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Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 Antivirais Os vírus são parasitas obrigatoriamente intracelulares. Eles são desprovidos tanto de parede celular quanto de membrana celular, e não realizam processos metabólicos. Os vírus se beneficiam do mecanismo metabólico do hospedeiro, e poucos fármacos são suficientemente seletivos para evitar a multiplicação viral sem lesar as células hospedeiras. O tratamento das doenças virais é ainda mais complicado pelo fato de os sintomas clínicos aparecerem tardiamente, num momento em que a maioria das partículas virais já se multiplicou. Nessa etapa da infecção viral, a administração de fármacos que bloqueiam a replicação do vírus tem eficácia limitada. Todavia, alguns antiviróticos são úteis como agentes profiláticos. Tratamento de infecções virais respiratórias As infecções virais do trato respiratório, para as quais existem tratamentos, incluem a gripe (ou influenza) tipos A e B e o vírus sincicial respiratório (VSR). OBS.: a imunização contra a gripe A é a abordagem preferencial. Contudo, os antivirais são usados quando os pacientes são alérgicos à vacina ou quando ocorre um surto. • Inibidores da neuraminidase Os inibidores da neuraminidase oseltamivir e zanamivir são eficazes contra os dois tipos de vírus da gripe, A e B. Eles não interferem na resposta imune à vacina da gripe. OBS.: quando administrados antes da exposição, os inibidores da neuraminidase previnem a infecção e, se forem administrados 24 a 48 horas após o início dos sintomas, diminuem modestamente a intensidade e a duração dos sintomas. 1. Mecanismo de ação: o vírus da gripe emprega uma neuraminidase específica, que é inserida na membrana celular do hospedeiro para proporcionar a liberação de vírions recentemente formados. Essa enzima é essencial para o ciclo vital do vírus. O oseltamivir e o zanamivir inibem seletivamente a neuraminidase, prevenindo, assim, a liberação de novos vírions e sua disseminação de célula a célula. 2. Farmacocinética: o oseltamivir é um pró- fármaco ativo por via oral, rapidamente biotransformado pelo fígado em sua forma ativa. O zanamivir não é tão ativo por via oral quanto é por inalação. Ambos são eliminados, inalterados, na urina. 3. Efeitos adversos: os mais comuns do oseltamivir são desconforto gastrintestinal (GI) e náuseas, que podem ser aliviados pela ingestão do fármaco com alimento. Ocorre irritação do trato respiratório com zanamivir. Ele deve ser usado com cautela em indivíduos com asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pois pode ocorrer broncoespasmo. 4. Resistência: Foram identificadas mutações da enzima neuraminidase em adultos tratados com ambos os inibidores. Esses mutantes, todavia, são frequentemente menos infectantes e virulentos do que o tipo selvagem. • Antivirais adamantano O espectro terapêutico dos derivados de adamantano, amantadina e rimantadina, é limitado a infecções por influenza A. Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 OBS.: devido à resistência generalizada, os adamantanos não são recomendados para o tratamento ou a profilaxia da gripe A. 1. Mecanismo de ação: a amantadina e a rimantadina interferem na função da proteína viral M2, possivelmente bloqueando o descascamento da partícula viral e prevenindo a liberação do vírus no interior da célula infectada. 2. Farmacocinética: ambos os fármacos são bem absorvidos após a administração oral. A amantadina é excretada, primariamente inalterada, na urina; é preciso diminuir a dosagem na disfunção renal. A rimantadina é extensamente biotransformada pelo fígado. Esse fármaco e seus metabólitos são eliminados pelos rins. 3. Efeitos adversos: a amantadina é associada principalmente a efeitos adversos no SNC, como insônia, tontura e ataxia. Efeitos adversos mais graves podem incluir alucinação e convulsão. 4. Resistência: o vírus da gripe A pode desenvolver resistência rapidamente, e linhagens resistentes podem ser transmitidasfacilmente para contatos próximos. Foi demonstrado que a resistência ocorre devido à alteração de um aminoácido da matriz proteica M2. Ocorre resistência cruzada entre os dois fármacos. • Ribavirina A ribavirina, um análogo sintético da guanosina, é eficaz contra um amplo espectro de vírus RNA e DNA. A ribavirina também é eficaz contra a hepatite C crônica quando usada em combinação com α-interferona. 