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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 DEFINIÇÕES IMPORTANTES • Isquemia: Oclusão parcial de um vaso coronariano com diminuição do aporte de O2 para o miocárdio, porém sem ocasionar lesão ao músculo. É um fenômeno potencialmente reversível. • Infarto: Oclusão de um vaso a ponto de ocasionar lesão ao músculo cardíaco. • Necrose: Processo irreversível que representa morte do tecido miocárdico. ESTATÍSTICA EPIDEMIOLÓGICA • IAM mata nas primeiras 2 hora por FV e TV, e nas próximas horas, por AESP e assistolia; • Nos primeiros 30 minutos de obstrução ao fluxo pela coronária a lesão pode ser completamente reversível. • Avaliar critérios de Framinghan. SINTOMATOLOGIA A coleta da história clínica (anamnese) é muito mais importante do que o exame físico. Em uma emergência, o exame físico precisa ser direcionado. • Clássico: Dor ou desconforto retroesternal que irradia para MSE (membro superior esquerdo), ângulo da mandíbula ou dorso (escápula); Lembrar que o infarto que irradia para a região dorsal tem que se fazer diagnóstico diferencial com dissecção de aorta/ruptura de aorta/aneurisma dissecante de aorta. Isso porque a conduta é diametralmente oposta. Você jamais pode fibrinolisar/anticoagular uma dissecção de aorta, porque se sangrar já era. Um exame simples que leva o médico a tendenciar mas pra um aneurisma de aorta do que pra um infarto é o raio X, sendo o alargamento mediastinal o achado radiográfico. O diagnóstico é dado, de fato, pela angio TC de tórax e abdome, a depender do lugar do aneurisma. Tipo A - do cajado para baixo (tórax) → cirurgia cardíaca; Tipo B - do cajado para cima (abdômen) – mais comum e menos grave → cirurgia vascular. O ECO só consegue ver a porção A da aorta, do cajado até a válvula. • Sinal de Levine: sinal clássico que o paciente vem com o punho cerrado no peito, postura paradoxal. O paciente reclama de dor no peito. • Dispneia, náuseas e sudorese: equivalentes isquêmicos/anginosos. IMPORTANTE • Em alguns perfis de paciente, o infarto pode vir como dor abdominal. • Pacientes diabéticos podem sentir menos dor do que o comum. • Pacientes do sexo feminino podem ter dor abdominal equivalendo a um infarto. • Na maioria das vezes vai ser uma dor retroesternal, em abafamento, em pontada. EXAME FÍSICO • Presença de B3 (galope): é uma das coisas mais características. Classifica o paciente de uma forma diferente no Killip. • Hipofonese de B1 e desdobramento de B2: não são muito levados em consideração. • Hipotensão – choque cardiogênico. • Fazer ausculta respiratória para pesquisa de crépitos, edema agudo. CLASSIFICAÇÃO KILLIP Classificação de mortalidade. Quando maior o killip, maior a mortalidade. Os dados são, basicamente, do exame físico. É importante porque muda a conduta, direcionando melhor. • Killip I: sem sinais de congestão pulmonar. 60% dos casos; imensa maioria dos infartos. O paciente chega com uma dor precordial e sem nenhum achado no exame físico. • Killip II: presença de B3 e estertores crepitantes: estertores em base, ritmo em galope, alguns sinais de congestão pulmonar. Infarto Agudo no Miocárdio 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 • Killip III: Edema agudo de pulmão: crépitos difusos de ápice a base. • Killip IV: Choque cardiogênico. É o mais grave de todos e tem uma mortalidade altíssima. Se tiver em um lugar que não tem hemodinâmica, na maioria das vezes, o paciente não sobrevive. BIOMARCADORES CARDÍACOS Eletro (1º exame a ser solicitado) + enzimas cardíacas (CK-MB e troponina). • CPK: é uma enzima extremamente inespecífica. • CK-MB; • Troponina; • BNP. CPK, CK-MG e troponina não devem ser levados em consideração para adotar terapia de reperfusão. Normalmente, o diagnóstico de infarto é feito por elevação de troponina (1 só não quer dizer nada; 2 ou mais em ascensão tem importância). INFARTO COM SUPRA O eletro é analisando buscando as paredes que representam o coração. Então, cada derivação