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Curso de Pós-graduação a Distância Fundamentos de Bioquímica Autor: Josimara Nolasco Rondon Universidade Católica Dom Bosco Virtual www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 2 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 SUMÁRIO UNIDADE 1 - MEMBRANAS BIOLÓGICAS E TRANSPORTE ............................... 04 1.1 Membranas biológicas .................................................................... .................... 04 1.2 Transporte ........................................................................................................... 06 UNIDADE 2 - PROTEÍNAS ...................................................................................... 10 2.1 Classificação ....................................................................................................... 11 2.2 Organização estrutural ........................................................................................ 13 2.3 Turnover proteico........................................................................... ...................... 15 2.4 Síntese proteica............................................................................. ...................... 16 2.5 Degradação proteica..................................................................... ....................... 17 UNIDADE 3 - CARBOIDRATOS ............................................................................... 22 3.1 Classificação dos carboidratos ............................................................................ 22 UNIDADE 4 - LIPÍDIOS ............................................................................................. 30 4.1 Ácidos graxos ...................................................................................................... 30 4.2 Funções biológicas dos lipídios ........................................................................... 32 4.3 Degradação de lipídios ........................................................................................ 33 UNIDADE 5 – ENZIMAS ........................................................................................... 38 5.1 Atividade enzimática ............................................................................................ 41 5.2 Classificação das enzimas .................................................................................. 41 5.3 Ligação enzimática .............................................................................................. 43 UNIDADE 6 - RESPIRAÇÃO CELULAR .................................................................. 46 6.1 Respiração celular, glicólise, ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa .................. 46 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 3 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 INTRODUÇÃO Os Fundamentos de Bioquimica, neste documento didático, tratará de processos considerados fundamentais para a vida. Esses processos serão abordados em unidades específicas. A unidade 1 abordará membranas biológicas, constituições, ligações e transportes nas membranas e permeabilidade seletiva. Na unidade 2 as proteínas serão abordadas quanto a sua síntese, funções, classificações e organização estrutural e funções dos principais polissacarídeos. A classificação dos carboidratos e sua síntese serão vistos na unidade 3. Na unidade 4 serão tratados os conceitos de lipídios, acidos graxos e funções biológicas. Na unidade 5 serão estudadas as enzimas, atividade enzimática, sua classificação e ligação enzimáticas e enzimas com mais de uma função. E, por fim, as formas de obtenção de energia serão elucidados na unidade 6, pela respiração celular, betaoxidação dos ácidos graxos, de carboidratos e de proteínas, vias de degradação de aminoácidos. 4 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 UNIDADE 1 - MEMBRANAS BIOLÓGICAS E TRANSPORTE 1.1 Membranas biológicas As membranas biológicas (membrana celular ou plasmática) estão presentes em todas as células, onde células procarióticas apresentam apenas um sistema simples de membranas externas enquanto que o grupo das eucarióticas possuem várias membranas internas. Além de atuar como barreira também possui outras funções importantes. As membranas possuem três funções vitais: – Atuam na regulagem da passagem (transporte) de compostos e íons de um compartimento celular para outro ou entre o interior e o exterior da célula. Possui permeabilidade seletiva. – Realizam parte da catálise enzimática por conter certo número de enzimas ligadas a ela. – Possuem proteínas receptoras associadas à superfície exterior das membranas que, ao se ligarem a determinados compostos biológicos, desencadeiam respostas bioquímicas da célula. Sua composição é lipoproteica, sendo 90% de lipídeos e organizados em uma camada dupla, com a região polar dos lipídeos em contato com a solução aquosa no interior e exterior da célula e as cadeias apolares formando o interior da membrana. Dentre os lipídeos constituintes da membrana, os fosfolipídeos são os principais e sua composição apresenta duas moléculas de ácido graxo esterificadas aos primeiro e segundo grupos hidroxila do glicerol. O terceiro grupo hidroxila do glicerol forma uma ligação éster com o ácido fosfórico. A bicamada lipídica possui cerca de 6 a 9 nm de espessura, possui característica de não rígidas, fluidas e muito flexíveis. A maioria das moléculas biológicas é solúvel em água, por serem polares ou ionizadas no pH fisiológico. Tais moléculas não podem atravessar as membranas celulares por simples difusão, devido ao caráter hidrofóbico da bicamada lipídica. Apenas a água e outros poucos componentes atravessam livremente as membranas sendo que muitos outros metabólitos (ou moléculas nutrientes) dependem do sistema de transporte para evitar a impermeabilidade. 5 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 As proteínas das membranas podem ter posições variadas na membrana, sendo denominadas periféricas (situadas na superfície) ou integradas (entre a bicamada lipídica). Figura 1 - Membrana Plasmática Fonte: http://docentes.esalq.usp.br/luagallo/lipideos.html Estas proteínas possuem várias funções, dentre elas podemos citar as proteínas de transporte que participam do movimento de íons e compostos para o interior ou exterior e as proteínas receptoras, que atuam na recepção de sinalizadores extracelulares e na retransmissão para o interior da célula. Ainda podemos citar a presença de algumas enzimas ligadas à membrana que participam das reações aeróbicas da oxidação. As membranas dos eucariotas possuem também esteróis (o colesterol e compostos análogos nos organismos animais) e os fitosterois (nas plantas). - Modelo de mosaico fluido O modelo elaborado por Singer e Nicholson é o mais aceito hoje e traz a coexistência de dois componentes sem a existência de interações fortes que provoquem alterações em qualquer um deles. Fato que ocorre com as proteínas e os lipídios da membrana. Este modelo admite que a membrana não é uma estrutura 6 