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3 Módulo 1 Aula 3 A poesia clássica As formas fixas Poesia Moderna Poesia ciontemporânea (1) (1)

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1 
LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR 
Ana Maria Bulhões e Nanci Egert 
MÓDULO 1 – NOÇÕES DE LITERATURA I: A POESIA 
Aula 3 – Poesia clássica: as formas fixas. Poesia Moderna e poesia 
Contemporânea 
 
3.1. POESIA CLÁSSICA (NO BRASIL) 
A poesia da Antiguidade grega e romana é a matriz da nossa poesia 
ocidental. As formas clássicas foram retomadas no Brasil em dois 
momentos: no Arcadismo e no Parnasianismo. 
O Arcadismo desenvolveu-se em nosso país na segunda metade do 
século XVII, sobretudo no Estado de Minas Gerais, tornado centro 
econômico, político e cultural da colônia portuguesa, em função da 
descoberta do ouro. No auge desta produção aurífera, entre 1740 e 1760, 
Vila Rica – hoje Ouro Preto - teve grande desenvolvimento, comparável ao 
Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Ideias europeias de liberdade 
conduzem à Inconfidência Mineira. Os intelectuais participantes deste 
movimento foram chamados “inconfidentes”, dentre os quais se ressaltam 
os poetas do movimento arcadista: Cláudio Manuel da Costa, Tomás 
Antônio Gonzaga, além de Basílio da Gama e Santa Rita Durão. O 
Arcadismo corresponde ao Neoclassicismo brasileiro e terminou quando o 
Brasil abriu as portas para o Romantismo, no início do século XIX. 
a. Claudio Manuel da Costa 
Nascido no Brasil, em Minas Gerais, em 1729, estudou no Rio de Janeiro, 
mas vai para Lisboa e daí para Coimbra, onde ingressa na Universidade 
dos Cânones. Ao concluí-la, volta a Minas e, em Vila Rica, estabelece 
banca de advogado. Durante toda sua vida escreveu poesia lírica e 
bucólica. Sua carreira de advogado corre paralela à atividade de poeta 
com obra publicada. Envolve-se na Inconfidência Mineira, sendo acusado 
de traição à coroa. Se oficialmente dizem ter-se matado na cadeia, as 
condições em que foi encontrado contradizem essa possibilidade: foi 
morto pela polícia do reino. 
Exímio sonetista, escreve poemas em outras formas clássicas, como 
éclogas, cantatas, cançonetas, odes. 
Vejamos um soneto de Claudio Manuel da Costa: 
Soneto XXXVII 
Continuamente estou imaginando, 
Se esta vida que logre, tão pesada, 
Há de ser sempre aflita, e magoada, 
1
 
2 
Se como o tempo enfim se há de ir mudando: 
 
Em golfos de esperança flutuando 
Mil vezes busco a praia desejada; 
E a tormenta outra vez não esperada 
Ao pélago infeliz me vai levando. [pélago: mar alto] 
 
Tenho já o meu mal tão descoberto, 
Que eu mesmo busco a minha desventura; 
Pois não pode ser mais meu desconcerto. 
 
Que me pode fazer a sorte dura, 
Se para não sentir seu golpe incerto, 
Tudo o que foi paixão, é já loucura! 
 
b. Tomás Antônio Gonzaga 
Outro grande arcadista, português de nascimento, brasileiro de 
coração desde rapazola. Sua obra mais famosa é a coleção de 
“Liras”, à Marília de Dirceu, a frustrada paixão do poeta, da qual 
leremos o início da Lira I: 
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, 
Que viva de guardar alheio gado; 
De tosco trato, de expressões grosseiro, 
Dos frios gelos e dos sóis queimado. 
Tenho próprio casal e nele assisto; [casal: sítio; assisto: moro] 
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; 
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, 
E mais as finas lãs de que me visto. 
 Graças, Marília bela, 
 Graças à minha Estrela! 
 