vai mapear uma parece cardíaca. • Significado clínico: fechamento agudo de coronárias; • Características no ECG: ❖ Supra desnivelamento de ST nos seguintes pares derivacionais: ▪ DA: descendente anterior. V1 e V2 → parede septal; V3 e V4 → parede anterior; V5 e V6 → parede lateral; ▪ CD: coronária direita. V7 e V8 → parede posterior; DII, DIII e AVF → parede inferior. V3R e V4R: nada mais é do que V3 e V4 lançados para o outro lado. Mapeiam o ventrículo direito. • CX: circunflexa. ▪ DI e AVL → parede lateral alta. Cada um desses pares derivacionais vai estar relacionados a uma parede. Uma coisa importante na anamnese é procurar fatores de risco, principalmente se for jovem. É muito comum uma pericardite pós covid em jovens. Se tiver na dúvida se é infarto ou não, nunca fibrinolise. Mande pra angioplastia. REVISANDO AS PAREDES Os dois pontinhos acima são V1 (localizado no septo interventricular - exatamente no 4º espaço intercostal). Na foto da direita tem o coração, os dois pontos e o septo interventricular. • V1 e V2: estão exatamente entre o septo interventricular, formando a parede septal. • V3 e V4: estão na região anterior, formando a parede anterior (principais paredes cardíacas). • V5 e V6: parede lateral. • V7 e V8: V7 é na linha axilar posterior e V8 na cintura infraescapular → parede posterior. • DI e AVL: lateral alta. • DII, DIII e AVF: inferior. • V3R e V4R: ventrículo direito. É preciso decorar DI e AVL, DII, DIII e AVF. V3R e V4R são derivações do LD (ventrículo direito). EXEMPLOS Posso suprar V1 e não suprar V2 e ser parede septal? Não! Se suprar V1 tem que suprar V2; Posso suprar V3 e não suprar V4 e ser parede anterior? Não! Se quiser parede ser anterior tem que suprar V3 e V4. 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 Algumas paredes são contíguas, por exemplo, a anterior e septal. Essas paredes que fazem continuidade podem suprar por contiguidade, por exemplo, suprar V2 e V3 e não suprar V1 e V4 e ainda assim ser septoanterior. ELETRO O eletro acima, na primeira linha, tem uma parede inferior – DII, DIII e AVF – com supra. Quem irriga a parede inferior é a coronária direita (CD). Tem que suprar as 3 (DII, DIII e AVF) para ser parede inferior? Não! Só DII e AVF está valendo, só DIII e AVF está valendo. O que não pode é suprar DII e DIII e não suprar AVF, porque vetorialmente falando AVF está entre DII e DIII e tudo que acontece em DII e em DIII acaba pegando em AVF. A corrente de lesão não é saltatória. Eletro com supra em V2 (em azul). Um supradesnivelamento é uma elevação do ponto J (ponto que termina todo QRS). Exemplo: um ponto J era para estar lá embaixo (como no círculo em vermelho), tendo que estar alinhado com a linha de base, com o eixo isoelétrico eletrocardiográfico. Se o ponto J está muito acima desse eixo se tem um supradesnivelamento. Quanto maior o supra maior a isquemia. V2, V3, V4, V5, V6, DI e AVL tem supra. Então eu tenho supra de parede anterolateral e septal porque V2 com V3 forma par contíguo. Uma coisa importante é que o supra pode aumentar ou aparecer novos supras em outras derivações se o caso continuar se estendendo. Então, temos um supra de parede anteroseptolateral V2, V3, V4, V5 e V6). Essa parede é denominada anterior extensa é o pior de todos os infartos, sendo o mais associado a choque cardiogênico. DI e AVL formam a parede lateral alta, que é irrigada pela circunflexa. V1 e V2 é irrigada pela descendente anterior. A aVR é a única derivação que pode suprar sozinha. Então o supra de aVR é um supra que indica lesão na via de saída da coronária esquerda, antes da bifurcação ou muito proximal a bifurcação da coronária esquerda. Lembrarque a coronária esquerda se bifurca em descendente anterior e circunflexa. Então um supra de aVR sozinha indica uma lesão nessa localização, de trombo de coronária esquerda ou de equivalente de trombo, isto é, muito proximal a bifurcação da coronária esquerda. Por fim, temos um infradesnivelamente em D2 (laranja). O que tiver de infradesnivelamento na presença de um supra, eu chamo de espelho. Então, em um supra, o que estiver para baixo (abaixo da linha) – DII, DIII e aVF (nesse caso) – chamamos de espelho. Importante: esse infra não é um infra de lesão e sim de uma forma como uma parede enxergou uma lesão que está ocorrendo em outra parede, ou seja, não necessariamente essa parede do infra está sendo lesionada. 