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Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Sp3 - Quanto Tempo? Objetivos: Relacionar a fisiopatologia da neoplasia e a caquexia. Estudar os sinais e sintomas relacionados à malignidade. Discutir os exames complementares solicitados na caquexia relacionada a neoplasias. Compreender o cuidado paliativo do paciente com neoplasia/metástase e sua indicação. Elucidar como o tratamento oncológico provoca a perda de peso. Caquexia oncológica Alguns estudiosos acreditam que o estado de caquexia é inevitável em pacientes oncológicos, como se fosse uma consequência inevitável do tumor. Contudo, outros acreditam que existe uma possibilidade de se influenciar positivamente o estado nutricional do doente e, consequentemente, melhorar a sua qualidade de vida, independente do estágio do tumor. Defini-se, do ponto de vista clínico, a caquexia oncológica como uma síndrome caracterizada por uma crônica, progressiva e involúntaria perda de peso que não responde, ou é apenas parcialmente sensível, ao suporte nutricional padrão; além disso, é normalmente relacionada a anorexia, saciedade e astenia. Classificação A evolução da caquexia dependerá do tipo de neoplasia maligna e de sua fase, presença de inflamação ou não, falta de resposta terapêutica e da baixa ingestão de alimentos. Por isso, a European Palliative Care Research Collaborative definiu algumas guidelines em relação à caquexia oncológica e dividiu-a em 3 fases, de modo a facilitar a identificação precoce de biomarcadores presentes na caquexia. Obs. Ressalta-se que nem todos os doentes passam pelas três fases. Na fase da pré-caquexia, alguns testes séricos como a diminuição da tolerância à glicose, anemia relacionada com a inflamação ou hipoalbuminémia, podem determinar se o doente se encontra nesta fase de caquexia. Na fase refrataria da caquexia, o câncer está muito avançado, o doente encontra-se em fase pré-terminal e, por isso, pode não responder à terapêutica. Nesta fase, a reversão da perda de peso já não é possível e a esperança média de vida é inferior a 3 meses. Assim, nesta fase o tratamento da caquexia passa apena, por cuidados paliativos, de modo a aliviar a dor e o sofrimento. Biomarcadores Eles podem ser encontrados a nível de análise do plasma, urina, tumor e do músculo-esquelético do paciente. São eles: Plasma É um dos melhores alvos de escolha, por ser de fácil acesso para as pesquisas e conter, também, biomarcadores da própria neoplasia e de seu desenvolvimento (2 em 1). O primeiro biomarcador é o PCR, ele é forte neste quesito por representar a presença de inflamação no paciente e esta altamente associado a presença de anorexia, hipermetabolismo e perda de peso - sendo, por isso, considerado um biomarcador chave na caquexia. Além do PCR, a concentração plasmática de algumas citocinas como a TNF alfa, IL-1 e IL6, além do interferon gama, tem sido estudadas como biomarcadores. A proteína PTHrP é considerada ym biomarcador por quesito epidemiológico, uma vez que está presente em 17% dos Sp3 - Quanto Tempo? Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG pacientes, principalmente naqueles com câncer no TGI, sendo, entre estes, o mais comum o câncer gastro esofágico. Urina É um local mais simples para se procurar por biomarcadores - em comparação ao plasma. O fator PIF, que é uma glicoproteína produzida por células do tumor, é o biomarcador neste caso. Ele é encontrado em pacientes no estado de caquexia, principalmente aqueles com câncer de mama, ovário, pâncreas e colo-retal, estando ausente em pacientes com câncer e que mantém o peso normal. Outro biomarcador encontrado na urina é o fator LMF, sendo encontrado em valores elevados na urina de pacientes com caquexia; isto ocorre pois para o tumor aumentar de tamanho, ele precisa mobilizar lipídios que estão presentes no tecido adiposo. Essa mobilização de lipídios aumenta o gasto de energia pelo organismo. O Fator LMF é de suma importância nesse processo por o mesmo age inibindo a estimulação dos triglicerideos no tecido adiposo, pela ativação de lipases (hormônio responsívas), diminuindo a reserva de gordura - ou seja, ele induz a lipólise. Tumor A presença das interleucinas 6 e 1 podem ser usadas como biomarcadores, pois são, muitas vezes, encontradas nos doentes com câncer. Contudo, esse é um biomarcador do qual deve-se ter cuidado, pois a utilização de citocinas depende do tumor diagnósticado, uma vez que cada tumor produz diferentes citocinas - tumor produz pois ele provoca a inflamação. Músculo-esquelético Ocorre a hipertrofia do músculo e, essa via de hipertrofia encontra-se na ativação da via ubiquitina-proteosoma - principal via catabólica na caquexia. FONTE: Fisiologia da caquexia - Instituto superior de ciência em saúde, 2014 Relacionar a fisiopatologia da neoplasia e a caquexia. O câncer é definido como uma enfermidade multifatorial crônica, que é caracterizada pela proliferação descontrolada das células. Nos estudos científicos, pouco se sabe ainda sobre o papel que a resposta inflamatória, induzida pelo tumor maligno, possui na evolução do paciente. Contudo, sabe-se que, independente se essa resposta crónica é indireta (produzida pela resposta imune ao tumor) ou direta (pelas próprias células tumorais), ela tem sido associada à profunda perda de peso, anorexia e resistência a insulina, levando o indivíduo ao estado de caquexia - outros sintomas que podem estar associados são as alterações da sensibilidade do paladar, saciedade precoce, fraqueza e, por vezes, atrofia de órgãos viscerais. Outro ponto necessário de entendimento é que o corpo irá produzir uma resposta a inflamação proveniente do tumor - ou seja, uma vez que o tumor provoca uma inflamação, o hospedeiro, como uma forma de resposta, segrega várias proteínas, provocando uma desregulação a nível neuronal e endócrino - sendo as mais comuns a proteólise e a lipólise. Nessas alterações, o gasto de energia do paciente é elevado, mesmo que ele não esteja fazendo nenhum tipo de atividade que peça do organismo esse tipo de gasto. As consequências destas alterações são a perda de peso, seja por nível de massa muscular ou por gordura. Obs. Desnutrição versus caquexia: na desnutrição, é preferível a mobilização de gordura na perda de peso, poupando a musculatura esquelética, ao contrário do que ocorre na caquexia. Obs. Cabe salientar que, em relação a esse estado concomitante a uma neoplasia maligna, a caquexia está usualmente relacionada a anorexia. Confirma-se o estado de resposta inflamatória sistêmica no indivíduo com câncer através dos níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias. As citocinas são responsáveis por uma grande variação de efeitos biológicos, induzindo a produção de fatores de crescimento, participando do controle de infecções e integrando a resposta inflamatória das mais diversas situações. Com isso, comprova-se sua importância na homeostasia corporal; contudo, uma vez que nesses pacientes sua produção está acontecendo de forma exagerada e crônica, as citocinas podem levar a efeitos deletérios. Na senilidade fisiológica, os idosos apresentam uma resposta inflamatória basal, que é representada por duas condições: níveis acima do normal de proteínas em sua fase aguda e citocinas pró-inflamatórias (como a IL-6) - dessa forma, espera-se que os idosos com câncer apresentam repercussões clínicas mais significativas que os jovens com câncer, devido a esse níveis elevado de citocina senil. Obs. Lembrar que a idade avançada é um fator de risco para câncer. Em contra-mão, é interessante observar que, apesar dessa resposta inflamatória sistêmica, representada por níveis acima do normal de citocinas pró-inflamatórias e proteínas de fase aguda, pacientes com câncer são, em geral, imunodeprimidos. Isto é decorrente de questões específicas da resposta imune que ocorre no microambiente onde está o tumor, como o infiltrado de células imunes no tumor secretando mediadores para crescimento e proliferação tumoral, enquanto o tumor (conjunto de células) apresentam diversos mecanismos de evasão,por meio das quais se protege do ataque do sistema imune; outro ponto é que em sua periferia, ocorre a liberação de citocinas anti-inflamatórias, como a IL-10 e TGF-Beta, combatendo a resposta pró- inflamatória - observa-se a diminuição no número de linfócitos T. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Afim de relembrar, a caquexia caracteriza-se como a perda de massa muscular, com ou sem perda de peso (tecido adiposo), frequentemente associada a anorexia, inflamação e resistência a insulina. Essa perda de tecido adiposo é decorrente do aumento da lipólise, devido a um aumento na expressão de lipase hormônio-sensível. Obs.Em torno de 20% de todas as mortes por câncer são causadas por caquexia, devido à imobilidade ou falência cardiorrespiratória. A frequência em que a caquexia ocorre em pacientes com câncer depende do tamanho do tumor, sendo mais frequente naqueles pulmonares e de trato gastrointestinal. Contudo, metade dos pacientes oncológicos sofre alguma perda de peso, sendo que essa estatística aumenta para 86% nas duas últimas semanas de vida do doente.considera-se, dessa forma, que uma perda de peso maior que 2,75% ao mês é um fator independente de mau prognóstico. A caquexia em decorrência de neoplasia maligna é diferente da que ocorre por jejum, na depressão primária, no envelhecimento e na síndrome de má absorção. Na neoplais maligna, ela cursa com níveis elevados de citocina inflamatórias e proteínas de fase aguda, além da já citada resistência a insulina. Além desses três pontos, tem sido aceito que a lipólise acelerada é o fator mais importante na perda de tecido adiposo do paciente caquético - e não a lipogênese. A caquexia pode, também, ser dividida em primária e secundária, sendo a primária a forma mais frequente. Ela é caracterizada pela interação metabólica entre o tumor e o hospedeiro, que levam o metabolismo ao consumo progressivo, frequente e irrevrsível das proteínas viscerais, musculatura esquelética (principal fonte) e tecido adiposo. Já a secundária é resultado da má ingesta e absorção diminuída. Ambas as formas podem estar presentes juntas num mesmo indivíduo. Esse processo envolve um severo comprometimento do estado geral do individuo, sendo, primeiro, um resultado de alterações na ingestão e má absorção, e, posteriormente, das alterações metabólicas. A caquexia produz, nestes pacientes, uma depleção marcante da musculatura esquelética, com queda de 75% da massa proteíca dessa musculatura; constata-se isso uma vez que as proteínas não musculares permanecem preservadas. A atrofia muscular decorre da diminuição da síntese proteica somada ao aumento de sua degradação, sendo que dois fatores do catabolismo (que está extremamente aumentado nesses pacientes) são os efeitos causadores dessa perda: fator indutor de proteólise e angiotensina II. Além disso, devem ser citados os mediadores inflamatórios mais produzidos: fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), IL-6, óxido nítrico e prostaglandina E (PGE2). Níveis séricos de IL- 1, IL-6, IL-8, TNF-a, fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) também se mostram bastante elevados; sendo que, o tumor primário do paciente foi demonstrado como a fonte principal de tais mediadores. Desenvolvimento É uma condição multifatorial que envolve o aumento do consumo de energia pelo tumor, a liberação de fatores que agem no centro da saciedade - fazendo com que o paciente diminua o consumo alimentar - e citocinas produzidas pelo hospedeiro e pelo tumro que levam a anormalidades metabólicas. Segundo pesquisadores, a caquexia derivada de uma neoplasia maligna, é decorrente de uma complexa interação entre o indivíduo, seu statuts social e psicológico, e a resposta endócrino-metabólica desencadeada pela doença e pelas múltiplas opções de tratamento. Alterações metabólicas São, normalmente, fatores produzidos pelo tumor que, também são importantes no seu desenvolvimento. Metabolismo dos carboidratos Em primeira instância precisamos ter em mente que a célula cancerosa presente no tumor utiliza, preferencialmente, a glicose como seu substrato energético de forma significantemente maior que as células normais utilizam (cerca de 10 a 50 vezes mais) - isso indica que a presença do tumor aumenta o consumo de glicose. Nesse pensamento, o imaginado seria que, em decorrência desse maior uso de glicose pelas células, seus níveis plasmáticos diminuíssem; contudo, isso não ocorre, pois, concomitantemente ao aumento do seu consumo, ocorre um aumento na gliconeogênese hepática - a partir de substratos, como aminoácidos musculares e lactato. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG A glicose é degradada até lactato pelas células neoplásicas e o lactato é reconvertido em glicose no fígado - situação metabólica conhecido como ciclo de Cori. Essa reconversão resulta em gasto energético de seis moléculas de ATP, levando a uma espoliação energética (um roubo de ATPs) que corrobora com a degradação tecidual e a perda de peso e massa corpórea. Os pacientes com neoplasia maligna utilizam o ciclo de Cori 2 a 3 vezes mais que naqueles indivíduos com câncer benigno, por exemplo. Segundo pesquisadores, o gasto energético dessa alta utilização do ciclo de Cori é de aproximadamente 300 calorias por dia. Obs. Essa situação é comum, principalmente, em pacientes com tumores no TGI. Figura: 1. Glicogenólise hepática - conversão do glicogênio hepático em glicose; 2. Glicólise - oxidação da glicose a piruvato no citoplasma celular por sucessivas reações; 3. O piruvato é reduzido anaerobicamente a lactato por ação da Desidrogenase Lática; 4. Conversão do lactato à glicose com alto gasto energético (6 ATP). Outro ponto de extrema relevância é que, nesses pacientes com caquexia, observa-se resistência periférica a insulina, intolerância a glicose, e uma diminuição da estimulação de glicose e insulina no músculo-esquelético. Dessa maneira, a intolerância a glicose - resultado do aumento da resistência a insulina exógena e endógena, e da liberação inadequada de insulina - é ocasionada pela diminuição da sensibilidade dos receptores das células Beta; em relação a resistência a insulina, essa é ocasionada por redução da sensibilidade a insulina nos tecidos periféricos. Ou seja: Intolerância a glicose - diminuição da sensibilidade dos receptores das células beta (b) Resistência a insulina - redução da sensibilidade dos tecidos periféricos. Metabolismo dos lipídios Em um indivíduo saudável, 90% da reserva energética é correspondente a gordura. Contudo, na caquexia resultante do câncer, a perda de gordura é responsável pela maior parte da perda de peso constatada nesse indivíduo. Essa perda de gordura corporal está relacionada a ao aumento da lipólise pela lipase sensível a hormônio, associada a diminuição da lipogênese (ou seja, menos lipídio armazenado) - esse processo acontecerá pela diminuição da lipase lipoprotéica (responsável por catalisa a hidrólise dos triglicérides dos quilomícrons) e fatores tumorais lipolíticos + lipase hormônio sensível. Em doentes com câncer maligno, a quantidade de glicerol e ácidos graxos livres é grande, logo, a mobilização de lípidos é elevada. Em outras palavras - essa perda de peso decorrente da perda de gordura é decorrente de três processos: (1) Ocorre o aumento na atividade lipolítica, ou seja, aumento da quebra de triacilglicerol em ácido graxo e glicerol. Esse aumento da lipólise ocorre em resposta a ativação da lipase sensível a hormônios (HSL) no tecido adiposo. Essa ativação tem como fonte a TNF-alfa através das proteínas MEK e ERK e, por um aumento AMP intracelular. Além disso, nas neoplasias malignas causadoras de caquexia, há uma diminuição do efeito anti-lipólise da insulina que ocorre nos adipócitos (resistência periférica a insulina já citada). Obs. O supracitado fator LMF atua através da interação com o receptor B3-adrenérgico e surge como um fator tumoral catabólico. Este, por sua vez, estimula a lipólise e a hidrolise dos triglicéridos. (2) Ocorre uma diminuição importante na atividade