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59 Planejamento, Programação e Controle de Produção Unidade 1 O pedido do cliente ao chegar é transmitido on-line para a fábrica, e não para o depósito. A fábrica produz contra a demanda em ciclos de produção curtos e rápidos. O produto é despachado para os clientes diretamente ou por meio do estoque regulador (que pode ser apenas de consolidação de carga ou terminais). Dessa maneira, a demanda do cliente “puxa” o uxo de material. A ausência de estoques de segurança e os níveis baixos de estoque, ou a ausência deles, em muitos casos, permitem que a informação ua mais rapidamente. Por outro lado, programas de qualidade assegurada e de manutenção produtiva total (MPT) devem ser implantados para evitar problemas de processo devido à ausência de estoques. Para trazer peças e materiais dos fornecedores externos, de forma simples e e ciente, é utilizada a ferramenta kanban com fornecedores. No entanto, para que o sistema kanban com fornecedores atinja sua e ciência plena, é indispensável que o fornecedor sincronize seu sistema produtivo com o do cliente. (TUBINO, 1999). O sistema produtivo do cliente precisa passar dois tipos de informações ao sistema produtivo do fornecedor: � o plano-mestre de produção; e � a solicitação diária, incluindo os sistemas de reabastecimento posterior e de retirada sequencial. As entregas devem ser feitas nas quantidades requisitadas e no momento necessário. O uxo sincronizado de material pretende ser uma alternativa aos métodos empurrados e puxado de controle de estoque. É uma abordagem mais e ciente que o uxo contínuo e pretende fornecer uma resposta ainda mais rápida às mudanças do mercado. O método tem como objetivo integrar a produção e a distribuição através da tecnologia de informação. Segundo Ching (2001), o uxo de material é balanceado de uma só vez, ao longo do processo de compras/ produção/ distribuição, por um sistema automatizado de gestão de materiais, que fornece 60 Universidade do Sul de Santa Catarina um uxo sincronizado de informações, atualizando simultânea e instantaneamente todas as partes envolvidas: � fornecedores; � fábricas; � estoque regulador; e � distribuição. As demandas são capturadas instantaneamente no ponto-de- venda e transmitidas on-line para um módulo de processamento de transações, que as processa e otimiza as relações de custo- benefício envolvidas e alimenta as informações de material (produtos acabados e/ ou matérias-primas) em paralelo (não em série) para todos os envolvidos. A demanda real do cliente inicia o processo, mas o uxo de material é agora balanceado. No uxo sincrônico de material, é necessário que os sistemas de gestão informatizados do cliente e do fornecedor sejam compatíveis entre si, para possibilitarem as interfaces necessárias a essa integração. Ching (2001) denomina de simbiótica a relação cliente- fornecedor necessária nesse enfoque. Assim como na loso a just-in-time, o cliente trata com poucos ou apenas um fornecedor para tipo de item, e o relacionamento é baseado em contratos de fornecimento de longo prazo, que motivam os fornecedores a investirem para melhorar o seu desempenho, gerando oportunidades adicionais de redução de custo em conjunto. Seção 6 – Gestão da capacidade Nesta seção, estudaremos os principais conceitos e funções básicas relacionados ao planejamento e controle da capacidade. Veremos como a gestão da capacidade é realizada ao longo dos horizontes de longo, médio e curto prazo. Como formação de carga, roteirização, volume mínimo, entre outras. 61 Planejamento, Programação e Controle de Produção Unidade 1 A capacidade de produção de uma unidade de ne o potencial de execução de atividades produtivas. A capacidade produtiva deve ser vista como um potencial, um volume máximo possível de ser obtido e não deve ser confundida com os níveis de saída que a operação está produzindo em certo momento, no tempo. Dessa forma, a essência da tarefa de gestão da capacidade é conciliar tanto no nível agregado quanto no detalhado, a existência de capacidade com o nível de demanda que deve ser satisfeita. As decisões envolvidas na gestão de capacidade produtiva são diferentes, conforme as inércias decisórias envolvidas. Como as decisões sobre capacidade são múltiplas, uma forma útil de entender essa multiplicidade é classi cá-las em termos de sua inércia. O