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Ester Paiva - P8M1 2024/1 Reb���a��n�� do Níve� de Con���ên�i� na Eme��ên�i� Coma é causado por desordens que acometem o sistema reticular ativado no tronco cerebral ou que afetam ambos os hemisférios cerebrais. ● Anamnese detalhada, exame físico cuidadoso (que inclui exame neurológico básico) e muitas vezes exames complementares básicos conseguem elucidar a causa do coma. ● As encefalopatias difusas geralmente são causadas por doenças clínicas. ● Por sua vez, as encefalopatias focais (quer supra, quer infratentoriais) geralmente são causadas por doenças intracranianas. ● As causas mais frequentes de coma no departamento de emergência são reversíveis , mas podem se tornar irreversíveis se não reconhecidas e tratadas de forma ágil e correta. Na abordagem inicial do paciente em coma , deve-se lembrar de que o ABCD primário e o secundário são prioritários. ● Rápida estabilização das funções vitais deve ser seguida de busca e tratamento das causas reversíveis. ● Não esquecer da glicemia capilar (dextro) em todos os pacientes comatosos ● Deve-se sempre atentar ao risco de precipitação de uma encefalopatia de Wernicke em pacientes com potencial deficiência de tiamina (etilistas crônicos, indivíduos que se encontram em situação pós-cirurgia bariátrica, portadores de doenças gástricas, indivíduos com vômitos incoercíveis e indivíduos com transtornos alimentares como anorexia nervosa). ● Se não houver uma causa imediatamente reversível para o coma (p. ex., hipoglicemia), proceder à intubação orotraqueal precocemente . Após a estabilização inicial e uma sumária avaliação neurológica, o médico deve estar apto a reconhecer as situações de lesão difusa ou multifocal do sistema nervoso central (SNC) e a presença de encefalopatias focais, quer por lesões supratentoriais, quer por lesões infratentoriais. ● Lesões supratentoriais , embora possam comprometer o nível e o conteúdo de consciência, excepcionalmente levam a coma . Exceção a essa regra são pacientes com lesões com caráter hipertensivo e que gerem herniações (hérnia transtentorial central, lateral ou uncal e hérnia subfalcina). ● Lesões infratentoriais podem comprometer a consciência por ação direta sobre a formação reticular ativadora ascendente (FRAA) ou por compressão extrínseca às vias de consciência. Definição : Inconsciência ou coma é um estado de ausência de perfeito conhecimento de si próprio e do meio ambiente, resultante de uma diversidade de etiologias e patologias. O paciente é completamente inconsciente e indiferente a estímulos externos, com exceção das respostas motoras, como abertura dos olhos. Fisiopatologia : Componentes a serem analisados: ● Nível (grau de alerta do indivíduo): depende de projeções para todo o córtex oriundas da formação reticular ativadora ascendente (FRAA), situada na porção posterior da transição pontomesencefálica Ester Paiva - P8M1 2024/1 ● Conteúdo : função do córtex cerebral (funções nervosas superiores), sendo afetado por lesões restritas a essas estruturas. ● Causa estrutural (encefalopatia focal ): Infratentoriais, que acometem diretamente a FRAA e Supratentoriais (geralmente doença intracraniana); tumores, hemorragia intraparenquimatosa, hematoma subdural ou epidural e abscesso cerebral, entre outros ● Coma por encefalopatias difusas e/ou multifocais (causadas por doenças clínicas, como transtornos metabólicos e intoxicações agudas); hipoglicemia, hipoxemia, hiponatremia, uremia, intoxicação aguda, hemorragia subaracnóidea, meningite e estado epiléptico, entre outros. ● Exceções : Meningites, múltiplas metástases cerebrais, hemorragia subaracnóidea e hipertensão intracraniana (Manitol a 20%) podem levar a um quadro de encefalopatias difusas, ao passo que hipoglicemia e encefalopatias hepática e urêmica podem apresentar-se com sinais localizatórios, simulando uma encefalopatia focal Estado de consciência : Alterações de nível de consciência: ● Coma. ● Estado vegetativo persistente. ● Estado mínimo de consciência. ● Estados confusionais agudos. ● Morte encefálica. Falsas alterações de nível de consciência: ● Retirada psíquica. ● Estado deseferentado ou locked-in syndrome. ● Catatonia. Causas : 1. Trauma cranioencefálico: Contusão cerebral