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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Leopoldo Queiroz Paim1 Resumo O presente trabalho intitulado como “Alfabetização e Letramento nos Anos Iniciais”, tem como objetivo compreender o processo que envolve o ensino de leitura e escrita numa perspectiva de alfabetização e letramento. Pode-se verificar que o processo de alfabetização e letramento passou por grandes transformações no decorrer da história brasileira, ponderou-se também sobre a importância da formação continuada no processo de desenvolvimento dos profissionais da educação e que o pedagogo, que é o profissional responsável pelo ensino da leitura, assim como de seu desenvolvimento e incentivo, tendo em vista que, por ser o profissional que tem os primeiros contatos com a criança na escola, ele é que tem a responsabilidade de iniciar o processo de construção do conhecimento no aluno nos anos iniciais. Palavras-chave: Alfabetização; Anos Iniciais; Leitura; Escrita; Professor. Abstract The present work, entitled “Literacy and Literacy in the Early Years”, aims to understand the process that involves the teaching of reading and writing in a literacy and literacy 1 Bacharel em Direito- Universidade de Cuiabá Licenciatura em Pedagogia- Centro Universitário de Araras Dr. Edmundo Ulson Email: leopoldoqpaim@yahoo.com.br perspective. It can be seen that the literacy and literacy process has undergone major transformations throughout Brazilian history, the importance of continuing education in the development process of education professionals was also considered and that the pedagogue, who is the professional responsible for teaching reading, as well as its development and encouragement, considering that, as the professional who has the first contact with the child at school, he is the one who has the responsibility to start the process of knowledge construction in the student in the years initials. Keywords: Literacy; Early Years; Reading; Writing; Teacher. 1- INTRODUÇÃO Socializo neste espaço, o Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação Alfabetização e Letramento, na qual enfatizo os diferentes entendimentos de alfabetização e letramento e a importância da formação continuada dos professores pedagogos. As razões da escolha deste tema foi minha identificação pelo mesmo e a necessidade de educador, por entender que a alfabetização e letramento serão conhecimentos importantes em minha profissão. O leitor encontrará neste documento questões que evidenciam a importância do alfabetizar e letrar em sala de aula, os caminhos que o alfabetizador necessita percorrer para que possa encontrar resultados positivos na busca, diante de formações e estudos mais aprofundados. A alfabetização é entendida como uma técnica que tem como objetivo ensinar a ler e escrever de maneira coerente, já o letramento se trata da habilidade de fazer o uso da leitura e escrita não só na escola, mas em outros espaços sociais. Assim, alfabetizar e letrar são interdependentes. Então quando bem articulados ao planejamento de um educador, podemos trazer benefícios, ou seja, uma aprendizagem mais significativa e eficaz na vida dessas crianças. 2- ALFABETIZAR LETRANDO OU UM NOVO ENTENDIMENTO DA ALFABETIZAÇÃO? 2.1, O que é alfabetização? Alfabetização é algo extremamente importante para o desenvolvimento do ser humano. Saber ler e escrever é fundamental para que o indivíduo encontre o seu lugar no mundo. De acordo com a UNESCO “a alfabetização é um processo de aquisição das habilidades cognitivas básicas responsáveis por contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da capacidade de conscientização social e da reflexão crítica como base de mudança pessoal e social”. Saber ler e escrever possibilita o sujeito do seu próprio conhecimento, pois sabendo ler, ele se torna capaz de atuar sobre o acervo de conhecimento acumulado pela humanidade através da escrita e, desse modo, produzir, ele também, um conhecimento (Barbosa, 2013, p.19) A alfabetização deve se desenvolver em um contexto de letramento como início da aprendizagem escrita, como desenvolvimento das habilidades de uso da leitura e escrita, como desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, e de atitudes de caráter prático em relação a esse aprendizado; entendendo que a alfabetização e letramento, devem ter tratamento metodológico diferente e com isso alcançar o sucesso no ensino aprendizagem da língua escrita, falada e contextualizada nas nossas escolas. Letramento é informar-se através da leitura, é buscar notícias e lazer