com FEVEp, há dificuldade de enchimento do coração ou enchimento com pressões elevadas, mas o volume sistólico em repouso é preservado. 🎔 Estabilidade : de acordo com a estabilidade e as manifestações clínicas, a IC pode ser compensada, descompensada (“de novo” ou crônica que descompensou) ou persistentemente descompensada, quando os sinais/sintomas de descompensação persistem. Entende-se por descompensação o aparecimento de sinais/sintomas, como edema ou hipoperfusão ou hipotensão, que determinam uma nova estratégia terapêutica de ambulatório ou a partir de admissão hospitalar. Etiologia: 🎔 pode ser resultado de uma doença intrínseca do coração (cardiomiopatia), ou mais comumente em virtude de outras doenças crônicas que causam um processo de alteração da função cardíaca, seja ela sistólica ou diastólica. 🎔 as principais causas de IC no Brasil são cardiopatia isquêmica, cardiopatia hipertensiva, cardiopatia secundária a valvopatias, cardiomiopatia dilatada (CMD), cardiomiopatia alcoólica e doença de Chagas. 🎔 sempre que um paciente com IC não for hipertenso, não apresentar DAC, valvopatia ou outros fatores de risco, é importante pensar na possibilidade de CMD. 🎔 entre os fatores de risco para IC, DAC se apresenta com um aumento de risco relativo (RR) de 8,1; diabetes com RR 1,9; tabagismo com RR 1,6; valvopatias com RR 1,5; hipertensão arterial sistêmica (HAS) com RR 1,4; obesidade com RR 1,3. Dessa forma, a DAC se apresenta como o fator individual que acarreta no maior aumento de risco para desenvolvimento de IC, e também como a principal etiologia de IC. 🎔 estudos em adultos demonstraram que a principal causa de CMD é idiopática (47%), seguida de miocardite (12%), doença coronariana (11%) e outras causas (30%). 🎔 na cardiomiopatia chagásica, importante causa de IC sistólica em nosso meio, a persistência do T. cruzi, associada a miocardite e fenômenos imunológicos, têm importância no desenvolvimento da IC. Fatores de Risco: 🎔 para IC FEVEp , têm-se idade, sexo feminino, obesidade, hipertensão arterial, diabete melito, doença coronariana, doença renal e estenose aórtica. Para a IC com FEVEr tem-se idade, sexo masculino, hipertensão arterial, doençacoronariana, aterosclerose, diabete melito, obesidade, doença valvar, reação sorológica positiva para doença de Chagas, abuso de álcool/cocaína, uso de cigarro, dislipidemia, doença renal crônica, história de cardiomiopatia familiar, síndrome metabólica, albuminúria, quimioterapia para câncer, anemia, ephedra/tiazolidinediona, apneia do sono, vida sedentária, situação econômica desfavorável, estresse psicológico, características genéticas (α2CDel322-325 etc.), frequência cardíaca elevada e aumento dos níveis de homocisteína. Fisiopatologia: 🎔 frequentemente, a função sistólica é avaliada através da fração de ejeção, a qual é calculada através da relação entre o volume no final da diástole e o volume ejetado pelo ventrículo durante a sístole, sendo a FE considerada adequada entre 50-70% e reduzida quando abaixo de 40%. 🎔 os casos em que há IC sem redução do débito cardíaco ou aumento da pressão de enchimento do ventrículo por disfunção diastólica, são chamados de IC de alto débito , sendo o tipo menos comum de IC. Ela é causada por doenças como anemia grave, tireotoxicose e fístulas arteriovenosas, principalmente. Nesses casos, apesar do débito cardíaco ser adequado, configura-se IC pois o coração não consegue atender a demanda tecidual, seja pela falta de hemoglobina no caso da anemia, aumento da demanda tecidual de nutrientes em virtude da tireotoxicose, ou desvio do sangue ejetado, impedindo a chegada deste aos tecidos, caso das fístulas arteriovenosas. Na DAC, a perda da perfusão coronariana causa a morte de cardiomiócitos e, com isso, alterações da função diastólica do ventrículo em estágios mais iniciais. Por outro lado, também pode causar hipocinesia ou acinesia de paredes mal perfundidas do coração – particularmente após episódios de infarto agudo do miocárdio (IAM) – resultando em disfunção sistólica. 