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 rígida, existindo movimento das moléculas que a constituem, dotando-se, assim de grande fluidez. Figura 2 - Diagrama da membrana plasmática. Fonte: http://migre.me/gCjTw 1.2 Transporte Pode ser dividido em dois tipos, o transporte passivo e o transporte ativo. - Transporte passivo: também chamado de difusão. Não requer energia visto que os solutos são transportados do meio onde se encontram em maior concentração para o de menor concentração, de acordo com o gradiente de concentração (diferença nas concentrações de solutos entre esses dois meios). O transporte continua até que as concentrações de uma determinada substância ou íon entre dois meiosse igualem, não ocorrendo a utilização de energia. - Tipos de transporte passivo Difusão simples: Substâncias pequenas e sem carga atravessam a bicamada lipídica passando pelo meio dos fosfolipídios. Citamos como exemplos: - O2: o oxigênio molecular atravessa a bicamada fosfolipídica por difusão simples. No meio intracelular as concentrações de O2 são menores, pois o O2 está sempre sendo consumido na atividade de respiração celular. No meio extracelular, 7 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 as concentrações são maiores, pelo fato de estarmos sempre inspirando o ar e absorvendo O2 pelos pulmões. - CO2: atravessa a membrana em sentido inverso ao do O2, saindo das células. Ocorre devido o processo de respiração celular, que consome o O2, e libera o CO2 como produto, elevando as concentrações de CO2 intracelulares. Difusão facilitada: o transporte é realizado com o auxílio de proteínas transportadoras chamadas permeases. É um processo de difusão que tem de ser facilitado pelas proteínas, visto que os solutos são íons (possuem carga), ou não são moléculas suficientemente pequenas para atravessarem a bicamada diretamente ou então são carregadas. As permeases podem ser: ü Proteínas canais: formam canais que atravessam a membrana plasmática e permitem a passagem de solutos. ü Proteínas carreadoras (ou carregadoras): executam o transporte ao sofrerem mudanças de conformação, ou seja, sofrem mudanças em sua estrutura terciária. As permeases apresentam especificidade em relação ao soluto que transportam, de forma similar à especificidade que os sítios ativos das enzimas têm em relação aos seus substratos. Figura 3 – Proteína integral de membrana. Fonte: Voet, (2002). 8 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Osmose: nesse tipo de difusão, consideramos o transporte ou a passagem apenas da água, o solvente, através de uma membrana semipermeável. Ela permite que algumas substâncias a atravessem e outras não. No caso da osmose, a água (solvente) atravessa a membrana passando do meio com a menor concentração de solutos para o meio com a maior concentração de solutos. No que diz respeito à passagem da água pela membrana, na osmose, ela pode se dar de duas formas: • Difusão simples: pois a água, apesar de ser polar, não é uma molécula grande e onde há célula há muitas moléculas de água, então é possível que elas atravessem pelo meio dos fosfolipídios, mesmo esses tendo suas cadeias hidrofóbicas de ácidos graxos. Mas, dessa forma a difusão deve ser facilitada. • Difusão facilitada: realizada por permeases, do tipo proteína canal, chamadas aquaporinas, que permitem a passagem das moléculas de água nos dois sentidos, na taxa de até três bilhões de moléculas de água por segundo. Transporte ativo: neste processo há gasto de energia, pois os solutos são transportados do meio que apresenta a menor concentração para o meio que apresenta a maior concentração de solutos. O sentido do transporte é o contrário do sentido da difusão, sendo transportados contra o gradiente de concentração, fazendo uso de energia e proteínas transportadoras, neste caso, denominadas “bombas”. Como exemplo, podemos citar a bomba de sódio e potássio (também chamada Na+/K+ ATPase). Essa proteína transporta, ao mesmo tempo, três íons Na+ para fora da célula e dois íons K+ para dentro. A energia é fornecida pela transferência de um grupo fosfato do ATP (trifosfato de adenosina). Para cada vez que a proteína executa o transporte, um grupo fosfato, é transferido para ela. Exercício 1 Quais constituintes fazem parte do mosaico fluido da membrana? a) Clorofilas, carotenoides, ácidos nucleicos, ribose, pentose. b) Glicoproteína, glicolipídio, proteína integral, proteína periférica e fosfolipídio. 9 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 c) Glicoproteína, glicolipídio, ficobilina, proteína periférica e fosfolipídio. d) Amido, amilopectina, fosfolipídio e glicocalix. e) Clorofilas, glicolipídios, ATP e fosfolipídio. 10 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 UNIDADE 2 – PROTEÍNAS Nome derivado da palavra grega “proteios” cujo significado é “em primeiro lugar” por serem considerados os constituintes básicos da vida. São moléculas orgânicas encontradas em todas as partes celulares, fundamentais sob todos os aspectos de estrutura e função celular, apresentando funções biológicas diversas. A grande importância das proteínas não está relacionada com sua quantidade, mas sim com suas funções biológicas. Por exemplo, todas as enzimas são proteínas e mesmo sendo de quantidade ou tamanho reduzidos, são extremamente importantes por catalisarem as reações metabólicas e capacitarem os organismos na formação de outras moléculas imprescindíveis à vida (outras proteínas, ácidos nucleicos, carboidratos e lipídios). Pertencem à classe dos peptídeos, sendo formada por aminoácidos ligados entre si por ligações peptídicas, grupo amino (-NH 2) de um aminoácido e grupo carboxila (-COOH) de outro aminoácido) através da formação de uma amida. Possuem peso molecular elevado. Figura 4 - Ligação peptídica Fonte: Arquivo pessoal. São compostas por carbono, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio, tendo o enxofre em quase todas elas. Outros ainda apresentam constituintes adicionais como o ferro, zinco, fósforo e cobre. Todas elas são construídas a partir de um conjunto básico de 20 aminoácidos organizados em sequências específicas. Apresentam como algumas das funções diversas, as atividades de serem catalisadores, elementos estruturais (colágeno) e sistemas contráteis, armazenamento (ferritina), veículos de transporte sanguíneo (hemoglobina), hormônios, sistema imune (imunoglobulina), atividade enzimática (lipases), atividade nutricional (caseína), Controle do metabolismo. 