1. Mecanismo de ação: a ribavirina inibe a replicação dos vírus RNA e DNA. O fármaco é inicialmente fosforilado em derivados 5’-fosfato. Seu principal componente é o trifosfato de ribavirina, que exerce sua ação antivirótica e inibe a formação de trifosfato de guanosina (GTP), evitando a cobertura do RNA mensageiro (RNAm) viral e bloqueando a RNA-polimerase dependente de RNA. 2. Farmacocinética: a ribavirina é eficaz por vias oral e inalatória. Um aerossol é usado no tratamento da infecção por VSR. A absorção da ribavirina é aumentada se for ingerida com alimento gorduroso. O fármaco e seus metabólitos são eliminados na urina. 3. Efeitos adversos: os efeitos adversos da ribavirina incluem anemia temporária dose-dependente. Foi relatada elevação de bilirrubina. O aerossol pode ser mais seguro, embora a função respiratória da criança possa se deteriorar rapidamente após o início do tratamento. Tratamento de infecções virais hepáticas As viroses hepáticas já identificadas (A, B, C, D e E) apresentam patogenicidade envolvendo especificamente a multiplicação nos hepatócitos e sua destruição. Desse grupo, a hepatite B (um vírus DNA) e a hepatite C (um vírus RNA) são as causas mais comuns de hepatite crônica, cirrose e carcinoma hepatocelular e as únicas infecções virais hepáticas para as quais há tratamento disponível atualmente. OBS.: a hepatite A é uma infecção encontrada comumente, causada pela ingestão oral do vírus, mas não é uma doença crônica. • Interferonas As interferonas são uma família de glicoproteínas induzíveis, de ocorrência natural, que interferem na capacidade dos vírus de infectarem as células. As interferonas são sintetizadas por tecnologia de DNA recombinante. 1. Mecanismo de ação: o mecanismo de ação antivirótico das interferonas não é completamente entendido. Ele parece envolver a indução de enzimas nas células do hospedeiro que inibem a translação do RNA viral, o que acaba causando a degradação do RNAm e do RNA transportador (RNAt) do vírus. 2. Farmacocinética: as interferonas não são ativas por via oral, mas podem ser administradas por via intralesional, SC ou Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 intravenosa (IV). A captação celular e o metabolismo pelo fígado e pelos rins são responsáveis pelo desaparecimento das interferonas do plasma. 3. Efeitos adversos: incluem sintomas semelhantes aos da gripe, como febre, calafrios, mialgia, artralgia e distúrbios GI. Fadiga e depressão mental são comuns. Esses sintomas cedem com administrações continuadas. • Lamivudina É análogo da citosina é um inibidor do vírus da hepatite B (VHB) e da transpeptidase reversa do vírus da imunodeficiência humana (HIV). A lamivudina precisa ser fosforilada pelas enzimas celulares do hospedeiro para a forma de trifosfato (ativa). Esse composto inibe competitivamente a DNA-polimerase RNA-dependente do VHB. Como ocorre com muitos análogos nucleotídicos, a meia- vida intracelular do trifosfato é muitas horas maior do que a meia-vida plasmática. • AdefovirÉ um análogo nucleotídico fosforilado por cinases celulares a difosfato de adefovir, que, por sua vez, é incorporado ao DNA viral. Isso termina o alongamento da cadeia e evita a replicação do VHB. OBS.: o adefovir pode aumentar os níveis de tenofovir por meio de competição pela secreção tubular. O uso concomitante deve ser evitado. • Entecavir É um análogo da guanosina, aprovado para o tratamento de infecções por VHB. Após fosforilação intracelular em trifosfato, ele compete com o substrato natural, o trifosfato de desoxiguanosina, pela transcriptase reversa viral. O entecavir é eficaz contra cepas de VHB resistentes à lamivudina. • Telbivudina É um análogo da timidina e pode ser usado no tratamento da hepatite B. A telbivudina é fosforilada intracelularmente ao trifosfato, que pode competir com o trifosfato de timidina endógeno pela incorporação no DNA ou ser incorporada ao DNA viral, onde serve para interromper o alongamento da cadeia de DNA. • Boceprevir e telaprevir O boceprevir e o telaprevir são os primeiros antiviróticos de ação direta