e/ou hemorragia intracerebral e/ou hemorragia subaracnóidea; Lesão axonal difusa com edema cerebral (Anticonvulsivante: fenitoína 15 a 20 mg/kg; Cabeceira elevada 45°; Manitol a 20% 1,0 g/kg) 2. Vasculares ou estruturais: AVC Isquêmico, AVC Hemorrágico, Hemorragia subaracnóidea, Hematoma subdural ou epidural espontâneo, Hidrocefalia aguda, Trombose venosa central, tumor de fossa posterior… 3. Infecções: Sepse e choque séptico, Meningites, Encefalites, Abscessos cerebrais ou empiema… 4. Epiléptica: Estado epiléptico clássico (convulsivo) ou não convulsivo 5. Metabólicas, endócrinas ou sistêmicas: Choque, Hipoglicemia ou hiperglicemia, Hipoxemia e/ou hipercapnia, Uremia, Hipercalcemia, Hiponatremia ou hipernatremia, Insuficiência adrenal aguda (crise addisoniana) 6. Intoxicações agudas: Álcoois tóxicos (metanol, etilenoglicol e paraldeído), Anticolinérgicos, Anticonvulsivantes, Antidepressivos (tricíclicos, serotoninérgicos ou inibidores da MAO), Anti-histamínicos, Antipsicóticos, Benzodiazepínicos, barbitúricos e drogas sedativas Ester Paiva - P8M1 2024/1 7. Vasculites do SNC Encefalomielite disseminada aguda Exame clínico Sinais de trauma : ● Fratura da base de crânio : Equimose periorbital, Edema e descoloramento da mastoide atrás da orelha, Hemotímpano, Perda de liquor cefalorraquidiano pelo nariz (rinorreia) ou ouvido (otorreia) -> A rinorreia causada por perda de liquor pode ser confirmada pela presença de β-2 transferrina. A palpação do crânio pode mostrar tecidos edemaciados ou mesmo depressão do crânio por fraturas. Pressão arterial : ● Encefalopatia hipertensiva: hipertensão de longa data e frequentemente com valores pressóricos acima de 250 × 150 mmHg ● Níveis elevados de PA são sugestivos de causa neurológica do rebaixamento do nível de consciência Temperatura : ● hipotermia : pode ocorrer nas intoxicações agudas (etanol, drogas sedativas, hipoglicemia, encefalopatia hepática e mixedema) ● hipertermia : infecções, estado epiléptico, hipertermia maligna, intermação (heat stroke), hemorragia pontina, lesões hipotalâmicas e intoxicações agudas (p. ex., anticolinérgicos). Exame Neurológico 1. Nível de consciência. 2. Pupilas e fundo de olho. 3. Motricidade ocular extrínseca. 4. Padrão respiratório. 5. Padrão motor. 6. Escala FOUR (Full Outline of UnResponsiveness Score) Nível de consciência : ● Se abertura ocular sem consciência: estado vegetativo persistente; coma pressupõe olhos fechados. Ester Paiva - P8M1 2024/1 Pupilas e fundo de olho : ● Fundo de olho: pode mostrar evidências de doenças clínicas, como: diabetes e hipertensão; pressão intracraniana, doenças oftalmológicas como citomegalovírus ● Pupilas: observa-se o diâmetro das pupilas, simetria ou assimetria (iso e anisocoria), reflexos fotomotor direto e consensual. A alteração das pupilas é forte indício de lesão estrutural. Motricidade ocular extrínseca (MOE): ● Nervos III (oculomotor), o IV (troclear) e o VI (abducente) Ester Paiva - P8M1 2024/1 A análise da MOE é feita emcinco etapas: 1. Observação de movimentos oculares espontâneos, desvios conjugados do olhar ou desalinhamentos oculares 2. Manobra oculocefálica: lado direito e esquerdo e posteriormente no sentido de flexão e extensão da cabeça sobre o tronco (normal é olhos se movimentarem para o lado contrário) 3. Manobra oculovestibular (provas calóricas): paciente com cabeça a 30º, água gelada (50 a 100 mL) é injetada no conduto auditivo externo de um lado e repetido do outro lado após 5 minutos. Fisiológico: nistagmo com a fase rápida na direção contrária à qual se injetou a água gelada; Coma: desvio tônico e conjugado do olhar ipsilateral à orelha “inibida”. 4. Reflexo corneopalpebral (estímulo na córnea): fenômeno de Bell 5. Observação das pálpebras: a pálpebra, em geral, está fechada nos pacientes em coma ● Movimentos oculares preservados: comprovados por motricidade espontânea e manobra oculovestibular ou oculocefálica. ● Movimentos oculares comprometidos: sugerem lesões estruturais infratentoriais ou causas tóxicas Padrão motor : 1. Observação da movimentação espontânea do paciente. 2. Pesquisa de reflexos: atenção à simetria, analisando a presença de sinais patológicos como sinal de Babinski e reflexo patológico de preensão palmar (grasp) Ester Paiva - P8M1 2024/1 3. Pesquisa do tono muscular: pela movimentação e balanço passivos, com atenção a hipertonia, hipotonia e paratonia. 