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DROGADIÇÃO E MEDICALIZAÇÃO

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O uso de drogas sempre esteve presente na história da humanidade, firmando-se como área de interesse 
das ciências da saúde e das ciências humanas e sociais. Há muito tempo estuda-se de que maneira 
utilizar tais substâncias para fins medicinais, além de temas como reações adversas, abusos e 
padrões de uso. Entretanto, estudos apontam que as decisões dos Estados sobre o processo de 
regulamentação das drogas envolvem contextos políticos e sociais discriminatórios, os quais aderem 
muito pouco às contribuições da ciência. 
Em 2017 foi publicado o III Levantamento Nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira, 
documento que demonstra que 3,5% da população que consumiu álcool no último ano de referência 
relatou dependência. Já os respondentes que consumiram alguma droga que não álcool ou tabaco 
nos 12 meses anteriores à coleta e relataram dependência somam 0,8%. 
Toda pesquisa que envolve informações sobre padrões de uso de drogas apresentam um viés decorrente 
da desejabilidade social, visto que são tabus. Porém, deve-se considerar que nem todos os usuários 
de drogas, proibidas ou não, apresentam padrões de consumo que prejudique significativamente 
sua saúde física, psicológica e social. E que, esses tabus não contribuem positivamente para a 
atuação da Psicologia. De acordo com as Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) em 
Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (CFP, 2019), isso não se resume a ser contra ou a favor 
do uso de drogas, mas pautar avaliações e intervenções em saberes cientificamente construídos 
e eticamente embasados. 
Com todo esse fenômeno, é papel do psicólogo analisar de maneira crítica e contextualizada histórico-
socialmente o uso de drogas. O acolhimento deverá ser prioridade, e qualquer trabalho diagnóstico 
deverá ter como pressuposto a garantia de uma continuidade de atuação visando ao melhor benefício 
à pessoa. Encarar o uso de drogas a partir de um olhar estigmatizante não traz qualquer benefício 
ao usuário (BRASIL, 2014). 
As políticas públicas de saúde ainda são as principais vias de cuidado para pessoas usuárias de 
drogas no Brasil. Atualmente, é evidente o paradigma dual de intervenção em situações de uso de 
drogas. Por um lado, há estratégias centradas na institucionalização, inclusive compulsória, que têm 
REFERÊNCIA: 
Apostila “Atuação junto às pessoas com deficiência (PCD) e trabalho voltado 
à temática da drogadição e medicalização”, da disciplina Temas 
Contemporâneos em Psicologia. UNIFACS. 
como dinâmica o uso de hospitais e comunidades terapêuticas voltados às pessoas dependentes. 
Por outro, despontam as estratégias centradas na educação e convivência comunitária, que visam 
romper os estigmas que envolvem o uso de drogas e garantir uma assistência à saúde que não 
se confunda com uma intervenção policialesca. Os serviços mais capilarizados que se baseiam nessa 
vertente são os CAPSad e os Consultórios na Rua (CnaR), os quais potencializaram a estratégia de 
redução de danos como forma de cuidado. 
Conforme o CFP, a atuação com usuários de droga é desenvolvida em uma rede de atenção psicossocial 
que deve garantir a integralidade do cuidado, pois mesmo que o foco seja na drogadição, não é 
possível desvincular esse comportamento de um contexto de saúde geral, o que demanda um 
trabalho multiprofissional, interdisciplinar e em rede. E, quando o psicólogo trabalha nas políticas 
públicas, ele deve realizar algumas atividades, como: realização de oficinas terapêuticas; visitas e 
atendimentos domiciliares; atendimento de desintoxicação; atividades de fortalecimento comunitário; 
dentre outras, as quais devem ser orientadas pelos princípios dos Direitos Humanos e estar 
alinhadas aos compromissos éticos da Psicologia. 
Os debates sobre medicalização se intensificaram na Psicologia, no campo da educação. Estudos 
dessa área passaram a verificar que as demandas de ordem escolar ganharam interesse e explicações 
médicas, demonstrando nos manuais uma evolução na nosologia de cada diagnóstico que buscava 
explicar o porquê de crianças (em sua maioria) não aprenderem os conteúdos formais. No contexto da 
educação, o principal diagnóstico que atualmente insere crianças e adolescentes no consumo de 
medicamentos controlados é o TDAH. 
A Psicologia escolar crítica se opõe veementemente à inserção da lógica medicalizante nas 
práticas psicológicas no contexto da educação. Isso porque essas práticas se baseiam em uma 
compreensão de que os dificultadores da aquisição do conhecimento escolar se encerram no estudante, 
visto com polo do insucesso, o qual só é resolvido com intervenções diretamente associadas a ele, como 
o uso do medicamento. Desse modo, comumente, são apartadas as reflexões sobre o papel da escola, 
das políticas públicas e os condicionantes sócio-históricos que envolvem as situações de aprendizagem. 
REFERÊNCIA: 
Apostila “Atuação junto às pessoas com deficiência (PCD) e trabalho voltado 
à temática da drogadição e medicalização”, da disciplina Temas 
Contemporâneos em Psicologia. UNIFACS.