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EA D Aprendizagem 2 1. OBJETIVOS • Entender o que é aprendizagem individual e organizacional. • Conhecer os diferentes estilos de aprendizagem individual. • Compreender como ocorre a transferência do conheci- mento na organização 2. CONTEÚDOS • Aprendizagem. • Transferência do conhecimento. • Estudo de caso: Banco do Brasil. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: © Gestão do Conhecimento74 1) Faça um exercício, aproveite o conteúdo desta unidade e descubra o seu perfil de aprendizagem. 2) Para maximizar seu desenvolvimento e aproveitamento no curso, identifique o melhor horário para a realização de leituras e atividades, ou seja, um horário em que você obtenha o seu maior rendimento. 3) Não fique limitado aos conhecimentos disponibilizados neste Caderno de Referência de Conteúdo, explore sua curiosidade na busca por conhecimentos que comple- mentarão sua formação. 4) Organize seu cronograma para não atrasar a entrega das atividades. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Todas as pessoas têm potenciais que, se desenvolvidos, be- neficiam tanto a elas quanto as organizações para as quais tra- balham. É por essa razão que, durante o estudo desta unidade, iremos identificar e analisar as diferentes tipologias de aprendiza- gem, inclusive pontos fortes e fracos relacionados às suas habilida- des de aprendizagem. Também avançaremos na compreensão do processo de transferência do conhecimento no contexto organizacional, que é essencial à aprendizagem individual, de grupo e organizacional. A importância conferida à aprendizagem no contexto da teo- ria organizacional não foi sempre tão grande quanto o é atualmente. O modelo taylorista de organização do trabalho, com base na fragmentação de tarefas e no treinamento específico para exe- cução de movimentos padronizados, tinha como problemas a falta de visão do todo e a limitação do desenvolvimento de habilidades dos indivíduos. Você já deve ter ouvido falar ou assistido ao filme Tempos modernos, com Charles Chaplin, em que um operário de um fá- 75 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem brica (representado pelo próprio Chaplin) executava uma tarefa repetitiva, a tal ponto que se confundia com a própria máquina. Nesse modelo de organização do trabalho, aprender signifi- cava ser bom no cumprimento de uma função específica que era previamente designada ao empregado por seu superior imediato. Esse modelo, comprometido com a produtividade, foi segui- do durante anos e ainda é utilizado em vários setores. Contudo, com o passar do tempo e com os novos estudos que apontaram a existência de diferenças entre a organização formal e a organização informal, entre o que se diz que deve ser feito e as práticas concretas na organização, passou-se a valori- zar a aprendizagem e a autonomia como elementos importantes, enfatizando-se o desenvolvimento do indivíduo (MOTTA; VASCON- CELOS, 2002). Em se tratando de autonomia podemos defini-la como a ca- pacidade individual de lidar com informações complexas, de dar sentido a elas, formulando um pensamento próprio e defenden- do-o. Argumenta-se que, a partir da adoção de um modelo de gestão de pessoas com base na valorização do indivíduo e na sua capacidade de aprendizado, como o da gestão de pessoas por competências (apresentado a você na Unidade 1), obtém-se um aumento do número de pessoas que "pensam" na organização. Dessa forma, a valorização da capacidade de reflexão e de processamento de informações dos indivíduos aumentaria o pro- cessamento de informações da organização, promovendo uma vantagem competitiva sustentável baseada no conhecimento, sen- do, pois, difícil de ser copiada (MOTTA; VASCONCELOS, 2002). Nesse sentido, segundo Motta e Vasconcelos (2002, p. 339): O ser humano autônomo é reconhecido como um ser capaz de analisar informações, dar sentido a elas e encontrar soluções, aprendendo com as suas experiências e sendo capaz de formular um pensamento próprio. © Gestão do Conhecimento76 [...] O correlato desta maior autonomia, no entanto, é a responsabi- lização pelos resultados da própria ação e a descentralização ad- ministrativa. O ator social (o indivíduo que interage com outros, construindo a sociedade onde vive) passa a ser responsável por sua carreira, seu aprendizado e suas realizações. 5. APRENDIZAGEM O termo "aprender" vem do latim ad prendere e significa "dar formas às coisas", "dominar o caos". Essa capacidade de controlar a desordem diante de um universo caótico utilizando o conhecimento disponível e procurando aplicá-lo de maneira produtiva está, sem dúvida, relacionada com os desafios do trabalhador contemporâneo autônomo e responsável (PASCHOA, 2001, p. 21). Dessa forma, podemos conceituar a aprendizagem como um processo de aquisição de competências, resultado da prática, da experiência e da reflexão crítica do indivíduo. A aprendizagem pro- duz mudanças significativas no comportamento das pessoas. O que significa aprender? O modelo clássico de aprendizagem comportamentalista (behaviorista) tem por base que a aprendizagem implica uma série de operações precisas e reguladas que fundamentam a aquisição de novas aptidões ou comportamentos. Assim, o indivíduo progride por ensaio e erro e evolui em resposta a estímulos que orientam o sentido de suas tentativas. A eficiência da aprendizagem é influenciada pelas leis do reforço e pela exis- tência de uma situação onde o controle sobre os estímulos seja o maior possível. (MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 339) Seu foco principal é o comportamento. Portanto, planejar o processo de aprendizagem implica estruturar esse processo em termos passíveis de observação, mensuração e réplica científica. Complicado? Imagine como fazer isso com ratos de laboratório, ou no adestramento de cães. 77 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem Você se deparará com muitas histórias engraçadas que o ajudarão na compreensão do modelo de aprendizagem comportamentalista. Certa vez foi realizado um experimento em que se colocaram três macacos