11 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 2.1 Classificação Por apresentarem inúmeras funções, são divididas em Proteínas Dinâmicas (transporte, defesa, catálise de reações, controle do metabolismo e contração, por exemplo) e Proteínas Estruturais (Proteínas como o colágeno e elastina, por exemplo, que promovem a sustentação estrutural celular e tecidual). A classificação pode ocorrer com base em três características: Ø Composição: Proteínas Simples – liberam apenas aminoácidos quando hidrolisadas. Proteínas Conjugadas – liberam aminoácidos mais um radical não peptídico (prostético): lipoproteínas, hemeproteínas, glicoproteínas, metaloproteínas, etc. Ø Número de Cadeias Polipeptídicas: Monoméricas - Formadas por apenas uma cadeia polipeptídica. Oligoméricas - Formadas por mais de uma cadeia polipeptídica; São as proteínas de estrutura e função mais complexas. Ø Quanto à Forma: Proteínas Fibrosas – grande parte é insolúvel nos solventes aquosos e de pesos moleculares muito elevados. Geralmente formadas por longas moléculas levemente retilíneas e paralelas ao eixo da fibra. São as proteínas de estrutura (colágeno, queratinas, esclerotinas, conchiolina, fribrina ou a miosina). As tubulinas possuem estrutura diferente, formadas por múltiplas subunidades globulares com forma helicoidal. Proteínas Globulares - Estrutura espacial de maior complexidade, levemente esféricas, geralmente solúveis em solventes aquosos e pesos moleculares entre 10.000 e vários milhões. Compõe esse grupo, as proteínas ativas como as enzimas, transportadores como a hemoglobina, entre outras. 12 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Exercício 2 1. Todas as células possuem membrana plasmática ou plasmalema, que separa o conteúdo protoplasmático, ou meio intracelular, do meio ambiente e que: a) Regula as trocas entre a célula e o meio, só permitindo a passagem de moléculas de fora para dentro da célula e impedindo a passagem em sentido inverso. b) Possibilita à célula manter a composição intracelular diversa domeio ambiente. c) Impede a penetração de substâncias existentes em excesso no meio ambiente. d) Torna desnecessário o consumo energético para captação de metabólitos do meio externo. e) Impede a saída de água do citoplasma. 2. Marque a alternativa INCORRETA. O nome de mosaico do fluido de membrana é justificado por: a) Possuir bicamada lipídica. b) A superfície da membrana parecer com conjunto de diminutas peças. c) Os lipídios e proteínas embebidas nas camadas promoverem fluidez e mobilidade. d) As moléculas de fosfolipídios fazerem movimentos laterais, e raramente flip- flop e) As proteínas realizarem os mesmos movimentos dos fosfolipídios. 3. Nos dias atuais sabemos que as moléculas de proteínas são formadas por dezenas, centenas ou milhares de outras moléculas, ligadas em sequência como os elos de uma corrente. Assinale a alternativa que menciona quais moléculas formam as proteínas. a) Moléculas de proteínas. b) Moléculas de aminoácidos. c) Moléculas de dióxido de carbono. d) Moléculas de polissacarídeos. e) Moléculas de quitina. 4. Quando hidrolisadas as proteínas produzem: a) Monossacarídeos. b) Íons de sais minerais. c) Álcool e ácidos graxos. d) Aminoácidos. e) Polipeptídios. 13 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Proteínas Homólogas Estas proteínas desempenham a mesma função em tecidos ou em espécies diferentes, possuindo pequenas diferenças estruturais, reconhecíveis imunologicamente. Estas diferenças estruturais são denominadas “segmentos variáveis”, normalmente não participantes diretos da atividade da proteína. Já os segmentos idênticos destas proteínas recebem a denominação de “segmentos fixos”, estes sim são fundamentais para a atividade bioquímica da proteína. 2.2 Organização estrutural As proteínas possuem complexas estruturas espaciais, podendo ser organizadas em quatro níveis, de acordo com sua complexidade: ü De Estrutura Primária De acordo com a sequência de aminoácidos e ligações peptídicas da molécula. Apesar de ser o mais simples, é o nível estrutural mais importante, pois dele deriva todo o arranjo espacial da molécula. Essa estrutura se apresenta em uma cadeia longa de aminoácidos com uma extremidade “amino terminal” e outra extremidade “carboxi terminal”. Sua estrutura é somente a sequência de aminoácidos. Figura 5 - Níveis estruturais em proteínas Fonte: Lehninger (2011). 14 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Essa estrutura primária pode ser destruída por hidrólise química ou enzimática das ligações peptídicas. ü De Estrutura Secundária De acordo com o arranjo espacial de aminoácidos próximos entre si na sequência primária da proteína, sendo o último nível de organização das proteínas fibrosas, mais simples estruturalmente. Decorrente da rotação das ligações entre carbonos e dos aminoácidos e seus grupamentos amina e carboxila constituintes. Quando os ângulos das ligações entre carbono e seus ligantes são iguais e se repetem ao longo de um segmento molecular, o arranjo secundário de um polipeptídio ocorre de forma regular. Figura 6 - Tripla hélice do colágeno. Fonte: Voet (2002). 15 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 ü De Estrutura Terciária Arranjo tridimensional da proteína na estrutura terciária é de extrema importância, pois coincide com a estrutura nativa, a estrutura que confere uma função biológica específica à proteína. Seu grupo é composto pelas proteínas globulares, de maior complexidade estrutural e funcional. Cadeias polipeptídicas muito longas podem se organizar em domínios (unidades funcionais e de estrutura tridimensional de uma proteína), regiões com estruturas terciárias semi-independentes ligadas entre si por segmentos lineares da cadeia polipeptídica. De acordo com o arranjo espacial de mais de uma cadeia polipeptídica no espaço, as subunidades da molécula se mantêm unidas por forças covalentes, como pontes dissulfeto, e não covalentes como pontes de hidrogênio, podendo atuar de forma independente ou em conjunto na atividade bioquímica da proteína. Esta estrutura está presente somente nas proteínas oligoméricas. 2.3 Turnover proteico O turnover abrange a renovação ou substituição de uma substância biológica, bem como a troca de material entre diferentes “compartimentos”. Em relação à proteína, o “turnover” é um termo geral para descrever tanto a sua síntese como a degradação. Inicialmente alguns autores usavam turnover como sinônimo de degradação de proteína, mas isto não é mais usual. O “turnover proteico” é a renovação da proteína corporal onde ocorrem os processos de síntese e degradação. A síntese proteica é fortemente regulada, de forma que apenas as cópias necessárias para circunstâncias metabólicas correntes são sintetizadas. A síntese de proteína é um processo não aleatório, uma vez que os aminoácidos são selecionados para a síntese pelo código genético, e há também possibilidades da “degradação não aleatória”. Um exemplo são as células epiteliais da mucosa intestinal que, durante um período de cerca de 4 dias, migra da cripta para a ponta do vilo e depois são quebradas pelas enzimas do trato gastrointestinal. Embora o turnover de proteína intracelular pareça ser energeticamente ineficiente, é um processo essencial para a vida. Ele fornece às células aminoácidos entre as refeições ou durante períodos em que nenhuma fonte 16 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 dietética de aminoácidos está disponível, elimina os polipeptídeos que contêm erros de tradução ou transcrição e que são nocivos para a célula se não forem removidos, degrada as proteínas/isoformas que estão sendo deslocadas durante o desenvolvimento ou em resposta a uma demanda fisiológica (por exemplo, mudanças nas isoformas de miosina), permite a flexibilidade nas respostas das enzimas às condições de mudança, mantém o pool de aminoácidos livres. A razão mais provável para o turnover de proteína corporal é a necessidade da regulação fina do metabolismo de aminoácidos e proteínas nos animais, além de ajudar a garantir a homeotermia em mamíferos. 