da lipase lipoprotéica(LPL), enzima que é responsável pela hidrólise dos triacilglicerois endógenos e exógenos em glicerol e ácido graxo - essa situação prejudica a utilização de lípidos pelo corpo. (3) Ocorre a diminuição da lipogênese no tecido adiposo pelas citocinas TNF-alfa, IL-6 e IL-1, INF-alfa e INF-gama, uma vez que estás inibem a LPL, ocasionando uma diminuição no armazenamento de lipídios (menos lipídios a disposição para uso energético no organismo. Através desse conjunto de fatores, o tumor consegue produzir moléculas lipofílicas que induzem a lipólise e aumentam a oxidação dos ácidos graxos. Dessa forma, cerca de 85% do tecido adiposo pode perder-se durante a caquexia. Nesses pacientes com diminuição da lipase lipoprotéica ocorre a hiperlipidemia (aumento no sangue). além disso, Pacientes em processo de caquexia excretam na urina o fator mobilizador de lipídios (Lipid Mobilizing Factor - LMF), que age diretamente no tecido adiposo, hidrolisando os triglicerídios a ácidos graxos livres e glicerol, por meio do aumento intracelular do AMPc, de modo análogo aos Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG hormônios lipolíticos, com conseqüente mobilização e utilização dos lipídios. Obs. A proteína ZAG também pode estar presente nesses pacientes. Metabolismo das proteínas As principais alterações metabólicas observadas em relação as proteínas são as taxas de síntese e de catabolismo, além das taxas de turnover orgânico total de proteínas. As manifestações associadas são atrofia muscular do esquelético, atrofia de órgãos viscerais, miopatia e hipoalbuminemia. O catabolismo muscular está aumentado afim de fornecer ao organismo aminoácidos para a gliconeogênese (impedindo que os níveis plasmáticos de glicose, principal fonte de energia das células tumorais, fiquem baixas ou nulas) em um processo que envolve, também, a depleção da massa muscular esquelética a parti do ciclo de Cori. A redução da síntese protéica também faz parte desse quadro e pode ser causado por três situações: 1. Diminuição da concentração plasmática de insulina, uma vez que sua liberação está sendo feita de forma inadequada, e da sensibilidade do músculo esquelético à insulina (resistência). OU 2. Redução dos níveis de formação protéica por suplementação de aminoácidos requeridos para a síntese (menos aminoácidos no corpo do que se é necessário para a formação de proteínas - lembrar que os mesmos estão sendo usados na gliconeogênese; roubo). Outro fator, ainda estudado, que pode ser importante no ponto de vista da diminuição da síntese proteíca é a perda de atividade física nos pacientes caquéticos. Contudo, a síntese de proteínas em fase aguda está aumentada a nível hepáticos nesses indivíduos. Do ponto de vista clínico, a diminuição da massa protéica e atrofia esquelética predispõem o canceroso a um risco no reparo inadequado de feridas, aumentam a susceptibilidade a infecções e levam à fraqueza e à diminuição da capacidade funcional. Já sob o ponto de vista bioquímico, a perda de proteína corporal está relacionado ao aumento do nível sérico do fator indutor de proteólise (PIF) que é capaz de induzir a degradação E inibir a síntese protéica da musculatura esquelética. Um marcador em exames laboratoriais, uma vez que o PIF está presente na urina de pacientes caquéticos portadores de tumor (principalmente no TGI). Metabolismo energético O metabolismo energético é uma soma das reações químicas complexas e integradas, por meio das quais os seres humanos obtem energia do ambiente e, assim, mantém o funcionamento adequado do processos biológicos. Um dos grandes determinantes da perda de peso da caquexia no câncer é o aumento do gasto de energia. Os pacientes podem ser hipermetabólicos, normometabólicos e hipometabólicos a depender do tipo de tumor, estágio do câncer e formas de tratamento empregadas. Em repouso (= gasto energético em repouso ou GER), considera-se que um paciente com neoplasia maliga varia de 60 a 150% a mais do que o gasto energético em repouso de um individuo em estado de normalidade, contudo, estes ainda são dados contraditórios. Contudo, apesar de dados absolutamente específicos ainda serem alvo de estudos, um estado de hipermetabolismo ou catabolismo persistente é comum em doenças mais avançadas. Uma das explicação possíveis para esse quadro é a intensidade com que as células tumorais captam a glicose - sendo que esta intensidade está diretamente ligada ao grau de malignidade e poder de invasão celular. Em outras palavras, quando mais maligno, com mais intensidade as células tumorais utilizam glicose e maior é o gasto energético. A avaliação do gasto energético total inclui os cálculos do GER (70%), gasto energético voluntário (25%) e, gasto energético envolvido no processo de digestão, absorção, transporte e incorporação dos nutrientes pelo organismo (5%). Na caquexia por neoplasia maligna, o gasto energético voluntário pode estár diminuído, manifestando-se clinicamente por apatia, fadiga e depressão. No entanto, o desequilíbrio entre a aquisição e o consumo de energia é uma ocorrência importante no mecanismo de perda de peso (caquexia por causa secundária). As proteínas mitocondriais UCPs 1,2 e 3. tem sido estudas no controle do metabolismo energético. UCP1 - expressa somente no tecido adiposo marrom, que tem por função queimar o excesso de gordura e gerar calor; UCP2 - distribuida e expressa na maioria dos tecidos UCP3 - expressa no tecido adiposo marrom e músculo esquelético. A ativação das UCPs é mediada por sinais orexígenos (come) e anorexígenos (não come) que, respectivamente, diminúem e aumentam a atividade do SNS, responsável por regular o gasto energético. A ativação das UCPs no músculo e tecido adiposo branco, pelas citocinas, deve ser o mecanismo molecular responsável pelo aumento da produção de calor e consumo muscular. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Alterações hormonais Como foi iniciado no tópico “metabolismo energético”, o controle da ingestão alimentar tem regulação cerebral, a nível de: hipotálamo, eixo hipotálamo-hipofisário e sistema autonómico (simpático e parassimpático). Essa regulação/ controle é feita por mecanismos de ordem comportamental, como ingestão de alimentos, padrões de atividade e de sono ou fisiológicos, como ajuste da temperatura corporal, gasto energético basal e ativação da resposta aguda ao estresse. Vários neuropeptídios centrais e gastrointestinais - leptina, neuropeptídio Y, melanocortina, grelina, insulina, galamina, colecistoquinina, endorfina - interferem na regulação da ingestão dos alimentos, como também no gasto energético. Alterações nos níveis dessas substâncias contribuem para a instalação da caquexia. Leptina É um hormônio produzido e secretado pelo tecido adiposo, sendo um importante componente para a homeostasia uma vez que faz parte do grupo que rege o peso corpóreo. Uma de suas ações é a regulação das taxas de gordura corpórea - por exemplo, níveis elevados de gordura são acompanhados aumento proporcional dos níveis circulatórios de leptina.Quando há restrição calórica ou inanição, com conseqüente perda de peso, os níveis de leptina como os de insulina decaem, voltando a elevar-se com a realimentação. Assim, quando há perda de peso, ocorre diminuição dos níveis de leptina proporcionais à perda de gordura corporal. Baixos níveis de leptina cerebral aumentam a atividade de sinais orexígenos hipotalâmicos, que estimulam o apetite, suprimem o gasto energético e diminuem a atividade de sinais anorexígenos, os quais suprimem o apetite e aumentam o gasto energético - ou seja, leptina reduz o apetite e aumenta o gasto energético, ativando circuitos catabólicos e prevenindo circuitos anabólicos. Além disso, os altos níveis de leptina bloqueiam a ação do neuropeptídeo Y. A caquexia associada a neoplasia maligna é entendida como resultado de fatores plasmáticos produzidos pelo hospedeiro em relação ao tumor - a inflamação e, principalmente, as citocinas. Em relação a ingesta, esses altos níveis de citocina (como a TNF-alfa) reduzem a ingestãoalimentar (anorexígena) ao produzir longa inibição do apetite por estimular a expressão e liberação de leptina e/ou mimetizar os efeitos hipotalâmicos de um feedback negativo excessivo, que seria sinalizado pela leptina, para que ocorra a inibição do apetite. Ao fazer isso, as citocinas ainda impedem a execução normal de feedback positivo e mecanismos compensatórios que ocorreriam diante da diminuição da ingestão alimentar e aumento da perda de peso - uma vez que sinaliza ao hipotálamo que está tudo bem. Neuropeptídeo Y É o hormônio que vem logo abaixo da leptina na via metabólica, sendo considerado o mais potente orexígeno que é ativado pela baixa nos níveis de leptina. É abundantemente distribuído no cérebro e também está altamente associado a caquexia. Como já dito, ele é ativado pela diminuição da leptina e faz parte de uma grande rede de substâncias orexígenas, como a a galanina, insulina, peptídios opióides, hormônio concentrador de melanina (MCH), orexina e AGRP (Peptídio Agouti-Associado). o NPY pode estimular o apetite sozinho ou mediante a liberação de outros peptídeos, como os supracitados. Ele é um neuropeptídeo com funções anabólicas, tendo sua ação como o aumento da ingestão de alimentos, diminuição do gasto energético e aumento da lipogênese, promovendo o balanço energético positivo e o aumento da reserva de gordura (faz seu corpo entender que precisa repor energias endógenas e prepara ele para não gastar). Em situações normais, ele reduz a atividade do sistema nervoso simpático, inibindo a lipólise e ativando a lipogénese, originando um aumento das reservas de gordura corporal. Contudo, esse sistema está comprometido e ineficaz em portadores de tumor que se encontram em estados anoréticos/caquéticos. O nível e a liberação de NPY no hipotálamo estão reduzidos, tendo como causa algumas citocinas, diminuindo sua atividade e, consequentemente, a ingestão de alimentos e das reservas de gordura, sendo o efeito mais intenso à medida que a caquexia progride. Obs. Uma das principais citocinas envolvidas nesse processo é a IL-1 Melanocortina (MC) São uma família de peptídeo regulatórios formada pela adenocorticotrofina (ACTH) e o hormônio melanócito estimulante (MSH). essa família e seus receptores. Esse grupo de peptídios e seus receptores ajudam a regular o apetite e a temperatura corporal, como também são importantes para memória, bem-estar e imunidade. Apesar da acentuada perda de peso, em que normalmente se esperaria uma regulação negativa dos sistemas anorexígenos relacionados à melanocortina, o sistema permanece ativo, durante a caquexia neoplásica, aumentando ainda mais a taxa metabólica, a anorexia e a perda de peso. Mas, se o receptor central de melanocortina for bloqueado, os processos de anorexia e caquexia são revertidos. Grelina É secretado pelas células epiteliais do fundo gástrico. É um importante regulador do apetite e do peso corporal, por mecanismos centrais envolvendo NPY e o ARGP, ambos potentes estimulantes do apetite a nível hipotalâmico, e também é conhecida por fazer parte da hormona de crescimento. Ela induz a ingestão de alimentos, promovendo a acumulação de nutrientes nas reservas de gordura e no músculo. Ela faz uma atividade contrária a leptina, ou seja, está alta em períodos de jejum e diminui quando ocorre a ingestão de alimentos. Ela também pode ter uma ação anti- inflamatória Acredita-se que, entre suas funções, esteja a causa do balanço energético positivo através da diminuição de gordura, por um mecanismo independente dos fatores de crescimento, além de regular o metabolismo da glicose, induzir a dipose e desencadear uma resposta a fome. Nos pacientes com caquexia por neoplasia maliga, seus níveis podem estar diminuídos devido um bloqueio na resposta adaptada ao jejum; essa resposta ocorre em decorrência da diminuição da expressão do RNAm da grelina no estômago, diminuindo assim o apetite. Mas, existem controvérsias a respeito dos níveis de grelina na circulação e sua ação. Testosterona A concentração desses hormônio está diminuída, em situações normais, na senilidade e pode originar uma diminuição da massa óssea, da atividade da medula, anemia, disfunção sexual e da força muscular. Pacientes em estágios de neoplasia maligna apresentam baixos níveis de testosterona e, consequentemente, hipogonadismo. Essa baixa concentração de testosterona resulta da baixa Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG atividade do eixo hipotálamo-hipofíse, do tratamento da neoplasia e do próprio estado de caquexia. Serotonina Certos estudos defendem que os receptores de serotonina estão envolvidos na regulação do apetite. Os neurónios POMC (pro-opiomelanocortina) são expressos pelo recetor 5-HT2C no hipotálamo, que é o principal local de ação dos neurónios anorexígenos. Mediadores - citocinas Citocinas são glicoproteínas solúveis, de pequeno peso molecular, produzidas pelos macrófagos e linfócitos do hospedeiro, em resposta a estímulos tumorais, que atuam como mensageiras intercelulares. Níveis circulantes mensuráveis de citocinas ocorrem, geralmente, em situações de hiperestímulo da produção, e, provavelmente, refletem perda dos mecanismos de homeostase. As citocinas tem efeitos sobre quase todos os orgãos do corpo e são essenciais para o funcionamento do sistema imune. As citocinas têm sido associadas como a chave principal de fatores humorais envolvidos na caquexia do câncer e, com a progressão da doença, é possível que as citocinas passem a circular em outros tecidos e venham a atuar como fatores endócrinos. As citocinas que têm um papel importante na caquexia oncológica são: o fator TNF-α, a interleucina IL-1, a interleucina Il-6e o interferão IFN-y. Fator de necrose tumoral (TNFalfa) É conhecido também como caquexina. É uma citocina produzida pelo estímulo de células do sistema retículo- endotelial de macrófagos e monócitos. A caquexia resultante dos níveis de TNF alfa ocorre pela diminuição da ingestão alimentar e balanço nitrogenado negativo, contudo, os estudos mostram que, depois de uma exposição crônica, o organismo desenvolve tolerância a e tanto a ingestão alimentar quanto o peso corporal tendem a retornar ao normal. Essa citocina está associada ao aumento da lipólise , por ser capaz de inibir a lipase lipoprotéica. Segundo estudos, aumento do cortisol e glucagon, diminuição de insulina, resistência à insulina, anemia, febre e aumento do gasto energético, tanto em animais como em humanos, estão associados à TNFa. IL-1 Citocina inflamatória que compreende uma família com dois agonistas e dois antagonistas. Macrófagos e monócitos, principalmente, mas também, células endoteliais, fibroblastos, epitélio intestinal e, ainda, eosinófilos, neutrófilos e mastócitos, os quais podem sintetizar IL-1. O aumento de IL-1 induz saciedade, o que diminui a ingestão de alimentos e de água. É, portanto, antagonista do NPY. É capaz, ainda, de causar febre e alterar a síntese protéica no fígado. a IL-1 parece produzir os mesmos efeitos do TNF, mas não age sobre o músculo, e seus efeitos em induzir a caquexia tornam-se menos potentes que os do TNF. IL-6 Citocina produzida por macrófagos, monócitos, fibroblastos, células endoteliais e queratinócitos. Seus efeitos no metabolismo intermediário de glicose em hepatócitos são semelhantes aos da IL-1, porém menos potentes. Estudos com ratos têm revelado que não há envolvimento com a caquexia nesses animais e, outros estudos utilizando músculo esquelético, mostraram que a IL-6 não tinha efeito direto na proteólise muscular desses animais. Segundo Van Halteren et al (2003) e Tisdale (2002), a concentração de IL-6 ou TNFa não tem papel central na caquexia do câncer em humanos. Para Inui (1999), níveis séricos aumentados de TNFa, IL-6 e IL-1 têm sido associados em alguns, mas não em todos os pacientes, com a progressão de alguns tumores, mas a administração crônica dessas citocinas, sozinhas ou combinadas, é capaz de diminuir a ingestão alimentar, desencadeando a SAC. Altos níveis circulantes de IL-6 são associados à perda de pesoem alguns pacientes com