em uma cela. Lá, adicionaram uma escada e um cacho de bananas no teto. Assim que os macacos avistaram as bananas, tentaram pegá-las subindo pela escada. Contudo, toda vez que algum macaco tentava subir a escada para pegar as bananas, dirigia- se um jato d'água em todos eles. Logo, se algum macaco subisse as escadas, todos ficavam molhados. Esse episódio repetiu-se por várias vezes, até que, em um dado momento, quando um dos macacos tentava pegar as bananas, os outros dois o espancavam, para impedir que ele subisse na escada e, consequentemente, não recebessem o jato d'água. Na sequência, um dos três macacos foi substituído por outro, que não havia tido a experiência com o jato d'água. Este, ao ver as bananas, tentou alcançá-las, mas logo foi espancado pelos outros dois. Depois de algum tempo, um segundo macaco foi substituído, e a situação repetiu-se. Ao final, todos os macacos que iniciaram a experiência foram substituídos por outros. A cela ficou, então, com três macacos que nunca haviam levado um jato d'água. Todavia, quando algum deles tentava subir a escada, os outros o impediam, espancando-o. As teorias sobre aprendizagem evoluíram com as teorias da personalidade para um modelo cognitivo com base no conceito de Gestalt. Surge, assim, o conceito de insight ou "instante de compreensão", no qual o indivíduo reestrutura a sua percepção das relações lógicas que constituem o objeto que busca apreender. (MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 338) O modelo cognitivo é, contudo, mais abrangente do que o behaviorista, pois busca explicar fenômenos mais complexos, como a aprendizagem de conceitose a solução de problemas. Tal modelo procura utilizar tanto dados objetivos e comportamentais © Gestão do Conhecimento78 quanto dados subjetivos, levando em consideração as crenças e as percepções do indivíduo que influenciam seu processo de apreensão da realidade. Chris Argyris (1992 apud MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 340), dentro de uma perspectiva cognitivista, definiu os conceitos de aprendizagem de circuito simples e de circuito duplo: Aprendizagem de circuito simples: baseia-se na detecção do erro e na sua correção, preservando-se, no entanto, os pressupostos do sistema operacional, ou seja, os valores de base que inspiram o funcionamento do sistema. Em se tratando de processos de produção ou administrativos, pode-se dizer que se trata da melhoria contínua de processos, na qual se aprimora cada vez mais a eficiência de um dado processo, até um nível ótimo, sem questionar, os valores de base do processo ou as suas etapas de funcionamento. Em se tratando de processos cognitivos individuais, pode-se também utilizar este conceito. A aprendizagem de circuito simples refere-se ao indivíduo que incorpora novas práticas à medida que elas não contradigam os seus pressupostos e valores de base, não há questionamento de seus valores e práticas anteriores, não há incorporação de novos comportamentos que questionam o seu sistema cognitivo, que bloqueiem a incorporação de informações contrárias aos mesmos, que ameaça a sua imagem ou elementos constitutivos de sua identidade. [...] Aprendizagem de circuito duplo: envolve um processo de percepção e exploração das possibilidades do ambiente. Em primeiro lugar, o indivíduo tem acesso a novas informações e/ou conhecimentos. Em segundo lugar, comparam-se as informações e/ou os conhecimentos obtidos com as normas em funcionamento de um dado sistema ou processo, e depois se questiona a pertinência das normas de funcionamento do sistema e a iniciação de ações corretivas apropriadas, que podem envolver mudanças das práticas, valores e pressupostos do sistema ou processo antigo. Assim, para que o aprendizado seja efetivo, ele deve sempre envolver mudanças de comportamento e modelos mentais. Atente para o fato de que o circuito simples enfatiza excessivamente as ideias, a racionalidade, enquanto o circuito duplo envolve uma indissociável ligação entre os aspectos emocionais e intelectuais do ser humano. A Figura 1, a seguir, ilustra os circuitos de aprendizagem. 79 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem Fonte: Adaptado de Paschoa (2001). Figura 1 Circuitos de aprendizagem. No que se refere aos processos produtivos e gerenciais, propõe-se questionar habilmente suas bases de funcionamento, a partir de novas informações obtidas, redesenhando-se o proces- so ou incluindo modificações relevantes no sistema (desde que se faça necessário), reconfigurando o processo produtivo, a tecnolo- gia ou a organização. Já no que diz respeito ao sistema cognitivo dos indivíduos, a aprendizagem de circuito duplo leva ao questionamento das pró- prias formas de comportamento e à mudança. Veja, no Quadro 1, uma síntese dos circuitos simples e duplo de aprendizagem. Quadro 1 Síntese dos circuitos simples e duplo de aprendizagem. APRENDIZAGEM DE CIRCUITO SIMPLES APRENDIZAGEM DE CIRCUITO DUPLO Não questiona os pressupostos básicos do sistema (valores e modo de funcionamento). Aperfeiçoamento do sistema atual (melhoria do processo). Percepção e exploração do ambiente e acesso a novas informações. Comparação com o funcionamento do sistema atual. Questionamento e reconfiguração do sistema. Institucionalização da mudança. Fonte: adaptado de Motta; Vasconcelos (2002). © Gestão do Conhecimento80 A aprendizagem organizacional acarreta questionamento e mudança dos padrões de ação e de formas de comportamento nas organizações, gerando inovação. Se aprendizagem implica mudan- ça, a primeira questão que surge é a seguinte: Como é possível a mudança do comportamento dos indivíduos nas organizações e a inovação? Argyris e Schön (1992 apud MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 340), em sua teoria da perspectiva da ação, defendem que: [...] os indivíduos agem de acordo com suas crenças e pressupostos – valores que embasam sua ação e oferecem padrões de interpre- tação da realidade. Parte desses padrões, crenças e pressupostos podem ser modificados, mudando, pois, a ação e o comportamen- to dos indivíduos, pressuposto da