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Luíza Barreto – Medicina 2021.2 Insuficiência Cardíaca na Infância Síndrome clínica na qual o coração mostra-se incapaz de manter uma oferta sanguínea necessária à demandas metabólicas orgânicas basais e de crescimento. AHA-ACC definiram como uma síndrome clínica complexa que pode decorrer de qualquer transtorno estrutural ou funcional cardíaco que prejudique a capacidade dos ventrículos em se encher de sangue ou ejetar sangue. Na infância, a maioria das causas de insuficiência cardíaca são por cardiopatias congênitas. • Incidência de 0,8% (8 a cada 1000 nascimentos) • 1/3 a 1/2 são graves (óbito no 1º ano de vida) • 1/2 cursam com ICC • Incidência de ICC: 0,1 a 0,2% dos nascidos vivos TIPOS DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: • IC sistólica e diastólica • IC de alto e de baixo débito • IC aguda ou crônica • IC direita ou esquerda Obs: Esquerda ou direita na pediatria é complicado de diferenciar, principalmente nas crianças menores. IC sistólica: Existe a incapacidade do ventrículo de contrair-se normalmente e expelir sangue suficiente. IC diastólica: Existe a incapacidade do ventrículo de relaxar e/ou encher normalmente. IC aguda: Um exemplo é o IAM que ocorre subitamente. IC crônica: Um exemplo é a miocardiopatia dilatada, que se desenvolve lentamente. IC direita: Resulta em acúmulo de líquido em excesso atrás do ventrículo direito e tem como principais sintomas o edema, hepatomegalia congestiva e distensão venosa sistêmica. IC esquerda: Resulta em acúmulo de líquido em excesso atrás do ventrículo esquerdo, que está hemodinamicamente sobrecarregado ou enfraquecido. Os principais sintomas são dispneia e ortopneia em consequência da congestão pulmonar. ETIOLOGIA: - Sobrecarga de volume (pré carga) → ex: Cardiopatia congênita com hiperfluxo, insuficiência valvar e Doença de Ebstein, estado de hipervolemia. - Obstrução ao retorno venoso (pré carga) → ex: Estenose mitral, cortriatriatum, drenagem anômala de veias pulmonares (DAVP). - Sobrecarga de pressão (pós carga) → ex: Cardiopatias obstrutivas, hipertensão pulmonar e sistêmica. - Alterações do músculo cardíaco (contratilidade) → ex: Doenças infecciosas, distrofia muscular, drogas, doença metabólica. - Alterações no ritmo e FC → Ex: Bradiarritmias e taquiarritmias. ETIOLOGIA NAS PRIMEIRAS 48H DE VIDA: - Disfunção do miocárdio: Asfixia, sepse, hipoglicemia, hipocalcemia, miocardite, isquemia miocárdica transitória. - Anormalidades anatômicas: Insuficiência tricúspide, insuficiência pulmonar, fístulas A-V. - Arritmias: TSV paroxística, BAVT - Anormalidades hematológicas: Como a anemia e hiperviscosidade. Obs: A sepse e as taquiarritimias ou bradiarritmias são as principais causas, levando em consideração também as insuficiências valvares importantes. ETIOLOGIA NO PERÍODO NEONATAL, APÓS AS PRIMEIRAS 48H DE VIDA: - Anormalidades anatômicas: PCA, síndrome de hipoplasia do coração esquerdo, estenose aórtica severa, coarctação de aorta severa, drenagem anômala total de veias pulmonares, estenose pulmonar severa. - Disfunção do miocárdio → Pode ser uma sequela dos asfixiados graves, por aspiração de mecônio, hérnias diafragmáticas gerando compressão, etc. - Arritmias - Anormalidades do trato respiratório: Obstrução crônica das vias aéreas superiores, displasia broncopulmonar, hiperventilação secundária a doenças do SNC. - Nefropatias: Insuficiência renal, hipertensão arterial. Endocrinopatias: Hipertireoidismo, insuficiência adrenal. Obs: O mais comum são as cardiopatias dependentes de canal arterial e obstrutivas isquêmicas, como a síndrome de hipoplasia do coração esquerdo, a estenose aórtica severa, coarctação de aorta severa. Uma causa muito importante é a persistência do canal arterial. - A drenagem anômala total de veias pulmonares e a