4. Observação dos movimentos apresentados pelo paciente à estimulação dolorosa Pode ser observado: ● Hemiparesia com comprometimento facial: sugere envolvimento hemisférico contralateral. ● Hemiparesia com comprometimento facial e paratonia: sugere envolvimento hemisférico contralateral ● Sinergismo postural flexor (decorticação): disfunção em nível supratentorial ● Sinergismo postural extensor (descerebração): Pode ocorrer com lesões na altura do tronco encefálico alto ● Flacidez e ausência de resposta: sugere lesão periférica associada, ou lesão pontina baixa e bulbar. Escala FOUR (Full Outline of UnResponsiveness Score): Utilizada se pacientes intubados e naqueles com pontuação muito baixa na escala de Glasgow: Ester Paiva - P8M1 2024/1 *Obedece aos comandos com o sinal do polegar, fecha o pulso ou faz o sinal da paz Exames complementares 1. Exames para causas tóxicas, metabólicas, infecciosas ou sistêmicas: hemograma, eletrólitos (inclusive cálcio), gasometria arterial, função renal, função e enzimas hepáticas, glicemia, coagulograma, exame de urina e eletrocardiografia; hemoculturas, exames toxicológicos, dosagem de anticonvulsivantes em epilépticos, dosagem de hormônios tireoidianos, hormônios adrenais etc. Ester Paiva - P8M1 2024/1 2. Exames para investigação de causa primariamente neurológica: TC de crânio sem contraste; Ressonância; Punção Liquórica (meningite e/ou encefalite); Eletroencefalograma de urgência; Diagnóstico diferencial ● Epilepsia ● Depressão grave e transtornos psiquiátricos ● Estado vegetativo persistente ● Estado mínimo de consciência Causas mais comuns de rebaixamento do nível de consciência em adulto AEIOUTIPS ● A Álcool/acidose ● E Epilepsia/encefalopatia/eletrólitos/endócrino ● I Infecção (sepse, meningite) ● O Overdose (álcool, medicação)/opioides ● U Uremia ● T Trauma/toxicidade ● I Insulina (diabetes) ● P Psicose ● S Stroke (AVCi ou AVCh) Morte Encefálica ● Reconhecimento de uma causa conhecida e irreversível do coma. ● Demonstração de um coma aperceptivo com ausência de reflexos do tronco encefálico. ● Evidência de falência do centro respiratório a ser constatada por meio do teste da apneia. ● Ausência de perfusão sanguínea e de atividade elétrica ou metabólica encefálica a serem constatadas por meio de exames complementares. Ester Paiva - P8M1 2024/1 Fluxogramas e Condutas Estabilização Inicial : ● ABCD primário e secundário são prioritários; garantir a patência das vias aéreas, oxigenação adequada e estabilidade hemodinâmica é fundamental ● Realizar a glicemia imediatamente: 100 mL IV de G50% se hipoglicemia + tiamina IV (300 mg), se indicada ● Administração de tiamina mesmo se normoglicêmico, nas seguintes situações: etilistas crônicos, desnutridos, indivíduos com dieta parenteral, indivíduos pós-cirurgia bariátrica, portadores de doenças gástricas, indivíduos com vômitos incoercíveis (incluindo hiperêmese gravídica), indivíduos com transtornos alimentares como anorexia nervosa ● MOV: monitorização (PA não invasiva, oxímetro, cardioscópio), oxigênio e acesso venoso com coleta de exames laboratoriais; realizar exames POC na sala de emergência ● Considere administrar naloxona (opioide) ou flumazenil (benzodiazepínico), se indício de intoxicação ● IOT de rápida sequência se não houver uma causa reversível para o coma (p. ex., hipoglicemia, intoxicação por opioide ou benzodiazepínico, estado pós-ictal etc.) ● Iniciar medidas clínicas imediatamente se achados de hipertensão intracraniana (anisocoria, papiledema e ultrassom POC com nervo óptico > 5 mm etc.) ● Se história compatível com meningite, prescrever corticoide e antibióticos imediatamente (não esperar pela TC ou punção lombar) ● Se trauma ou achados clínicos sugestivos de doença vascular ou estrutural, realizar TC imediatamente após a estabilização clínica (p. ex., intubação, volume etc.) ● Se crises epilépticas precedendo o rebaixamento do nível de consciência ou presença de movimentos involuntários (mesmo que sutis), suspeitar de estado de mal não convulsivo e considerar a prescrição de fenitoína endovenosa. Causas de rebaixamento do nível de