e uso oral para o tratamento auxiliar para o combate do vírus da hepatite C, genótipo 1 crônico. Esses inibidores de serinoproteases VHC NS3/4A se ligam, de modo covalente e reversível, ao local ativo da protease NS3 e, assim, inibem a replicação viral nas células do hospedeiro. Os dois fármacos são inibidores potentes da replicação viral; contudo, eles têm limite escasso à resistência e, usados como monoterapia, desenvolvem resistência rapidamente. Por isso, o boceprevir e o telaprevir devem ser usados em associação à α- pegintergerona e à ribavirina para aumentar as taxas de resposta e diminuir a resistência viral. A biotransformação do boceprevir e do telaprevir ocorre via isoenzimas CYP450. Como os dois fármacos são fortes inibidores da CYP3A4/5 e são também parcialmente biotransformados pela CYP3A4/5, eles têm potencial para interações complexas. Tratamento de infecção por Herpes-vírus Estão associados a um amplo espectro de doenças, como aftas bucais, encefalite viral e infecções genitais. Os fármacos eficazes contra esses vírus exercem suas ações durante a fase aguda da infecção viral e não têm efeito durante a fase latente. • Aciclovir A acicloguanosina é o protótipo dos anti- herpéticos. Os herpes- vírus simples (HVS) tipos 1 e 2 (HVS1 e HVS2), o vírus varicela-zóster (VVZ) e algumas infecções mediadas pelo vírus Epstein- Barr são sensíveis ao aciclovir. Ele é o tratamento de escolha para encefalite causada pelo HVS. O uso mais comum do aciclovir é no tratamento contra infecções por herpes genitais. OBS.: o fármaco também é dado profilaticamente a pacientes soropositivos antes de transplantes de medula óssea e após transplante cardíaco, para protegê-los de infecções herpéticas. Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 1. Mecanismo de ação: o aciclovir, um análogo da guanosina, é monofosforilado na célula por uma enzima codificada pelo herpes-vírus, a timidinocinase. Dessa forma, células infectadas pelo vírus são mais suscetíveis. O análogo monofosfatado é convertido às formas di e trifosfato pelas cinases das células do hospedeiro. 2. Farmacocinética: a administração de aciclovir pode ocorrer pelas vias IV, oral ou tópica. O fármaco distribui-se bem pelo organismo, incluindo o líquido cerebrospinal (LCS). O aciclovir é parcialmente biotransformado em um produto inativo. 3. Efeitos adversos: os efeitos adversos do aciclovir dependem da via de administração. 4. Resistência: alteração ou falta de timidinocinase e DNA-polimerase tem sido encontrada em algumas linhagens virais resistentes e são isoladas mais comumente em pacientes imunocomprometidos. Nesta família, ocorre resistência cruzada com outros fármacos. • Cidofovir É um análogo nucleotídico da citosina, cuja fosforilação não depende de enzimas virais ou celulares. Ele inibe a síntese de DNA viral. A eliminação lenta do metabólito intracelular ativo permite longos intervalos entre dosificações e elimina o acesso venoso permanente, necessário no tratamento com ganciclovir. São coadministrados com o cidofovir a probenecida, por via oral, e a salina normal, por via IV, para diminuir o risco de nefrotoxicidade. Desde a introdução do tratamento antirretroviral altamente ativo (TARAA), diminuiu acentuadamente a prevalência de infecções por CMV em pacientes imunocomprometidos, como também a importância do cidofovir no tratamento desses pacientes. OBS.: cidofovir está aprovado para o tratamento da retinite por citomegalovírus (CMV), em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). • Foscarnete É um fosfonoformato (um derivado do pirofosfato) e não requer a ativação por cinases virais (ou celulares). O foscarnete inibe reversivelmente a DNA e a RNA-polimerase viral, interferindo, assim, na síntese de DNA e RNA viral. A mutação da estrutura da polimerase é responsável pela resistência viral. • Ganciclovir É um análogo do aciclovir com maior atividade contra o CMV. É usado no tratamento de retinite por CMV, em pacientes imunocomprometidos, e na profilaxia do CMV, em pacientes transplantados. 1. Mecanismo de ação: como o aciclovir, o ganciclovir é ativado pela conversão em nucleotídeo trifosfato pelas enzimas virais e celulares. O nucleotídeo inibe a DNA- polimerase viral e pode ser incorporado ao DNA, resultando no término da cadeia. 