No século seguinte, entre o final do XVII e o XIX, surge um movimento 
literário que, pela valorização da carga subjetiva, pelo interesse no colorido 
do que é local, pela busca da identidade nacional e dos temas relativos ao 
amor foi conhecido como Romantismo. Há um fato relevante na 
importância da estética romântica para o momento histórico em que essa 
arte está inserida no Brasil: com a chegada da Família Real, houve uma 
influência mais direta de artistas europeus, das ideias iluministas e início de 
um movimento de conscientização do fato de sermos colônia, rumo à 
reclassificação do território nacional, para deixarmos de ser dependentes de 
Portugal. Aos poucos fomos galgando novos estágios e deixando de ser uma 
colônia de exploração, passando a nos intitularmos Reino Unido a Portugal. 
Alguns dos principais autores do Romantismo brasileiro são José de 
Alencar, na prosa e Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de 
Abreu e Castro Alves, na poesia. 
https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/resumos-de-livros/jose-alencar.htm
https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/resumos-de-livros/jose-alencar.htm
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/goncalves-dias.htm
https://brasilescola.uol.com.br/biografia/alvares-azevedo.htm
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/casimiro-abreu-1.htm
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/casimiro-abreu-1.htm
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/castroalves.htm
3 
Logo que o movimento Romântico deu sinais de cansaço, o 
Parnasianismo dominou a poesia até o advento do Modernismo, em 1922. 
A importância deste movimento no país deve-se não só ao elevado número 
de poetas, mas também à extensão de sua influência, uma vez que seus 
princípios estéticos dominaram por muito tempo a vida literária do Brasil. 
A década de 1880 abriu-se para a poesia científica, a socialista e a 
realista, primeiras manifestações da reforma que acabou por se canalizar 
para o Parnasianismo. As influências iniciais foram Gonçalves Crespo e 
Artur de Oliveira, este o principal propagandista do movimento a partir de 
1877, quando chegou de uma estada em Paris. 
Outros representantes do Parnasianismo: 
a. Alberto de Oliveira 
O poeta publicou "Canções Românticas" em 1878. Apesar do nome 
“canções românticas”, o livro contém sonetos escritos à moda 
clássica, como no exemplo: 
O ÍDOLO 
(Canções românticas, 1878.) 
Sobre um trono de mármore sombrio, 
Em templo escuro, há muito abandonado, 
Em seu grande silêncio, austero e frio 
Um ídolo de gesso está sentado. 
E como à estranha mão, a paz silente 
Quebrando em torno às funerárias urnas, 
Ressoa um órgão compassadamente 
Pelas amplas abóbadas soturnas. 
Cai fora a noite - mar que se retrata 
Em outro mar - dois pélagos azuis; 
Num as ondas - alcíones de prata, 
No outro os astros - alcíones de luz. 
E de seu negro mármore no trono 
O ídolo de gesso está sentado. 
Assim um coração repousa em sono... 
Assim meu coração vive fechado. 
 
b. Teófilo Dias 
Outro marco inicial da nova Escola, Teófilo Dias publicou "Cantos 
Tropicais" em 1878. Como exemplo, vejamos o poema “Olhos 
azuis”: 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gonçalves_Crespo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_de_Oliveira
https://pt.wikipedia.org/wiki/1877
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paris
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teófilo_Dias
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teófilo_Dias
4 
 
Na luz que o teu olhar azul transpira 
Há sons espirituais, inebriantes, 
Orvalhados de lágrimas – vibrantes 
Como as notas da gusla que suspira. [gusla: instrumento de corda da Croácia] 
 
A harpa, o bandolim, a flauta, a lira, 
As vibrações suaves, cintilantes, 
Facetadas, floridas, provocantes, 
Do piano que ri, chora e delira, 
 
Não traduzem o ritmo silencioso, 
O perfume prismático, a magia, 
Do teu olhar inquieto, voluptuoso, 
 
Que me levanta em ondas de harmonia 
Como suspenso manto vaporoso 
À flor dos mares ao romper do dia! 
Cantos Tropicais, 1878. 
 