🎔 a HAS causa aumento da pós-carga através do aumento da resistência vascular periférica. Isso passa a sobrecarregar o coração, que precisa elevar a pressão produzida através da sístole para vencer a resistência dos vasos. Esse aumento da resistência muitas vezes também resulta em um aumento do volume do volume sistólico final. 🎔 pela lei de Frank-Starling, o coração responde a essa distensão com um aumento da sua força de contração de forma que quanto maior for o retorno venoso, maior seria o volume sistólico, no entanto, a capacidade cardíaca de se adaptar a essa distensão é limitada, e quando as fibras são exageradamente distendidas, ocorre um efeito paradoxal em que a força e eficácia da sístole se tornam reduzidas. 🎔 com o início da redução do débito cardíaco, barorreceptores detectam a redução da função sistólica e buscam aumentar o inotropismo e cronotropismo cardíacos, principalmente por meio da ativação do sistema simpático, aumentando a liberação de noradrenalina e adrenalina. Ao mesmo tempo, nos rins a diminuição da função cardíaca diminui a quantidade de sódio filtrado, o que faz a mácula densa ativar o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). Através do SRAA, o rim passa a reter sódio e água, aumentando assim a volemia, e consequentemente a pré-carga, determinada pelo retorno venoso ao coração. Quadro Clínico: 🎔 a IC pode ser dividida didaticamente em IC direita e IC esquerda. Na IC esquerda , a falência do ventrículo esquerdo (VE) causa um aumento da pressão do enchimento deste ventrículo, o que diminui a eficácia da passagem do sangue do átrio esquerdo (AE) para o VE causa aumento da pressão no AE, dificultando o retorno do sangue da circulação pulmonar para o AE. Isso resulta em sintomas como dispneia aos esforços (que tende a piorar progressivamente sem o tratamento da IC), tosse seca ou com secreção rosácea, dispneia paroxística noturna (DPN), sintoma em que o paciente relata acordar durante a noite com falta de ar, que tende a melhorar após alguns minutos sentado ou em pé. Em estágios mais avançados, pode ser relatada ortopneia , onde o paciente relata dispneia ao deitar, o que é causado pelo aumento da pré-carga com a redistribuição do volume sanguíneo que se acumulava nos membros inferiores por gravidade. Em casos mais graves, o paciente pode apresentar edema agudo de pulmão (EAP) em virtude do aumento da pressão hidrostática nos capilares da circulação pulmonar, causando extravasamento de fluidos para os alvéolos e prejudicando a respiração. 🎔 na IC direita , o processo de falência ocorre no ventrículo direito (IC), e através dos mesmos mecanismos explicados no caso da IC direita, ocorre congestão , no entanto, nesse caso é dificultado o retorno da circulação sistêmica, e não a circulação pulmonar. Dessa forma, o paciente costuma apresentar edema em membros inferiores , estase de jugulares , pode apresentar esplenomegalia por congestão (que pode evoluir até mesmo para insuficiência hepática) e ascite. A principal causa de IC direita, é uma IC esquerda que passou a causar aumento da resistência pulmonar. 🎔 casos extremos de IC, principalmente aqueles relacionados à IC de apresentação aguda, como pode ocorrer no caso de IAM extenso, podem cursar com choque cardiogênico, caracterizado pela hipoperfusão tecidual e PAM≤65mmHg, que não responde à ressuscitação volêmica, exigindo muitas vezes o uso de drogas vasoativas. 🎔 ao exame físico , é importante avaliar fenômenos que indiquem congestão, como a presença de estase de jugulares a 45o, hepatomegalia, ascite, edema de membros inferiorese crepitações à ausculta pulmonar, principalmente na base e terço médio dos pulmões. 