consciência e tratamento : ● Hipoglicemia: Glicose 50% 40 mL EV ● Hiperglicemia (CAD, HHO): Cristaloides EV, insulina ● Sepse: Cristaloides EV, antibiótico dirigido, controle do foco (Ceftriaxone 1g 12h em 12h ou 2g dose única) ● Hiponatremia: Restrição de água livre, solução salina hipertônica se houver convulsão (fenitoína 15 a 20 mg/kg) ● Hipercalcemia: Cristaloides EV ● Uremia: Tratar hipercalemia (Gluconato de Cálcio), hemodiálise (IRC e dialítico -> não faz soro) ● Encefalopatia hepática: Lactulose, considerar clister via retal ● Crise tireotóxica: Cristaloides EV, considerar betabloqueador e propiltiouracil ● Coma mixedematoso Lentidão: Hidrocortisona 100 mg EV, levotiroxina ● Opioides: Naloxona 0,4 mg EV ● Monóxido de carbono: Oxigênio a 100%, considerar câmara hiperbárica ● Betabloqueadores: Glucagon 5 mg EV, atropina 0,5 mg EV, considerar marcapasso e adrenalina ● Síndrome serotoninérgica: Cristaloides EV, conferir CK, benzodiazepínicos ● Hemorragia: TC sem contraste, reverter anticoagulação (se estava em uso) Terapia antimicrobiana empírica para meningite purulenta : ● 2-50 anos: Vancomicina + cefalosporina de terceira geração -> Ceftriaxona ou cefotaxima ( N. meningitidis , S. pneumoniae ); ● >50 anos: Vancomicina + ampicilina + cefalosporina de terceira geração ( S. pneumoniae , N. meningitidis , L. monocytogenes , bacilos gram-negativos aeróbios) ● Fratura da base do crânio: Vancomicina + cefalosporina de terceira geração( S. pneumoniae , H. influenzae , estreptococos beta-hemolíticos do grupo A) ● Trauma penetrante: Vancomicina + cefepima; OU vancomicina + ceftazidima; OU vancomicina + meropenem Ester Paiva - P8M1 2024/1 Avaliação emergente e tratamento de estupor e coma em adultos História: ● Qual foi o período da perda de consciência?Foi abrupto (por exemplo, hemorragia subaracnóidea, convulsão), gradual (por exemplo, tumor cerebral) ou flutuante (por exemplo, convulsões recorrentes, hematoma subdural, encefalopatia metabólica)? ● Os sinais ou sintomas focais precederam a perda de consciência? Dor de cabeça e vômito logo antes da perda de consciência podem indicar hemorragia intracraniana. ● O paciente teve episódios neurológicos anteriores que sugeriam ataques isquêmicos transitórios ou convulsões? ● Que doença recente o paciente teve? Houve alteração de comportamento ou função recentemente? ● Quais medicamentos prescritos ou não prescritos são usados? Existem condições médicas ou psiquiátricas? Existe histórico de abuso de álcool ou drogas? Ester Paiva - P8M1 2024/1 Avaliação : ● Sinais vitais e exame geral (lembrar de perguntar sobre anormalidades mucocutâneas como equimose periorbital (fratura de base de crânio); petéquias e equimoses -> distúrbios coagulativos, septicemia meningocócica; hemorragias subungueais e conjuntivais -> endocardite) ● Exame neurológico completo (descrito acima) e ECG; lembrar de fazer fundo de olho. ● Laboratórios de triagem (hemograma completo, glicose, eletrólitos, BUN, creatinina, PT, PTT, ABG, testes de função hepática, triagem de drogas) ● Tomografia computadorizada de crânio: priorizar sinais neurológicos focais, papiledema, febre ● Punção lombar: priorizar emergência após tomografia computadorizada se houver febre, leucócitos elevados, meningismo; caso contrário, faça de acordo com o nível de suspeita para diagnóstico ou se a causa permanecer obscura ● EEG: para possível convulsão não convulsiva ou se o diagnóstico permanecer obscuro ● Outros exames laboratoriais: hemoculturas, exames de adrenal e tireoide, exames de coagulação, carboxiemoglobina, concentrações específicas de medicamentos – fazer de acordo com o nível de suspeita para diagnóstico ou se a causa permanecer obscura ● RM cerebral com DWI, se a causa permanecer obscura Manejo : ABC: ● Intubar se GCS ≤8 ● Estabilizar a coluna cervical ● Suplemento ● Acesso IV ● Suporte de pressão arterial conforme necessário Medicamentos : ● Glicose 50% IV 50 mL ● Tiamina 100 mg IV ● Convulsões: Diazepam IV 100mg sem diluir (2-5mg/min) 2 tentativas e por último Fenitoína EV 125-500mg ● Infecção: Ceftriaxona e vancomicina; Aciclovir ● Intoxicação: Naloxona; Flumazenil; Lavagem gástrica/carvão ativado Ester Paiva - P8M1 2024/1
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