O Parnasianismo brasileiro, a despeito da grande influência que 
recebeu do Parnasianismo francês, não é uma exata reprodução 
dele, pois não obedece à mesma preocupação de objetividade, de 
cientificismo e de descrições realistas. Foge do sentimentalismo 
romântico, mas não exclui o subjetivismo. Sua preferência 
dominante é pelo verso alexandrino (de tipo francês) ou pelo 
decassílabo (português), com rimas ricas e pelas formas fixas, em 
especial o soneto. Quanto ao assunto, caracteriza-se pela 
objetividade, o universalismo e o esteticismo. Este último exige uma 
forma perfeita (formalismo) quanto à construção e à sintaxe. Os 
poetas parnasianos veemo homem preso à matéria, sem 
possibilidade de libertar-se do determinismo, e tendem então para o 
pessimismo ou para o sensualismo. 
Além de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, que 
configuraram a chamada tríade parnasiana, o movimento teve outros 
grandes poetas no Brasil, como Vicente de Carvalho, Machado de Assis, 
Bernardino Lopes, Francisca Júlia, Guimarães Passos, Carlos Magalhães de 
Azeredo, Goulart de Andrade, Artur Azevedo, Adelino Fontoura, Emílio de 
Meneses, Antônio Augusto de Lima, Luis Murat e Mário de Lima. 
A partir de 1890, o Parnasianismo foi superado pelo 
Simbolismo. Apesar disso, os parnasianos mantiveram sua produção 
poética paralelamente ao Simbolismo e até mesmo ao Modernismo, em sua 
primeira fase. 
O próprio nome remete a “Parnasos”, o lar das musas na mitologia 
grega, e o estilo retomou conceitos da Antiguidade Clássica, como a 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_de_Carvalho
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardino_Lopes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisca_Júlia_da_Silva
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guimarães_Passos
https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Magalhães_de_Azeredo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Magalhães_de_Azeredo
https://pt.wikipedia.org/wiki/José_Maria_Goulart_de_Andrade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_Azevedo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Adelino_Fontoura
https://pt.wikipedia.org/wiki/Emílio_de_Meneses
https://pt.wikipedia.org/wiki/Emílio_de_Meneses
https://pt.wikipedia.org/wiki/Antônio_Augusto_de_Lima
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mário_de_Lima
https://pt.wikipedia.org/wiki/1890
5 
elaboração de uma lógica racional que tornava os poemas 
complexos e de difícil entendimento. A perfeição da escrita e a 
inspiração da arte, principais características parnasianas, aparecem 
na valorização do soneto, da métrica, da rima. 
 
Voltemos a Alberto de Oliveira, com “A alma dos meus vinte anos” 
A alma dos meus vinte anos noutro dia 
Senti volver-me ao peito, e pondo fora 
A outra, a enferma, que lá dentro mora, 
Ria em meus lábios, em meus olhos ria. 
 
Achava-me ao teu lado então, Luzia, 
E da idade que tens na mesma aurora; 
A tudo o que já fui, tornava agora, 
Tudo o que ora não sou, me renascia. 
 
Ressenti da paixão primeira e ardente 
A febre, ressurgiu-me o amor antigo 
Com os seus desvarios e com os seus enganos... 
 
Mas ah! quando te foste, novamente 
A alma de hoje tornou a ser comigo, 
E foi contigo a alma dos meus vinte anos. 
Poesias, 4ª série, 1928, de Alberto de Oliveira 
 