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 Nesse ECG, temos DII, DIII e aVF suprado (60- 70% dos infartos são de parede inferior). Além disso, DI e AVL estão espelhados. Resumo: infarto de parede inferior com espelho em lateral alta. Ademais, bem pormenorizado V5 e V6 também estão suprados (só consegue enxergar se tive um olho clinico BEM apurado, mas não muda nada na conduta ver o V5 e V6 suprados). A partir de quantos mm do ponto J é infarto? Depende! A partir de 0,5mm nas derivações precordiais (V1 até V6) e a partir de 1mm nas periféricas. Isso não é usado! Uma das dicas mais cruciais é não contar quadradinho. O principal é ver o alargamento do QRS antes de tudo, mas isso pode variar de pessoa para pessoa. Destaque para DII, DIII e aVF. De início poderia até achar que isso era uma alteração de repolarização precoce, mas quando se vê infra, a certeza de que é realmente um infarto é maior, pois só tem espelho quando tem corrente de lesão (V1, V2, V3, V4, DI e AVL espelhados → corrente de lesão). Todo infra na presença de um supra vai reforçar a possibilidade de aquele supra ser de infarto. Supra de V2, V3 e V4 (infarto de parede ânteroseptal). Supra de V2, V3 e V4 (V2 e V3 formam um par por contiguidade). Além disso, tem um supra modesto em DI e AVL. Dessa forma, tem-se um supra ânteroseptal, um supra de parede lateral alta e um espelho lateral e de parede inferior. É importante lembrar que o ECG é um exame que tem que sair em 10 minutos da entrada do paciente no pronto atendimento (tempo porta-ECG), sendo o primeiro exame a ser pedido. Nos grandes serviços, qualquer paciente com dor precordial, a enfermeira já leva para o médico com o ECG feito durante a triagem. *O atraso de repolarização normalmente está mais associado a uma onda T maior e um intervalo QT 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 maior. O alargamento de QRS está associado a um atraso de despolarização (e não de repolarização), pois o QRS é o conjunto de ondas que representa a despolarização ventricular; normalmente atrasos de QRS sinalizam bloqueio de ramo. Supra de DII, DIII e AVF (envolvimento de parede inferior), com possível acometimento de coronária direita. Tem também um espelho em anteroseptolateral (V2, V3, V4 e V5 espelhado). Supra de DII, DIII e AVF (acometimento de parede inferior – mais comum). Além disso, tem um supra em V3, V4, V5 e V6 (acometimento de parede anterolateral). Existe um espelho em DI e AVL. Outro ECG de parede inferior. Supra em V1 e supra de AVR (é o que mais chama atenção). Lembrar que AVR suprado sozinho indica infarto de tronco ou equivalente de tronco. Supra de V1 e supra de aVR (é o que chama atenção). Apesar do QRS estar um pouco alargado, não chega a fazer um bloqueio de terceiro grau; em AVL mesmo chega a ficar um pouco mais curto. Então, talvez tenha um bloqueio de ramo esquerdo de segundo grau, algo que não impede o laudo de supra, porque o que impede o laudo de supra é o bloqueio de terceiro grau. Sempre que tiver supra de V1 se deve pedir V3R e V4R. 