linfoma, câncer de pulmão e colo-retal. Interferon Gama Citocina produzida por células T ativadas e natural killer (NK). Potencializa o efeito do TNF e aumenta a expressão do RNAm engatilhada pelo TNF nos macrófagos expostos à endotoxina. Segundo Carvalho et al (1992), assim como o TNFa, o IFNg provoca diminuição da ingestão alimentar e inibição da lipase lipoprotéica nos adipócitos. Assim, muitos estudos revelam que a caquexia pode, raramente, ser atribuída a uma citocina, mas a associação de citocinas e outros fatores, como alguns hormônios - cortisol, glucagon, adrenalina - propiciam / intensificam a SAC Degradação da massa muscular-esquelética São utilizadas 3 vias: a lisossomal, a Ca++ dependentes e a via da ubiquitina-proteosoma ATP dependente, sendo está última a via considerada mais importante, uma vez que as outras duas contribuem com apenas 15-20% da degradação proteica no músculo. Ubiquitina-proteosoma Neste sistema, as proteínas são degradadas pelo proteosoma 26S, através de uma ligação covalente de uma cadeia de moléculas da ubiquitina. Primeiro, ocorre a ativação da proteína ubiquitina pela enzima de ativação (E1) dependente de ATP, Após, a E1 transfere a ubiquitina reativa com uma das enzimas de conjugação da ubiquitina E2. A E3, por sua vez, liga-se ao substrato proteico e catalisa o transporte da ubiquitina a partir da enzima E2. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG A degradação das proteínas depende deste passo, pois é neste ponto que a velocidade da via é limitada. O processo de degradação dá-se, quando a proteína sofre a ubiquinação e se liga ao proteosoma. Alterações sensoriais A diminuição no consumo alimentar e o aumento de perda de peso que ocorrem na caquexia por neoplasia maligna são multifatoriais. Entre essas variadas causas, muitos pacientes atribuem a diminuição do apetite e da ingestão alimentar a alterações desagradáveis e inaceitáveis do paladar e do olfato. Os fatores que afetam o paladar e o olfato são complexos, sejam eles anatômicos, fisiológicos ou de outra natureza. Os estudos iniciais sobre o paladar alterado de pacientes com câncer utilizaram o método que detecta a menor concentração percebida de soluções de cloreto de sódio (salgado), ácidos hidroclórico e cítrico (azedo), uréia (amargo) e sacarose (doce). Mas, esses estudos de sensibilidade de paladar, em doença maligna, têm mostrado resultados variáveis. Os relatos incluem um limiar de reconhecimento elevado para o doce, limiar diminuído para o amargo e algum aumento em limiares para o azedo e o salgado. O limiar de paladar diminuído para o amargo foi associado à aversão à carne vermelha. Segundo pesquisadores, essas alterações do paladar são associadas à diminuição dos níveis séricos de metais como zinco e níquel. Obs. É importante salientar que a supressão do paladar é mais severa após tratamento radioterápico na região de orofaringe. Embora estes achados sobre o sabor sejam inconsistentes em relação a um padrão, respostas alteradas ao sabor dos alimentos causam rejeição de alimentos nutritivos, contribuindo para a anorexia e diminuição da ingestão. Essas anormalidades de sensações não se correlacionam consistentemente com a localização tumoral, extensão de envolvimento do tumor, resposta do tumor à terapia ou preferências e ingestões alimentares. Em relação às alterações gerais do paladar, é freqüente o desenvolvimento de aversões alimentares específicas, ou seja, o consumo de um alimento particular é associado. a uma reação desagradável durante ou após sua ingestão. O resultado é a abstenção daquele alimento. Portanto, recomenda-se que os pacientes evitem seus alimentos preferidos durante o período da QT, caso contrário poderá ocorrer uma associação de desprazer entre os efeitos da QT e os alimentos oferecidos durante o tratamento do câncer, criando-se uma situação de aversão alimentar. Saciedade precoce também é comum no paciente oncológico, presente em aproximadamente 50% dos pacientes, por alterações na motilidade GI e redução da capacidade gástrica. O declínio da capacidade gástrica pode ser causado por uma neuropatia autonômica paraneoplásica, em virtude do tratamento quimioterápico que altera o feedback autonômico do sistema nervoso central. Neoplasias malignas no TGI também podem produzir saciedade precoce. Fatores catabólicos e anabólicos na perda de massa muscular-esquelética A miostatina (catabólica) e a IGF-1 (anabólica) tem várias funções na regulação do crescimento músculo esquelético. A Miostatina é uma citocina cuja principal função tem a ver com a redução da massa muscular - ou seja, o tamanho do músculo é regulado pela miostatina juntamente do fator de crescimento IGF-1 e a via PL3K/akt, responsável pelo aumento da síntese de proteínas no músculo. Após sua ligação ao seu receptor, a miostatina pode iniciar várias cascatas diferentes, sendo que uma delas implica na diminuição da atividade dos genes participantes da miogênese - desta forma, sua inibição é benéfica na caquexia. Numa situação fisiológica, a IGF-1 bloqueia a miostatina e ativa a via PL3/akt, ativando o anabolismo. O IGF-1 atua como agente de regeneração e de recrutamento de células estaminais para zonas onde o músculo é lesionado. Além disso, ela consegue inibir a miostatina através da inibição de fatores de transcrição responsáveis pela indução da fosfoliração nessa mesma via (a via pode ser catabólica ou anabólica dependendo de quem está atuando nela). Na caquexia, os níveis de IGF-1 estão diminuidos, o que provocará um aumento da atividade da miostatina e diminuição da massa muscular esquelética. Quanto ao NF-KB (catabólico), surge como um fator capaz de acelerar o processo de inflamação, aumentar a proliferação celular do tumor e prevenir a apoptose na caquexia. Surge também como um dos principais fatores que induz caquexia por encaminhar citocinas (TNF-α) para dentro das células do doente. Por outro lado, pensa-se que o fator PIF possa contribuir para a degradação proteica no músculo, através da ativação da proteólise na via ubiquitina. Alguns estudos reportaram que este fator pode ativar o NF-KB e, consequentemente, aumentar a produção de IL-8 e IL-6. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Outra via importante na caquexia oncológica é a degradação autofágica. Nesta via, os organelos celulares são isolados em autofagossomas. Estes mais tarde, são fundidos com os lisossomas, onde as proteínas são digeridas. Alguns estudos demostraram um aumento da degradação autofágica lisossomal em doentes com cancro, associada a uma atrofia muscular. Nesta situação os fatores de transcrição FoXO têm uma ação indutora na transcrição de genes autofágicos em resposta à caquexia. Por outro lado, o stress oxidativo também está associado a doenças crónicas e pode levar à caquexia. O aumento do fator ROS tem um papel importante na perda de massa muscular, pois tem um poder catabólico na via ubiquitina-proteosoma. Assim, de uma forma resumida e como podemos observar na figura 9, quando existe perda de massa muscular dá-se uma diminuição na sinalização dos fatores de crescimento (IGF-1), e, consequentemente, uma diminuição na fosforilação dos fatores FoXo pela AKt. Assim, devido a esta diminuição de fosforilação, os fatores de transcrição FoXO são transportados para o núcleo das células e aumentam a expressão das ligases de E3, MuRF1 (Proteína muscle RING-finger-1) e MAFbx (Atrogina-1 atrofia muscular/F-box), responsáveis pela atrofia muscular. Estas ligases são também reguladas pela NF-KB que as libertam para núcleo das células, promovendo também a degradação muscular. FONTE: Tratado de oncologia, Síndrome da anorexia-caquexia em portadores de câncer - Manuela Pacheco e Caquexia no câncer - conhecendo suas bases moleculares, Fisiologia da caquexia - Instituto superior de ciência em saúde, 2014 Estudar os sinais e sintomas relacionados à malignidade. A perda de peso significativa tem associação com a anorexia, que é a perda espontânea e não intencional de apetite e é um dos sintomasmais comuns do CA avançado. Ainda, resulta de