nos jornais, é interagir-se com as histórias em quadrinhos. Letramento é descobrir a si mesmo pela leitura e pela escrita, é entender quem a gente é e descobrir quem podemos ser. No ano de 1990 a alfabetização passou a ser entendida como um instrumento eficaz de aprendizagem da leitura e escrita, através da “Conferência Mundial sobre Educação para Todos”. É a partir desse período que surgem movimentos de defesa de uma alfabetização mais abrangente e que superasse a mecanização deste ensino. Que a alfabetização, desde o início fosse capaz de ensinar de maneira simultânea à aquisição dos mecanismos básicos de leitura e escrita “o desenvolvimento da comunicação e expressão com ênfase no processo de produção e utilização de textos” (Krammer, 1986,p.19). Realizar a defesa através de algumas ações mais abrangentes na alfabetização justifica- se pelo fato de possuir um domínio na leitura e escrita, possibilitando maior inserção no aprendiz no ambiente de formação, sendo possível o acesso a conhecimentos históricos e sociais produzidos em diferentes situações para produção de novos conhecimentos. Assim como evidenciam as palavras de Krammer (1986,p.20): Saber ler e escrever significa dispor do veículo fundamental de acesso aos conhecimentos da língua nacional, da Matemática, das Ciências, da História, da Geografia e significa ainda, possuir o instrumento de expressão e compreensão da realidade física e social. Já os dizeres de Soares (1985, p.21) mencionada por Krammer (1986,p.17) de forma semelhante apresenta um conceito de alfabetização, e este deveria ser o seguinte: Suficientemente amplo para incluir a abordagem mecânica do ler/escrever, o enfoque da língua escrita como meio de expressão/compreensão, com especificidade e autonomia em relação à língua oral, e ainda, os determinantes sociais das funções e fins da aprendizagem da língua escrita. Devemos salientar as contribuições de Paulo Freire, que foi pioneiro em proporcionar à alfabetização uma natureza política, existindo ainda a necessidade de este também considerar a compreensão de mundo das relações políticas, econômicas e sociais, isso porque se aprende a ler e a escrever para ser capaz de participar nesta e desta sociedade como um sujeito de direitos. Sendo assim, na concepção de Freire (2006), trabalhar a alfabetização sobre o ponto de vista do letramento (embora em nenhum momento tenha mencionado esta terminologia) é uma opção política. Sendo assim, a alfabetização, nesta nova compreensão, já não é uma tarefa de responsabilidade exclusiva de somente um único professor, mas sim é uma responsabilidade de toda a escola e da própria sociedade. Hoje em dia o desafio é de que todos, em conjunto, trabalhem com o intuito de gerar didáticas de alfabetização que certamente lecionem e não possibilitem que a criança ou o jovem saiam da escola sem este conhecimento tão relevante para a sua integração no mundo, que é administrado através da linguagem. Desta maneira, é necessário que a alfabetização esteja centrada na compreensão e comunicação, considerando sempre o processo, forma de aprendizagem das crianças e de cadacriança, os dizeres de Demo (2007, p.70) afirmam que “a questão fundamental é de aprendizagem a partir das crianças. Assim a leitura não pode ser ensinada para as crianças. A responsabilidade do professor não é a de ensinar as crianças a ler, mas a de tornar a aprendizagem possível”. 2.2 Linguagem A Linguagem por ser um sistema de símbolos que funcionam como meio de comunicação de ideias, conceitos ou sentimentos. Pode ser de forma sonora, gráfica, gestual, textual etc. Os elementos que constituem a linguagem são os gestos, sinais, sons, símbolos ou as palavras, que normalmente são utilizadas para transmitir conceitos, ideias, significados e pensamentos. A linguagem normalmente utilizada como mediadora na transmissão e compreensão dos conceitos por parte dos sujeitos envolvidos. Neste sentido a linguagem passa a assumir um papel constitutivo na elaboração conceitual, e não apenas o papel comunicativo ou de instrumento Vygotsky (1984) estudou as relações entre a linguagem e o pensamento, para ele o pensamento e linguagem nas crianças seguem linhas paralelas até os dois anos, então o pensamento passa a servir à fala e está ao pensamento, constituindo-se assim o pensamento verbal. Narra Vygotsky que: "Embora a inteligência prática e o uso de signos possam operar independentemente em crianças pequenas, a unidade dialética desses sistemas no adulto constitui a verdadeira essência no comportamento humano complexo. Nossa análise atribui à atividade