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 Supras que se pede V3R e V4R são supras de DII, DIII e aVF (parede inferior – coronária direita), pois a mesma coronária que irriga a parede inferior irriga o ventrículo direito (pensando em infarto de VD). É importante saber se o ventrículo direito está infartado ou não, pois isso muda a conduta. O mesmo acontece com supra de V1; a depender de onde quem fez o eletro tenha colocado a derivação de V1, se colocou muito para a direita, o V1 vai estar mapeando muito mais VD do que o septo. Nesse caso, o supra de V1 vai funcionar como V2R; se o V3R tiver suprado também, o V4R nem precisa estar, pois o V1 se torna V2R e o V3R vai estar suprado (par V2R e V3R por continuidade). Supra de AVR (lesão de tronco ou equivalente de tronco de CE) = lesão circunferencial. OUTRAS CAUSAS DE SUPRA QUE NÃO SIGNIFICAM INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO – IAM • Pericardite; • Alteração precoce de repolarização; • BRE (bloqueio de ramo esquerdo); • Aumento da PIC (pressão intracraniana); • Síndrome de Brugada. PERICARDITE É um supra difuso que poupa AVR e V1. Então, supra difuso, paciente jovem, se for pós-COVID → fecha diagnóstico. Importante lembrar que COVID complica muito com pericardite. Infartou todas as coronárias ao mesmo tempo? Não, pois não é infarto, e sim pericardite (característica – pupa AVR e V1). Anda junto com miocardite. O tratamento (anti-inflamatório e colchicina por 2 meses) não tem nada a ver com tratamento de infarto. BLOQUEIO DE RAMO ESQUERDO Todo BRE tem supra, tanto que a American Heart diz que se o bloqueio for novo ou presumivelmente novo, trata como se fosse infarto. Acontece que no caso acima essa supra não é do infarto e sim do bloqueio, pois faz uma alteração de repolarização precoce, um atraso de repolarização. Diante de um BRE, uma coisa interessante a se fazer é procurar os critérios de Sgarbosa: Critérios de Sgarbosa Pontuação Supra de ST >= 1 mm concordante com o QRS em qualquer derivação 5 pontos Intra de ST >= 1mm concordante com o QRS em V1, V2 ou V3 3 pontos Supra se ST >5 mm discordante do complexo QRS em qualquer derivação 2 pontos Em V1 o QRS está para baixo e o supra está para cima (“supra para cima” é pleonasmo, pois todo supra é para cima, pois se for para baixo é infra). Em V2 o QRS também está discordante do supra, assim como em V3 e V4. Dessa forma, como não são concordantes, já não possui os 5 primeiros pontos dos Critérios de Sgarbosa. O segundo critério diz que em V1, V2 e V3 o infra concordante com o QRS; 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 no exemplo acima não existe nenhum infra. Em V1, V2 e V3 só tem supra; só tem infra V5, V6, DII, DIII, aVF, ou seja, já não tem os 3 pontos do segundo critério. Para finalizar, os supras do exemplo acima tem 3,5 quadradinhos no máximo, não chegando a 5 mm, não preenchendo o 3º critério. 5 pontos ou mais, deve-se tratar como se fosse infarto. 3 pontos é duvidoso; abaixo de 3 pontos, possivelmente, não é infarto. Para ser infarto, tinha que ser como esse primeiro exemplo acima: QRS largo com supra concordante (os dois pra cima). Os outros critérios seriam um supra gigante (>5mm) em qualquer QRS, independente do que seja, se é concordante ou não (exemplo 2), ou é um infra ≥ 1 mm em V1, V2 e V3 concordante com o QRS, ou seja, o QRS está para baixo e o infra também (exemplo 3). ALTERAÇÃO DE REPOLARIZAÇÃO PRECOCE Quando isso acontece significa que não se tem nem tempo do QRS fazer um seguimento ST, já emendando direto → faz um RS e já vai direto para a T. A regra é: onda P, QRS e T (exemplo desenhado). Já na repolarização precoce, não existe nenhum espaço entre o QRS e a onda T, sem nenhum seguimento ST, a onda T emenda no QRS. Quando a onda T emenda desse jeito no QRS, o seguimento ST fica elevado, ele eleva o ponto J, mas nem por issoé um infarto. O exemplo acima só não é uma alteração de repolarização precoce por conta dos infras presentes. Os infras denunciam que os pontos J (supradesnivelamento) é de infarto. SÍNDROME DE BRUGADA Apenas em V1 e V2 existe um supradesnivelamento de seguimento ST, o ponto J fica lá em cima, além da presença de uma deflexão intrinsecóide do seguimento ST, uma descida em plano inclinado do seguimento ST, tanto em V1 quanto em V2. Neste caso é síndrome de Brugada tipo 1, mas existe a T2. 