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Tutoria 4 Módulo I Doenças da tireoide Hipotireoidismo Definir a epidemiologia e etiologia do hipotireoidismo Definição ● Síndrome clínica decorrente de redução da concentração ou de ação dos hormônios tireoidianos no nosso corpo,resultando em queda do metabolismo e prejuízo nas atividades biológicas que dependem do estímulo dos hormônios tireoidianos para acontecerem Epidemiologia ● Estima-se que há uma prevalência de hipotireoidismo subclínico de 4-8% da população ● Prevalência de hipo clinico seja de 0,3% da população ● Maior risco em mulheres (5-10x) e maior com a idade ● O subclinico é cada vez mais prevalente, principalmente em mulheres, idosos e populações com dieta pobre em iodo ● No brasil, há o teste do pezinho para identificar o hipotireoidismo congênito Etiologia ● Hipotireoidismo primário ○ 95% dos casos ○ Doença na tireoide, com redução da produção de iodotironina (T3) e tiroxina (T4) ○ Caracteriza-se por aumento de TSH e redução de T3 e T4 (totais e livres) ○ Pode ser por: ■ Autoimune - Hashimoto vai ser a causa mais comum atualmente ■ Terapia de hipertireoidismo ■ Radioterapia ■ Medicamento ■ Defeito enzimático congênito - hipo congênito ■ Deficiência de iodo ● Hipotireoidismo secundário ○ Doença na hipófise, compromete a síntese de TSH e consequentemente na de T3 e T4 ○ Laboratório: baixo TSH ou “inapropriadamente normal”; T3 e T4 baixos ○ Pode ser por: ■ Tumor hipofisário ■ Radioterapia de sela túrcca ■ Cirurgia hipofisário ■ Doenças hipofisárias - depósito, granulomatosas, metástases, doencas autoimunes, inflamatórias, infecções ■ medicamentos inibidores de TSH - corticoide em dose alta, análogos de somatostatina, dopamina, dobutamina ■ Pode vir acompanhado de disfunção de outros eixos hipofisários - geralmente sucede o aparecimento de deficiência de GH, LH e FSH ● Hipotireoidismo terciário ○ Problema no hipotálamo, pela inabilidade de secretar o hormônio liberador de tireotrofina (TRH) em quantidades suficientes para estimular produção de TSH pela hipófise ○ É a causa mais rara de hipo ○ Laboratório: TSH baixo ou inapropriadamente normal; T3 e T4 baixos. ■ A dosagem de TRH não é feita na prática clínica, sendo diagnosticado “hipotireoidismo central” pois nao tem como diferenciar a secundária da terciária; o prognóstico, tratamento e seguimento serão os mesmos ○ Pode ser por: ■ Tumor hipotalâmico ■ Doença infecciosa ou inflamatoria Citar os fatores de risco do hipotireoidismo e indicações de rastreamento Fatores de risco ● sexo feminino, idade>60a, histórico familiar de doença tireoidiana, presença de outra doença autoimune, presença de anticorpos contra tireoide (anti-TPO e anti-Tg), histórico de tireoidite (+pós-parto), doenças granulomatosas e infiltrativas, radioterapia cervical, tto para hipertireoidismo, bócio, nódulos, fármacos (amiodarona, interferon alfa, lítio, tionamidas), hepatite C, síndrome de Down e de Turner, deficiência ou excesso de iodo na dieta Indicações de rastreamento ● Em pessoas assintomáticas, ainda nao há consenso sobre quando começar o rastreio, se acima dos 60 anos, dosando TSH a cada 5 anos a partir dos 35 anos, ou se deve ser feito em assintomáticos sem fatores de risco ● Pessoas com maior risco: ○ História pessoal de outras doenças autoimunes, como: diabetes tipo 1, anemia perniciosa, vitiligo, doença celíaca, doença de Addison, alopecia etc. ○ História familiar de doença tireoidiana ○ História pessoal de irradiação cervical ou cirurgia tireoidiana ○ Exame anormal da tireoide ○ Doença psiquiátrica ○ Uso de amiodarona ou lítio ○ Anemia em investigação ○ Arritmia cardíaca em investigação, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), prolongamento do intervalo QT do eletrocardiograma, hipertensão arterial sistêmica (HAS) ○ Sintomas compatíveis com o quadro, como constipação intestinal, irregularidade menstrual, ressecamento de pele e fâneros, fadiga, cansaço e ganho de peso inexplicado ○ Dislipidemia ○ Demência ○ Miopatia. ● Teste do pezinho Estudar o quadro clinico e diagnostico de hipotireoidismo Quadro Clínico - de 10 a 15% da secreção de T3 e T4 não dependem do estímulo de TSH, o hipo central cursa com clinica menos