Quadro 1.9 ilustra essa ideia: Inércia Horizonte Questões Principais Nível Decisório Decisões Típicas Longa Meses Anos Que nível global de capacidade necessitaremos ao longo do horizonte? Que padrão de decisões devemos adotar para a alteração dos níveis globais de capacidade? Estratégico Novas unidades de operações. Expansões de unidades. Aquisição ou alteração de tecnologia de processo. Média Semanas Meses Devemos utilizar produção nivelada ou acompanhar a demanda com a produção? Que composto de funcionários próprios e de terceiros usar para atender à demanda? Tático Turnos de trabalho ao longo do horizonte. Terceirização de capacidade. Dimensionamento de pessoal. Aquisição de recursos de menor porte. Curta Horas Dias Semanas Que recursos alocar para que tarefas? Como acomodar as utuações de demanda no curtíssimo prazo? Operacional Alocação de pessoal entre setores. Horas extras. Alocação de pessoal no tempo. Controle de entrada e saída de uxo por recurso. Quadro 1.9 – Decisões de capacidade X inércia decisória Fonte: Corrêa & Corrêa (2004, p. 426). Volume máximo potencial de atividade de agregação de valor que pode ser atingido por uma unidade produtiva sob condições normais de operação. 62 Universidade do Sul de Santa Catarina Além das decisões típicas exempli cadas no Quadro 1.6, as decisões sobre capacidade também envolvem as seguintes atividades: � avaliação da capacidade existente; � previsões de necessidades futuras de capacidade; � identi cação de diferentes formas de alterar a capacidade no curto, médio e longo prazo; � identi cação de diferentes formas de alterar a demanda; � avaliação do impacto da decisão a respeito de capacidade sobre o desempenho da operação; � avaliação econômica, operacional e tecnológica da alternativa de incrementar capacidade; e � seleção de alternativas para a obtenção de capacidade adicional. Muitas organizações operam abaixo da capacidade máxima de processamento, seja porque a demanda é insu ciente para ocupar completamente sua capacidade, seja por uma política deliberada, de forma que a operação possa responder rapidamente a cada novo pedido. Além disso, nem sempre todas as partes da organização estarão trabalhando em sua capacidade máxima. Frequentemente, algumas partes operam abaixo dessa capacidade. Essas partes são as restrições de capacidade de toda a operação, também chamadas de gargalos. (SLACK et al., 2007). Como nem sempre a capacidade teórica (ou nominal) está disponível para uso efetivo, é importante ter em mente os seguintes conceitos: � utilização é o quanto da capacidade teórica tem estado disponível para uso, podendo ser medida em termos percentuais. Utilização = Capacidade efetivamente disponível Capacidade total teórica Partes do sistema produtivo que operam em sua capacidade máxima. Os gargalos determinam a capacidade do sistema produtivo como um todo. 63 Planejamento, Programação e Controle de Produção Unidade 1 e ciência é a medida de quão bem o período de disponibilidade do processo está sendo usado, podendo ser medida em termos percentuais. E ciência = Saídas demonstradas em capacidade efeticamente disponível Saídas padrão em capacidade efetivamente disponível Em que pese a possível necessidade e sempre presente conveniência de aumentar níveis de utilização e e ciência com que se trabalha, é necessário que, no mundo real, para planejamento, as capacidades teóricas sejam reduzidas dos níveis de utilização e e ciência. Capacidade para planejamento = Capacidade teórica total × Utilização× E ciência Slack et al. (2007) a rmam que planejamento e controle de capacidade é a tarefa de determinar a capacidade efetiva da operação produtiva, de forma que possa responder à demanda. Isso normalmente signi ca decidir como a operação deve reagir a utuações na demanda. As decisões tomadas pelos gestores no planejamento de suas políticas de capacidade afetam diversos aspectos de desempenho, conforme Quadro 1.10: 64 Universidade do Sul de Santa Catarina Custos Serão afetados pelo equilíbrio entre capacidade e demanda. Níveis de capacidade excedentes à demanda podem signi car subutilização da capacidade e, portanto, alto custo unitário. Receitas Também serão afetadas pelo equilíbrio entre capacidade e demanda, mas de forma oposta. Níveis de capacidade iguais ou superiores à demanda assegurarão que toda a demanda seja atendida e não haverá perda de