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1 Larissa Maria Miranda Santana MEDICINA Rodízio de Cirurgia HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL É a ruptura de alguma estrutura da parede abdominal, gerando um abaulamento de estruturas abdominais. Uma hérnia é definida como protusão anormal de um órgão ou tecido por um defeito em suas paredes circundantes. Os principais tipos de hérnias são: inguinal (direta e indireta), femoral, umbilical e incisional. A prevalência das hérnias aumenta com a idade, bem como a probabilidade de estrangulamento e a necessidade de hospitalização. Fatores de risco Os principais fatores de risco associados com essa doença são: histórico familiar, sexo masculino, idade (>7ª década), tabagismo, doenças colagenosas e o aumento da pressão abdominal, que pode ser causado por DPOC, ascite, hiperplasia prostática benigna e outras condições. A obesidade não entra como fator de risco e sim como fator protetor, pois parece estar associado com um espessamento da pele e do tecido subcutâneo, o que pode exercer uma proteção ao abaulamento das estruturas abdominais. Quanto as hérnias incisionais, vale lembrar que há necessidade de um procedimento cirúrgico prévio e alguns outros fatores de risco podem estar presentes, como: infecção da ferida operatória, hematoma, desnutrição, uso de corticoides, uso de radiação local e obesidade. Revisando a anatomia A cavidade abdominal é um compartimento que trabalha com uma pressão positiva – 5/8mmHg- contém diversas estruturas e é limitada superiormente pelo diafragma, inferiormente pelo diafragma pélvico, posteriormente pelas vértebras lombares e anteriormente pelos músculos da parede abdominal. A parede abdominal é constituída por algumas camadas: pele, tela subcutânea, músculo obliquo externo, obliquo interno e o transverso, seguindo com a fáscia transversalis, gordura pré peritoneal e peritônio. O canal inguinal é um ducto que parte de lateral para medial, de dentro para fora, obliquamente. Ele é uma comunicação entre a cavidade abdominal e o testículo/bolsa escrotal. A formação testicular ocorre dentro da cavidade abdominal e desce através do conduto do peritônio-vaginal a partir do 28º semana de gestação, até se alocar e terminar sua descida dentro da bolsa escrotal. Após isso, o canal se oblitera e se encerra em um indivíduo saudável e a comunicação entre a cavidade abdominal e a bolsa escrotal, restando apenas estruturas que comunicam os testículos com a cavidade, passando através do canal inguinal. O óstio miopectíneo de Fruchaud é uma região inguino-femoral caracterizada por ser um local propenso ao surgimento de hérnias. Possui como limites o músculo reto abdominal medialmente, inferiormente o ligamento pectíneo ou de Cooper, lateralmente o músculo psoas e superiormente o tendão conjunto. 3 tipos de hérnias podem surgir aqui: a inguinal direta, inguinal indireta e a femoral. A direta surge no trígono de Hesselbach, limitado pelo músculo reto abdominal, ligamento inguinal e vasos epigástricos inferiores. A indireta surge nos canais inguinais e o canal femoral a hérnia femoral. Hesselbach ** Conceito: Hérnias que surgem medialmente aos vasos epigástricos inferiores são diretas, enquanto as que surgem lateralmente são as indiretas. Classificação das hérnias 2 Larissa Maria Miranda Santana MEDICINA Rodízio de Cirurgia 1. Hérnia Umbilical O mecanismo relacionado com o surgimento dessa hérnia é semelhante com a inguinal e a femoral, ou seja é o abaulamento de estruturas abdominais devido a uma fraqueza na parede só que a nível de cicatriz umbilical. Ocorre a formação de um saco herniário que contêm o abaulamento da camada peritoneal + a víscera abdominal. 2. Hérnias especiais São hérnias de estruturas e em sítios menos comuns. Como exemplos: - Hérnia por deslizamento: nesse tipo não há formação de saco herniário, pois o conteúdo é extraperitoneal. -Hérnia de Amyand: quando dentro do saco herniário inguinal está presente o apêndice cecal. -Hérnia de Garengeot: quando há presença do apêndice cecal no saco herniário femoral. -Hérnia de Littré: qualquer hérnia contendo o divertículo de Merkel. -Hérnia de Richter: quando há isquemia da borda anti mesentérica, não há oclusão intestinal. - Hérnia de Spiegel: a hérnia ocorre na linha semilunar. -Hérnia obturadora: a hérnia ocorre pelo forame obturador -Hérnias lombares: são dois tipos – Grynfelt e Petit, sendo que essa última é a do trígono lombar inferior e a primeira do trígono superior. Quadro clínico Os pacientes com