intensa ● Metabólicas ○ Astenia, fadiga, cansaço, sonolência, falta de energia ○ Intolerância ao frio ○ Ganho de peso modesto, principalmente em decorrência de retenção hídrica ● Neurologicas ○ Voz arrastada ○ Hiporreflexia profunda ○ Parestesias, cãibras ○ Síndrome de túnel do carpo ● Psiquiatricas ○ Depressão, déficits de memória, de atenção e de concentração ● Dermatologicas ○ Pele fria e seca, cabelos finos e secos ○ Fragilidade de unhas, cabelos, madarose (perda de cílios e/ou sobrancelhas) ○ Queda de cabelo ○ Edema facial, periorbitário e de membros inferiores (retenção hídrica e acúmulo de ácido hialurônico) - edema nao tem sinal do cacifo por nao ser “compressivel” ○ Macroglossia ● Oculares ○ Aumento do risco de glaucoma ● Gastrointestinais ○ Perda de apetite ○ Constipação intestinal, retardo do esvaziamento gástrico e do trânsito intestinal, distensão abdominal ● Ginecologicas ○ Irregularidade menstrual, menorragia, oligomenorreia ou amenorreia, anovulação e infertilidade ○ Redução de libido ● Cardiovasculares ○ Palidez (vasoconstrição periférica) ○ Lenta cicatrização de feridas ○ Bradicardia, abafamento de bulhas cardíacas, eletrocardiograma (ECG) com baixa voltagem e derrame pericárdico leve ○ Redução da pressão arterial sistólica (PAS), por reduzido inotropismo e débito sistólico, e aumento pressão arterial diastólica (PAD), por aumento da resistência vascular periférica ○ Insuficiência cardíaca congestiva, por reduzido inotropismo, aumento da resistência vascular periférica e aumento da permeabilidade capilar ● Respiratórios ○ Redução da frequência respiratória, dispneia e derrame pleural ○ Apneia do sono ● Outras ○ Derrames cavitários ○ Artralgias, derrames articulares. ● Coma mixedematoso ○ é uma complicação potencialmente fatal do hipotireoidismo, que geralmente ocorre em pacientes com longo histórico de hipotireoidismo. ○ Suas características incluem coma com hipotermia extrema (temperatura 24° C a 32,2° C), arreflexia, convulsões e depressão respiratória com retenção de dióxido de carbono. ■ Hipotermia grave só pode ser percebida depois que termômetros que mostram leituras baixas são utilizados. ○ O diagnóstico rápido com base na avaliação clínica, história e exame físico é fundamental, porque é provavelmente que ocorra morte sem tratamento rápido. ○ Fatores precipitantes incluem doença, infecção, trauma, fármacos que suprimem o sistema nervoso central e a exposição ao frio. ○ Tratamento é feito com: ■ T4 IV - e depois oral ■ Corticoide ■ Terapia de suporte Diagnóstico ● TSH ○ Vai ser o primeiro a se alterar ■ Se alto - hipo primário ■ Se baixo ou inapropriadamente normal - hipo central ○ N= 0,4-4,5 mUI/L ■ PORÉM, foi visto que a população totalmente normal sem fatores de risco e assintomáticas tinham valores entre 1,4 e 1,9 mUI/L ■ A média costuma subir um pouco com a idade, exceto em recém nascidos que o normal pode chegar a 10 mUI/L ○ Durante a gravidez, os valores variam de acordo com trimestre ■ 1º trimestre: até 2,5 ■ 2 e 3º trimestres: até 3,5 ■ Acima desses valores deve-se considerar hipo subclínico e sempre tratar gestantes ■ A explicação pelo valor maior de referência é o aumento de TBG pelo hiperestrogenismo da gestação, fazendo aumentar os hormônios totais nesta fase e diminuir os livres ● T3 e T4 ○ Redução de hormônios tireoidianos ○ A queda de T4 sempre antecede a de T3, pela maior conversão de T4 em T3, mantendo T3 normal por mais tempo ○ Os valores podem variar muito diante da redução ou aumento as proteínas de ligação (globulina ligadora de tiroxina TBG, transtirretina ou albumina) - cerca de 99,97% do T4 e 99,5% do T3 andam carreados, por isso importante medir mais o livre que o total - menos em grávidas ○ A T4 livre vai ser usada tambem como principal hormonio na avaliacao de pacientes com recente tratamento para hipertireoidismo,ja que o TSH pode demorar ate 2 meses para normalizar nessas situações ○ A ingestão de levotiroxina (LT4) pode aumentar os valores séricos de T4 livre em até 20%, sendo recomendado a tomada da dose apenas após a coleta do exame ● Anticorpo anti-TPO ○ 95% dos casos ● Anti-tireoglobulina ● USG ○ Parênquima heterogêneo ○ Pode ter aumento do tamanho Compreender as alterações