alterações do paladar e olfato ou mudanças na regulação hipotalâmica (Angelo; Oliveira, 2009). Um estudo avaliando o perfil nutricional de pacientes com CA esofágico detectou que a ingestão calórica foi considerada baixa quando comparada as recomendações nutricionais apresentando um consumo médio de 18,53 kcal/kg/dia. Além disso, constatou-se que um dos determinantes da perda de peso e da caquexia no CA é o aumento do gasto energético (Firme; Gallon, 2010). A anorexia ocorre no CA por incapacidade do hipotálamo para responder apropriadamente a sinais periféricos indicativos de um déficit de energia. Entre as principais razões da perda de peso estão as interações hospedeiro tumorais que aumentam a expressão cerebral de substâncias pró- inflamatórias (IL-1, IL-6 e TNF-α) as quais estão associadas à resistência hipotalâmica a sinais periféricos que informam ao cérebro do estado de consumo e gasto energético (Sánchez et al., 2008). O EN de pacientes com CA pode sofrer comprometimentos que levam a consequências negativas como perda de peso, anorexia, disfagia, náuseas, vômitos, xerostomia, saciedade precoce, constipação, disgeusia e dor (Wanderley et al., 2011). Um estudo transversal e descritivo realizado com pacientes com CA em tratamento quimioterápico em um Centro de Oncologia no município de Estrela/RS mostrou a porcentagem dos principais desconfortos gastrointestinais. Os mesmos foram descritos por 95% dos pacientes com destaque para náuseas (90%), perda de apetite (70%), vômitos (65%), disgeusia (45%), constipação (15%), xerostomia (15%) e diarréia (10%). Ainda, os pacientes relataram uma aceitação regular da dieta de 45% e ruim de 25% (Azevedo; Bosco, 2011). FONTE: As implicações da caquexia no câncer - Adriana Cândida Acredita-se que os principais sintomas são: anorexia, náuseas, disfagias, sensação de satisfação no início da refeição, odinofagia, mucosites, disgeusia, constipação e intestino obstruído, fadiga, dor e problemas psicológicos. Entre estes, a fadiga é um dos que ocorrem com mais frequência, fazendo-se presente na maioria dos pacientes durante a quimioterapia (80%) e naqueles pacientes que estejam em fase avançada (70%). Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Outra anormalidade resultante do tratamento ocorre em decorrência da radioterapia, uma vez que os pacientes podem desenvolver um quadro de xerostomia e alterações no sabor dos doentes, dificuldade a ingesta alimentar e a vontade de comer também. FONTE: Fisiologia da caquexia - Instituto superior de ciência em saúde, 2014 Discutir os exames complementares solicitados na caquexia relacionada a neoplasias. Deve-se ter em mente que mesmo na ausência de perda de peso ou massa muscular evidente, a caquexia deve ser buscada - ter atenção especial aquelas neoplasias malignas em que o câncer deve influenciar bastante o estado nutricional do paciente, como aquelas que atingem o pâncreas, pulmão, esófago e estômago. O EN dos pacientes é usualmente avaliado pela combinação de parâmetros clínicos, antropométricos e laboratoriais. A antropometria constitui-se em um conjunto de técnicas de mensuração do corpo humano ou de suas várias partes, avaliando o efeito do estresse da doença. Medidas antropométricas são freqüentemente utilizadas na determinação dos compartimentos corporais: tecido adiposo, muscular, ósseo, água extracelular. O peso corpóreo é o parâmetro nutricional mais utilizado na avaliação do paciente. Segundo Ferreira (2003)68 e Inui (2002), variação de 2% em um mês, 3,5% em três meses e 5% em um período de seis meses é aceitável em indivíduos adultos. Qualquer variação, além desses parâmetros, deve ser considerada anormal. A suspeita da caquexia ocorre diante de uma perda involuntária de 5% em relação ao peso habitual, em um período de 6 meses. Uma perda de 10% indica depleção severa, e é considerada o parâmetro utilizado para estabelecer o início da síndrome da anorexiacaquexia (SAC) no paciente obeso. É importante destacar, que a perda de peso diminui a resposta do paciente ao tratamento quimioterápico e aumenta a toxicidade da droga no organismo. Além do peso, a prega cutânea de tríceps (PCT), a circunferência muscular do braço (CMB), o perímetro de pulso e o índice de massa corpórea (IMC) são outras medidas antropométricas utilizadas. Os testes laboratoriais mais comuns na avaliação do EN são a dosagem plasmática de transferrina, proteína transportadora de retinol, e creatinina urinária, embora tenham valor limitado em pacientes com câncer, ante o aspecto crônico da desnutrição. A albumina sérica é, então, o parâmetro mais utilizado, frente ao baixo custo e a alta acurácia (na ausência de disfunção hepática e/ ou renal), seguida da pré-albumina e dos linfócitos. Em pacientes com câncer, podem haver dificuldades na interpretação desses parâmetros em virtude de alterações fisiológicas, retenção hídrica, aumento da massa tumoral, alterações hormonais devido ao tratamento ou síndromes paraneoplásicas, efeitos do tratamento antineoplásico e da doença sobre o metabolismo e composição corporal. Assim, ainda não existe método de avaliação nutricional considerado "padrão ouro", em razão de suas limitações e influências de fatores independentes do EN. O diagnóstico nutricional de um paciente com câncer gastrointestinal deve envolver história clínica e dietética, exame clíniconutricional, antropometria, parâmetros bioquímicos, considerando-se as vantagens, desvantagens e indicações de cada método. FONTE: Síndrome da anorexia-caquexia em portadores de câncer - Manuela Pacheco Cabe destaque também para a avaliação do estado nutricional do paciente, que tem por objetivo identificar os pacientes desnutridos ou que estão em risco de desenvolver desnutrição, seja pelo desenvolvimento da doença ou pelo próprio tratamento antineoplásico. A European Society of Parenteral and Enteral Nutrition (Espen) recomenda que a avaliação do estado nutrológico seja iniciada no diagnóstico da doença neoplásica e seja repetida em toda visita médica. Um dos parâmetros mais simples é o índice de massa corporal (IMC), que é calculado dividindo-se o peso (kg) pela altura (m) ao quadrado. IMC menor que 20 kg/m2 indica desnutrição. Entretanto, edemas podem elevar o IMC e pacientes previamente obesos podem ter desnutrição importante até atingirem o nível de risco, sendo mais recomendado que se utilize a porcentagem de peso perdido. Pacientes que apresentaram perda de 5% do peso habitual em 3 meses ou 10% do peso habitual em 6 meses encontram-se sob risco de desnutrição. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG A determinação de proteínas plasmáticas é comumente utilizada, porém o nível pode se apresentar excessivamente baixo, em função da síntese hepática aumentada de proteínas de fase aguda. A albumina plasmática menor que 2,8 mg/dL é indicativa de alto risco de desnutrição. Existem protocolos que avaliam o risco nutricional de pacientes oncológicos, sendo o mais utilizado a Avaliação Subjetiva Global Modificada, que leva em consideração dados clínicos e laboratoriais(Tabela 2)6 e oferece sensibilidade de 98% e especificidade de 82% em paciente oncológicos. Ou, pode se usar o questionário Malnutrition Screening Tool, em que Os valores indicados dizem respeito a uma escala, estipulando-se que valores a partir de 2 apontam para doentes com risco de má nutrição. FONTE: Tratado de Nutrologia Compreender o cuidado paliativo do paciente com neoplasia/metástase e sua indicação. Pela definição da Organização Mundial de saúde para Cuidados Paliativos, todos os pacientes portadores de doenças graves, progressivas e incuráveis, que ameacem a continuidade da vida deveriam receber a abordagem dos Cuidados Paliativos desde o seu diagnóstico. Entretanto, sabemos que, se esta referência tivesse de ser cumprida, a maioria dos pacientes permaneceria sem nenhuma assistência paliativa, pois não temos ainda disponibilidade de profissionais e serviços que pudessem dar conta do atendimento destapopulação. Por conta desta dificuldade de avaliar e cuidar do sofrimento, estabelecemos