simbólica uma função organizadora específica que invade o processo de uso de instrumentos e produz formas fundamentalmente novas de comportamento…o momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstratas, acontece quando a fala e a atividade pratica então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem" (Vygotsky, 1984, p. 26). Para Vygotsky (1984) inicialmente a fala tem um aspecto social, uma função unicamente comunicativa, depois passa por uma transformação funcional e estrutural, surge à fala egocêntrica, daí origina-se à fala interior. Quando o indivíduo começa a se deparar com obstáculos para a realização de uma determinada ação, ele começa então a falar sobre o que deveria fazer. A partir daí a fala não apenas acompanhava a ação, mas criava a sua solução. A fala passa então a adquirir uma nova função de planejamento e organização da ação. Vygotsky (1984) detalha mais o funcionamento do processo ao esclarecer que, durante o processo da formação da linguagem a estrutura da fala também se transforma, tornando-se abreviada e predicativa. Isto ocorre porque no início do desenvolvimento da criança, quando ocorre uma dificuldade, ela recorre ao adulto através da fala, assim a criança verbaliza o problema. Na medida em que ocorre o desenvolvimento da função planejadora da fala, a criança passa a resolver o problema por si só, não necessitando mais da ajuda de um adulto. Sua fala passa de audível para uma fala mais abreviada. (Vygotsky, 1984) Vygotsky considera que o papel da linguagem é: "Nosso estudo experimental provou que é o uso funcional da palavra, ou qualquer outro signo, como meio de focalizar a atenção, selecionar aspectos distintivos e analisá-los e sistematizá-los, que tem um papel central na formação de conceitos. Os conceitos reais são impossíveis sem as palavras, e pensar em conceitos não existe além do pensamento verbal. É por isso que o momento central na formação de conceitos, e sua causa generativa, é um uso específico de palavras como 'ferramentas' funcionais" (Vygotsky, 1984, p. 33). Para o autor citado acima é necessário considerar que a linguagem não é o único fator determinante na formação de conceitos, o nível de desenvolvimento do pensamento, embora necessite da participação da linguagem em face do desenvolvimento das diferentes funções psicológicas e suas inter-relações. Com isto as palavras não são assimiladas como são apresentadas. Pode-se dizer então que a influência do desenvolvimento intelectual na formação de conceitos se dá pela maneira como se faz uso da palavra. Ao se utilizar de uma palavra de maneira diferente dependendo da operação intelectual na qual está envolvida, surge a diferença entre o pensamento por complexos e o pensamento conceitual. (Vygotsky, 1984) Para Vygotsky (1984) a palavra, enquanto ferramenta psicológica tem o papel de formar as funções psicológicas superiores de acordo com a maneira como são utilizadas, na formação de conceitos e para direcioná-los para utilização na vida real. Os signos utilizados são as palavras sem sentido, enquanto em uma situação natural, as palavras já trazem os significados da linguagem. Os complexos formados são espontâneos e predeterminados, ressalta-se que o significado da palavra será assimilado de diferentes maneiras dependendo do nível de desenvolvimento do pensamento. Na visão de Vygotsky o sentido de uma palavra seria: “à soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta em nossa consciência, um todo complexo, fluido e dinâmico, que tem várias zonas de estabilidade desigual. Uma palavra adquire o seu sentido no contexto em que surge em contextos diferentes, altera o seu sentido.” (Vygotsky, 1984, p. 45) Para ele o significado de uma palavra é apenas uma das “zonas do sentido, a mais estável e precisa” e que “o significado permanece estável ao longo de todas as alterações do sentido”, ou seja, dependendo do contexto, uma palavra significa mais ou menos do que significaria se considerada isoladamente, mais, porque adquire um novo conteúdo, menos, porque o contexto limita e restringe o seu significado, isto faz parte do processo de comunicação. "A comunicação direta entre duas mentes é impossível, não só fisicamente como também psicologicamente. A comunicação só pode ocorrer de uma forma indireta. O pensamento tem que passar primeiro pelos significados e depois pelas palavras. Chegamos agora ao último passo de nossa análise do pensamento verbal. O pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva, que traz em si a resposta do último porquê de nossa análise do pensamento. Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo. Para compreender a fala de outrem não basta entender as suas palavras – temos que compreender o seu pensamento. Mas nem isso é suficiente, também é preciso que conheçamos a sua motivação. Nenhuma análise psicológica de um enunciado estará completa antes de se ter atingido esse plano" (Vygotsky, 1984, p. 56) Para Piaget (1982) a linguagem significa a utilização de signos verbais e é apenas uma das formas de função simbólica. Sua origem inicia-se com o desenvolvimento da imitação que ocorre durante o período sensório-motor e termina na fase da imitação retardada ou diferida, forma de representação do real em atos. Esta representação ocorre quando há de forma simultânea a diferenciação e a coordenação entre significantes e significados. Os primeiros significantes diferenciados seriam dados pela imitação e a imagem mental que prolongam a acomodação aos objetos externos enquanto os significados seriam dados pela assimilação encontrada no jogo simbólico. Para Piaget: "Depois de terem se dissociado progressivamente no plano sensório-motor, e terem se desenvolvido a ponto de poder ultrapassar o presente imediato, a assimilação e a acomodação se apoia então enfim uma na outra, em uma conjunção que se tornou necessária por essa própria ultrapassagem: é essa conjunção entre a imitação, efetiva ou mental, de um modelo ausente, e as significações fornecidas pelas diversas formas de assimilação, que permite a constituição da função simbólica.É então que a aquisição da linguagem, ou sistema dos signos coletivos, se torna possível e que, graças ao conjunto dos símbolos individuais assim como desses signos, os esquemas sensório-motores conseguem se transformar em conceitos ou se desdobrar em novos conceitos" (PIAGET, 1982, p. 121). Piaget (1982) entende que existe inteligência antes da formação da linguagem, a inteligência sensório-motora, não existindo o raciocínio/pensamento. O pensamento surge da diferenciação dos significantes e significados, baseado na descoberta dos signos. Para ele ocorre primeiro a inteligência sensório-motora em seguida ocorre as operações de classificação e ordenação em ação com isto a construção do pensamento. Para este autor "numa palavra, no princípio era a ação e em seguida vem a operação.” (Piaget, 1982, p. 122). Piaget (1982) narra que no início, a linguagem representa apenas ordens e expressões de desejo, e utilizada para anunciar uma ação. A palavra e utilizada com limitação, se limita a traduzir a organização dos esquemas sensório-motores que poderiam acontecer nesta ação. Assim, a linguagem deixa de acompanhar o ato em si e passa a reconstituir a ação passada, a palavra então começa a funcionar como forma de representação, um signo. A palavra passa a descrever a ação em vez de fazer parte dela, com isto forma-se um conceito. Resta então a construção de encaixes hierárquicos para que ocorra a compreensão. (PIAGET, 1982) Piaget (1982) admite que a linguagem e um fator facilitador na formação de conceitos por já trazer prontas algumas classificações e relações, porém, a linguagem não pode ser considerada um fator determinante, ela depende do desenvolvimento cognitivo do indivíduo para a sua aquisição, ou seja, para se adquirir um conceito verbal é preciso primeiro adquiri-lo ao nível cognitivo. Este é um limitador natural pois o indivíduo pode possuir diferentes tipos de conceitos, conceitos práticos, pré-conceitos ou outros, com isto o indivíduo só conseguirá adquirir os conceitos a partir do momento que ele tiver desenvolvido as estruturas de classificação e seriação necessárias. A origem das classificações não se encontra na linguagem. A linguagem não é suficiente para explicar o pensamento, as estruturas que o caracterizam o pensamento têm suas raízes na ação e nos mecanismos sensório-motores. A linguagem é um fator necessário, porém não suficiente para que ocorra o desenvolvimento cognitivo. A linguagem e um grande influenciador para tomada de consciência do indivíduo, e através do conhecimento que ocorre a tomada de consciência do indivíduo. Cabe às teorias sobre desenvolvimento da linguagem explicar de que forma ocorre esse processo, elucidando de que maneira uma criança lida com o material linguístico de que dispõe. Segundo Teixeira (2005), todo indivíduo precisa dominar uma língua, um código linguístico qualquer que lhe permita interagir com uma comunidade linguística, no qual se encontra inserido. 