🎔 na ausculta cardíaca, a hipofonese de B1 pode indicar a redução da função sistólica, enquanto a hiperfonese de B2 pode ser encontrada em pacientes com hipertensão pulmonar. A presença das bulhas extras deve levantar o alerta para a presença de IC. B3 é auscultada em na fase da desaceleração do enchimento rápido ventricular, principalmente quando há um aumento do volume sistólico final. Já B4 pode ser ouvida logo após a contração atrial, e apesar de menos comum, também é associado a disfunção ventricular. 🎔 a respiração de Cheynes-Stokes é observada em alguns pacientes com ICFEr, principalmente durante o sono. Ela é causada pelo baixo débito e lentificação da detecção das variações da pCO2 pelos centros respiratórios no tronco encefálico, e é caracterizada pela alternância de períodos de taquipneia e bradipneia. Classificação: 🎔 pode ser classificada em diferentes perfis. O perfil A é caracterizado pelo paciente “quente e seco”, ou seja, bem perfundido e sem congestão. Esse perfil é o alvo terapêutico do paciente com IC. 🎔 no perfil B , a apresentação mais comum dos pacientes hospitalizados com IC, o paciente se apresenta “quente e úmido”, ou seja, apresenta-se bem perfundido, porém congesto. 🎔 o perfil L apresenta-se “frio e seco”, ou seja, com hipoperfusão tecidual, no entanto sem congestão. Esse é o perfil mais incomum de apresentação da IC. 🎔 o perfil C descreve o paciente “frio e úmido”, tratando-se do paciente com maior mortalidade na IC, pois apresenta ao mesmo tempo hipoperfusão e congestão, apresentando dessa forma. 🎔 Classificação funcional da New York Heart Association (NYHA) : o classifica de acordo com a limitação do paciente para desempenhar suas atividades. Diagnóstico: 🎔 é guiado primariamente pelo método clínico, no entanto, diversos exames complementares podem auxiliar no diagnóstico e também na avaliação da gravidade da doença. 🎔 os critérios de Framingham são critérios clínicos, exceto apenas pela cardiomegalia ao Raio X de tórax. Com 1 critério maior e 2 critérios menores ou 2 critérios maiores é possível indicar o diagnóstico de IC. 🎔 Eletrocardiograma : pode auxiliar a detectar sinais de sobrecargas de câmaras, bloqueios ou atrasos da condução do estímulo elétrico podem ser avaliados, alterações da repolarização ventricular e até mesmo arritmias cardíacas. 🎔 Raio-X : único exame complementar que pode fechar um critério maior de Framingham (a cardiomegalia). Pode apresentar informações valiosas sobre o estado do paciente. O índice cardiotorácico > 50% define a cardiomegalia na radiografia. É possível também avaliar sinais de congestão pulmonar, como a cefalização da trama vascular pulmonar, presença de linhas B de Kerley, que são linhas dispostas na horizontal e indicam congestão. A radiografia também permite a avaliação da gravidade do quadro de congestão pulmonar, detecção de cisurites pelo acúmulo de líquido nas fissuras pulmonares e permite a visualização de derrames pleurais. 🎔 na radiografia anterior podemos ver vários sinais de congestão e alterações estruturais do coração, como o sinal da bailarina (deslocamento superior do brônquio fonte esquerdo), cefalização da trama vascular pulmonar e cardiomegalia. 🎔 Ecocardiograma Transtorácico : é uma das melhores ferramentas para avaliação complementar da IC, uma vez que ele fornece informações quantitativas que permitem avaliar a dimensão das câmaras cardíacas, presença de valvopatias associadas e através do cálculo da FE, permite diferenciar a ICFEp e ICFEr, que apresentam particularidades no que tange ao tratamento e prognóstico. É recomendado a todos os pacientes com suspeita de IC. Por meio do Doppler pulsátil com medida do fluxo de enchimento do ventrículo esquerdo, define disfunção diastólica que, associada aos sintomas de IC e à função sistólica normal, proporciona o diagnóstico de IC diastólica. O método transesofágico pode ser utilizado nos pacientes com limitação técnica ao ecocardiograma convencional e, em especial, nos pacientes com cardiopatias congênitas e valvares complicadas (prótese, endocardite) e também para avaliar a presença de trombos atriais. 