2.5 Síntese proteica A síntese de proteínas ocorre no interior celular se apresentando como um fenômeno complexo e relativamente rápido, sendo possível sua divisão em duas etapas, a Transcrição e a Tradução. Transcrição - No núcleo das células há a síntese de uma molécula de mRNA a partir da leitura da informação contida numa molécula de DNA iniciado a partir da ligação de um complexo enzimático (RNA-polimerase) à molécula de DNA. A RNA-polimerase desfaz a dupla hélice, destruindo as pontes de hidrogênio que ligam as bases complementares das duas cadeias. Caso na cadeia do DNA a adenina (A) for o nucleotídeo, a enzima liga o mRNA ao nucleotídeo uracil (U). Cessada a leitura, a molécula mRNA separa-se da cadeia do DNA, e as pontes de hidrogênio dão restabelecidas e as hélices reconstruídas. Mas nem todas as sequências da molécula do DNA codificam aminoácidos. O RNA sintetizado passa por um processamento ou maturação antes de sair do núcleo. Algumas porções do RNA transcrito, os íntrons, vão ser removidas pela enzima RNAh, e as porções não removidas, os éxons, ligam-se entre si em uma reação catalisada pela RNA ligase, originando o mRNA maturado. O RNA que passa pela exclusão de porções é denominado RNA pré-mensageiro. O mRNA é constituído pelas sequências codificadoras dos aminoácidos de uma proteína, podendo se direcionar para o citoplasma, sítio da tradução da mensagem, ou seja, a síntese de proteínas. Tradução – como mencionado acima, ocorre no citoplasma e é a parte finalizadora da síntese proteica onde há a leitura do mRNA proveniente do núcleo, da qual surge uma sequência de aminoácidos, que constituí a proteína. 17 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Nas moléculas de tRNA (moléculas de transporte) encontram-secadeias de 75 a 80 ribonucleotídeos que funcionam como intérpretes da linguagem do mRNA e da linguagem das proteínas. A tradução pode ser dividida em três etapas: iniciação, alongamento e finalização: -Iniciação: A subunidade menor do ribossomo se liga à extremidade do mRNA, que segue ao longo da molécula do mRNA até encontrar o códon de iniciação (AUG). A metionina é transportada pelo tRNA até seu sítio de ligação, onde liga-se ao códon de iniciação por complementaridade. A subunidade maior liga-se à subunidade menor do ribossomo. -Alongamento: Um segundo tRNA transporta um aminoácido específico de acordo com o códon. Estabelecendo-se uma ligação peptídica entre o aminoácido recém-chegado e a metionina. A enzima Peptidil-Aminoacil-Transferase é a catalizadora da ligação entre os aminoácidos transportados pelo tRNA. Os tRNA que já se ligaram inicialmente, desprendem-se do mRNA sucessivamente. -Finalização: O ribossomo encontra o códon de finalização (UAA, UAG ou UGA) terminando o alongamento, o último tRNA se desprende do ribossomo, as subunidades do ribossomo separam-se, podendo ser recicladas, e o peptídeo é liberado. 2.5 Degradação proteica A degradação das proteínas ocorre por Proteólise e pode ocorrer em vias intracelulares, que envolvem, principalmente, a degradação de proteínas pelo lisossomo (via proteolítica lisossomal), e a degradação de proteínas pelos proteassomas com participação do ATP (via proteolítica da ubiquitina-proteassoma). Também há a proteólise extracelular, responsável pela destruição de proteínas secretadas pela matriz extracelular por proteases. Na digestão também ocorre a proteólise, que é realizada no estômago ou no duodeno (uma das três regiões do intestino delgado) sobre as proteínas adquiridas por meio da alimentação. De forma geral, as enzimas proteolíticas são divididas em endopeptidases e exopeptidases, de acordo com a localização da ligação peptídica a ser clivada. As endopeptidases agem preferencialmente nas porções mais internas da cadeia polipeptídicas, ao contrário das exopeptidases, que atuam 18 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 nas regiões finais da cadeia. As proteases podem clivar ligações peptídicas em sequências específicas de aminoácidos, processo ao qual se dá o nome de proteólise limitada; ou degradar o peptídeo de forma integral, na proteólise ilimitada. A proteólise é controlada pela ação de proteases que inibem a ação de outras proteases. Os aminoácidos e os peptídeos produzidos pela proteólise podem ser utilizados posteriormente na síntese de proteínas, atividade realizada pelos ribossomos das células. Figura 7 - Proteólise lisossomal Fonte: http://www.rbi.fmrp.usp.br/proteol/proteol.htm Nas células eucarióticas a maioria das proteínas citoplasmáticas não é degradada nos lisossomas, mas sim em organelas altamente conservadas em humanos, arquibactérias, plantas e leveduras, estas organelas recebem o nome de proteassomas. Constituída por componentes menores, cujo núcleo funcional é denominado “componente 20S”, dotado de várias atividades líticas. Este componente em associação ao complexo regulatório 19S, constituído de múltiplas ATPases, formam o “complexo 26”, degradadores de proteínas conjugados com a 19 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 ubiquitina. A ubiquitina é uma proteína encontrada nas células eucariotas, constituída por 76 aminoácidos que desempenha uma função importante na regulação de proteínas. Figura 8 - Visão geral do catabolismo. Fonte: Voet (2002). Exercício 3 1. Na molécula de um aminoácido está sempre presente o elemento carbono, o hidrogênio, o oxigênio e: a) O sódio. b) O enxofre. c) O selênio. 20 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 d) O iodo. e) O nitrogênio 2. Leia a afirmação abaixo. A fenilcetonúria é uma patologia que resulta de um defeito na enzima fenilalanina hidroxilase, que participa do catabolismo do aminoácido. A falta de hidroxilase resulta no acúmulo de fenilalanina que, por transaminação, forma o ácido fenilpirúvico. Este em excesso causa retardo mental de grande severidade. Porém o portador desta patologia pode ter uma vida normal desde que seu diagnóstico seja precoce, logo após o nascimento e com um controle e adequação de sua dieta. A fenilcetonúria é tão normal que até em latas de refrigerante existe a informação: “Este produto contém fenilcetonúricos!” Assinale a alternativa que complete corretamente a frase abaixo: As _________ são proteínas especiais que _________ reações químicas que ocorrem extra e intracelulares. Quando o organismo é aquecido demasiadamente, elas são _________. a) Gorduras; catalisam; desnaturadas. b) Enzimas; aceleram; desnaturadas. c) Enzimas; retardam; desnaturadas. d) Gorduras; aceleram; desnaturadas. e) Enzimas; catalisam; desnaturadas. 