laboratoriais relacionadas à doença ● Anemia normocítica ou macrocítica ○ Redução da produção de eritropoetina ou deficiência de vitamina B12 associada em pct com autoimunidade tireoidiana que pode vir associada a presença de anticorpo anticelulares parietal gástrica e anemia perniciosa por gastrite atrófica ● Dislipidemia à custa de hipercolesterolemia ○ ocorre reduzida expressão dos receptores BE hepáticos no hipotireoidismo, de modo a aumentar, portanto, o nível sérico de lipoproteína de baixa densidade-colesterol (LDL-c). ○ Ocasionalmente pode haver ainda discreta queda de lipoproteína de alta densidade-colesterol (HDL-c) e discreto aumento de triglicerídios ○ Fazer sempre a pesquisa e tratamento de hipo antes do tto com estatinas pelo risco de rabdomimólise ● Aumento de lipoproteína (a), homocisteína e proteína C reativa (PCR) ultrassensível, denotando aumento de risco cardiovascular ● Aumento de transaminases e desidrogenase láctica (DHL) ● Aumento da creatinofosfoquinase (CPK) e do risco de miopatia ● Reduzida resposta do GH aos testes de estímulo (clonidina, glucagon, ITT) ● Aumento de hormônio antidiurético (ADH) promovendo hiponatremia e quadro clínico semelhante à síndrome da secreção inapropriada de ADH (SIADH) ● Aumento de prolactina: devido ao estímulo dos lactotrofos por TRH e à diminuição do tônus dopaminérgico ● Aumento de paratormônio (PTH), por redução da remodelação óssea e resistência ao PTH ● Reduzida taxa de filtração glomerular (TFG), com possível aumento de creatinina e ácido úrico. Entender as indicações do tratamento de hipotireoidismo clinico e subclinico, o seguimento, a posologia e as orientações mais adequadas sobre o medicamento, além de fatores que interferem na eficácia dele Hipo clinico ● Basicamente reposição de LT4 em dose única diária, visando manter o nível sérico dos hormônios tireoidianos normais ● Posologia ○ Administrada em jejum (idealmente 60minutos antes do café da manha ou 4h após a última refeição do dia) ○ Tem absorção no jejuno/íleo em pH ácido - pacientes com acloridria ou dificuldade arbsotiva gastrointestinal podem precisar de maiores doses - cerca de 70% da dose oral recebida ■ Quando for receber IV, dar o correspondente a 70% ○ Meia vida de 8 dias ○ Recomenda-se manter com a mesma apresentacao comercial do remedio para melhor controle hormonal - evitar pequenas diferenças na farmacologia ○ A dose dependerá de: idade, sexo, peso ideal (massa magra!), altura e reserva tireoidiana que o pct apresenta ■ Ex: tireoidectomizados precisam de maiores doses por peso que Hashimoto ○ Paciente <70 anos ■ TSH ≥ 7 - tratar ■ TSH < 7 - tratar se sintomas ○ Paciente >70 anos ■ TSH > 7 - tratar se sintomas ■ TSH ≤ 7 - não tratar ○ No hipotireoidismo primário, a dose de LT4 deverá ser ajustada conforme o valor de TSH, que deve ser avaliado depois de 4 a 8 semanas do ajuste de dose e mantido dentro do valor de referência para o método, idealmente dentro da metade inferior desse valor de referência (idealmente entre 0,5 e 2,5 mUI/ℓ). Já no hipotireoidismo secundário, a meta do tratamento será manter a T4 livre (dosada pela manhã antes da ingestão da LT4) na média do valor de referência para o método (em torno de 1,3 ng/dℓ). O TSH não deve ser avaliado como meta terapêutica nos casos de hipotireoidismo central. ○ Em adultos jovens com menos de 50 anos, costuma-se iniciar o tratamento com a dose plena diária de LT4. Em pacientes acima de 50 a 60 anos, sem doença coronariana conhecida, recomenda-se iniciar com doses menores, de aproximadamente 50 μg de LT4 ao dia, com aumento gradual da dose a cada 7 dias, por exemplo. No caso de pacientes idosos (> 60 anos), coronariopatas ou com hipotireoidismo grave e de longa duração, esse início de tratamento deve ser ainda mais lento, com introdução de apenas 12,5 a 25 μg/dia, com aumento gradual de dose a cada 15 dias. ● Monitoramento ○ Uma vez atingida a dose ideal, o monitoramento de provas de função tireoidiana pode passar a ser feito a cada 6 a 12 meses, com ajustes de dose, se necessário, sempre visando manter o valor de TSH e T4 livre normais. ■ No caso do hipotireoidismo central, apenas a T4 livre deve ficar dentro da normalidade. ○ O monitoramento deve