2. Farmacocinética: é administrado por via IV e se distribui pelo organismo, incluindo o LCS. 3. Efeitos adversos: incluem grave neutropenia dose-dependente. O ganciclovir é carcinogênico, bem como embriotóxico e teratogênico em animais de laboratório. 4. Resistência: Têm sido detectadas linhagens de CMV resistentes que apresentam níveis mais baixos de trifosfato de ganciclovir. • Penciclovir e fanciclovir O penciclovir é um derivado nucleosídico da guanosina acíclica ativo contra HVS1, HVS2 e VVZ. Ele é monofosforilado pela timidinocinase viral, e enzimas celulares formam o nucleosídeo trifosfato, que inibe a DNA-polimerase do HVS. O trifosfato de penciclovir apresenta meia-vida intracelular muito mais longa do que o trifosfato de aciclovir. O fanciclovir, outro análogo acíclico da 2′- desoxiguanosina, é um pró-fármaco biotransformado em penciclovir ativo. O espectro antiviral é similar ao do ganciclovir e está aprovado Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 para o tratamento de herpes-zóster agudo, infecção genital por HVS e herpes labial recorrente. • Trifluridina É um análogo do nucleosídeo pirimidina fluorado, estruturalmente similar à timidina. Uma vez convertido em trifosfato, o fármaco parece inibir a incorporação de trifosfato de timidina no DNA viral e, em menor extensão, leva à síntese de DNA defeituoso, que torna o vírus incapaz de se multiplicar. A trifluridina é eficaz contra HVS1, HVS2 e vírus vaccínia. Ela é indicada para o tratamento da ceratoconjuntivite HVS e da ceratite epitelial recorrente. Resumo do tratamento da infecção pelo HIV Uma associação de fármacos é usada para sustar a replicação do HIV e restabelecer o número de células CD4+ e a imunocompetência do hospedeiro. Esse regime múltiplo é comumente denominado tratamento antirretroviral altamente ativo, ou TARAA. Há cinco classes de fármacos antirretrovirais; cada um atinge um dos quatro processos virais. Essas classes de fármacos são inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeo ou nucleotídeo (ITRNs), inibidores da transcriptase reversa não análogo de nucleosídeo (ITRNNs),inibidores da protease (IP), inibidores de entrada e inibidores da integrase. O tratamento inicial preferido é uma associação de dois ITRNs com um IPs, um ITRNNs ou um inibidor da integrase. A escolha da associação adequada se baseia em 1) evitar o uso de dois fármacos do mesmo análogo nucleosídico; 2) evitar a sobreposição de toxicidades e características genotípicas e fenotípicas do vírus; 3) considerar os fatores do paciente, como sintomas da doença e doenças concomitantes; 4) considerar o impacto da interação entre fármacos; e 5) facilitar a adesão ao regime. Os objetivos do tratamento são suprimir de forma máxima e durável a replicação do RNA HIV, restabelecer e preservar a função imunológica, reduzir a morbidade e a mortalidade relacionadas ao HIV e melhorar a qualidade de vida. Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos ou nucleotídeos usados no tratamento da infecção pelo HIV • Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos ou nucleotídeos (ITRNs) 1. Mecanismo de ação: os ITRNs são análogos dos ribosídeos nativos (nucleosídeos ou nucleotídeos contendo ribose) desprovidos do grupo 3′-hidroxila. Uma vez dentro das células, eles são fosforilados por enzimas celulares ao análogo trifosfato correspondente, que é preferencialmente incorporado ao DNA viral pela transcriptase reversa (TR). Como o grupo 3′-hidroxila não está presente, não se forma a ligação 3′5′- fosfodiéster entre o trifosfato nucleosídeo e a cadeia de DNA em formação, interrompendo o alongamento do DNA. A afinidade dos fármacos por várias das células DNA-polimerases do hospedeiro é menor do que pela TR do HIV, embora a DNA-polimerase mitocondrial pareça suscetível em concentrações terapêuticas. 2. Farmacocinética: os ITRNs são excretados principalmente por via renal, e todos exigem ajuste da dosagem em caso de insuficiência renal, exceto o abacavir, que é biotransformado pela Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 álcool desidrogenase e pela glicuroniltransferase. 