receita. Capital de giro Será afetado, se uma operação decidir produzir estoques de bens acabados, antecipando-se à demanda. Isso permite atender a demanda de forma mais rápida, mas a organização deve nanciar o estoque até que seja vendido. Qualidade Pode ser afetada por um planejamento de capacidade que inclui grandes utuações nos níveis de capacidade, através da contratação de pessoal temporário (por exemplo). O pessoal novo e a interrupção do trabalho rotineiro aumentariam a probabilidade de ocorrência de erros. Velocidade de resposta A velocidade de resposta à demanda do cliente pode ser melhorada, seja pelo aumento dos estoques, seja pela provisão deliberada de capacidade excedente para evitar las. Con abilidade Será afetada pela proximidade dos níveis de demanda e capacidade. Quanto mais próxima a demanda estiver da capacidade máxima de produção, mais difícil será lidar com interrupções inesperadas e menos con áveis serão seus fornecimentos. Flexibilidade Será melhorada por capacidade excedente (especialmente a de volume). Se a demanda e a capacidade estiverem em equilíbrio, a operação não será capaz de responder a quaisquer aumentos inesperados de demanda. Quadro 1.10 – Aspectos de desempenho afetados por decisões tomadas Fonte: Adaptado de Slack et al. (2007, p. 316-317). A gestão da capacidade produtiva pode ser dividida em três diferentes horizontes de planejamento e controle, que utilizam ferramentas distintas para sua realização: � estratégico; � tático; e � operacional. Cada um deles será analisado a seguir. 65 Planejamento, Programação e Controle de Produção Unidade 1 6.1 – Gestão estratégica da capacidade A gestão estratégica da capacidade representa as decisões de planejamento e controle tomadas a longo prazo. No nível estratégico, é possível alterar mais substancialmente os níveis de capacidade e as empresas têm, normalmente, maior liberdade e um número maior de alternativas para alteração de capacidade. As decisões tomadas com base no atendimento a necessidades de longo prazo são aquelas que envolvem os maiores volumes de capital e, por essa razão, são geralmente mais difíceis de reverter. Corrêa & Corrêa (2004) apontam que as alternativas para alterar a capacidade no longo prazo são as mesmas para alterar a capacidade no médio e curto prazos, acrescidas de outras como: � expansões ou reduções da unidade de operações; � expansões por aquisições; e � reduções por venda de ativos. O tipo de operação realizada na empresa também estabelece como ocorre a alteração de capacidade. Usualmente, operações mais intensivas em mão de obra podem aumentar a capacidade gradualmente, à medida que contratam mais pessoas. Já as operações mais intensivas em capital geralmente alteram a capacidade em saltos, pois a tecnologia empregada limita a escala de incrementos. A Figura 1.17 representa, gra camente, o incremento de capacidade gradual e por saltos. 66 Universidade do Sul de Santa Catarina Capacidade Demanda Capacidade Demanda tempo tempo Pequenos incrementos Grandes incrementos Figura 1.17 – Tipos de incrementos de capacidade Fonte: Corrêa & Corrêa (2004, p. 429). Além da forma como a capacidade é alterada, é importante considerar-se também o instante em que serão realizadas essas mudanças. O incremento de capacidade pode antecipar-se ou seguir-se ao aumento da demanda. Alguns fatores in uenciam a decisão sobre o momento em que o aumento de capacidade deve ocorrer, de acordo com Corrêa & Corrêa (2004). Vejamos quais são eles. O primeiro fator diz respeito à conveniência de se postergarem investimentos. A principal consequência disso é uma maior taxa de ocupação dos recursos, que, em alguns casos, pode chegar a 100%. O incremento da capacidade é decidido somente quando existem garantias de que a quantidade de capacidade a ser adquirida for maior do que um valor preestabelecido. Em alguns casos, apontam Chase, Jacobs e Aquilano (2008), pode ser mais barato utilizar alguma fonte externa de capacidade e não adicionar nada à capacidade interna da empresa. Por outro lado, quando se opta por incrementar capacidade antes do aumento da demanda, o investimento em capital é antecipado, e o nível de serviços pode ser melhor, principalmente nos aspectos relacionados aos tempos de atendimento. No entanto, apesar de melhorar o desempenho competitivo, o sistema tende a trabalhar com certo nível de