ser feito antes em caso de mudanças de peso, mudanças de medicamentos, gravidez, planejamento de gravidez ou outras alterações que possam mudar a dose total diária necessária de hormônio tireoidiano. Lembre-se que o uso de estrógenos pode desencadear a necessidade de aumento da dose do hormônio tireoidiano, uma vez que os estrógenos aumentam o nível sérico de TBG e ativam o citocromo P450 hepático (CYP3A4), responsável pela metabolização da LT4. Da mesma maneira, o uso de medicamentos antidepressivos, como a sertralina, e anticonvulsivantes, como carbamazepina, fenitoína e fenobarbital, também ativa a CYP3A4 e, por isso, também demanda aumento na dose de reposição da LT4. O uso de andrógenos diminui a dose necessária de reposição, e a presença de cirrose hepática causa inibição da deiodinase tipo 1, por isso cursando com necessidade de aumento da dose de LT4 em uso. ■ Medicamentos que interferem na absorção podem ser tomados com intervalo de 4 horas ■ Inibidor de bomba de prótons pode ser deslocado para a noite ○ Em caso de esquecimento, esperar 2-4 horas depois da refeição para tomar ● Fatores que comprometem o tratamento ○ Falta de adesão ○ Ingestão errada ■ Com alimentos, concomitantemente a sulfato ferroso, carbonato de calcio, colestiramina, hidróxido de alumínio, sulcrafato e inibidores da bomba de prótons ○ Problemas na absorção ■ Acloridria, gastrite atrófica, síndrome do intestino curto, bypass intestinal, doença celíaca, doença inflamatória intestinal ■ Pode-se tentar a tomada junto com vitamina C pois promove acidificação no estômago ou aumento de dose até 1000microg/dia ○ Síndrome de Munchousen Hipo subclinico (abordagem geral) ● É quando o TSH está elevado mas com níveis séricos normais de hormônios tireoidianos (T4 livre normal), ou seja, o diagnóstico é laboratorial e não clínico, apesar de que pode haver sintomatologia leve e inespecífica ○ Tem que ser diferenciado de condicoes com TSH alto como insuficiencia adrenal, hipotireoidismo com tto subótimo, uso de TSH recombinante ou radioiodo, recuperação de tireoidite, sindrome do eutireoideo doente, resistência aos hormônios tireoidianos… ● Uma vez diagnosticado o hipotireoidismo subclínico, deve-se inicialmente repetir o TSH em um prazo de 3 a 6 meses para confirmação dessa situação, pois muitos casos evoluirão com normalização do TSH, principalmente aqueles de hipotireoidismo subclínico leve (com TSH < 10 mUI/ℓ). Apenas os casos com a confirmação de não se tratar de hipotireoidismo subclínico transitório (ou seja, houve repetição e manutenção do TSH elevado) serão considerados candidatos ao tratamento ● Hipotireoidismo subclínico pode progredir para clínico em 3 a 5% dos casos ao ano. Os fatores preditivos de progressão do hipotireoidismo subclínico para um hipotireoidismo franco em mulheres (não há dados em homens, provavelmente pela baixa prevalência desta condição nesta população) são: ○ TSH > 10 mUI/ℓ ○ Níveis positivos de autoanticorpos ○ Achados ultrassonográficos compatíveis com tireoidite, como hipoecogenicidade do parênquima ○ Antecedentes pessoais de outras doenças autoimunes ○ História familiar de hipotireoidismo de Hashimoto ○ Antecedente de tratamento para hipertireoidismo, com tionamidas ou radioiodo ○ Alta ingesta de iodo. ● Indicação ao tto ○ TSH > 10 mUI/ℓ: sempre tratar ○ Gestantes e mulheres pretendendo engravidar: sempre tratar e manter TSH < 2,5 mUI/ℓ nestasituação (opcionalmente mantendo TSH até no máximo 3,5 mUI/ℓ nos segundo e terceiro trimestres da gestação). Como os valores de TSH são diferentes durante a gestação com relação à população não gestante, os níveis de TSH acima de 2,5 mUI/ℓ no primeiro trimestre da gestação já são considerados como hipotireoidismo subclínico e devem ser tratados. ○ Não se trata hipo sub TSH<10 em idosos >65 anos ○ Demais casos devem ser avaliados individualmente ● doses de 25 μg/dia geralmente são suficientes para o tratamento de pacientes com hipotireoidismo subclínico com TSH entre 4 e 8 mUI/ℓ. Doses de 50 μg/dia costumam ser suficientes para pacientes com TSH entre 8 e 12 mUI/ℓ. Já para TSH > 12 mUI/ℓ, em geral há necessidade de doses > 75 μg/dia de LT4.
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