aprendizagem. Além disso, devemos saber que: [...] aprender significa, para a linha cognitivista, mudar o seu com- portamento e, em parte, seus valores, o ser humano, na redução de sua dissonância (ou desconforto produzido por suas contradi- ções internas), pode incorporar um novo conhecimento, questio- nando seus valores de base e adotando novas práticas, ou pode decidir preservar suas práticas, valores e hábitos antigos, não in- corporando o conhecimento novo e resistindo à mudança. Nesse caso, não há aprendizado. (MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 340) Podemos afirmar, então, que você mudará seu comporta- mento quando mudar aquilo em que acredita. Reflita sobre essa afirmação! Em se tratando de aprendizagem organizacional, ela ocorre quando se consegue implementar na organização um circuito du- plo de aprendizagem. Segundo Peter Senge (1998), a organização em aprendizagem pretende ser um viveiro de indivíduos autôno- mos, capazes de aprender e questionar conhecimentos, desdo- brando novas perspectivas futuras para si e para a organização. Compreenda que a aprendizagem tem grande importância para a gestão das organizações e, também, que existem, particu- larmente, dois aspectos que precisam ser cuidados por uma orga- nização. 81 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem O primeiro aspecto diz respeito à capacitação de indivíduos para atuarem de forma eficaz no ambiente organizacional. O se- gundo aspecto trata da aprendizagem da organização como um todo, isto é, da capacidade de mudar para a melhoria do desem- penho diante de um ambiente em transformação constante: isso constitui o escopo da aprendizagem organizacional. Em suma, é por meio dos processos de aprendizagem que a organi- zação desenvolve as competências essenciais à realização de suas estratégias de negócio. (FLEURY; FLEURY, 2002, p. 193) Peter Senge (1998) reconhece que as organizações possuem ca- racterísticas que as incapacitam para a aprendizagem, por exemplo: 1) Preocupação excessiva das pessoas com sua própria po- sição dentro da empresa, sem preocupação com o todo. 2) Atribuição de culpa e responsabilidade a fatores exter- nos. Nesse sentido, pensa-se que as dificuldades são sempre criadas pelos outros – a concorrência é desleal –, ou seja, as deficiências internas nunca são reconheci- das, o que dificulta a capacidade de aprender. Lembre- -se disso quando tentar justificar a não entrega de um trabalho. 3) Preocupação com eventos imediatos, que impede a vi- são de padrões de mudança de longo prazo. 4) Incapacidade de perceber mudanças graduais, que re- presentam ameaças maiores aos eventos imediatos. 5) Ilusão de que a aprendizagem apenas resulta da experi- ência. 6) Mito de que a administração é coesa e tem consenso. Para combater tais dificuldades, Peter Senge (1998) propõe cinco disciplinas, ou seja, alguns elementos que precisam ser in- corporados por uma organização em aprendizagem: 1) Domínio pessoal: as pessoas precisam ter autocontrole ou disciplina pessoal, capacidade de entender a si pró- prias e ter clareza quanto a seus objetivos. A aprendiza- gem individual é a base da aprendizagem organizacional, pois as organizações não conseguem aprender mais do que seus integrantes. Entretanto, a maioria das organi- © Gestão do Conhecimento82 zações não estimula a autodisciplinae, como resultado, se tornam enormes repositórios de energia humana e de potencial de aprendizagem que não são desenvolvidos. 2) Modelos mentais: compreendem o questionamento dos modelos mentais implícitos que os membros da organi- zação carregam. Senge (1998) define modelos mentais como as crenças, as atitudes e as percepções a respeito de clientes, produtos, ambientes, funcionários e outros aspectos da organização. Os modelos mentais se trans- formam em hábitos que dificilmente são questionados, muito menos abandonados. O sucesso da organização, no entanto, depende de sua capacidade de enxergar de maneira diferente e de mudar costumes e procedimen- tos arraigados em sua cultura. 3) Visão compartilhada: é o entendimento comum a res- peito do futuro da organização, ou seja, é saber aonde "a organização quer chegar". Uma visão genuína e aceita por todos os membros da organização é uma das chaves para o sucesso da organização. 4) Aprendizagem em equipe: em um ambiente cooperati- vo, o potencial de sinergia entre os membros da equi- pe é desenvolvido, possibilitando ao grupo ser mais inteligente que cada um dos seus integrantes individu- almente. Para que a inteligência coletiva se materialize, a cooperação deve substituir as guerras entre os feudos organizacionais. 5) Pensamento sistêmico: permite integrar e compreender as demais disciplinas. Para Senge (1998), é preciso racio- cinar de forma sistêmica, em vez de enxergar apenas o que está mais perto do observador. Assim, a contribui- ção principal da quinta disciplina é, em um sentido figu- rado, a arte de enxergar, ao mesmo tempo, "a floresta e as árvores", e não apenas ver a floresta, o que é usual quando se tem uma visão imediatista. Salientamos, a seguir, que a aprendizagem pode ocorrer in- dividualmente, em grupo ou no contexto organizacional: • contexto individual: a aprendizagem refere-se à mudan- ça de habilidades, conhecimentos, atitudes e valores ad- quiridos pelo indivíduo por meio do esforço próprio; 83 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem • contexto de grupo ou organizacional: a aprendizagem está mais relacionada ao aumento das habilidades das competências que permeiam as atividades. A fim de ga- rantir que as organizações obtenham o conhecimento e/ ou as habilidades (competências) de que necessitam, é preciso que sejam capazes de criar, pensar e aprender como grupo, como se todos fossem apenas um. Dessa forma, a aprendizagem organizacional pode ser expres- sa em diversos artefatos organizacionais: na estrutura, no conjunto de regras, nos procedimentos e elementos simbólicos. As organizações desenvolvem memórias que retêm e recuperam informações. As organizações desenvolvem rotinas e procedimentos re- lativamente padronizados para