3. Efeitos adversos: várias das toxicidades do ITRNs são creditadas à inibição da DNA-polimerase mitocondrial em certos tecidos; causam toxicidades como neuropatia periférica, pancreatite e lipoatrofia 4. Interações farmacológicas: devido à excreção renal dos ITRNs, só interagem com a zidovudina e o tenofovir. 5. Resistência: a resistência aos ITRNs está bem caracterizada, e o padrão mais comum de resistência é a mutação no códon TR viral 184, que confere alto grau de resistência à lamivudina e à entricitabina, mas, de forma mais importante, restabelece a sensibilidade à zidovudina e ao tenofovir. • Zidovudina A AZT é aprovada para o tratamento da infecção por HIV em crianças e adultos e para prevenir a transmissão perinatal do HIV. Ela também é usada para a profilaxia em indivíduos expostos à infecção por HIV. OBS.: a AZT é tóxica para a medula óssea e pode causar anemia e neutropenia. Cefaleia também é comum. • Estavudina É um análogo da timidina aprovado para o tratamento da infecção por HIV. • Didanosina Após a entrada da didanosina (2’,3’- didesoxiinosina, ddl) na célula hospedeira, ela é biotransformada em didesoxiadenosina trifosfato (ddATP), por meio de uma série de reações que envolvem fosforilações e aminações. Como a AZT, o ddATP resultante é incorporado na cadeia de DNA, interrompendo o alongamento da cadeia. • Tenofovir É um análogo nucleotídico, isto é, um análogo nucleosídico acíclico fosfonato de 5′- monofosfato de adenosina; é convertido por enzimas celulares em difosfato, um inibidor da TR do HIV. OBS.: o tenofovir diminui as concentrações de PI atazanavir, de modo que o atazanavir precisa ser reforçado com o ritonavir, se estes fármacos forem administrados de modo concomitante. • Lamivudina Inibe a TR do HIV e do VHB. Todavia, ela não afeta a síntese de DNA mitocondrial ou das células precursoras da medula óssea, resultando em menos toxicidade. A lamivudina tem boa biodisponibilidade oral, depende do rim para excreção e é bem tolerada. • Entricitabina É um derivado fluorado da lamivudina, inibe a TR do HIV e do VHB. A entricitabina é bem absorvida após administração oral. É essencialmente eliminada, inalterada, na urina. Não tem interações significativas com outros fármacos. Os efeitos adversos mais comuns são cefaleia, diarreia, náusea e urticária. OBS.: a retirada da entricitabina em pacientes infectados com VHB pode resultar em agravamento da hepatite. • Abacavir É um análogo da guanosina bem absorvido por via oral. Ele é biotransformado a metabólitos inativos pelo álcool desidrogenase e pela glicuroniltransferase. Os metabólitos aparecem na urina. Inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos usados contra a infecção por HIV os ITENNs São inibidores não competitivos de TR-HIV1, altamente seletivos. Ligam-se à TR de HIV1, em um local alostérico hidrofóbico adjacente ao local ativo, induzindo uma modificação de conformação que resulta na inibição da enzima. Eles não necessitam de ativação por enzimas celulares. • Nevirapina É usada em associação a outros antirretrovirais para o tratamento de infecções por HIV, em adultos e crianças. A nevirapina é biotransformada por hidroxilação e subsequente conjugação com glicuronídeos. Os metabólitos são excretados na urina. A nevirapina é indutora da Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 isoenzima CYP3A4 e aumenta a biotransformação de inúmeros fármacos, como contraceptivos orais, cetoconazol, metadona, quinidina e varfarina. OBS.: devido ao potencial para hepatotoxicidade grave, a nevirapina não deve ser iniciada em mulheres com contagem de células CD4 acima de 250/ mm3 ou em homens com contagem de células CD4 acima de 400/mm3. • Delavirdina Não é recomendada como NNITR preferencial ou como alternativa nas normas atuais para HIV, devido a sua eficácia antiviral inferior e à dosagem inconveniente (três vezes ao dia). • Efavirenz É o NNITR preferido. Após a administração oral, ele é bem distribuído, inclusive ao SNC; é amplamente biotransformado em produtos inativos. Ele é potente indutor das enzimas CYP450 e, portanto, pode diminuir a concentração de fármacos que são substratos da CYP450. • Etravirina É um NNITR de segunda geração, ativo contra várias cepas de HIV resistentes às ITRNNs de primeira geração. Cepas de HIV com a mutação K103N comum, que