3.2. AS FORMAS FIXAS 
Dos elementos singularizantes desses períodos, herdamos as 
formas poéticas, algumas muito exploradas mesmo na era moderna. 
Muitas dessas formas se conservaram com a mesma estrutura 
característica, por isso delas se diz que são formas fixas. 
 O mais conhecido dentre esses poemas é o soneto: formado por 
dois quartetos e dois tercetos (lembram-se? Estrofes de quatro 
versos e estrofes de três versos). 
 O mais popular é a quadrinha, poema todo formado de quartetos. 
 Mas há também a balada, feita para ser cantada, e que oferece 
muitos exemplos de repetição. 
O girino é o peixinho do sapo 
O silêncio é o começo do papo 
O bigode é a antena do gato 
O cavalo é pasto do carrapato 
6 
O cabrito é o cordeiro da cabra 
O pescoço é a barriga da cobra 
O leitão é um porquinho mais novo 
A galinha é um pouquinho do ovo 
O desejo é o começo do corpo 
Engordar é a tarefa do porco 
A cegonha é a girafa do ganso 
O cachorro é um lobo mais manso 
O escuro é a metade da zebra 
As raízes são as veias da seiva 
O camelo é um cavalo sem sede 
Tartaruga por dentro é parede 
O potrinho é o bezerro da égua 
A batalha é o começo da trégua 
Papagaio é um dragão miniatura 
Bactérias num meio é cultura. 
“Cultura”, Arnaldo Antunes 
 Assim também é a canção, composição que pode ser curta e que 
permite todos os temas, mas em geral é melancólica ou satírica. Pode 
apresentar uma estrofe que se repete, chamada estribilho. Há 
canções populares que são chamadas folclóricas, porque identificam 
regiões, culturas. Há canções nacionais. 
Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa. 
Não sou alegre nem sou triste: 
sou poeta. 
Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento. 
Atravesso noites e dias 
no vento. 
Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço, 
— não sei, não sei. Não sei se fico 
ou passo. 
Sei que canto. E a canção é tudo. 
Tem sangue eterno a asa ritmada. 
E um dia sei que estarei mudo: 
— mais nada. 
 “Motivo”, Cecília Meireles. 
http://pensador.uol.com.br/autor/cecilia_meireles/
7 
OBSERVAÇÃO: 
Este poema de Cecília foi musicado por Fagner (veja no youbube!). Como se 
percebe, a proximidade da poesia com a música se evidencia nas formas 
fixas. Entre os contemporâneos, muitos compositores, como Caetano Veloso, 
Chico Buarque, bem como anteriormente Vinícius de Moraes, só para falar 
dos mais conhecidos internacionalmente, publicaram as letras de suas 
músicas em livros de poemas. Chamamos “letra” o que os americanos 
chamam “lyrics”, guardando para as letras o termo que caracteriza a poesia 
– lírica. 
Vejamos também esta “Canção de outono”, de Cecília Meireles: 
Perdoa-me, folha seca, 
não posso cuidar de ti. 
Vim para amar neste mundo, 
e até do amor me perdi. 
 
De que serviu tecer flores 
pelas areias do chão, 
se havia gente dormindo 
sobre o próprio coração? 
E não pude levantá-la! 
Choro pelo que não fiz. 
E pela minha fraqueza 
é que sou triste e infeliz. 
Perdoa-me, folha seca! 
Meus olhos sem força 
estão velando e rogando 
àqueles que não se levantarão... 
Tu és a folha de outono 
voante pelo jardim. 
Deixo-te a minha saudade – 
a melhor parte de mim. 
Certa de que tudo é vão. 
Que tudo é menos que o vento, 
menos que as folhas do chão... 
 
Em Meireles se nota a melancolia reforçada pela repetição, 
pela seleção das palavras sombrias. Ainda que a canção seja um 
gênero meloso, longo, bem musical, poetas mais brincalhões, como 
Mário Quintana, usaram livremente esta forma para criar poemas 
curtos e sugestivos. (Pesquise na internet!). 
8 
 Há ainda algumas formas fixas que são usadas por poetas modernos, 
como o rondó (quadras ou estrofes maiores, em versos de sete 
sílabas, em que há a retomada dos dois primeiros versos em estrofes 
sucessivas). 
 
Os cavalinhos correndo, 
E nós, cavalões, comendo... 
Tua beleza, Esmeralda, 
Acabou me enlouquecendo. 
 
Os cavalinhos correndo, 
E nós, cavalões, comendo... 
O sol tão claro lá fora 
E em minh’alma — anoitecendo! 
 