lidar com os problemas internos e externos. Essas rotinas são incorporadas, de forma explícita ou inconsciente, na memória organizacional. Podemos apontar alguns indicadores de que a aprendizagem aconteceu, como a mudança em processos, estruturas ou compor- tamentos organizacionais, a possibilidade de recuperação do co- nhecimento pelos membros da organização, entre outros indica- dores (FLEURY; FLEURY, 2002). De acordo com Senge (1998), a organização só aprende por meio dos indivíduos que aprendem. Isso não quer dizer que o aprendizado individual garante o aprendizado organizacional; po- rém, sem ele, não há como as organizações aprenderem. Um aspecto importante a ser discutido no que concerne à aprendizagem individual é o reconhecimento de que diferentes in- divíduos possuem diferentes potenciais para aprender. Consoante Kolb (1997 apud PASCHOA 2003), as pessoas desenvolvem formas diferentes de aprendizagem, priorizando determinadas habilida- des em detrimento de outras, possuindo, assim, pontos fortes e fracos em relação ao processo de aprendizagem. © Gestão do Conhecimento84 Para que o aprendizado seja efetivo, o aprendiz precisa de quatro tipos de habilidades: 1) Experiência concreta (EC): capacidade de envolver-se, vivenciando abertamente as experiências. 2) Observação reflexiva (OR): observa as experiências por diferentes ângulos. 3) Conceituação abstrata (CA): permite a construção de conceitos que integram as experiências. 4) Experimentação ativa (EA): utiliza-se das teorias para to- mar decisões e resolver problemas. Com a combinação dessas habilidades, Kolb (1997 apud PASCHOA, 2001, p. 46) obteve quatro dimensões, às quais ele denominou estilos de aprendizagem: 1) Convergente: estimula o pensamento, as ações, o me- lhor relacionamento com coisas do que com pessoas, a aplicação prática das ideias e o foco em problemas es- pecíficos. 2) Divergente: favorece a visualização de situações por diferentes perspectivas, o interesse em pessoas, o sen- timento, o pensamento, a geração de ideias, o viven- ciamento da prática, o brainstorming, a diversidade de interesses, o envolvimento com as tarefas. 3) Assimilador: incentiva a observação, o pensamento, a pesquisa e o desenvolvimento (P&D), a criação de mo- delos teóricos a partir de informações desencontradas, o trabalho com conceitos abstratos, a divergência de ações práticas, a postura reflexiva, pouco ativa, e o ex- cesso de discussão teórica. 4) Acomodador: busca experiências novas e desafiadoras, tem suas preferências de aprendizagem baseadas na ex- perimentação ativa e concreta e apresenta facilidade de adaptação. 85 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem Conforme discutido anteriormente, cada indivíduo é possui- dor de todas as habilidades, mas, em geral, prioriza a combinação de uma delas, o que torna possível o fato de ele possuir um dos estilos de aprendizagem mais acentuado. A fim de descobrir qual estilo de aprendizagem cada indiví- duo prioriza, Kolb (1986 apud PASCHOA, 2001, p. 45), desenvolveu um questionário denominado Inventário de Estilos de Aprendiza- gem. Ao associar indivíduos possuidores de diferentes estilos de aprendizagem às diferentes fases de um projeto, que geralmente requerem a utilização de tipos específicos, é possível aumentar a variabilidade de visões estratégicas, alavancando, dessa forma, a aprendizagem organizacional. Kolb (1997 apud PASCHOA, 2001, p. 47) ressalta que: ao aproximar indivíduos com estilos de aprendizagem opostos, pode haver uma grande dificuldade de comunicação, uma vez que cada um deles está direcionado a perceber uma determinada situ- ação de maneira distinta. Acreditamos que você já tenha participado de grupos de es- tudo ou de trabalho com seus colegas de graduação e que con- segue reconhecer com quais colegas possui mais afinidade ou divergências na realização dos trabalhos. Isso, certamente, está relacionado aos diferentes estilos de aprendizagem. Observe a Figura 2, que apresenta os diferentes estilos pelos quais pode ocorrer o processo de aprendizagem individual. © Gestão do Conhecimento86 Fonte: Paschoa (2001). Figura 2 Diferentes estilos de aprendizagem individual. Podemos afirmar, então, que aprendemos lendo, ouvindo, errando, na prática, vivenciando situações, observando os outros. Inúmeras são as formas de aprender, e cada pessoa vê-se única nesse processo. No Quadro 2, apresentamos uma síntese sobre o processo de desenvolvimento de conhecimentos em uma organização. Quadro 2 Desenvolvimento de conhecimento na organização. TIPO FUNÇÃO COMO DESENVOLVER Conhecimento teórico Entendimento, interpretação. Educação formal e continuada. Exemplo: graduação em Gestão de TI. Conhecimento sobre os procedimentos Saber como proceder. Educação formal e experiência profissional. 87 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem TIPO FUNÇÃO COMO DESENVOLVER Conhecimento social Saber como comportar-se. Experiência social e profissional. Conhecimento cognitivo Sabercomo lidar com a informação. Saber como aprender. Educação formal e continuada; experiência social e profissional. Fonte: adaptado de Le Boterf (2007). Vamos, a seguir, abordar a questão da transferência do co- nhecimento na organização essencial para a aprendizagem. 