hérnia possuem como queixa principal o abaulamento na região da hérnia, surgindo geralmente nos momentos de maior pressão abdominal, como na hora da evacuação ou ao portar algo pesado. O quadro é oligossintomático e não é marcado por pacientes com queixas de dores intensas, eles se queixam de uma dor moderada e sensação de peso no local. Lembrar que quando o paciente chegar com uma dor intensa, provavelmente são as complicações; encarceramento ou estrangulamento. Diagnóstico Baseia-se em uma boa anamnese associada ao exame físico. Deve ser realizada a palpação do anel inguinal e do anel herniário. Quanto as hérnias inguinais, pode-se lançar mão da manobra de Landivar, que consiste em obstruir o anel interno por cima da pele e solicitar que o paciente realize Vasalva. O diagnóstico é clínico, sendo dispensável o uso da USG, deixando o exame complementar para casos duvidosos e complexos. # Alguns diagnósticos diferenciais para hérnia inguinal são: linfedema, neoplasia testicular, hidrocele de testículo, varicocele, testículo ectópico e Adenomegalia inguinal. O conteúdo herniado pode exteriorizar-se e retornar ao compartimento abdominal pelo anel herniário. Quando é possível retornar o conteúdo herniado para o seu lugar de origem chama-se de hérnia redutível. Quando o conteúdo está preso ao anel herniário, impossibilitando o retorno, chamamos de hérnia encarcerada. Nos casos das hérnias encarceradas, existe o risco do conteúdo herniário ficar preso no saco herniário sujeito a sofrer estrangulamento, o que compromete a circulação sanguínea no local e leva a necrose do órgão herniado. Tratamento A hérnia que é redutível pode ser operada de forma eletiva ou pode ser acompanhada analisando como irá evoluir. Já nos casos de hérnia encarcerada, nos casos não complicados é possível o manejo clínico, tentando reduzir a hérnia, associado com analgésicos e relaxante muscular, a fim de intervir de forma eletiva, mas nos casos em que não é possível reduzi- la está indicada a cirurgia. Nos casos de hérnia estrangulada o paciente deve ser submetido a cirurgia de urgência, sem tentativa de redução. As técnicas cirúrgicas utilizadas no tratamento mudaram com o tempo. Bassini: baseada em suturar o tendão conjunto no ligamento inguinal com muita tensão, porém tinha alta taxa de recidiva. McVaY: suturar o tendão conjunto com o ligamento pectíneo, porém com recidiva também. Shouldice: menos taxa de recidiva, baseada no imbricamento de camadas, ou seja, sutura as camadas uma sobre a outra. Lichtenstein: baseia-se na utilização de telas, sem tensão e com baixa taxa de recidivas. Vale lembrar que é específica para hérnias inguino-femoral. Nos casos de hérnias femorais o tratamento será com a técnica de McVay ou Plug femoral ou laparoscopia para cobrir com tela. 3 Larissa Maria Miranda Santana MEDICINA Rodízio de Cirurgia Quanto as hérnias umbilicais, o mecanismo é semelhante, utilização de tela sem tensão após o ressecamento do saco herniário, fecha com a tela. Hérnias em crianças A classificação Nyhus I fala sobre a hérnia inguinal indireta, caracterizada por um defeito congênito do não fechamento do conduto peritônio vaginal. No tratamento não há necessidade de colocação de tela, sendo realizado um ressecamento do saco herniário e obliterandoo conduto peritônio-vaginal. Nos casos de hérnias umbilicais, o risco de complicação é muito pequeno, então espera-se até os 6 anos de idade, momento que a maioria dos pacientes terão o fechamento espontâneo, se isso não acontecer, indica-se a cirurgia com tela. Existe uma técnica de colocação da tela no sítio pré- peritoneal, chamada de técnica de Stoppa, que é uma grande tela que cobre toda a cavidade abdominal, indo de um músculo psoas de um lado até o outro lado e inferiormente até o ligamento pectíneo. Está associada com algumas complicações, como dor, fibrose e um índice muito maior de feridas operatórias, sendo reservada para os casos mais complexos. Técnicas videolaparoscópicas Existem duas formas de operar as hérnias através da videolaparoscopia, com técnica de TEP (totalmente extra peritoneal ) e a técnica de TAPP (transabdominal pré-peritoneal). Complicações cirúrgicas Ocorre em cerca de 10% dos casos, sendo que muitas delas são transitórias. As possíveis complicações são: dor crônica, infecção de ferida operatória, sangramento, lesão de nervos e orquite sistêmica. A antibioticoterapia não alcança o local onde a tela está, fazendo com que o antibiótico não seja eficaz.
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