Os cavalinhos correndo, 
E nós, cavalões, comendo... 
Alfonso Reys partindo, 
E tanta gente ficando... 
 
Os cavalinhos correndo, 
E nós, cavalões, comendo... 
A Itália falando grosso, 
A Europa se avacalhando... 
Os cavalinhos correndo, 
E nós, cavalões, comendo... 
O Brasil politicando, 
Nossa! A poesia morrendo... 
O sol tão claro lá fora, 
O sol tão claro, Esmeralda, 
E em minh’alma — anoitecendo! 
“Rondó dos Cavalinhos”, Manuel Bandeira 
 
Consta que o poema acima, feito durante a "II Grande Guerra", foi escrito enquanto o 
autor almoçava no Jóquei-Clube do Rio de Janeiro, assistindo às corridas. Extraído do 
livro "Manuel Bandeira - Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 
2001, p. 104. 
Ver http://www.releituras.com/mbandeira_rondo.asp 
 
 Outra forma que instigou os poetas modernos foi o Haikai (Haicai), 
tipo de poema japonês composto de 17 sílabas distribuídas em três 
versos apenas: o primeiro de cinco sílabas, o segundo de sete, o 
9 
terceiro de cinco. No Brasil recebe um tratamento de rima, que não 
existe no original: 
 
Um gosto de amora 
comida com sol. A vida 
chamava-se “Agora” 
“Infância”, Guilherme de Almeida) 
 
* 
Voltamos agora ao Soneto, que merece atenção pelo fato de continuar a 
ser uma forma muito apreciada pelos poetas. 
 Soneto 
Além de apresentardois quartetos e dois tercetos, em geral é composto 
por versos de dez sílabas (decassílabos), ou de doze sílabas 
(alexandrinos), com rimas de um tipo nos quartetos (A B) e de 
outro nos tercetos (C D). Em geral os temas são ligados à vida humana, 
às emoções. Vinícius de Moraes é um bom exemplo de poeta que usou o 
soneto para falar de vários aspectos do amor. 
Amo-te tanto, meu amor... não cante 
O humano coração com mais verdade… 
Amo-te como amigo e como amante 
Numa sempre diversa realidade. 
Amo-te afim, de um calmo amor prestante. 
E te amo além, presente na saudade. 
Amo-te enfim com grande liberdade 
Dentro da eternidade e a cada instante. 
Amo-te como um bicho simplesmente. 
De um amor sem mistério e sem virtude 
Com um desejo maciço e permanente. 
E de te amar assim muito e amiúde 
É que um dia em teu corpo de repente 
Hei de morrer de amar mais do que pude. 
“Soneto de amor total”, Vinícius de Moraes 
Poema construído numa métrica regular de decassílabos, com rimas ABAB 
(alternada); ABBA (interpolada e emparelhada); CDC; DCD (alternada), a 
circularidade do som condiz com os ciclos do amor, do calmo ao intenso, e 
10 
com a ideia de frequência que se repete até se esgotar. Os versos mantém 
um impulso, e mostram muita sonoridade em função das assonâncias de 
sons anasalados e das aliterações das vogais abertas e, sobretudo, pela 
repetição do amo-te e do amar/amor. 
Obs. Procure na internet o poema “Eu sei que vou te amar”(cantado por Maria 
Cleuza e musicado por Tom Jobim). Como brinde, o “poetinha” recita ainda uma de 
suas mais belas e conhecidas obras, o “Soneto de fidelidade”. Vale a pena! 
O nome desta forma poética- soneto- é originário do italiano sonetto, que 
significa “pequena canção”, ou, de forma literal, “pequeno som”. A criação 
do soneto é controversa: geralmente é atribuída ao humanista Francesco 
Petrarca, do século XIV; porém, atualmente sabe-se que esta forma lírica já 
era praticada um século antes por Giacomo de Lentino, tendo sido 
elaborada a partir da poesia popular da Sicília. Este gênero lírico foi 
introduzido em Portugal por Sá de Miranda, no ano de 1527, e Luís 
de Camões foi o responsável por torná-lo popular e pelo seu 
sucesso. 
OBS.:No soneto italiano, às vezes no português e no inglês, os 14 versos se 
mantém unidos numa só estrofe (monostrófico). 
 Vejam este exemplo, de Camões, todo construído em 
paradoxos (ou oxímoros): 
Amor é fogo que arde sem se ver; 
É ferida que dói, e não se sente; 
É um contentamento descontente; 
É dor que desatina sem doer. 
É um não querer mais que bem querer; 
É um andar solitário entre a gente; 
É nunca contentar-se de contente; 
É um cuidar que se ganha em se perder. 
É querer estar preso por vontade; 
É servir a quem vence, o vencedor; 
É ter com quem nos mata, lealdade. 
Mas como causar pode seu favor 
Nos corações humanos amizade, 
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? 
OBS.: O poema ficou bastante conhecido ao ser musicado por Renato Russo, 
da famosa banda Legião Urbana. 
 