3- POLÍTICAS PÚBLICAS QUE DESAFIAM UM NOVO OLHAR SOBRE A ALFABETIZAÇÃO 3.1 Ensino Fundamental de Nove Anos [...] assegurar a todas as crianças um tempo mais longo no convívio escolar, mais oportunidades de aprender e um ensino de qualidade. (BRASIL, 2006a) Conforme o PNE – Plano Nacional de Educação, a determinação legal, Lei nº 10.172/2001, de implantar progressivamente o Ensino Fundamental de nove anos, com a inclusão das crianças de seis anos de idade objetiva oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período da escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade. Estabelece ainda, que a implantação progressiva do Ensino Fundamental de nove anos, com a inclusão das crianças de seis anos, deve se dar em consonância com a universalização do atendimento na faixa etária de 7 a 14 anos. Ressalta que esta ação requer planejamento e diretrizes norteadoras para o atendimento integral da criança em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social, além de metas para a expansão do atendimento, com garantia de qualidade. Essa qualidade implica assegurar um processo educativo respeitoso e construído com base nas múltiplas dimensões e na especificidade do tempo da infância, do qual também fazem parte as crianças de sete e oito anos. No seu art. 23 a LDB – Lei de Diretrizes e Bases - incentiva a criatividade e insiste na flexibilidade da organização da educação básica. Nesse sentido no Ensino Fundamental a educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. O art. 32 determina como objetivo do Ensino Fundamental a formação do cidadão, mediante: I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. Lei 11.274 de 06 de fevereiro de 2006 - A Lei no 11.274, de 06 de fevereiro de 2006, assegura o direito das crianças de seis anos à educação formal, obrigando as famílias a matriculá-las e o estado a oferecer o atendimento. Mas como assegurar a verdadeira efetivação desse direito? Como fazer para que essas crianças ingressantes nesse nível de ensino não engrossem futuras estatísticas negativas? São questões levantadas no caderno do MEC/FNDE (2006). Frente a essa situação acredita-se que professores, gestores e demais profissionais de apoio à docência têm neste momento uma complexa tarefa: a de participar da elaboração dos PPP – Projetos Políticos Pedagógicos nas escolas onde estão sendo implantados o Ensino Fundamental de Nove Anos. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 - Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer. Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil Fornecem elementos importantes para a revisão da Proposta Pedagógica do Ensino Fundamental que incorporará as crianças de seis anos, até então pertencentes ao segmento da Educação Infantil. Entre eles, destacam-se: As propostas pedagógicas devem promover em suas práticas de educação e cuidados a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos, linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser total, completo e indivisível. Dessa forma, sentir, brincar, expressar-se, relacionar-se, mover-se, organizar-se, cuidar-se, agir e responsabilizar-se são partes do todo de cada indivíduo. Ao reconhecer as crianças como seres íntegros que aprendema ser e a conviver consigo mesmas, com os demais e com o meio ambiente de maneira articulada e gradual, as propostas pedagógicas devem buscar a interação entre as diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã como conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos e valores. Dessa maneira, os conhecimentos sobre espaço, tempo, comunicação, expressão, a natureza e as pessoas devem estar articulados com os cuidados e a educação para a saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o meio ambiente, a cultura, as linguagens, o trabalho, o lazer, a ciência e a tecnologia. Tudo isso deve acontecer num contexto em que cuidados e educação se realizem de modo prazeroso e lúdico; Nesta perspectiva, as brincadeiras espontâneas, o uso de materiais, os jogos, as danças e os cantos, as comidas e as roupas, as múltiplas formas de comunicação, de expressão, de criação e de movimento, o exercício de tarefas rotineiras do cotidiano e as experiências dirigidas que exigem que o conhecimento dos limites e alcances das ações das crianças e dos adultos estejam contemplados. · As estratégias pedagógicas devem evitar a monotonia, o exagero de atividades acadêmicas ou de disciplinamento estéril; · As múltiplas formas de diálogo e interação são o eixo de todo o trabalho pedagógico, que deve primar pelo envolvimento e pelo interesse genuíno dos educadores em todas as situações, provocando, brincando, rindo, apoiando, acolhendo, estabelecendo limites com energia