são resistentes à primeira geração de ITRNNs, são totalmente suscetíveis à etravirina. A etravirina é indicada para o tratamento da infecção por HIV em pacientes resistentes a vários fármacos, tratamento-experientes, que têm evidências de replicação viral em andamento. A biodisponibilidade da etravirina aumenta quando é ingerida com alimentos ricos em gordura. • Rilpivirina É usada para o tratamento da infecção por HIV em pacientes virgens, em combinação com outros antirretrovirais. OBS.: não deve ser administrada junto a inibidores da bomba de prótons e requer separação também dos antagonistas de receptor H2 e de antiácidos. Inibidores da protease usados para tratar infecção por HIV Os IPs HIV têm alterado significativamente o curso dessa doença viral devastadora. Esses fármacos potentes apresentam várias características comuns que caracterizam sua farmacologia. 1. Mecanismo de ação: todos os fármacos desse grupo são inibidores reversíveis da aspartil protease (retropepsina) HIV, que é a enzima viral responsável pela clivagem da poliproteína viral em inúmeras enzimas essenciais (transcriptasereversa, protease e integrase) e várias proteínas estruturais. A inibição evita a maturação de partículas virais e resulta na produção de vírions não infecciosos. 2. Farmacocinética: os IPs HIV são todos substancialmente ligados às proteínas plasmáticas. Todos são substratos para a isoenzima CYP3A4, e os IPs individuais também são biotransformados por outras isoenzimas CYP450. 3. Efeitos adversos: os IPs comumente causam parestesia, náusea, êmese e diarreia. Também ocorrem distúrbios no metabolismo de glicose e lipídeos, incluindo diabetes, hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia. 4. Interações farmacológicas: as interações entre fármacos são, portanto, bastante comuns. Fármacos que dependem de biotransformação para o fim do efeito podem acumular-se e alcançar níveis tóxicos. Além disso, os indutores das isoenzimas CYP450 podem diminuir a concentração plasmática de IP a níveis subótimos, contribuindo para o fracasso do tratamento. 5. Resistência: a resistência ocorre como acúmulo de mutações graduais do gene da protease. As mutações iniciais resultam em diminuição na habilidade do vírus em replicar, mas, à medida que as mutações se acumulam, emergem vírions com elevados níveis de resistência aos IP. • Ritonavir É um potente inibidor da CYP3A e, simultâneo à sua administração (em dosagens Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 baixas), aumenta a biodisponibilidade de um segundo IP. Isso aumenta, com frequência, o intervalo entre as dosificações. As Cmin mais altas do “IP reforçado” ajudam a evitar o desenvolvimento de resistência. Por isso, os “IPs reforçados” são os fármacos preferidos nas normas de tratamento da infecção por HIV. A biotransformação e a excreção biliar são os métodos primários de eliminação. • Saquinavir É administrado sempre junto a uma dose baixa de ritonavir. A eliminação do saquinavir é primariamente por biotransformação hepática, seguida por excreção biliar. • Indinavir É bem absorvido por via oral e, de todos os IPs, é o que menos se liga às proteínas plasmáticas. Condições gástricas ácidas são necessárias para sua absorção, que diminui quando o indinavir é administrado com alimento. O indinavir é extensamente biotransformado, e os metabólitos são excretados nas fezes e na urina. • Nelfinavir É bem absorvido e não requer condições especiais quanto à alimentação ou aos líquidos, embora normalmente seja administrado com alimentos. OBS.: o nelfinavir é biotransformado por várias isoenzimas CYP450. Ele é o único IP que não é “reforçado” pelo ritonavir, pois não é biotransformado extensamente pela CYP3A. • Fosamprenavir É um pró-fármaco biotransformado em amprenavir após absorção oral. A coadministração de ritonavir aumenta a concentração plasmática de amprenavir e diminui a dosagem diária total. O fosamprenavir reforçado com ritonavir é um dos IPs alternativos, de acordo com as normas correntes de tratamento da infecção por HIV. • Lopinavir É um IP alternativo, de acordo com as normas de tratamento da infecção por HIV. Ele apresenta biodisponibilidade muito baixa, que aumenta substancialmente se uma dosagem baixa de