6. TRANSFERÊNCIA DO CONHECIMENTO Com base no trabalho de Davenport e Prusak (1998), vamos compreender como o conhecimento se movimenta pela organiza- ção. Os autores acreditam que as forças que impelem o conheci- mento trabalham de forma semelhante a mercados de bens mais tangíveis. Um mercado do conhecimento nas organizações possui compradores e vendedores que negociam para chegar a um preço mutuamente satisfatório para o conhecimento trocado. Assim, as pessoas buscam o conhecimento porque esperam que ele as aju- de a ter sucesso em seu trabalho e em sua vida social, isto é, que traga algum benefício a elas. Você, por exemplo, procura seus colegas de graduação ou tutores dotados de conhecimento quando precisa solucionar al- gum problema que envolva certo grau de incerteza. É importante frisar que, quando fornecemos conhecimento, também esperamos nos beneficiar, ou seja, queremos algum tipo de recompensa. Estamos falando em motivação para o comparti- lhamento do conhecimento, assunto-chave para as iniciativas de sucesso em Gestão do Conhecimento. © Gestão do Conhecimento88 Sabemos que as pessoas fazem escolhas constantemente para aplicar seu tempo e esforço da melhor maneira possível e, mesmo sem perceber, o critério mais comum para eleger as op- ções é o interesse próprio; este, sem dúvida, é o grande motivador para o compartilhamento do conhecimento. Outros fatores também influenciam, como as realidades so- ciais, econômicas, políticas e tecnológicas, que devem ser conside- radas para entender os mercados do conhecimento. Nas transações do mercado do conhecimento, as pessoas podem desempenhar três papéis: compradores, vendedores e corretores, de forma que um único indivíduo pode desempenhar os três papéis: • Compradores do conhecimento: pessoas que buscam resolver um problema cuja complexidade e incerteza não permitem uma resposta fácil; elas estão à procura de insights, discernimento e entendimento. Querem respostas! Como tomar decisões melhores? Como reali- zar os processos de trabalho com mais eficiência? • Vendedores do conhecimento: pessoas da organização que têm boa reputação no mercado interno por possuir substancial conhecimento de um determinado processo ou assunto. Elas podem vender seu conhecimento em troca de salário, reconhecimento social etc. Lembre-se de que o conhecimento é poder, que tem a possibilidade de se dissipar se for compartilhado com outras pessoas. Um dos desafios da Gestão do Conhecimento é, portanto, assegurar que o ato de compartilhar conhecimento seja mais lucrativo do que enclausurá-lo. • Corretores do conhecimento: colocam em contato com- pradores e vendedores, ou seja, aqueles que precisam do conhecimento e aqueles que o possuem. Descobrem o que as pessoas fazem e o que sabem. Entre os atuais pro- fissionais do mercado de trabalho, o bibliotecário, há mui- 89 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem to tempo, atua como um mediador entre o conhecimento e as pessoas em geral, preocupando-se com as formas de organização do conhecimento (assunto que abordaremos na Unidade 4). Atualmente, a preocupação extrapola a organização do conhecimento; desse modo, a ênfase está em sua gestão, na sua utilização eficaz voltada à inovação. Assim, você, como um profissional Gestor de TI, potencialmente, tem muito a contribuir na Gestão do Conhecimento ao se envolver com os processos de gestão, com o desenvolvi- mento ou seleção de tecnologias, entre outras atividades que possuem o conhecimento como essência. Quais tipos de pagamento poderiam existir para você com- partilhar seu conhecimento conosco ou com seus colegas, os quais pudessem compensar o prolongamento do seu dia de trabalho? Davenport e Prusak (1998) chegaram à conclusão de que há, pelo menos, três fatores operando nesse processo: • Reciprocidade: tempo, energia e conhecimento são re- cursos finitos, escassos no dia de trabalho da maioria das pessoas. Em geral, não se desperdiçam recursos escassos, a não ser que o dispêndio tenha um retorno compen- sador. O vendedor do conhecimento compartilhará seu conhecimento se esperar que os compradores estejam, também, dispostos a serem vendedores quando ele esti- ver no mercado em busca do conhecimento deles. • Reputação: o vendedor de conhecimento geralmente de- seja ser conhecido na organização como alguém possui- dor do conhecimento (por exemplo: uma possível valio- sa especialização), e quer compartilhá-lo com as demais pessoas da organização. Ter a reputação de ser uma óti- ma fonte de conhecimento pode resultar em benefícios tangíveis de segurança no emprego, promoção e todas as recompensas e regalias de um guru corporativo. © Gestão do Conhecimento90 • Altruísmo: muitos compartilhamentos do conhecimen- to são motivados em parte pela paixão pelo assunto e por algum grau de altruísmo, seja pelo bem da organiza- ção, seja por algum impulso natural de ajudar os outros. Orientar é uma forma de transferência do conhecimento parcialmente baseada no altruísmo. O altruísmo do co- nhecimento é real e pode ser encorajado. Deve-se levar em consideração, ainda, que o mercado do co- nhecimento de uma organização deve ser construído sobre uma base de confiança mútua, pois, caso contrário, segundo Davenport e Prusak (1998, p. 40): [...] qualquer iniciativa ligada ao conhecimento estará fadada ao fracasso, não importa o grau de apoio tecnológico e retórico com que se conte e nem mesmo se a sobrevivência da organização de- pende da efetiva transferência do conhecimento. Consideramos, então, que o contato pessoal e a confiança estão estreitamente ligados. Por isso, os espaços de conversação ou encontros presenciais são elementos essenciais na construção de confiança entre os membros da organização. Além de ser uma condição necessária para o compartilhamento do conhecimento, a confiança também pode ser produzida por ele. Não vamos nos preocupar em definir aqui o conceito de con- fiança, mas exemplificaremos o que são os espaços de conversa- ção, os quais se consolidam como o terreno mais propício ao surgi- mento dos vínculos de afeto entre as pessoas e que são vitais para o pleno desenvolvimento das redes pessoais (informais). Criar espaços de conversação significa promover encontros presenciais, nos quais os participantes da rede possam ter a opor- tunidade de estabelecer contatos face a face, conversar, trocar ideias e experiências, reconhecer-se no outro, construir sensos de identidade, comparar diferenças e criar vínculos afetivos ou profis- sionais (WWF-BRASIL, 2011). 