11 
3.3. POESIA MODERNA 
 
O que chamamos de poesia moderna é não só a poesia produzida 
desde o final do século XIX até o início do século XX, mas, sobretudo, a 
poesia que se liberta das normas poéticas e que guarda, para se 
expressar, apenas a economia de linguagem, o poder de síntese que 
a palavra poética apresenta. 
Especialmente a partir do estilo de época conhecido por Modernismo, 
os autores utilizaram amplamente um verso que não obedece a uma 
regularidade métrica: um “verso livre”. Livre de quê? Livre das 
amarras das regras da poética, livre para usar essas regras do modo 
que o poeta achar mais conveniente à sua expressão. 
Ainda que alguns poetas modernos apreciem formas clássicas para 
falar de amor, por exemplo, fazem isso porque gostam de experimentar, 
porque apreciam a musicalidade que aquelas formas apresentam. Na 
literatura brasileira, foi a partir do Modernismo, sobretudo com os 
paulistas Mário de Andrade e Oswald de Andrade, que a poesia 
ganhou mais irreverência, voltada para temas do cotidiano, 
incentivando uma tendência que perdura na poesia contemporânea. 
Se o poeta, desde o Romantismo, passou a valorizar a pesquisa de 
linguagem - de visualidade e sonoridade simultaneamente -, essa herança 
repercutiu de modo exacerbado no movimento dos anos cinquenta, que 
ficou conhecido como Concretismo. Para os poetas concretos a palavra 
não é um signo arbitrário cuja forma material em nada tenha equivalência 
com o conteúdo que expresse. A palavra pode sim ser explorada na 
página de modo a sugerir graficamente o que quer exprimir. 
Expressas em grande parte no seu manifesto paulista de 1958 (Plano-
piloto para poesia concreta:), o movimento levou à grande adesão de 
outros poetas do mundo inteiro. Aparentemente, a poesia concreta opera 
por duas distinções básicas: a paranomásia e a disposição espacial 
dos vocábulos, frases ou caracteres. 
(LINK: http://tropicalia.com.br/leituras-complementares/plano-piloto-para-
poesia-concreta) 
Paronomásia: figura de linguagem que tira partido da 
semelhança fônica ou mórfica entre as palavras, mas não 
semelhança semântica. 
Operando por paranomásia e não abandonando o uso da palavra, a 
poesia concreta não será definida exclusivamente como uma poesia visual. 
Em tom radical, o manifesto declara o fim do verso como unidade 
rítmico-formal do poema, que passa a reconhecer o espaço como agente 
estrutural, deixando de se desenvolver de maneira meramente temporal e 
linear, intentando a simultaneidade da comunicação não verbal. Como 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paranomásia
12 
chamaram os irmãos Campos, comunicação verbivocovisual, que participa 
das vantagens da comunicação não verbal, sem abdicar das virtualidades da palavra. 
beba coca cola 
babe cola 
beba coca 
babe cola caco 
caco cola 
 cloaca 
“Coca cola”, Décio Pignatari 
Vejam os exercícios de Poesia concreta na página: 
página:http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-
literatura/exercicios-sobre-poesia-concreta.htm 
Abra o link e verá o universo do que criaram Millôr Fernandes, Décio Pignatari, 
Arnaldo Antunes, os irmãos Campos entre outros. 
Neste exemplo se vê claramente o jogo gráfico que faz contraponto ao 