3. Quanto às características das proteínas é incorreto afirmar que: a) As albuminas têm os menores pesos moleculares e solúveis em água. b) Proteínas simples são consideradas homoproteínas. c) As escleroproteínas ocorrem em animais e vegetais. d) Colágeno, queratina e elastina são tipos de proteínas fibrosas. e) Proteínas derivadas formam-se por desnaturação ou hidrólise. 4. A proteína é formada a partir do encadeamento de moléculas mais simples chamadas: a) Nucleotídeos. b) Aminoácidos. c) Nucleosídeos. d) Glicídios. e) Ácidos graxos. 21 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 5. Com relação à fase de Alongamento, podemos afirmar que: a) O primeiro tRNA transporta um aminoácido específico de acordo com o códon. Estabelecendo-se uma ligação peptídica entre o aminoácido recém- chegado e a metionina. b) Um segundo tRNA transporta um aminoácido específico de acordo com o códon. Estabelecendo-se duas ligações peptídicas entre o aminoácido recém- chegado e a metionina. c) A enzima Peptidil-Aminoacil-Transferase é a catalisadora da ligação entre os aminoácidos transportados pelo tRNA. d) Um segundo tRNA transporta uma enzima específica de acordo com o códon. Estabelecendo-se uma ligação peptídica entre o aminoácido recém- chegado e a metionina. 22 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 UNIDADE 3 – CARBOIDRATOS Consideradas as biomoléculas mais abundantes da natureza, representando aproximadamente 75% dos vegetais. Os carboidratos também podem ser chamados de glicídios, glucídios, hidratos de carbono ou açúcares. Formados fundamentalmente por moléculas de carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), o que lhes confere a denominação de hidratos de carbono. Existem carboidratos que contém nitrogênio, enxofre ou fósforo. Dentre as diversas funções atribuídas aos carboidratos, a principal é a energética. Também atuam como elementos estruturais e de proteção na parede celular das bactérias, fungos e vegetais, bem como em tecidos conjuntivos e envoltório celular de animais. Possuem a função de reserva de energia, agem como lubrificantes das articulações esqueléticas e fornecem coesão entre as células. Podem funcionar como sinalizadores celulares. Alguns carboidratos, como a ribose e a desoxirribose, fazem parte da estrutura de nucleotídeos e dos ácidos nucleicos. 3.1 Classificação dos carboidratos Os carboidratos podem ser classificados de acordo com a complexidade de sua cadeia, sendo assim são divididos em Monossacarídeos, Polissacarídeos e Oligossacarídeos. Figura 9 - Classificação dos carboidratos. Fonte: http://migre.me/gyLRf 23 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Monossacarídeos Constituem o grupo mais simples de carboidratos, sendo sua maioria denominada de “açúcares simples”. Quimicamente são poli-hidroxialdeídos (aldoses) ou poli-hidroxicetonas (cetonas), estes dois os mais simples monossacarídeos compostos com no mínimo de 3 carbonos. Figura 10 - CaboidratosFonte: http://docentes.esalq.usp.br/luagallo/carboidratos.html Estes carboidratos não podem ser hidrolisados em carboidratos menores. Sua classificação pode ser baseada no número de carbonos de suas moléculas onde encontramos as Trioses (3 carbonos), Tetroses, Pentoses, Hexoses, Heptoses, etc. Destes os mais importantes são as Pentoses (C5H10O5) e as Hexoses (C6H12O6). Também podem ser divididos em aldoses ou cetoses dependendo se possuem um grupo aldeído ou cetona, respectivamente. 24 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Figura 11 - Classificação dos carboidratos Fonte: http://migre.me/gyLTW Dentre as Pentoses, podemos destacar as mais importantes: • Ribose • Arabinose • Xilose Já entre as Hexoses, destacamos: • Glicose • Galactose • Manose • Frutose 25 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Figura 12 - Carboidratos Fonte: http://docentes.esalq.usp.br/luagallo/carboidratos.html O sufixo “ose” está presente na nomenclatura dos monossacarídeos, com exceção das Trioses que não recebem essa nomenclatura. Todos os monossacarídeos apresentam o grupamento carbonila (-C=O) e quando se localiza na extremidade da cadeia caracteriza o grupo funcional “aldeído” e passa a ser denominado “Aldose”. Se o grupamento carbonila estiver no meio da cadeia, caracteriza o grupo funcional “cetona”, recebendo o nome “Cetose”. As estruturas das Aldoses e Cetoses de cadeia linear, abert,a foram descritas acima, porém os monossacarídeos que apresentam 5 átomos de carbono ou mais, ocorrem na forma cíclica (anel), quando em solução. Os monossacarídeos em solução aquosa estão presentes na sua fórmula aberta em uma proporção de apenas 0,2%, sendo o restante das moléculas ciclizada na forma de um anel hemiacetal de 5 (anel furanosídico) ou 6 vértices (anel piranosídico). Ocorre uma reação importante em Química Orgânica entre o grupo hidroxila (-OH) de álcoois e o grupo carbonila (=O) de aldeídos e cetonas. Ao se observar a estrutura linear dos monossacarídeos é visto que a molécula apresenta tanto o grupamento –OH quanto o =O, fazendo com que a hidroxila e a carbonila de uma mesma molécula interaja entre si e formem o anel. Dissacarídeos Os dissacarídeos dão resultantes de ligações entre 2 monossacarídeos. Na reação de formação de um dissacarídeo há formação de uma molécula de água, portanto se trata de uma síntese por desidratação para cada ligação. Um dos monossacarídeos perde um hidrogênio (H) e o outro perde a hidroxila (OH). Essa duas moléculas se unem, formando uma molécula de água (H2O). É denominada 26 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 “ligação glicosídica” a união das extremidades dos monossacarídeos formadores. Podemos citar como exemplos do grupo dos dissacarídeos a sacarose (glicose + frutose), a lactose (glicose + galactose) e a maltose (glicose + glicose). Figura 13 - Lactose e sacarose. Fonte: http://graduacao.iqsc.usp.br/files/Carboidratos2.pdf Polissacarídeos Formado a partir da ligação de muitos monossacarídeos unidos através de ligações glicosídicas, estes polímeros possuem um peso molecular elevado. São denominadas de macromoléculas devido ao seu tamanho em comparação aos outros carboidratos. Estão presentes na textura dos alimentos, geralmente responsáveis pelas características sensoriais como a viscosidade, por exemplo. São insolúveis em água, o que é de grande importância para os seres vivos, pois desempenham função estrutural e armazenadora de energia. A quitina, por exemplo, é constituinte da parede celular de fungos e do exoesqueleto de artrópodes. Se ela fosse solúvel, esses animais não poderiam entrar em contato com a água que todo seu esqueleto amoleceria. 