91 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem Vamos citar alguns exemplos de espaços de conversação: reuniões de trabalho, grupos de estudos, cursos, palestras, even- tos (seminários, congressos etc.), almoços, confraternizações, fes- tas, entre outros. Em termos práticos, os espaços de conversação promovem oportunidades de interação e parceria produtiva entre os partici- pantes, identificando as afinidades, as correspondências e as com- plementaridades existentes entre os membros da organização, fo- mentando laços efetivos e, consequentemente, a confiança. Sinalização do mercado do conhecimento O mercado do conhecimento possui sinais formais e infor- mais de que o conhecimento efetivamente está dentro da organi- zação e de que há meios de acessá-lo. Nesse sentido, a acessibilidade é uma forma de examinar o custo, uma vez que ela é um fator de medição do tempo e do esforço que o conhecimento custa aos compradores e do tipo de retorno que o vendedor espera.Os sinais informais são indicadores mais precisos de onde o conhecimento pode ser comprado; porém, requerem interação pessoal. Veja, a seguir, alguns deles: • Posição e escolaridade: são indicadores formais. O orga- nograma não costuma ser um guia eficaz do conhecimen- to da empresa. A escolaridade é, da mesma forma, um sinal formal de mercado que pode ou não ser útil. • Redes informais: compreendem-se por redes de pesso- as. Grande parte do trabalho da organização é realizada porque as pessoas estão continuamente perguntando umas às outras, por meio de redes informais, quem sabe como fazer determinado trabalho. As redes informais de compradores, vendedores e corretores movimentam o conhecimento pela organização. Por exemplo, você deve possuir um grupo de amigos ao qual se une para fazer os © Gestão do Conhecimento92 trabalhos da graduação; na verdade, eles fazem parte da sua rede de trabalhos. As redes informais geram confian- ça, ou seja, para fazer parte do grupo de trabalho, o mem- bro tem de apresentar alguma confiança, que é a base para o sucesso do compartilhamento do conhecimen- to. A principal desvantagem é a falta de documentação; a maior parte das fofocas corporativas é uma forma de transferência de conhecimento sobre processos internos. • Comunidade de prática: colegas de trabalho que têm co- nhecimentos complementares acabam formando grupos chamados comunidades da prática; esses grupos auto-or- ganizados costumam ser iniciados por trabalhadores que se comunicam entre si, porque compartilham as mesmas práticas, interesses ou objetivos de trabalho. Ineficiências do mercado do conhecimento Muito do atual interesse na Gestão do Conhecimento decor- re do fato de que as organizações carecem de informações sobre onde está o conhecimento e, portanto, têm dificuldade de chegar até ele e usá-lo. Para melhor esclarecer, citaremos, a seguir, três fatores que levam o mercado do conhecimento a funcionar de forma ineficien- te nas organizações: • Informações limitadas: falta de guias para levar ao co- nhecimento. • Conhecimento assimétrico: nas organizações, geralmen- te há grande quantidade de conhecimento sobre um dado assunto em um departamento e falta dele em outro. • Conhecimento localizado: as organizações tendem a comprar conhecimento de seus vizinhos. Outro fator que devemos identificar são as patologias do mercado do conhecimento (falhas graves), que são distorções que inibem drasticamente o fluxo de conhecimento na organização: 93 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem • Monopólios: se uma única pessoa ou grupo possuir o conhecimento de que os outros necessitam, existe mo- nopólio; o conhecimento terá preço alto por não existir concorrência. Conhecimentos importantes nem sempre estarão disponíveis quando e onde se precisa deles. • Escassez artificial: o conhecimento torna-se muito caro, não por que não existe, mas porque é de difícil acesso. Downsizing (redução de pessoal), por exemplo, cria a es- cassez de conhecimento. O conhecimento costuma ir em- bora junto com os profissionais durante um processo de downsizing. • Barreiras comerciais: má vontade de oferecer ou aceitar conhecimento de outras pessoas da organização. Recu- sa a aceitar conhecimento novo. Sem a tecnologia para codificar o conhecimento e torná-lo amplamente dispo- nível, as transações do conhecimento serão limitadas e localizadas. A Gestão do Conhecimento pode ser vista como um esfor- ço para aumentar a eficiência dos mercados do conhecimento. E, com ela, várias estratégias poderão ser utilizadas para se desenvol- ver um mercado do conhecimento efetivo. Podemos destacar, entre as estratégias, o uso das Tecnolo- gias da Informação e da Comunicação (TIC) como apoio à Gestão do Conhecimento, que, por meio de redes de computadores pes- soais − iPhone, por exemplo −, tem a capacidade de interligar pes- soas, de armazenar e recuperar volumes de conteúdo virtualmen- te ilimitados, melhorar substancialmente a eficiência do mercado do conhecimento e possibilitar a criação de mercados virtuais do conhecimento. Contudo, essa temática envolvendo as TICs e a Gestão do Conhecimento Virtual só será abordada, respectivamente, nas Unidades 6 e 7. © Gestão do Conhecimento94 Outra estratégia que pode tornar o mercado do conheci- mento mais robusto é a criação de espaços físicos e virtuais dedi- cados ao compartilhamento do conhecimento, ou seja, espaços de conversação, conforme já citamos. Muitas organizações chegam a criar salas de conversa, em que os trabalhadores tomam café e passam 20 ou 30 minutos discutindo seu trabalho. Outro exemplo comum são as conversas nos bebedouros, nas máquinas de café e no refeitório. Existem, ainda, os fóruns re- ais ou virtuais e as universidades corporativas, que reúnem pesso- as para examinar assuntos de interesse mútuo. Deixar claro o valor do compartilhamento do conhecimen- to também é uma estratégia importante ao desenvolvimento dos mercados do conhecimento. Provas diretas de que as pessoas são reconhecidas, promo- vidas e recompensadas por compartilhar conhecimento atestam que o valor existe; com isso, as pessoas veem que seu conheci- mento é valioso e sabem que as outras pessoas da organização cooperarão quando elas necessitarem de ajuda especializada. A Fi- gura 3 sintetiza essa discussão sobre mercados do conhecimento. Fonte: adaptado de Davenport; Prusak (1998). Figura 3 Mercado do conhecimento. 