alguns critérios de recomendação para Cuidados Paliativos, considerando a possibilidade de indicação para aqueles pacientes que esgotaram todas as possibilidades de tratamento de manutenção ou prolongamento da vida, que apresentam sofrimento moderado a intenso e que optam por manutenção de conforto e dignidade da vida. Um dos critérios mais discutidos é o que se refere ao prognóstico de tempo de vida do paciente. Nas raízes da prática da medicina encontramos uma certa harmonia entre a ciência e o sacerdócio místico que envolvia os poderes do médico em avaliar e curar doenças. Apesar disso, a arte de prever o futuro ainda não se tornou suficientemente científica a ponto de especializar o médico no exercício de prognosticar. Esta avaliação busca reforços constantes em escalas, sinais e sintomas que podem identificar o processo de morte em fases precoces, mas ainda envolve julgamentos fisiológicos e sociais bastante complexos. Mesmo que a morte seja um fenômeno biológico claramente identificado, as percepções do significado, tempo e circunstâncias em que o processo de morrer e a morte se sucedem ainda permanecem num conhecimento pouco estabelecido e ensinado. O maior perigo deste exercício de avaliar tempo de sobrevida de uma pessoa é determinar a morte “social” antes da morte física propriamente dita. Uma vez que se estabelece que um paciente tenha uma expectativa de vida pequena, em dias ou semanas, corremos o risco de subestimar suas necessidades e negligenciar a possibilidade de conforto real dentro da avaliação do paciente e de sua família. Em geral, a avaliação prognóstica de pacientes em fases avançadas de doenças graves ainda apresenta erro otimista considerável, principalmente quando avaliamos pacientes com doenças não neoplásicas. Um estudo em 2000, por Christakis e colegas(3) demonstrou que a acurácia de prognóstico geralmente apresenta erro para o lado do otimismo. Apenas 20% dos médicos têm acurácia de prognóstico de 33% dos pacientes dentro do período atual de sobrevida, sendo que Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG 63% são muito otimistas e 17% subestimam o tempo de sobrevida. Uma conclusão interessante foi que à medida que aumenta o tempo de relação médicopaciente, a acurácia de prognóstico diminui, demonstrando que o vínculo que se estabelece entre o médico e seu paciente determina um “desejo” do médico de prever uma condição que implica menor capacidade de avaliar a realidade. Este resultado nos permitiria iniciar uma discussão pertinente de o quanto os desejos e expectativas do próprio médico não poderiam interferir na avaliação do prognóstico de seu paciente. Uma das ferramentas que temos disponíveis na avaliação de prognóstico diz respeito à capacidade funcional do paciente. Entretanto, sabemos que a capacidade funcional pode estar diretamente relacionada com uma condição de sofrimento intensa, não avaliada ou não tratada adequadamente e que deforma a avaliação de prognóstico. Por exemplo, um paciente com câncer de próstata pode estar comprometido em sua funcionalidade por causa de uma dor óssea intensa não tratada e não por deterioração sistêmica causada por sua doença de base. Neste caso, a deterioração sistêmica se deve ao sofrimento e não ao avanço da doença para órgãos vitais. Quanto à avaliação de capacidade para as atividades da vida diária, temos as recomendações de Cuidados Paliativos para pacientes dependentes em determinadas atividades como incapacidade para se locomover, alimentar-se e incontinências (tabela 3). Como medir o declínio funcional e clínico A escala de performance status de Karnofsky (tabela 4) foi desenvolvida para pacientes com câncer como um meio objetivo de documentar o declínio clínico do paciente, avaliando a capacidade de realizar determinadas atividades básicas. A maioria dos pacientes com uma escala Karnofsky inferior a 70% tem indicação precoce de assistência de Cuidados Paliativos. Performance de 50% nesta escala é um indicador de terminalidade, reafirmando que estes são pacientes elegíveis para Cuidados Paliativos, a menos que exista um ganho previsivelmente benéfico em sustentar terapia para a doença de base, que seja simultaneamente disponível e possam ser tolerados. Outro instrumento útil para medir a condição clínica do paciente é a Escala de Performance Paliativa (PPS) que foi desenvolvida em 1996, em Victoria, British Columbia, e revisto em 2001. Para contornar a dificuldade de avaliação prognóstica, foram estabelecidos alguns critérios clínicos para cada doença ou para cada condição clínica, que auxiliam nesta decisão de encaminhar aos Cuidados Paliativos. Alguns destes critérios dizem respeito a condições mórbidas específicas, como Insuficiência Cardíaca Congestiva, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, Câncer, Esclerose Lateral Amiotrófica, Demência e outras doenças degenerativas progressivas. Indicadores não específicos, como perda ponderal progressiva, declínio de proteínas plasmáticas, perda funcional também são utilizados. Neoplasias malignas A avaliação prognóstica em oncologia tem diversas particularidades e, especialmente após o desenvolvimento de drogas-alvo, se tornou um tema com mudanças frequentes. Em linhas gerais, pode-se dizer que tumores metastáticos costumam ter um prognóstico pior do que tumores localizados; metástases para órgãos “nobres” como pulmão, fígado e sistema nervoso central costumam estar associadas a prognósticos piores do que metástases ósseas por exemplo. Além disso, a funcionalidade está diretamente relacionada ao prognóstico em oncologia. Quanto pior a funcionalidade, maior a chance de toxicidade com o tratamento e também menor a sobrevida provável (LEE; SMITH, 2019). A seguir Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG duas escalas utilizadas para avaliar funcionalidade em oncologia: Em pacientes oncológicos em cuidados paliativos exclusivos um KPS, abaixo de 50 é associado a uma sobrevida estimada de menos de 8 semanas e a hipercalcemia da malignidade também é marcador de pior prognóstico nesse contexto (LEE; SMITH, 2019). O Palliative Prognostic Index (PPI) pode ser utilizado em pacientes com câncer avançado (tumores sólidos) em cuidados paliativos exclusivos, isto é, que não têm mais programação de quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, imunoterapia ou outras drogas específicas para tratamento da neoplasia. Ele permite estimar sobrevida em 90, 61 e 12 dias com sensibilidade e especificidade de 79% e 77%, respectivamente. Esta é uma escala interessante, pois utiliza informações clínicas sem necessidade de exames complementares de alta complexidade (LEE; SMITH, 2019). FONTE: Manual de cuidados paliativos - Sírio Libanês (2019) Elucidar como o tratamento oncológico provoca a perda de peso. Numerosas abordagens terapêuticas são adotadas nos tratamentos antineoplásicos, dependendo da natureza e etapa da doença, dos tratamentos anteriores e da resposta do paciente. Os tratamentos atualmente disponíveis contra o câncer incluem a ressecção do tumor, a quimioterapia, a radioterapia e o transplante de medula óssea (INCA, 2010). Em muitos casos, é necessária a combinação de mais de uma modalidade. De forma geral, esses tratamentos são complexos, custosos e geralmente envolvem trabalho multiprofissional em instituições especializadas para atender a todas as necessidades do paciente, com os objetivos de aumentar a sobrevida, preservar a forma e a função, levando em conta a curabilidade e qualidade de vida (OLIVEIRA, 2008). Entretanto, cada modalidade de tratamento pode resultar em efeitos colaterais que geram impacto negativo sobre o estado nutricional, pois limitam a ingestão e/ou a absorção de nutriente pelo organismo, podendo levar à perda de peso e à desnutrição. Radioterapia É um dos principais métodos de controle local do câncer; estimando-se que 60% dos pacientes com câncer necessitem de radioterapia, seja ela curativa ou paliativa, durante o curso de sua doença. Contudo,apesar dessa ampla necessidade, essa modalidade de tratamento tem limitações clínicas devido aos efeitos adversos que podem afetar o estado nutricional do paciente graças a seus efeitos em tecidos normais. A magnitude desses efeitos depende de fatores relacionados ao regime de tratamento, incluindo o tipo de radiação, a dose total administrada, o tamanho do campo irradiado e o fracionamento. Além disso, a combinação com mais de uma forma de tratamento - como a radioterapia e a quimioterapia - podem aumentar significantemente esses efeitos. Ou seja, quanto mais intenso é o tratamento, mais progressiva é sua desnutrição, resultando em diminuição da qualidade de vida e piora dos resultados oncológicos. A radiação induz uma importante resposta inflamatória nos órgãos irradiados, caracterizada por infiltração de leucócitos e mudanças vasculares, sendo que, os documentos demonstram que essa resposta inflamatória é precoce e surge duas horas após a exposição. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Em geral, os tecidos corpóreos que possuem alta taxa de divisão celular, como o sistema hematopoiético e o TGI são os de maior vulnerabilidade ao ataque raioinduzida. Estudos mostram que a radioterapia curativa de alta dose na região de cabeça e pescoço foi associada com significante perda de peso, independentemente da dose de radiação administrada. Conclui-se que a perda de peso em pacientes submetidos à radioterapia é frequente e que, muitas vezes, prolonga-se por um longo período após o tratamento. Apesar de ser um problema comum, os estudos estão limitados quanto à localização do tumor, e os determinantes dessa perda de peso ainda não estão claros, havendo necessidade de novas pesquisas sobre esse assunto FONTE: VARIAÇÃO DO PESO CORPORAL E FATORES ASSOCIADOS EM PACIENTES COM CÂNCER SUBMETIDOS À RADIOTERAPIA - Elemárcia, universidade de brasília. Os principais efeitos colaterais relacionados ao tratamento quimioterápico são náuseas, vômitos, toxicidade hematológica, diarréia, mucosite e distúrbios hidroeletrolíticos. O reconhecimento destas complicações e seu tratamento precoce são de extrema importância no manejo do paciente oncológico. Náusea e vômitos são efeitos colaterais comuns a vários agentes quimioterápicos. Náuseas e vômitos mal controlados podem levar a desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos e perda de peso. Pode-se classificar a êmese induzida pela quimioterapia em aguda, tardia ou antecipatória. Êmese aguda ocorre dentro das primeiras 24 horas após início da quimioterapia. Êmese tardia ocorre 24 horas após quimioterapia. Êmese antecipatória é uma resposta condicionada que se inicia antes ou durante a administração da quimioterapia. Terapia antiemética deve ser baseada no potencial emetogênico dos fármacos utilizados associado a fatores individuais do paciente (êmese prévia, etilismo, idade). Pacientes recebendo esquemas quimioterápicos de moderado a alto potencial emetogênico devem receber profilaxia com antagonistas do receptor serotoninérgico de 5- hidroxitriptamina (5-HT3) + dexametasona8 . Dentre os antagonistas do 5HT-3, podese citar granisetrona, ondasetrona e dolasetrona, os quais apresentam eficácia equivalente. Outros agentes que podem ser usados são benzodiazepínicos, fenotiazinas, antagonistas do receptor da neurocinina-1 (aprepitante) e benzamidas substituídas (metoclopramida). Mucosite é um termo geral para eritema, edema, descamação e ulceração da mucosa oral e orofaringe secundária a quimioterapia ou radioterapia. Esta condição causa dor severa, disfagia, desnutrição e infecções secundárias. O tratamento consiste em uso de sintomáticos, como analgésicos. Uma boa higiene oral pode prevenir infecções secundárias. Diarréia pode ser um sintoma debilitante e causar risco de vida. Diarréia severa pode retardar o tratamento e reduzir a adesão ao mesmo. Sugere-se que cerca de 10% dos pacientes com câncer podem apresentar diarréia aguda ou persistente9 . O tratamento deve ser sintomático, para reduzir o número de evacuações e prevenir desidratação. Pode-se usar agentes não- Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG específicos, como loperamida, ou análogos da somatostatina, como octreotide, para controle dos sintomas. Distúrbios eletrolíticos são descritos e podem estar relacionados ao tratamento quimioterápico. Dentre os agentes, encontra-se a cisplatina que pode causar nefrotoxicidade levando à hipocalemia e à hipomagnesemia secundárias. Destaca-se ainda entre os efeitos colaterais a toxicidade hematológica. Pode-se manifestar por anemia, plaquetopenia e neutropenia. Os pacientes oncológicos podem necessitar, durante o tratamento, de suporte transfusional, uso de fatores estimulantes do crescimento de granulócitos, eritropoetina e antibioticoterapia. Dentre as complicações infecciosas relacionadas à quimioterapia, destaca-se a neutropenia febril. O risco de desenvolver infecções bacterianas aumenta de acordo com a intensidade e a duração do período neutropênico. Define-se neutropenia como contagem absoluta de neutrófilos < 500/mm3 ou entre 500 e 1.000 com previsão de declínio nas 48 horas seguintes e febre com temperatura oral > 38,3°C ou 2 medidas superiores a 38°C com intervalo de 1 hora. Deve-se realizar exame. físico completo a fim de localizar um foco infeccioso. Na avaliação inicial, deve-se obter hemograma, bioquímica, urina 1, urocultura e hemocultura. Os pacientes necessitam de avaliação clínica e início precoce de antibioticoterapia a fim de minimizar as complicações. O tratamento radioterápico também pode apresentar alguns efeitos colaterais agudos ou tardios. Na fase aguda, os pacientes podem manifestar náuseas, vômitos, astenia, mucosite, diarréia e dermatite. Na fase tardia, podem evoluir com xerostomia, hipoacusia, fibrose ou alterações vasculares. Anorexia e suporte nutricional Em pacientes com câncer, a perda de peso pode ser considerada fator de pior prognóstico. Ao diagnóstico, 80% dos pacientes com neoplasia do trato gastrintestinal e 60% daqueles com neoplasia pulmonar já se apresentam com déficit significativo de peso, geralmente definido como diminuição de pelo menos 10% do peso habitual no período de 6 meses. Enquanto um adequado suporte nutricional pode proporcionar manutenção do peso e melhor qualidade de vida, a ausência de suporte nutricional pode proporcionar desnutrição, maior risco de infecções e contribuir para maior incidência e severidade de efeitos colaterais relacionados ao tratamento antineoplásico, reduzindo as chances de ganho em sobrevida. A anorexia está presente entre 15 e 25% dos pacientes com câncer ao diagnóstico, mas pode ocorrer também como efeito colateral do tratamento antineoplásico (tanto quimioterapia quanto radioterapia). Na doença metastática, cerca de 100% dos pacientes apresentam-se com este sintoma. Entre as medidas farmacológicas para tratamento da anorexia, podem ser citados progesterona (megestrol e medroxiprogesterona) e corticosteróides (dexametasona e metilprednisolona). Outras medicações com potencial benefício são dronabinol, anti-histamínicos, antidepressivos/antipsicóticos (olanzapina, mirtazapina), talidomida e agentes anabolizantes. A perda de peso relacionada ao câncer ou secundária a complicações do tratamento pode ser combatida com agentes pró-cinéticos, antieméticos, antidiarréicos, enzimas pancreáticas, laxativos, adequado cuidado oral (saliva artificial, anestésicos tópicos etc.) e analgesia eficaz. As intervenções relacionadas à nutrição do paciente oncológico devem incluir equipe multidisciplinar com participação do médico, nutricionista, enfermeiro, odontologista e serviço social. Sempre que possível, deve utilizar preferencialmente a via oral para suporte nutricional. A nutrição enteral deve ser utilizada quando o trato gastrintestinal está funcionante, porém a ingesta oral é insuficiente para adequada nutrição (neoplasias de cabeça e pescoço, esôfago e estômago). A nutrição parenteral pode ser indicada em casos de disfunção do trato gastrintestinal, porém existepouca evidência que suporte o seu uso. FONTE: Clínica Médica 3
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