ociosidade, acarretando custos unitários mais altos. Vejamos isso na seguinte gura: 67 Planejamento, Programação e Controle de Produção Unidade 1 Capacidade Demanda tempo Capacidade antecipa-se à demanda Capacidade Demanda Capacidade segue demanda Capacidade Demanda tempo Política mista tempo Figura 1.18 – Momento de incremento de capacidade Fonte: Corrêa & Corrêa (2004, p. 430). Portanto o balanço dos desempenhos competitivos esperados, que advirão da adoção das diferentes políticas, deve ser considerado antes da decisão sobre o momento em que se dará o incremento de capacidade em relação ao aumento da demanda. Também é importante lembrar, conforme Corrêa & Corrêa (2004), que as análises em gestão de operações nunca devem obedecer a critérios exclusivamente econômicos; devem obedecer, também, a critérios estratégicos, que re etem a forma como a empresa compete no mercado. 6. 2 – Gestão tática da capacidade A partir de certa política estratégica de capacidade produtiva, a rmam Corrêa & Corrêa (2004), a gestão tática de capacidade ocupa-se, da melhor forma possível, de ajustar no médio prazo o nível global de capacidade produtiva, disponibilizado pelas políticas estratégicas às utuações de mais curto prazo da demanda ao longo do tempo. Dessa forma, há necessidade de consideração cuidadosa de custos totais para melhores decisões táticas sobre capacidade produtiva, levando-se em conta os seguintes custos: � custos de variação dos níveis de produção: horas extras, subcontratação, ociosidade em períodos de baixa utilização, setups, entre outros, resultantes da tática; � custo de manutenção de estoques médios: armazenagem, seguro, obsolescência, capital empatado, gerenciamento, entre outros, também resultantes da tática. 68 Universidade do Sul de Santa Catarina As decisões táticas de capacidade se relacionam diretamente ao Planejamento-Mestre de Produção e são baseadas na forma como ocorrerá o uso da capacidade produtiva disponível e suas alterações no médio prazo. Portanto, entre outras, podemos considerar as seguintes decisões táticas: � variar o tamanho da equipe de trabalho; � elaborar planos de horas-extras; � subcontratar capacidade em outras unidades de negócios ou terceirizar; � programar férias de funcionários; e � melhorar setups. Cada uma dessas decisões é tomada com base nos custos consequentes e nos objetivos estratégicos que determinam como a organização concorre em seus mercados de atuação. Entre os custos de variação dos níveis de produção, podem ser citados: � horas-extras; � subcontratação; � ociosidade em períodosde baixa utilização; e � setups. O custo de manutenção de estoques médios, por outro lado, inclui, entre outros, os custos de: � armazenagem; � seguro; � obsolescência; � capital empatado; e � gerenciamento. 69 Planejamento, Programação e Controle de Produção Unidade 1 As decisões têm menor inércia no plano tático e, portanto, são mais fáceis de reverter, e as implicações são de menor monta. Os tipos de incremento e as decisões sobre o momento de alteração de capacidade devem estar sempre relacionados ao nível de serviço, ao cliente que se deseja obter, e seguem os mesmos padrões das decisões estratégicas de capacidade produtiva. 6. 3 – Gestão operacional da capacidade Além das decisões estratégicas e táticas, existem decisões de curto prazo que impactam sobre utuações aleatórias e imprevistas de demanda no dia a dia. Essas utuações possuem as mais diversas causas, entre as quais: � faltas ao trabalho; � pedidos urgentes; � cancelamentos de pedidos; e � paradas inesperadas no sistema produtivo. No curto prazo, as alternativas de alteração da capacidade estão restritas, normalmente, a mudanças moderadas, devido a certas restrições estruturais que limitam aumentos substanciais de capacidade. Algumas alternativas de alteração de capacidade a serem consideradas em tal situação podem ser: � programação de turnos de trabalho, de modo a variar o número de funcionários, conforme a hora do dia ou o dia da semana, como o uso de “bancos de horas” para funcionários, por exemplo, permitindo variações para aumento ou redução de capacidade; � uso de horas extras ou turnos extras, quando possível; � subcontratação de serviços de terceiros para preenchimento de falta de capacidade no curto prazo; Principalmente em processos intensivos em capital.
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