🎔 BNP (peptídeo natriurético cerebral) e NT-proBNP : com a dilatação das câmaras cardíacas, há estímulo à produção do BNP e ANP (peptídeo natriurético cerebral e atrial, respectivamente) no intuito de aumentar a excreção de sódio e água e assim reduzir a pré-carga. Isso permite que o BNP seja útil no diagnóstico diferencial de pacientes que se apresentam com quadros de dispneia e tosse seca, e há dúvida entre etiologia cardíaca e pulmonar. O valor preditivo negativo do exame é elevado, de forma que pacientes que em pacientes cujos níveis de BNP são baixos, a dispneia provavelmente não apresenta etiologia cardíaca. Em pacientes ambulatoriais, o valor de corte do BNP varia de 35-50ng/ml, de acordo com a fonte da literatura. Valores abaixo disso, sugerem que os sintomas respiratórios não tem origem cardíaca. Também pode ser dosado o NT-proBNP, molécula de BNP na sua forma inativa após clivagem. O NT-proBNP apresenta a vantagem de ser mais estável in vitro e apresentar meia-vida mais longa. O valor de corte do NT-proBNP no ambulatório é de 125ng/ml. 🎔 Medicina Nuclear : a ventriculografia radioisotópica (gated blood-pool) permite estimar, de maneira altamente reprodutível, as funções ventricularesesquerda e direita, bem como a motilidade regional (pode ser um método alternativo ao ecocardiograma para definição de função ventricular nos pacientes com janela acústica inadequada). A cintilografia de perfusão miocárdica (tálio ou sestamibi-Tc) com estresse físico ou farmacológico (adenosina, dipiridamol ou dobutamina) permite avaliar a presença de coronariopatia. Além disso, tálio e tomografia de emissão de prótons (PET) podem ser utilizados também para pesquisa de viabilidade miocárdica. A cintilografia com gálio permite avaliar a presença de inflamação, sendo indicada para pesquisa de miocardite. 🎔 Ressonância Magnética : método de grande acurácia e reprodutibilidade para avaliação da anatomia cardíaca, incluindo função biventricular, contratilidade segmentar (áreas de discinesia, acinesia ou hipocinesia), espessura miocárdica, dissincronia intra e interventricular, cavidades e pericárdio. Pode ser utilizada para pesquisa de isquemia e viabilidade. 🎔 Ergoespirometria : método de avaliação da capacidade funcional por meio da análise de gases respiratórios. Define os limiares ventilatórios, a resposta ventilatória e o pico de consumo de oxigênio (VO2). Tem valor prognóstico, e pacientes com VO2 abaixo de 10 mL/kg/min têm alta mortalidade. Além disso, permite diferenciar a causa da dispneia (cardíaca ou pulmonar), avaliar a resposta a intervenções terapêuticas e auxiliar na prescrição de exercício. 🎔 Avaliação hemodinâmica e coronariografia : permitem a análise direta das pressões intracardíacas e intravasculares, oximetria, ventriculografia e cineangiocoronariografia. Dessa forma, fornece dados importantes à definição etiológica e também à orientação da terapêutica. Suas indicações específicas incluem: definição da anatomia coronariana, na suspeita de etiologia isquêmica, avaliação de presença de doença arterial coronariana obstrutiva, quando os métodos não invasivos não permitiram o diagnóstico; avaliação de pacientes candidatos a transplante cardíaco; discriminação da disfunção diastólica (especialmente nas doenças pericárdicas e de depósito). A avaliação hemodinâmica pode também ser realizada à beira do leito com o cateter de artéria pulmonar, e utilizada para manuseio de pacientes com choque cardiogênico e avaliação da resistência vascular pulmonar para indicação de transplante cardíaco. Não se recomenda avaliação hemodinâmica rotineira para acompanhamento, bem como para tratamento da IC descompensada. 