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 Esse ECG, muita gente acha que tem um supra em DIII e em AVF, dando laudo de parede inferior, mas não é. Olhando mais de perto se percebe um QRS largo, com seguimento ST bem alinhado com a onda T, caracterizando um BRD (bloqueio de ramo direito). DI positivo, orelha do Batman. Acharam que tinha um supra de AVR, mas é um BRD (bloqueio de ramo). Alargamento gigantesco de QRS. Esse é um caso de um paciente que chegou com dor precordial atípica, mais parecida com gastrite do que com infarto. Não fibrinolisa. BIOMARCADORES CARDÍACOS Prática do professor: CK-MB e Troponina. O BNP e o pró-BNP é solicitado mais no contexto de diferenciação de dispneia, de insuficiência respiratória cardiogênica para insuficiência respiratória de outras causas. A CK-MB e a troponina são as maiores enzimas, sendo que de longe a troponina é a mais sensível e específica. O problema dessas enzimas, da troponina em si, é que demora muito (às vezes até 8 horas) para positivar. A CK-MB é uma enzima que começa a se elevar nas primeiras duas horas, mas também não é tão específica quando a troponina. No infarto, tempo é músculo!!! O melhor mesmo é uma elevação de troponina seriada. Então, o ideal é ter um kit quantitativo, não o qualitativo (positivo e negativo), para poder seriar e fechar o diagnóstico de infarto. Como as enzimas demoram para sair, não se pode esperar esse tempo todo. Nesses casos, deve-se tentar ao máximo dar o diagnóstico através do ECG (supra) e fibrinolisar ou fazer a angioplastia primária dentro do menor tempo possível. Para fazer isso, não é necessário enzima. QUESTÃO DE PROVA: a estratégia de reperfusão deve ser guiada pelo ECG, pela clínica do paciente e troponina em elevação → FALSO!. Ninguém em sã consciência vai esperar a troponina se elevar, pois o exame é solicitado a cada 6 horas, já passando do tempo de reperfusão. Lembrando que a cada 4-6 horas a CK-MB e a troponina são feitas com intenção de seriar. TRATAMENTO DO IAMCSST OU COM BRE NOVO OU PRESUMIVELMENTE NOVO MONACH • Morfina; • Oxigênio; • Nitrato; • AAS – ISIS 2; • Clopidogrel – CLARITY TIMI 28 e COMMIT – CCS; • Heparina – EXTRACT TIMI 25. AAS E CPOPIDROGREL O AAS e o Clopidogrel é a dupla de ataque. Não tem como entrar no infarto sem AAS e clopidogrel, é simples e faz muito bem ao paciente, reduzindo mortalidade em quase 20% (só o AAS reduz 10%). Ambos são antiagregantes plaquetários! O AAS age na COX inibindo a expressão plaquetária de tromboxano A2 (fator mais importante de agregação plaquetária), enquanto o clopidogral inibe a expressão plaquetária de P2Y12, receptor da adenosina difosfato da plaqueta, que também é responsável pela agregação plaquetária. • Dose do AAS: 200-300mg (160-325mg de forma mais precisa, fora do Brasil) na prática. O AAS aqui no Brasil só tem de 100mg. O professor disse que faz 200mg sempre, porque “less is more”. • Dose do clopidogrel: 300-600mg. No Brasil, o comprimido do clopidogrel tem 75mg. Então, a terapia varia de 4-8 comprimidos. Caso o paciente vá para angioplastia (ICP) – hemodinâmica é feita a dose máxima de clopidogrel (600mg), evitando trombose de stent. No entanto, se a estratégia for fibrinólise ou não for nenhuma estratégia de reperfusão por qualquer que seja o motivo é feito 300mg de clopidogrel. Se o paciente tiver > ou = a 75 anos, faz apenas 1 comprimido de 75mg. 9 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 OXIGÊNIO Normalmente faz com cateter nasal, porque o problema primário desse paciente não é pulmonar. Faz O2 se a SatO2 < 94%. Caso seja dado O2 para um paciente que está infartando e tem mais de 94% de saturação, aumenta a mortalidade, por estressar ainda mais o miocárdio, liberando ainda mais radicais livres. NITRATOS • Isordil 5mg sublingual – 1 comprimido. • Tridil solução padrão IV em BI ACM (bomba de infusão a critério médico). Ambos possuem tempo médio de ação rápido. O nitrato é um liberador de GMP cíclico. Libera NO → GMP cíclico → vasodilatação. Tridil: vasodilatador coronariano direcionado, específico. Por conta disso, dilata a periferia, mas não na mesma intensidade que o isordil dilataria. Lembrando que é uma