27 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 No momento da digestão, para que essas moléculas sejam absorvidas, são necessários que sejam quebradas em moléculas menores, os monossacarídeos. A reação de quebra ocorre através da hidrólise. Note que a reação de união entre dois monossacarídeos ocorre pelo processo inverso, reação por desidratação. As moléculas de polissacarídeos são polímeros, ou seja, as moléculas que os constituem são idênticas ou semelhantes. Essas unidades são chamadas de monômeros. Figura 14 - Celulose Fonte: http://graduacao.iqsc.usp.br/files/Carboidratos2.pdf Principais Polissacarídeos estruturais Como exemplos desse grupo, podemos citar a celulose e a quitina onde a primeira participa da composição dos vegetais além de ser o carboidrato mais abundante na natureza e a segunda que está presente na parede celular de fungos e exoesqueleto dos artrópodes. A celulose é semelhante ao amido e ao glicogênio em sua composição (polímero de glicose), porém suas ligações glicosídicas são do tipo β (1,4), conferindo à molécula uma estrutura linear gerando fibras insolúveis em água, e ocasionando a não digestão por humanos. Principais Polissacarídeos energéticos Neste grupo destacamos o amido que possui a função de reserva e o glicogênio que é o carboidrato de reserva dos animais e fungos. O amido é formado por moléculas de glicose ligadas entre si através de numerosas ligações do tipo α (1,4) e poucas ligações α (1,6) ou "pontos de ramificação" da cadeia. Apresenta molécula linear e em solução aquosa forma hélice. 28 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 O Glicogênio é semelhante ao amido, porém apresenta quantidade maior de ligações α (1,6) ocasionando um alto grau de ramificação à sua molécula. Os vários pontos de ramificações impedem a formação de hélices. Exercício 4 1. Carboidratos podem ser armazenados por fibras musculares a partir do qual se obtém energia para a contração. Essa substância de reserva se encontra na forma de: a) Amido. b) Glicose. c) Maltose. d) Sacarose. e) Glicogênio. 2. Qual das características dos monossacarídeos NÃO é verdadeira? a) A capacidade redutora do aldeído livre é usada como ferramenta para determinar glicemia. b) Presença de isômeros de carbono assimétrico. c) Solúveis em água, sólidos, incolores, cristalinos e adocicados. d) Cadeias carbônicas sem ramificações e sem duplas ligações. e) Ligam-se ao anel pirrólico da estrutura de clorofila na fotossíntese. 3. Assinale a alternativa INCORRETA: a) Celulose e quitina são moléculas estruturais. b) Carboidratos têm moléculas estruturais. c) Ligação covalente de carboidrato com lipídeos formando glicolipídeos. d) Oxidação de carboidratos é a principal via energética dos organismos heterotoróficos. e) Glicolipídeos não atuam como receptores de sinais. 4. Os glicolipídios são componentes da membrana que apresentam na região hidrofílica. Sobre essa estrutura é INCORRETO informar: 29 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 a) Carboidrato liga-se covalentemente à proteína ou ao lipídio. b) Rótulos de endereçamento em algumas proteínas. c) Mediadores nas interações específicas entre as células e a vacúolo. d) Reconhecimento, adesão célula-célula, migração celular durante o desenvolvimento. e) Coagulação do sangue, resposta imune e cicatrização de lesões. 5. Assinale a alternativa INCORRETA: a) Proteoglicanos são macromoléculas presentes na superfície da célula e na matriz extracelular. b) Glicanos grandes (como sulfato de heparina e sulfato de condroitina) estão ligados à porção externa de um peptídio. c) O colágeno constitui parte do tecido conjuntivo e cartilagens. d) Lipopolissacarídios são componentes da membrana interna da parede celular de bactérias Gram positivas. e) Glicolipídios apresentam oligossacarídios na região hidrofílica. 30 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 UNIDADE 4 - LIPÍDIOS Importante macromolécula para a química, os lipídios, também denominados de gorduras, são substâncias alimentícias de alto conteúdo energético, quer imediatos ou como reserva. Existem doistipos de lipídios: • Saturados: todos os produtos que possuem gordura de origem animal (carnes, requeijão, creme de leite, manteiga) ou de origem vegetal sólido (gordura hidrogenada). • Insaturados: são aqueles considerados mais saudáveis, encontrados em óleos de milho, canola, soja, girassol. As gorduras e os óleos apresentam estrutura química bastante semelhante, diferenciando-se devido à presença ou não de insaturações, determinantes do estado físico da substância. Os lipídios são construídos por organismos vivos a partir de ácido graxo e glicerol, através da reação química entre três moléculas de ácido graxo e uma molécula de glicerol. Classificado como triéster por apresentar três grupos COO em sua estrutura também recebe a denominação de triglicérido ou triglicerídio. A hidrólise alcalina de um éster é denominada genericamente reação de saponificação. Ao se utilizar um éster proveniente de um ácido graxo numa reação desse tipo, o sal formado recebe o nome de sabão. Como a principal fonte natural de ácidos graxos são os óleos e as gorduras (triglicerídeos), suas hidrólises alcalinas constituem o principal processo para a produção de sabões. 4.1 Ácidos Graxos São unidades formadoras da maioria dos lipídios. São compostos por ácidos carboxílicos contendo cadeias carbônicas longas (12-14 carbonos). O grupo carboxílico é polar (hidrofílico) e a cadeia carbônica é apolar (hidrofóbico). Não ocorrem livres nas células dos tecidos, ocorrem ligados covalentemente a outras moléculas. 31 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Figura 15 - Ácidos graxos. Fonte: http://docentes.esalq.usp.br/luagallo/lipideos.html • Ácidos graxos insaturados: apresentam uma ou mais ligações duplas – são líquidos a temperatura ambiente, como, por exemplo, óleos vegetais. • Ácidos graxos saturados: não apresentam insaturações, ou seja, não apresentam ligações duplas – são sólidos a temperatura ambiente, como, por exemplo, a gordura animal. Os ácidos graxos são substâncias anfipáticas, ou seja, são moléculas que apresentam a característica de possuírem uma região hidrofílica (solúvel em meio aquoso), e uma região hidrofóbica (insolúvel em água, porém solúvel em lipídios e solventes orgânicos). Ácidos graxos ômegas: Encontrados em óleos de peixe e em mamíferos subaquáticos. O último carbono pode ser 6 (ômega 6) ou 3 (ômega 3). A ingestão do ômega 3 auxilia na diminuição dos níveis de triglicerídeos e colesterol ruim LDL, enquanto pode favorecer o aumento do colestrol bom HDL. 32 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Ácido Nº de átomos de carbono Nº de duplas ligações Fonte Caproleico 10 1 Gordura de leite Lauroleico 12 1 Gordura de leite Miristoleico 14 1 Gordura de leite Palmitoleico 16 1 Gordura bovino e óleo de peixes Oleico 18 1 Azeite, óleo de canola e amendoim, oleaginosas, abacate, soja Elaídico 18 1 Gordura de leite Vacêncio 18 1 Gordura de leite Gadoleico 20 1 Óleos de peixe Erúcico 22 1 Marisco, óleo de peixe Figura 16 - Exemplos de ácidos graxos. Fonte: Adaptado de: http://docentes.esalq.usp.br/luagallo/lipideos.html 4.2 Funções biológicas dos Lipídios São importantes componentes da dieta, considerados como combustíveis. Com auxílio dos lipídios da dieta, há a absorção de vitaminas lipossolúveis como as vitaminas D, E, K e A, além de aminoácidos essenciais. As vitaminas são essenciais à saude, mas por não poderem ser sintetizadas pelo organismo, precisam ser obtidas através da dieta. O triacilglicerol possui conteúdo energético maior que a glicose e as proteínas. São constituintes importantes da estrutura dos tecidos animais e vegetais como os Fosfolipídios, esfingolipídios, glicolipídios e colesterol, encontrados na membrana das células e organelas. Possuem a importante função de participação no reconhecimento intercelular e adesão celular, onde temos como exemplo os glicolipídios e glicoproteínas apresentam oligossacarídios na superfície externa da membrana celular. Estes componentes vão promover o reconhecimento de células da mesma espécie. As proteínas extracelulares se ligam a esses componentes promovendo a adesão de células. Também atuam função de proteção térmica (isolante térmico) e contra traumas mecânicos dos órgãos internos e superfície do organismo. São importantes na formação de outros compostos biologicamente ativos, como, por exemplo: - Colesterol: participa da formação de hormônios esteroides e ácidos biliares. 