🎔 Biópsia Endomiocárdica : pode ser útil em casos de IC de etiologia indefinida, particularmente em suspeita de doenças de depósito e inflamatórias (amiloidose, hemocromatose, sarcoidose, miocardite) ou com bloqueio atriovenricular total. Seu uso rotineiro não está indicado em pacientes com IC, contudo, pode ser considerada em pacientes com deterioração da função cardíaca de origem desconhecida que não respondem à terapêutica médica. Tratamento: 🎔 a terapêutica busca melhorar a função sistólica ventricular, aliviar os sintomas, regular as alterações neuro-humorais da insuficiência cardíaca, reduzir o fenômeno de remodelamento ventricular, minimizar complicações como tromboembolismo e arritmias. 🎔 nos pacientes que se apresentam com ICC descompensada, os objetivos primários são prevenção de morte, manutenção da função e perfusão tecidual e alívio da congestão. 🎔 a classificação do paciente de acordo com os perfis previamente citados, são importantes para definir a terapêutica na descompensação. O paciente com perfil B, por exemplo, precisa do uso de diuréticos para reduzir o excesso de volume e edema, melhorando o quadro congestivo, enquanto no perfil L os diuréticos não seriam indicados. 🎔 é necessário reduzir a ingesta hídrica (menos de 1 litro e meio por dia), ingesta de sal (menos de 5g de NaCl por dia), cessação do tabagismo e etilismo e tratamento da obesidade. Esses pacientes também devem ser vacinados para influenza e pneumococos. 🎔 Medicamentos que Aumentam a Sobrevida : a maioria desses medicamentos inibe a desregulação do sistema simpático e SRAA. Essas medicações são os inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA), bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA), beta-bloqueadores, antagonistas da aldosterona, hidralazina e nitratos, valsartana-sacubitril e novas classes de antidiabéticos. No caso dos iECA , ensaios clínicos randomizados indicaram redução da mortalidade com o uso do enalapril, estabelecendo hoje a indicação de uso de iECA em todos pacientes com IC que não apresentem contraindicações. Uma possibilidade terapêutica promissora é a combinação de valsartana e sacubitril . A valsartana é um antagonista do receptor de angiotensina, que é combinado ao sacubitril, um inibidor da neprilisina. A neprilisina é uma enzima responsável pela degradação do BNP e ANP, que apresentam efeito natriurético benéfico para o paciente com IC, dessa forma o sacubitril aumenta a disponibilidade do BNP e ANP. A combinação de valsartana-sacubitril apresentou resultados superiores ao dos iECA em pacientes com IC, com redução de 16% da mortalidade, por isso esse medicamento passou a ser indicado em pacientes com ICFEp que persistem sintomáticos apesar de tratamento otimizado com beta-bloqueadores, iECA ou BRA e antagonistas da aldosterona. Valsartana-sacubitril deve ser prescrito substituindo os BRA ou iECA, na dose inicial de 49/51mg em pacientes que mantém pressão sistólica acima de 100mmHg. Em pacientes com níveis mais baixos de pressão arterial, a dose inicial deverá ser de 24/26mg. É necessário ficar atento para a possibilidade de angioedema, umdos principais efeitos colaterais do medicamento, e é necessário suspender os iECA 36 horas de iniciar o uso do valsartana-sacubitril, para evitar a sobreposição das drogas, o que aumentaria o risco de hipotensão e angioedema. Os beta-bloqueadores são indicados em todos os pacientes com IC apresentando disfunção sistólica, desde que não apresentem contraindicações como asma grave e bradicardias. Os beta-bloqueadores também reduzem a mortalidade dos pacientes com IC, reduzem o mecanismo de remodelamento cardíaco e a demanda de O2 dos cardiomiócitos, sendo especialmente vantajosos nos pacientes que apresentam DAC associada. Os antagonistas da aldosterona também auxiliam na redução da pré-carga e são indicados nos pacientes com IC e disfunção sistólica na classe III e IV da NYHA. Deve-se ter atenção para a possibilidade de hipercalemia, principalmente nos pacientes que usam antagonistas da aldosterona e BRA ou iECA. O medicamento deve ser suspenso em caso de hipercalemia. A combinação da hidralazina com um nitrato (como a isossorbida) apresentou redução de mortalidade em pacientes negros com IC classe II-IV da NYHA. Em pacientes diabéticos, inibidores do SGLT-2 (como a dapagliflozina e empagliflozina), apresentou redução da mortalidade por causas cardiovasculares e redução das internações hospitalares. Obs.: os medicamentos citados acima só apresentam redução comprovada da mortalidade para pacientes com ICFEr. Apesar disso, estudos indicam que antagonistas da aldosterona e BRA estão associados à redução dos internamentos dos pacientes com ICFEp. 