ampola de tridil em 250mL de soro (solução padrão de tridil na maioria das unidades), coloca para correr IV na bomba de infusão a critério médico (ex: 10mL/h de tridil. Caso perceba que aquela dor do paciente não cedeu, vai aumentando até melhorar, para 15mL/h → 20mL/h...). Caso tenha infarto de VD não pode usar nitrato, principalmente o isordil. O tridil até que dá, caso o paciente esteja bem monitorizado, principalmente se precisar monitorizar o VD dele, ver o TAPS, grau de contratilidade, tamanho. Logo, caso seja possível monitorizar o VD, melhor ainda; avalia o diâmetro da veia cava superior, veia cava inferior, lembrar que o diâmetro de veia cava é determinado pelo VD. O eco beira leito torna muito mais segura a utilização do tridil em um paciente que está infartando o VD. O nitrato serve exclusivamente para melhorar a dor. O AAS e clopidrogrel não melhoram a dor. O ideal é evitar qualquer nitrato em infarto de VD, só abre mão, utilizando o tridil (mais vasodilatador coronariano possível, dilata a periferia, mas dilata mais ainda a coronária) em pacientes que não conseguem esperar a fribrinólise com a dor. O isordil vasodilata tudo, piora a hemodinâmica do VD, porque o VD é a câmara mais dependente de pré-carga do coração. A vasodilatação aumenta a impedância do vaso, ou seja, aumenta a capacidade que o vaso tem de armazenar sangue, ou seja, deixa mais sangue dentro do vaso e menos sangue em outros lugares, incluindo o coração. Como o VD depende de pré- carga para contrair bem, quanto mais sangue dentro do vaso, menos sangue em VD, pior vai ser a contração de VD. Em resumo, já é uma musculatura que não está contraindo bem, porque tem parte da parede perdida devido ao infarto, e ainda não fornece o volume suficiente para ele, piora a situação, aumentando o risco de choque cardiogênico. VD é dependente de pré-carga, se ela é prejudicada, reduz ainda mais a contratilidade e a dinâmica desse ventrículo. Importante: TEP mata por sobrecarga de ventrículo direito, falência de VD. MORFINA Opiáceo. Não entra nessa situação de IAM devido ao seu poder opiáceo, e sim devido ao seu poder vasodilatador. Então, a mesma ressalva que é usada pra o isordil é utilizada para morfina, logo, não é utilizado tão quanto não é utilizado o isordil para infarto de VD. • 2-4mg IV em bolus, e avalia a cada 10min. Normalmente, é utilizada apenas 1 dose. O uso da estatina no momento do IAM não resolve. Ela reduz LDL e colesterol, mas só age em 2 semanas, sendo conduta pós infarto. No momento agudo só é utilizado o que muda a mortalidade naquele momento. Após 24 de resolvido o IAM (estabilização do paciente) fornece estatina. O betabloqueador reduz trabalho cardíaco, reduzindo consumo miocárdico de O2. Na fase inicial não apresenta benefício, podendo inclusive gerar malefício, como por exemplo, bradiarritmias graves, BAV de 2º mobitz 1, BAVT, entre outros. O IAM principalmente de parede inferior faz um reflexo chamado de Bezold Jarisch que abre com bradiarritmias.Essas complicações podem ser transitórias ou não, e o betabloqueador pode complicar ainda mais essas circunstâncias. Resumo: Infarto de parede inferior → não usa betabloq, pois a chance de BAV é maior. Infarto de 10 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 outras paredes → se quiser usar, usa, se não quiser, não usa. É aconselhável não usar! ESTRATÉGIA DE REPERFUSÃO (FIBRINÓLISE X ICP) Somente devemos pensar em uma estratégia de reperfusão se o tempo de início dos sintomas até o tempo de reperfusão for < 12h (idealmente <6h). O AAS e o clopidogrel não farão tanta diferença sem uma estratégia de reperfusão adequada. O que realmente vai salvar o paciente de ter uma insuficiência cardíaca isquêmica por aquele infarto ou ter uma parede perdida, necrosada é a estratégia de reperfusão que será adotada. Existem dois tipos de estratégia: 1: Momento imediato → ICP; 2: Momento posterior → Fibrinólise. ICP – INTERVENÇÃO CORONÁRIA PERCUTÂNEA É o método preferencial para reperfusão no infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCST). Estratégia para o momento imediato (ICP via hemodinâmica - entra com uma espécie de fio guia até a coronária obstruída, balona, abre a coronária e posteriormente coloca um stent - mola ensacada metálica - para fazer com que aquela área da coronária não feche mais). • Kilip >= 3; • Tempo para realização do exame <90 min; • Serviço de hemodinâmica disponível; • Contraindicação ao uso de trombolíticos; • Diagnóstico de IAM duvidoso. FIBRINÓLISE - QUÍMICA Estratégia para um momento mais posterior. É uma estratégia de reperfusão química, em que será dada uma substância que vai tocar no trombo e dissolvê- lo. • Killip <= 2; • Tempo para realização de ICP >90 minutos; • Serviço de hemodinâmica indisponível. A ICP sempre possui vantagens em cima da fibrinólise, sendo sempre melhor, porém, em alguns cenários, esse benefício da ICP em relação à fibrinólise é ínfimo, não possuindo boa estatística. Exemplo: IAM Killip 1 e 2 tanto faz fibrinolisar ou fazer ICP (leve benefício – não tem significância estatística, para o paciente vai dar no mesmo). Já no IAM Killip 3 e 4 a ICP possui um benefício muito maior em relação a fibrinólise. Neste último caso, é melhor tentar uma vaga na hemodinâmica do que fibrinolisar o paciente. O tempo de realização é algo muito importante, pode esperar até 90min para fazer ICP. Caso seja percebido que essa ICP vai demorar mais de 90min para ser feita, a fibrinólise deve ser feita, sendo mais vantajoso nesse caso, já que o tempo ideal para realização de ICP é de menos de 90min, independente do Killip. Lembrar que tempo é músculo. Caso tenha serviço de hemodinâmica, faz logo ICP. Onde tem serviço de hemodinâmica, não fibrinolisa ninguém. Cateterismo → angioplastia. Caso haja contraindicação para o uso do fibrinolítico, como por exemplo: paciente fez AVC hemorrágico, pressão elevada sem conseguir abaixar, HDA (hemorragia digestiva alta) → ICP. Caso o diagnóstico de IAM seja duvidoso, melhor fazer a ICP (manda para o cate que estuda e avalia se realiza ou não a angioplastia), porque as complicações da ICP são menos piores que as complicações da fibrinólise. Caso uma ICP complique, o máximo que ocorrerá é um sangramento no local da punção (radial ou femoral), caso seja uma fibrinólise que complique, terá um sangramento digestivo ou cerebral (intraparenquimatoso, AVC hemorrágico, HSA), sendo na maioria das vezes fatal ou deixando sequelas permanentes no paciente. Caso seja identificado que o paciente possui mais critérios para ICP e se tenha hemodinâmica em menos de 90min, será feita a dose de ataque de clopidogrel de 600mg e enviar o paciente apenas com isso, AAS, isordil se tiver dor e o VD permitir ou tridil. Morfina se a dor for refratária a isordil (usa isordil primeiro, se o isordil não melhorar a dor, faz morfina depois). DOSE DOS FIBRINOLÍTICOS • Ativador do plasminogênio tecidual (alteplase – actilise): ❖ 15mg IV em bolus; 11 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 3 ❖ 50 mg IV em 30 min pela BI; ❖ 35 mg IV em 60 min pela BI (bomba de infusão). • Tenecteplase (Metalise): muito mais fácil. É feita pelo peso e é uma dose em bolus única. Quando pode adotar uma ICP ou fibrinólise? Quando o paciente tiver dor torácica com menos de 12h, com supra de ST ou BRE novo ou presumivelmente novo. Caso o paciente tenha um ECG normal, não fibrinolisa, ele vai ser submetido depois a um cateterismo de investigação (cate eletivo). CUIDADOS: não administrar em acesso venoso central, só em acesso venoso periférico. Depois de administrar o fibrinolítico, 24h depois não puncionar nenhum acesso central, não passar sonda vesical de demora nem de alívio pelo risco de trauma uretral. Se a estratégia de reperfusão adotada for ICP, não faz heparina. O hemodinamicista faz heparina na hora da reperfusão. Se a estratégia for fibrinólise faz 30mg de clexane IV antes de realizar a fibrinólise.
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