jogo semântico, no sentido da ampliação para diversos significados, apenas 
sugeridos pela forma sintética, aquela que apresenta uma extrema 
economia vocabular. 
O Concretismo e o Modernismo gostam de jogar com o humor, 
com a brincadeira, tornando a poesia apreensível também pela 
criança. 
SUGESTÃO: Procurem poemas para crianças na obra de Sylvia Orthof e de José 
Paulo Paes, ou mesmo no livro Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles. 
As ideias transmitidas pelos poetas são bastante instigantes e diferentes 
porque trazem conceitos que nos falam à imaginação. Experimente a leitura 
de 
Se você juntar todas as pulgas terá a maior pulga do mundo. 
Se você juntar todos os cachorros terá o maior cachorro 
do mundo. 
Agora, se essa pulga picar esse cachorro e ele se coçar 
Vai cu o do do! 
sa dir mun to 
“Terremoto”, José Paulo Paes 
Repare, por exemplo, na ideia de terremoto, de abalo, do último 
verso, entrecortado em duas linhas, lembrando visualmente o efeito 
provocado pela reação do cachorro imaginário... 
3.4. POESIA CONTEMPORÂNEA 
13 
A poesia Contemporânea, depois de passar pelas inovações das 
vanguardas modernistas, sente-se livre para compor versos usando 
diferentes correntes estéticas antigas ou modernas como fonte de 
inspiração. Considera-se que seja a expressão artística que começou a se 
destacar a partir na segunda metade do século XX num mundo que se 
despedia dos efeitos imediatos do pós-Segunda Guerra Mundial. 
Pode-se dizer, modo simples, que a Poesia Contemporânea é o 
texto que o escritor chama de poesia, independente da sua forma.Essa poesia não só usa como temas, mas também explora as 
diferentes expressões de fenômenos de massa, como os quadrinhos, o 
cinema, a música pop, e outros. Portanto, o Contemporâneo apresenta 
uma abertura para a mistura de tendências estéticas, estabelecendo 
o ecletismo, suas contradições e características. Sendo assim, suas 
produções podem apresentar: 
União da arte erudita e da arte popular; 
Aspecto histórico, social e urbano; 
Poesia intimista, visual e marginal; 
Temas cotidianos e regionalistas; 
Engajamento social e literatura marginal; 
Experimentalismo formal; 
Técnicas inovadoras (recursos gráficos, montagens, colagens, etc.); 
Formas reduzidas (haikais, poemas-piada, etc.); 
Intertextualidade e metalinguagem. 
Vejamos exemplos: 
a. Torquato Neto, paraibano, nascido em 1944 que se uniu aos 
Tropicalistas e se suicidou no Rio de Janeiro aos 28 anos, deixando 
obra intensa: 
 
eu sou como eu sou 
pronome 
pessoal intransferível 
do homem que iniciei 
na medida do impossível 
 
eu sou como eu sou 
agora 
sem grandes segredos dantes 
sem novos secretos dentes 
nesta hora 
14 
 
eu sou como eu sou 
presente 
desferrolhado indecente 
feito um pedaço de mim 
 
eu sou como eu sou 
vidente 
e vivo tranquilamente 
todas as horas do fim. 
Poema “Cogito”, Torquato Neto. 
 
 
b. Millôr Fernandes, carioca, humorista, tradutor e poeta: 
 
O amor é assim 
O que eu vejo nela? 
O que ela vê em mim. 
“Poeminha ego-elucidativo”, Millôr Fernandes 
 
c. Mário Quintana, gaúcho, tradutor e poeta muito fofo. 
Um desconhecido 
Me pergunta as horas 
Faltam dez minutos 
“Dez minutos”, Mário Quintana 
 
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