🎔 Medicamentos para Alívio dos Sintomas : outras drogas, como os diuréticos tiazídicos, diuréticos de alça, drogas vasoativas e digitálicos também podem ser indicados nos pacientes com ICC, principalmente em episódios de descompensação. Porém não apresentam redução do índice de mortalidade. Os diuréticos de alça , representados basicamente pela furosemida, representam a classe mais efetiva para alívio do quadro de congestão nos pacientes com IC descompensada (IC perfil B ou C). A dose de furosemida deve ser avaliada de acordo com o quadro clínico do paciente, e muitas vezes precisará de ajustes até atingir uma dose otimizada. É necessário avaliar a função renal dos pacientes, principalmente daqueles que já apresentam DRC. Os diuréticos tiazídicos são muito menos eficientes que os diuréticos de alça, no entanto são uma alternativa terapêutica usada principalmente em associação com a furosemida nos pacientes que já fazem uso de altas doses dessa droga, no entanto, continuam congestos. No caso de diuréticos de alça e tiazídicos, é importante estar atento para o risco de desenvolvimento de hiponatremia, hipocalemia e outros distúrbios hidroeletrolíticos. A digoxina , da classe dos digitálicos, é uma droga usada principalmente com a intenção de aumentar o inotropismo. Ela bloqueia a Na+/K+ ATPase, e de forma indireta, aumenta a concentração de Cálcio no citoplasma, aumentando a força contrátil do cardiomiócito. Essa classe é considerada uma alternativa para o tratamento de pacientes com IC sintomáticos que não conseguiram atingir otimização clínica apesar de terapia otimizada com as drogas que reduzem mortalidade na IC. Os sintomas da intoxicação digitálica são principalmente náuseas, vômitos, alterações visuais e arritmias cardíacas. Em pacientes muito graves, pode ser necessário fazer uso de drogas vasoativas, principalmente a dobutamina e noradrenalina . A noradrenalina apresenta principalmente efeito vasoconstrictor, e pode ser necessária em pacientes em choque cardiogênico. A dobutamina apresenta efeito inotrópico positivo, agindo em receptores adrenérgicos alfa-1, beta-1 e beta-2. 🎔 Anticoagulantes : em pacientes que apresentam histórico pessoal ou familiar de primeiro grau, pode ser avaliado o uso de anticoagulação com antagonistas da vitamina K (warfarina) ou novos anticoagulantes, e o uso de anticoagulantes como a heparina ou enoxaparina é indicado para prevenção de trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar nos pacientes com ICC internados, com mobilidade reduzida. 🎔 Dispositivos : em pacientes refratários ao tratamento clínico otimizado, apresentando FE≤35% e bloqueio de ramo completo (QRS≥120ms), o ressincronizador biventricular , um tipo de marcapasso que sincroniza a sístole dos ventrículos, é indicado. Pacientes com IC que apresentam alto risco para morte súbita de causa cardiovascular podem fazer uso de cardiodesfibriladores implantáveis (CDI) como forma de prevenção primária. Nos pacientes com ICFEr estágio D da AHA, é possível fazer uso de dispositivos de assistência ventricular , uma bomba mecânica que é conectada no VE e à aorta ascendente, realizando a função de bomba que deveria ser desempenhada pelo coração. Esse dispositivo pode aumentar muito a qualidade de vida dos pacientes com ICFEr e reduzir muito ou até eliminar sintomas de baixo débito. Referências: Clínica Médica da USP e Sanarflix.