33 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 - Ácido araquidônico: produz prostaglandinas (mediador inflamatório), leucotrienos (contração da musculatura lisa das vias aéreas), tromboxanos (formação de trombos) e prostaciclinas. 4.3 Degradação de lipídios A mobilização do depósito de triagliceróis é obtida por ação das enzimas denominadas lipases, presentes nos adipócitos, que hidrolisam os triacilgliceróis a ácidos graxos e glicerol, oxidados por vias diferentes. A gordura desempenha funções importantes no organismo humano. Assim como o excesso de gordura, a sua falta também oferece riscos à saúde. O corpo necessita de uma quantidade mínima de gordura para a manutenção de sua homeostase. Lipídeos essenciais (fosfolipídeos) são necessários às membranas celulares, lipídios não essenciais proporcionam isolamento térmico e reserva energética. Além disso, os lipídios também são responsáveis pelo armazenamento e transporte das vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), relacionando-se também ao funcionamento do sistema nervoso, ao ciclo menstrual, ao sistema reprodutor e ao crescimento e à maturação, durante a adolescência. Figura 17 - Visão esquemática da primeira fase da glicólise. Fonte: Voet (2002). 34 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 A gordura armazenada no adipócito encontra-se na forma de triglicerídios (três ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerol). Enquanto realizamos o exercício, vários hormônios como as catecolaminas, o glucagon, o hormônio do crescimento, corticosteroides, entre outros, são liberados na corrente sanguínea, e quando chegam aos adipócitos, provocam a lipólise (quebra dos triglicerídios) aumentando as concentrações sanguíneas de ácidos graxos livres (AGL). Esses são levados aos músculos esqueléticos que os utilizam para a síntese de ATP. Figura 18 - Visão esquemática da segunda fase da glicólise. Fonte: Voet (2002). O ácido graxo, agora dentro da célula muscular, precisa ser ativado através da incorporação do colesterol aciltransferase (Acil-CoA) e transportado para dentro 35 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 da matriz mitocondrial, onde será fracionado em moléculas de dois carbonos (Acetil- CoA) para ser oxidado (Betaoxidação). Dentro das mitocôndrias, as moléculas de Acetil-CoA são processadas no ciclo do ácido cítrico (Ciclo de Krebs) e produzem NADH e FADH2 (são coenzimas que armazenam energia e são utilizadas na fosforilação oxidativa). Esses últimos são transferidos para a cadeia de transporte de elétrons onde o ATP é finalmente gerado. O FADH2 dá origem a 2 ATP, enquanto que o NADH, a 3 ATP. Do ponto de vista da geração de energia a glicose e os ácidos graxos são os substratos mais importantes. A oxidação completa de 1g de glicose gera aproximadamente 4 Kcal, enquanto que a mesma quantidade de ácidos graxos (gordura) gera em torno de 9 kcal. Figura 19 - Degradação de lipídios. Fonte: http://migre.me/gyKpb A oxidação de ácidos graxos de cadeia longa é uma via central liberadora de energia nos animais, muitos protistas e algumas bactérias. O processo pelo qual o ácido graxo é convertido em acetil-CoA para a entrada deste no ciclo do ácido cítrico é chamado de β oxidação. Os triacilgliceróis são as principais moléculas 36 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 combustíveis de armazenamento eestão principalmente localizadas no tecido adiposo na forma de gotículas gordurosas. Podemos citar como três fontes possíveis de ácidos graxos disponíveis para a célula as gorduras presentes na alimentação, as armazenadas nas células e as gorduras recém-sintetizadas pelo organismo mandadas de um órgão para outro. Para serem absorvidas pelo organismo, as gorduras necessitam da sua emulsificação, que é feita pelos sais biliares (que agem como detergentes). Estes sais têm a função de desfazer as grandes gorduras em pequenas micelas para facilitar a ação de lipases lipossolúveis no intestino. As lipases lipossolúveis têm como função a quebra dos triacilgliceróis em ácidos graxos livres e glicerol, para a absorção destes pelas células epiteliais do intestino. Após a absorção, os ácidos graxos e glicerol são reconvertidos a triacilgliceróis, e agrupados juntamente com o colesterol da dieta em quilomicrons (gorduras mais proteínas de transporte), que têm como função o transporte destas gorduras. Os quilomicrons seguem pelo sistema linfático e pela corrente sanguínea até os capilares dos tecidos, onde então, uma lipase proteica ativada pelo complexo que se encontra nos capilares, quebra os triacilgliceróis novamente em ácidos graxos livres e glicerol para serem absorvidos pelas células-alvo. Quando é o músculo que absorve o ácido graxo, este é oxidado para a obtenção de energia. A absorção pelas células adiposas levará a nova reorganização em triacilglicerol para armazenamento. Os hormônios Glucagon e epinefrina, são lançados quando os níveis de glicose estão baixos no sangue, desencadeando no adipócito um sinal para a quebra e liberação de ácidos graxos no sangue, onde será transportado até o tecido alvo pela proteína soroalbumina. As enzimas da oxidação de ácidos graxos estão localizadas dentro da mitocôndria. Os ácidos graxos livres podem passar para dentro da célula por difusão simples pela membrana plasmática, porém não podem entrar livremente para o interior das mitocôndrias. A entrada dos ácidos graxos para a mitocôndria requer sua transformação em acil-CoA, depois em acil-carnitina. É carreada para o interior mitocondrial pelo transportador acil-carnitina/carnitina, encontrado na membrana mitocondrial interna. Em seu interior é convertido novamente em acil-CoA graxo, estando pronto para a oxidação. 