estenose pulmonar severa também são importantes, mas menos comuns. ETIOLOGIA DA PRIMEIRA SEMANA DE VIDA ATÉ O SEGUNDO MÊS: - Anormalidades anatômicas: Shunt em nível ventricular, aórtico-pulmonar, atrial. - Disfunção do miocárdio: Fibroelastose endocárdica, miocardite, glicogenose, doença de Kawasaki. - Alterações coronarianas: Origem anômala de coronária, calcinose coronariana. - Nefropatias - Endocrinopatias: Insuficiência adrenal, hipotireoidismo. Luíza Barreto – Medicina 2021.2 ETIOLOGIA NOS LACTENTES: - Anormalidades anatômicas: Shunt em nível ventricular, aórtico-pulmonar, atrial. - Disfunção do miocárdio: Fibroelastose endocárdica, miocardite, glicogenose, doença de Kawasaki. - Nefropatias - Endocrinopatias: Insuficiência adrenal, hipotireoidismo. ETIOLOGIA NOS ESCOLARES E ADOLESCENTES: - Anormalidades anatômicas: Shunt em nível ventricular, aórtico-pulmonar, atrial, doenças valvares - Disfunção do miocárdio: Fibroelastose endocárdica, miocardite, cardite reumática. - Nefropatias - Infecções - Pericardites Obs: Os shunts já perdem um pouco a importância e as doenças valvares entram com uma maior relevância, principalmente relacionados à febre reumática (cardite reumática). PRINCIPAL: As doenças obstrutivas esquerdas são a principal causa de insuficiência cardíaca no período neonatal, as cardiopatias de hiperfluxo pulmonar são as principais causas de ICC nos pequenos lactentes e crianças menores, e nos escolares e adolescentes a principal causa são as doenças valvares de origem reumática. Mais de 90% das crianças vão apresentar sinais de ICC com menos de 1 ano, sendo a grande maioria por causas cardíacas congênitas. 10% vão se manifestar nas crianças maiores e tem maior associação com causas infecciosas e nutricionais. FISIOPATOLOGIA DA ICC: - A maioria das medicações vão atuar nesse ciclo da fisiopatologia. - Também existem drogas que podem atuar nos efeitos da ativação simpática na ICC, atuando nos receptores, no sistema renina-angiotensina-aldosterona ou fazendo vasodilatação. QUANDO SUSPEITAR? - Deve suspeitar de ICC em qualquer criança que apresente ao mesmo tempo aumento da frequência cardíaca e respiratória e visceromegalias (hepato e cardiomegalia). - Quanto mais grave o defeito cardíaco, mais precoce vai ser a manifestação dos sintomas. 1. Lactentes: “cansaço e respiração rápida”, “coração disparado”, “dificuldade e pausas durante as mamadas”. 2. Criança maior: “intolerância aos esforços”, palidez, vômitos e dor abdominal + taquicardia ou hepatomegalia (inespecíficos). DADOS CLÍNICOS SUGESTIVOS DE ICC: - Taquipneia: Congestão venosa pulmonar + diminuição do limiar de transudação = edema intersticial • Os primeiros sinais de alarme vão ser “dificuldade em sugar”, “interrupções frequentes das mamadas” e “respiração rápida” - Taquicardia: Ação adrenérgica • Inespecífico → várias causas elevam frequência dos batimentos, como infecções, desidratação, anemia, emoções, etc. - Ritmo de galope: Sinal indubitável de falência miocárdica no RN e lactente • B3 patológica = redução da complacência ventricular. • No entanto, B3 é comum em escolares e adolescentes sem estar relacionado a ICC (sem ser patológico). - Sudorese: estimulação simpática • Comum na cardiopatia congênita + hiperfluxo • Aumenta nos esforços - Hepatomegalia: Congestão venosa sistêmica • Sinal mais frequente que a estase jugular ou edema periférico (especialmente em RN e crianças menores, pela dificuldade de visualizar estase de jugular em crianças pequenas) • De modo geral, > 3 cm do RCD já considera hepatomegalia (lactentes) • Deve excluir pneumopatias e outras causas. Luíza Barreto – Medicina 2021.2 - Déficit ponderal: é um sinal de redução do débito cardíaco (independente da ingestão calórica) • IC crônica → dificuldade em ganhar peso • Excluir má nutrição, afecções do aparelho gastrointestinal, etc SINAIS E SINTOMAS: - Na suspeita de ICC, qualquer um desses sintomas podecorroborar com a suspeita diagnóstica - O diagnóstico de ICC é basicamente clínico. A base é o quadro clínico típico ou sugestivo e a presença de uma causa para a ICC. - Os exames complementares são para confirmação da impressão clínica, identificação da causa de ICC e busca de fatores precipitantes e /ou agravantes. 