ritonavir for incluída na formulação. • Atazanavir É bem absorvido por via oral, é o IP preferido. Deve ser administrado com comida, porque o alimento aumenta sua absorção e biodisponibilidade. O fármaco é altamente ligado às proteínas e sofre extensa biotransformação pelas isoenzimas CYP3A4. OBS.: no coração, o atazanavir prolonga o intervalo PR. Comparado a outros IPs, o atazanavir oferece menor risco de hiperlipidemia. • Tipranavir É um IP não peptídico que inibe a protease HIV em vírus resistentes a outros IPs. Ele é bem absorvido quando ingerido com alimentos. • Darunavir É um dos IPs preferidos e sempre é administrado junto a uma dose baixa de ritonavir. O darunavir está aprovado para o tratamento inicial de pacientes novos infectados com HIV, bem como para pacientes “experientes”, que resistem a outros IPs.. O darunavir é extensamente biotransformado pelas enzimas CYP3A e também é um inibidor da CYP3A4. Inibidores de entrada usados contra a infecção por HIV • Enfuvirtida É um inibidor de fusão. Para que o HIV entre na célula do hospedeiro, ele deve fundir sua membrana com a da célula do hospedeiro. Isso é possibilitado por mudanças na conformação da glicoproteína viral transmembrana gp41, o que ocorre quando o HIV se liga à superfície da célula do hospedeiro. A enfuvirtida é um polipeptídeo que se liga à gp41, evitando a mudança conformacional. Em associação a outros antirretrovirais, a enfuvirtida é aprovada para o tratamento de pacientes “experientes” que apresentam evidências de replicação viral, apesar do tratamento com antirretroviral. Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 • Maraviroque O maraviroque é outro inibidor de entrada. O maraviroque bloqueia o correceptor CCR5, que atua junto com a gp41, facilitando a entrada do HIV através da membrana da célula. O HIV pode expressar preferência pelo correceptor CCR5 ou pelo CXCR4, ou por ambos (dual- trópico). O maraviroque é biotransformado pela CYP450, e a dosagem precisa ser reduzida quando for administrado junto a outros IPs ou inibidores fortes de CYP450. Inibidores da integrase usados contra a infecção por HIV Os inibidores da integrase para transferência de fita (IITFs), muitas vezes chamados de inibidores da integrase, atuam inibindo a inserção do DNA proviral no genoma da célula hospedeira. O centro ativo da enzima integrase se liga ao DNA da célula hospedeira e introduz dois cátions metálicos divalentes que servem de alvos de quelação para os IITFs. Como resultado, quando um IITF está presente, o centro ativo da enzima é ocupado, e o processo de integração é interrompido. Os IITFs são, geralmente, bem tolerados, com náusea e diarreia como efeitos adversos mais comumente relatados. • Raltegravir Em associação a outros antirretrovirais, é aprovado para o tratamento de pacientes novos, bem como de “experientes”, com evidências de multiplicação viral, apesar do tratamento com antirretrovirais em andamento. A via metabólica é a glicuronidação, mediada por UDP- glicuronosiltransferase (UGT)1A1 e, por isso, não ocorre interação com indutores, inibidores ou substratos da CYP450. • Elvitegravir É a única associação disponível em doses fixas em comprimido único contendo tenofovir, entricitabina, elvitegravir e cobicistate; é extensamente ligado a proteínas plasmáticas e biotransformado primariamente no fígado via CYP3A e, em menor extensão, via glicuronidação UGT1A1/3. • Dolutegravir É extensamente ligado a proteínas e biotransformado no fígado. A biotransformação ocorre, principalmente, pela UGT1A1, com contribuição menor da CYP3A4. Indutores ou inibidores potentes da UGT1A1 e da CYP3A4 podem alterar significativamente a concentração do dolutegravir. Ele é um inibidor da proteína de transporte renal OTC2 e pode resultar em elevação leve, benigna e reversível da creatinina sérica. Referências: EDITORIA DE WANNMACHER, Lenita; FERREIRAS, Maria Beatriz Cardoso (editora). Farmacologia clínica para dentistas. 3.ed. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 545. p GOODMAN & GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12ª Ed. Rio de Janeiro; Editora Guanabara Koogan. 2012. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
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