95 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem Com a analogia proposta por Davenport e Prusak (1998) entre mercados tangíveis e o mercado do conhecimento, compreendemos como o conhecimento se movimenta na organização. Neste momento, vamos concentrar nossos esforços na dis- cussão sobre a transferência do conhecimento, que envolve duas ações: • a transmissão (envio ou apresentação do conhecimento a um receptor em potencial); e • a absorção por aquela pessoa ou grupo. Se o conhecimento não for absorvido, não terá sido transmi- tido; então, a mera disponibilização do conhecimento não é trans- ferência. Assim, podemos representar da seguinte forma: transfe- rência = transmissão + uso. Ter acesso ao conhecimento é necessário, mas não é sufi- ciente para garantir que ele será usado. Portanto, o objetivo da transferência do conhecimento é melhorar a capacidade de a or- ganização realizar duas atividades e aumentar seu valor. Observe a Figura 4, que sintetiza essa nossa discussão. © Gestão do Conhecimento96 Infraestrutura Fonte: adaptado de Davenport; Prusak (1998). Figura 4 Transferência do conhecimento. O conhecimento é transmitido em uma organização, quer esse processo seja gerenciado ou não. Essas transferências cotidianas do conhecimento fazem parte da vida organizacional. Todavia, elas são localizadas e fragmentárias. Discutimos determinado problema com o colega no final de um corredor ou perto da máquina do café, por exemplo, porque ele está mais próximo e sentimo-nos mais à vontade com ele. 97 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem Diante dessa situação, um dos elementos essenciais da Gestão do Conhecimento é o desenvolvimento de estratégias específicas para incentivar as trocas espontâneas e não estruturadas de conhecimento, por exemplo, os espaços de conversação. Na economia do conhecimento, conversar é trabalhar, é a maneira pela qual os trabalhadores descobrem aquilo que sabem, compartilham esse conhecimento com seus colegas e, nesse processo, criam conhecimento novo para a organização. Podemos afirmar que, quando uma organização está em dificuldade, as pessoas naturalmente se reúnem para discutir os problemas e compartilhar potenciais soluções. E assim, é provável que as conversas gerem mais soluções criativas do que oisolamento dos funcionários. (DAVENPORT; PRUSAK, 1998, p. 110) Devemos reconhecer o valor dos contatos realizados tanto face a face quanto por meios eletrônicos (ou virtuais) e propiciar oportunidades para ambos, como criar locais e ocasiões para os trabalhadores interagirem informalmente. Passeios promovidos pela organização criam oportunidades de intercâmbio entre os trabalhadores que possuem dificuldade em se comunicar durante o expediente de trabalho. Os japoneses, por exemplo, enfatizam as conversas entre os trabalhadores dentro e fora das organizações, de forma que, no final de expediente, eles costumam se reunir, a fim de descontrair e conversar sobre trabalho. As organizações japonesas também estabeleceram salas de bate-papo para incentivar esse tipo de entrosamento e intercâmbio criativo e improvisado. A transferência do conhecimento tácito geralmente exige um intenso contato pessoal. Defendemos fortemente a transferência do conhecimento por meio de reuniões face a face e de narrativas, além das formas mais estruturadas. Já Nonaka e Takeushi (1997) defendem a experiência prática na transferência do conhecimento. Entretanto, alguns fatores culturais inibem a transferência do conhecimento, porque eles retardam ou impedem a transferência e tendem a erodir parte do conhecimento à medida que ele tenta se movimentar pela organização: © Gestão do Conhecimento98 1) falta de confiança; 2) diferenças culturais; 3) falta de tempo e de locais de encontros; 4) falta de reconhecimento do valor do conhecimento; 5) intolerância com erros. O grau de eficiência com que a organização utiliza seu ca- pital do conhecimento depende da confiança existente entre os trabalhadores da organização, da velocidade e da viscosidade da transferência do conhecimento. A velocidade de transferência compreende a rapidez com que o conhecimento se movimenta pela organização. Ou seja, re- fere-se à velocidade com que as pessoas que precisam do conheci- mento ficam sabendo da sua existência e têm acesso a ele. Já a viscosidade se refere à riqueza (ou espessura) do co- nhecimento transferido, que, por meio de um longo processo de aprendizagem ou orientação, tende a ter alta viscosidade: com o tempo, o receptor obterá um tremendo volume do conhecimento detalhado e sutil. O conhecimento obtido de um banco de dados on-line ou adquirido pela leitura de um artigo será muito menos espesso. Tanto a velocidade quanto a viscosidade são fatores impor- tantes para os gestores do conhecimento na determinação do grau de eficiência com que a organização utiliza seu capital do conhe- cimento. Com que rapidez ela coloca o conhecimento onde ele possa gerar valor e quanto dos ativos do conhecimento chegam efetivamente aonde precisariam chegar? É importante frisar que as mudanças de comportamento são eventos muito mais raros do que a aquisição de conhecimento. Saber não é o mesmo que fazer. A adoção e a aplicação do conhecimento pode ser um pro- cesso lento e árduo. Os fumantes, por exemplo, ajudam-nos a compreender tal afirmação: eles têm o conhecimento de que o 99 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem fumo faz mal à sua saúde, mas nem por isso deixam de fumar, o que nos permite afirmar, então, que o índice de sucesso do proces- so de aprendizagem é influenciado pela cultura. 