e sensibilidade, consolando, observando, estimulando e desafiando a curiosidade e a criatividade, por meio de exercícios de sensibilidade, reconhecendo e alegrando-se com as conquistas individuais e coletivas das crianças, sobretudo as que promovam a autonomia, a responsabilidade e a solidariedade; 3.2 PNAIC- Plano Nacional da Alfabetização na Idade Certa O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um compromisso assumido pelos governos Federal, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, desde 2012, para atender à Meta 5 do Plano Nacional da Educação (PNE), que estabelece a obrigatoriedade de “Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental”. A garantia da alfabetização plena de todas as crianças, como redigido na estratégia 5.1, exige uma visão sistêmica da educação e é um dos pilares para o alcance de outras Metas do PNE, em especial a de nº 2, que determina universalizar o ensino fundamental de 9 anos para toda a população de 6 a 14 anos e garantir que os alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência do PNE. Considerando que, em média, 97% das crianças brasileiras estão matriculadas no 1º ano e que a etapa de Alfabetização é a base para “garantir uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem durante toda a vida para todos” (Marco de Ação da Agenda de Educação 2030, da qual o Brasil é signatário), a responsabilidade pela alfabetização das crianças precisa ser acolhida por docentes, gestores e instituições formadoras como um imperativo ético indispensável à construção de uma educação efetivamente democrática e socialmente justa. Se pauta na sustentabilidade da gestão nas escolas e nas redes públicas e na progressiva autonomia dos educadores para resolver os desafios da sala de aula e para buscar seu próprio desenvolvimento profissional; no envolvimento das instituições formadoras com as escolas da rede pública; no trabalho colaborativo comprometido com os direitos de aprendizagem das crianças; na compreensão da alfabetização como a base para a equidade, a inclusão e a igualdade de oportunidades educativas. A principal inovação no programa em 2017 refere-se a um direcionamento maior na intencionalidade pedagógica das formações e da atuação dos formadores, articulada a um modelo de fortalecimento da capacidade institucional local, reforçando a importância de ter, na estrutura de formação e gestão, atores locais altamente comprometidos com os processos formativos e de monitoramento, avaliação e intervenção pedagógica. 4- ALFABETIZAR OU LETRAR? A alfabetização e o letramento caminham juntos, lado a lado, como as duas faces de uma mesma moeda, ou seja, são divergentes, porém ambas se complementam. Diante das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: alfabetização (sistema convencional da escrita) e letramento (práticas sociais que envolvem a escrita e a leitura). Eles não são processos independentes, mas interdependentes, ou seja, a alfabetização desenvolve-se através do letramento, isto é, por meio de práticas sociais de leitura e de escrita; o letramento, por sua vez, só se pode desenvolver através da aprendizagem das relações fonema-grafema, ou seja, de modo dependente da alfabetização. Segundo Magda Soares (2003, p. 38, 39), “letramento é o resultado da ação de ‘letrar-se .’” Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita. O letramento é o estado ou condição de quem se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e de escrita, por consequência, letramento é muito mais que alfabetização. A alfabetização é um processo formal, enquanto o letramento é uma prática social. Nos dias atuais, em que as sociedades do mundo inteiro estão cada vez mais centradas na escrita, ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever tem se revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas contemporâneas. É preciso ir além da simples aquisição do código escrito, é preciso fazer uso da leitura e da escrita no cotidiano, apropriar-se da função social dessas duas práticas; é preciso “letrar-se”. O conceito de letramento, embora ainda não registrado nos dicionários brasileiros, tem seu aflorar devido à insuficiência reconhecida do conceito de alfabetização. E, ainda que não mencionado, já está presente na escola, traduzido em ações pedagógicas de reorganização do ensino e reformulação dos modos de ensinar, como constata Magda Soares em seus diversos escritos. Em vista disso, alfabetização e letramento são processos que envolvem níveis e/ou graus ascendentes, de acordo com as exigências do mundo atual e das práticas