1. Exames laboratoriais de rotina para detecção de fatores precipitantes e agravantes de falência do miocárdio. 2. Estudo radiológico para avaliação do tamanho do coração e dos campos pleuropulmonares para diagnóstico e evolução. 3. ECG para buscar alterações eletrocardiográficas relacionadas a falência miocárdica. 4. Ecocardiograma para elucidação diagnóstica, evolução clínica e prognóstico. 5. Estudo hemodinâmico (como ressonância) para definir alterações anatômicas, dimensões dos defeitos e as repercussões em outros órgãos. → vão ser indicados conforme a causa da ICC. Obs: A exceção da taquicardia é quando o paciente apresentar BAVT (bloqueio átrio ventricular total), que vai ter uma bradicardia, mas vai apresentar os outros sintomas clínicos da ICC. CONDUTA TERAPÊUTICA: - Objetivo: Melhorar o desempenho cardíaco, aumentar a perfusão periférica e diminuir a congestão venosa pulmonar e sistêmica. - Consta de medidas gerais, digitálicos, diuréticos e drogas vasodilatadoras. Medidas gerais: • Repouso e sedação • Dieta: Oferta calórica adequada • Oferta de líquidos: balanço hídrico rigoroso – restringindo 50 a 60% do basal • Manter Hb > 10 (hoje não é tão bem exigido) Obs: Balanço hídrico é quando faz o controle de tudo o que entra e tudo o que sai. Calcula todo líquido que entra seja por via oral ou venosa e tudo o que sai por vômitos, urina, diarreia, etc. → Deve tentar deixar esse balanço o mais próximo de 0, e as vezes no momento inicial deixa Luíza Barreto – Medicina 2021.2 negativo, para que o paciente reduza taquicardia, diminua congestão, diminua edema. Causas precipitadores e perpetuadoras da IC: • Anemia • Hipóxia • Acidose • Infecção • Hipocalcemia • Hipoglicemia • Desnutrição • Hipoproteinemia • Hipervolemia - Corrigir esses fatores precipitantes até que consiga resolver a doença de base que causa a ICC. DIGITÁLICOS: - Inibição da bomba sódio-potássio e aumento da atividade parassimpática de barorreceptores arteriais e cardíacos. Tem efeito inotrópico positivo e cronotrópico negativo. - Dose: 10mcg/kg/dia Obs: Tem uso cada vez mais restrito na pediatria, pois não apresenta redução da morbimortalidade. DIURÉTICOS: - Diminuem a sobrecarga hídrica e retenção de sódio. - Furosemida: 0,25 a 1mg/kg/dia - Espironolactona: 1 a 4mg/kg/dia → redução da fibrose miocárdica; poupador de potássio; impacto na sobrevida. Obs: Os mais usados são furosemida e espironolactona, e todos eles têm impacto na sobrevida. INIBIDORES DA ANGIOTENSINA: - O principal é o captopril, e atua no remodelamento miocárdico e tem impacto na sobrevida da maioria dos pacientes com ICC. - Dose: 0,5mg/kg/dose a cada 8 horas (máximo de 4 a 6 mg/kg/dia → doses maiores que isso são doses anti- hipertensivas, e não para manejo de ICC). BETABLOQUEADORES: - Mais usados na ICC crônica e tem impacto na sobrevida. O mais utilizado é o carvedilol. - Carvedilol: 0,04 a 0,1mg/kg/dose a cada 12 horas (máximo de 3,125mg/dose → para crianças menores, pois nas crianças maiores e adolescentes já pode fazer mais parecido com os adultos). CATECOLAMINAS: - Dopamina: Doses baixas (10 mcg/kg/min). Provoca taquicardia. - Dobutamina: Sem os mesmos efeitos comprovados em adultos. Doses de 10 a 20 mcg/kg/min. INODILATADORES: - Milrinona: 0,25 a 1mcg/kg/min - Aumento da contratilidade miocárdica (inotropismo positivo) e do lusotropismo (relaxamento miocárdico).
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