7. ESTUDO DE CASO: BANCO DO BRASIL Com base no trabalho de Dantas (2008), vamos descrever a experiência do Banco do Brasil na adoção das trilhas de aprendiza- gem para o desenvolvimento profissional dos funcionários. O Banco do Brasil havia adotado o conceito de grades de treinamento para formação de seus funcionários, em que eram listados os treinamentos indicados para um cargo específico, com obrigatoriedade de participação para aqueles que exerciam aque- le cargo. Visando aprimorar suas práticas e flexibilizar o processo de desenvolvimento profissional, o Banco do Brasil adotou as "Trilhas de desenvolvimento profissional", um modelo de educação corpo- rativa que possui como objetivos: 1) oferecer uma visão sistêmica da formação profissional na organização; 2) tornar visíveis as expectativas da organização em relação ao desempenho do funcionário; 3) sugerir meios alternativos para o desenvolvimento pro- fissional do funcionário; 4) estimular, nos funcionários, o autodesenvolvimento contínuo; e 5) incorporar as opções de aprendizagem disponíveis no ambiente organizacional. As trilhas de aprendizagem são caminhos alternativos e flexí- veis para o desenvolvimento pessoal e profissional. Os caminhos para a aprendizagem e o desenvolvimento de competências são múltiplos e específicos para cada pessoa, isto é, a trajetória de um indivíduo pode ser diferente da percorrida © Gestão do Conhecimento100 por outro na organização, mesmo que eles exerçam o mesmo car- go. Isso ocorre por causa das escolhas e dos diferentes estilos de aprendizagem. O modelo do Banco do Brasil baseia-se em quatro aprendiza- gens essenciais ao profissional: 1) aprender a escolher; 2) aprender a fazer; 3) aprender a viver junto; e 4) aprender a ser. Então, sua aplicação possibilitou ao Banco considerar não apenas as expectativas da organização em relação ao desempe- nho do funcionário, mas, também, ritmos e estilos de aprendiza- gem, aspirações profissionais e preferências pessoais, em que a responsabilidade pelo processo de desenvolvimento é comparti- lhada entre a organização e o funcionário, pois o domínio de um conhecimento representa um valor econômico e um valor social, tanto para o funcionário quanto para a organização. No Banco do Brasil, quando um funcionário define um curso de ação a ser seguido para seu crescimento profissional, está, na prática, escolhendo uma trilha. Cada funcionário escolhe sua trilha de aprendizagem a partir de suas conveniências, necessidades, ponto de partida e ponto a que deseja chegar, integrando a seu planejamento de carreira as expectativas da organização, o desempenho esperado, suas aspi- rações, os conhecimentos e as competências que já possui e aque- les que necessita desenvolver. Considerando todas essas variáveis, o funcionário elege, dentre os recursos educacionais disponíveis, aqueles mais adequados a seus objetivos e preferências. 8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS A seguir, responda às questões propostas a fim de conferir seu desempenho no estudo desta unidade: 101 Claretiano - Centro Universitário © U2 – Aprendizagem 1) O que é aprendizagem individual? 2) O que é aprendizagem organizacional? 3) Por que podemos afirmar que você mudará seu comportamento quando mudar aquilo em que acredita? 4) Cite e descreva brevemente um exemplo de aprendizagem de circuito sim- ples. 5) Cite e descreva brevemente um exemplo de aprendizagem de circuito duplo. 6) Os indivíduos possuem diferentes estilos de aprendizagem. Qual é a impor- tância de reconhecê-los para a organização? 7) O que envolve a transferência do conhecimento no contexto organizacional? 8) O que motiva as pessoas a compartilharem seu conhecimento na organiza- ção? 9) Qual é a importância da "hora do café" para a Gestão do Conhecimento? 9. CONSIDERAÇÕES Com o término desta unidade, você pôde entender que existem mercados do conhecimento e que eles operam de forma similar aos outros mercados. Vimos também que a implantação coordenada de todos os aspectos que sustentam uma bem-sucedida Gestão do Conhecimento cria uma vantagem competitiva sustentável, pois está enraizada nas pessoas que trabalham na empresa, e não somente em recursos físicos, rígidos (infraestrutura, máquinas, equipamentos, entre outros) facilmente imitáveis pelos concorrentes (DAVENPORT; PRUSAK, 1998). Concluímos, então, que: Uma vantagem competitiva sustentável para a organização mani- festa-se mais notoriamentede duas formas: a relação do conhe- cimento e aprendizagem organizacional com a sua capacidade de inovar e a preparação e flexibilidade que a organização possui para aprender rápido, reagindo e antecipando a mudanças no ambiente de mercado. (SILVA, 2008, p. 153) © Gestão do Conhecimento102 Na próxima unidade, vamos compreender como ocorre o processo da geração do conhecimento e quem são seus facilita- dores. Até lá! 10. E-REFERÊNCIAS Site pesquisado WWF-BRASIL. Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto- organização. Brasília: Rebeca Kritsch, 2003. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/ informacoes/bliblioteca/?3960>. Acesso em: 15 mar. 2011. 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DANTAS, A. Curso: gestão de pessoas por competências. São Carlos: Prefeitura Municipal de São Carlos; Fundação Educacional São Carlos, 2008. DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam seu capital intelectual. Traduzido do Original: Working knowledgeTradução de Lenke Peres. Rio de Janeiro: Campus, 1998. FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. C. C. Construindo o conceito de competências. Revista de Administração Contemporânea (RAC), Curitiba, v. 5, p. 183-196, 2002. HOFFMANN, W. A. M. Gestão do Conhecimento: desafios de aprender. São Carlos: Compacta, 2009. LE BOTERF, G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da Administração: da revolução urbana à revolução digital. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. MOTTA, F. C. P.; VASCONCELOS, I. F. G. A aprendizagem organizacional. In: Teoria geral da Administração. 2. ed. São Paulo: Pioneira/Thompson Learning, 2002. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997. PASCHOA, C. Elementos da dimensão individual da aprendizagem organizacional no processo de desenvolvimento de produto: estudo de caso desenvolvido em um time de projeto. São Carlos: UFSCar, 2001. (Tese de Mestrado)2001. SENGE, P. M. A quinta disciplina: arte e prática da organização de aprendizagem. 2. ed. São Paulo: Best Seller, 1998. SILVA, S. L. Gestão do Conhecimento: uma revisão crítica orientada pela abordagem da criação do conhecimento. Ciência da Informação, Brasília, v. 33, n. 2, p. 143-151, maio/ ago. 2004.
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