sociais as quais se está inserido. Ambas, portanto, são contínuas, para toda a vida. Contudo, Tfouni (2002, p.15) afirma a esse respeito que: “(...) a alfabetização, enquanto processo individual, não se completa nunca, visto que a sociedade está em contínuo processo de mudança, e a atualização individual para acompanhar essas mudanças é constante”. Em termos sociais mais amplos, o letramento é apontado como sendo produto do desenvolvimento e/ou prosseguimento da alfabetização. Segundo Tfouni (2002, p.20), “enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade”. Em outras palavras, letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive: sabe ler e interpretar jornais, revistas, livros, bula de remédio, tabelas, quadros, formulários, carteira de trabalho, contas de água, luz, telefone, escreve cartas, bilhetes, telegramas, sabe redigir ofícios, requerimentos, “navegar” na internet etc.. Essas são exemplos de algumas práticas sociais de letramento mais comuns e cotidiana de leitura e escrita presentes no mundo contemporâneo.Magda Soares (2003, p.58), falando sobre a questão, relata que “é preciso que haja, pois, condições para o letramento: escolarização real e efetiva da população e disponibilidade de material de leitura”, uma vez que aspirar um pouco mais do que simplesmente aprender a ler e a escrever (ser alfabetizado) é letrar-se. Pode-se dizer que o processo de letramento se inicia bem antes de seu processo de alfabetização ou vice-versa. Soares (2003, p. 47), nos explica melhor esse contexto: “Um adulto poder ser analfabeto e letrado: não sabe ler nem escrever, mas usa a escrita”. “Uma criança pode não ser alfabetizada, mas ser letrada”: convive com livros, conta e finge escrever uma história etc.. “Uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada: sabe ler e escrever, mas não cultiva nem exerce práticas de leituras e de escrita”. Portanto, é importante salientar que o letramento compreende tanto a apropriação das técnicas para a alfabetização quanto o aspecto de convívio e hábito de utilização da leitura e da escrita. É preciso reconhecer a possibilidade e necessidade de promover a conciliação entre essas duas dimensões da aprendizagem da língua escrita, integrando alfabetização e letramento, sem perder, porém, a especificidade de cada um desses processos, o que implica reconhecer as muitas facetas de um e outro e, consequentemente, a diversidade de métodos e procedimentos para ensino de um e de outro, uma vez que não há apenas um método para a aprendizagem inicial da língua escrita. Há múltiplos métodos e a natureza de cada faceta determina certos procedimentos de ensino, além de as características de cada grupo de indivíduos e/ou de cada indivíduo exigir formas diferenciadas de ação pedagógica. Contudo, tomando os dois extremos como ênfases à aprendizagem da língua escrita, Soares defende a complementaridade e o equilíbrio entre ambos e chama a atenção para o valor da distinção terminológica: Porque alfabetização e letramento são conceitos frequentemente confundidos ou sobrepostos, é importante distingui-los, ao mesmo tempo em que é importante também aproximá-los: a distinção é necessária porque a introdução, no campo da educação, do conceito de letramento tem ameaçado perigosamente a especificidade do processo de alfabetização; por outro lado, a aproximação é necessária porque não só o processo de alfabetização, embora distinto e específico, altera-se e reconfigura-se no quadro do conceito de letramento, como também este é dependente daquele. A partir dessa compreensão, assim como a autora, é preciso que reconheçamos o mérito teórico e conceitual de ambos os termos e de que, na ambivalência dessa revolução conceitual, encontra-se o desafio dos educadores em face do ensino da língua escrita: o alfabetizar “letrando”. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de; CRUZ, Magda do Carmo Silva. Brasil: Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio á Gestão Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: alfabetização para todos: diferentes percursos, direitos iguais: ano 1: unidade 7/ Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio á Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2012. BARBOSA: José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 2003. BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ampliação do ensino fundamental para nove anos. Brasília, DF: 2004ª. Relatório. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria da Educação á Distância. Salto para o Futuro. 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