37 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Na β oxidação o ácido graxo sofre remoção gradativa de dois átomos de carbonos na forma de acetil-CoA, começando pela extremidade da carboxila do ácido graxo, para a formação de 1 molécula de acetil-CoA, 1 de NADH e 1 de FADH2 a cada quebra. A quebra do ácido graxo em moléculas de acetil-CoA se deve a quatro reações consecutivas que constituem a β oxidação. A quebra de ácidos graxos com insaturações requer duas reações adicionais e ácidos graxos que apresentam número ímpar de carbonos e necessitam de 3 reações adicionais, para a quebra completa da cadeia. Os produtos da β oxidação seguem o Ciclo do Ácido Cítrico e a fosforilação oxidativa para a formação de ATP. 38 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 UNIDADE 5 - ENZIMAS São proteínas que atuam na catalisação das reações químicas reduzindo a energia de ativação da reação. A grande maioria das enzimas são proteínas (exceto um pequeno grupo de moléculas de RNA catalíticas). Para que uma proteína seja classificada como enzima, é necessário que ela apresente uma atividade catalítica excelente, demonstre alto grau de especificidade aos seus substratos e aos seus produtos, acelere a velocidade das reações em 106 a 1012 vezes a mais que as reações correspondentes não catalisadas, não seja consumida ou alterada ao final da catálise, não altere o equilíbrio químico das reações e tenha sua atividade regulada geneticamente ou pelas condições metabólicas. Algumas enzimas não necessitam de outros componentes além da sequência de aminoácidos, mas outras precisam de um componente químico adicional denominado “cofator” podendo ser um ou mais íons orgânicos (Fe2+, Mg2+, Mn2+, etc.) ou até mesmo uma molécula orgânica ou metalorgânica complexa denominada “coenzima”. Uma enzima completa, cataliticamente ativa, junto com sua coenzima e/ou íons metálicos é denominada “holoenzima” sendo a parte proteica denominada “apoenzima” ou “apoproteína”. As enzimas estão presentes em todos os tecidos e fluidos do corpo sendo que as enzimas intracelulares participam do grupo de reações das diversas vias metabólicas, as que estão presentes na membrana plasmática atuam na regulação das reações no interior das células em resposta aos sinais extracelulares. No sistema circulatório atuam no processo de coagulação sanguínea. Para que uma reação química ocorra entre duas substâncias orgânicas que estão na mesma solução se faz necessário o fornecimento de energia, geralmente, na forma de calor, que favoreça o encontro e a colisão entre elas. A energia também é necessária para romper ligações químicas existentes entre os átomos de cada substância, favorecendo assim, a ocorrência de outras ligações químicas e a síntese de uma nova substância a partir das duas iniciais. Essa energia de “ignição” para que uma reação química aconteça, é chamada de energia de ativação e possui um determinado valor. Na catálise de uma reação química, as enzimas interagem com os substratos, formando com eles, temporariamente, o chamado complexo enzima- 39 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 substrato. Na formação das estruturas secundária e terciária de uma enzima, acabam surgindo certos locais na molécula que servirão de encaixe para o alojamento de um ou mais substratos, do mesmo modo que uma chave se aloja na fechadura. Nas enzimas esses locais de encaixe são chamados de sítios ativos e ficam em sua superfície. Ao se encaixarem nos sítios ativos, os substratos ficam próximos um do outro e podem reagir mais facilmente e assim que ocorre a reação química com os substratos, desfaz-se o complexo enzima-substrato, liberam-se os produtos e a enzima volta a atrair novos substratos para a formação de outros complexos. Figura 20 - Complexo enzima-substrato Fonte: Voet (2002) Dentro de certos limites, a velocidade de uma reação enzimática aumenta com o aumento da temperatura. Entretanto, a partir de uma determinada temperatura, a velocidade da reação diminui bruscamente, por isso a temperatura é tão importante na atividade das enzimas. A acidez do meio (pH) também afeta a atividade enzimática. O aumento de temperatura provoca o aumento da agitação 40 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 das moléculas favorecendo o choque entre elas, mas, em temperaturas acima do limite, as ligações que estabilizam a estrutura espacial da enzima se rompem e ela se desnatura. Exercício 5 1. Complete a frase. Os esteroides são considerados uma categoria especial de _______, sendo o _______ o esteroide mais conhecido. As células utilizam o _________ como matéria-prima para a fabricação das _______ e dos _________. a) Proteínas, colesterol, aminoácido, plantas, hormônios vegetais. b) Carboidratos, os hormônios vegetais, amido, enzimas, carboidratos. c) Polissacarídeos, glicogênio, amido, proteínas, hormônios vegetais. d) Lipídios, colesterol, colesterol, membranas celulares, hormônios esteroides. e) Proteínas, carboidratos, glicolipídios, peróxidos de açúcares. 2. Identifique a afirmação correta: a) Os compostos oleosos são ácidos saturados e nas gorduras, insaturados. b) Os óleos são líquidos devido à predominância de ácidos saturados. c) As gorduras são líquidas devido à predominância de ácidos saturados. d) Sabões são sais de ácidos graxos superiores. e) Glicídios são misturas de glicerina com carboidratos. 3. Analise os enunciados abaixo. I. As proteínas sãomoléculas de grande importância para os organismos - atuam tanto estruturalmente como também metabolicamente. II. As enzimas são proteínas que atuam como catalisadores biológicos. III. Existem proteínas que atuam como linhas de defesa do organismo e algumas delas são conhecidas como anticorpos. Quais estão corretas? a) Apenas o enunciado I está correto. b) Apenas o enunciado II está correto. c) Apenas o enunciado III está correto. d) Apenas os enunciados II e III estão corretos. e) Todos os enunciados estão corretos. 41 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 5. O gráfico a seguir representa a atividade enzimática de uma determinada reação em função da temperatura. A seta indica o ponto: a) O ótimo de temperatura é a 30 oC para a atividade enzimática. b) De desnaturação da enzima. c) De desnaturação do produto. d) Mínimo da temperatura para a reação enzimática. e) Máximo de substrato obtido. 5.1 Atividade enzimática Cada enzima tem um valor de pH e temperatura ótimo de atividade. O pH ótimo para a maioria das enzimas fica entre 6 e 8. A pepsina, por exemplo, uma enzima digestiva estomacal, atua eficientemente no pH fortemente ácido de nosso estômago (em torno de 2), onde a maioria das enzimas seria desnaturada. A tripsina, por sua vez, é uma enzima digestiva que atua no ambiente alcalino do intestino, tendo um pH ótimo situado em torno de 8. A maioria das enzimas humanas tem sua temperatura ótima entre 35 e 40ºC. Já bactérias que vivem em fontes de água quente possuem enzimas que apresentam temperatura ideal em torno de 70ºC. 5.2 Classificação das enzimas Atualmente as enzimas estão agrupadas em seis classes funcionais de acordo com a União Internacional de Bioquímica e Biologia Molecular. Esta 42 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 classificação é dada de acordo com a natureza da reação química que catalisam. Podendo ser classificadas em: • Oxidorredutases: Enzimas que catalisam reações de transferência de elétrons, ou seja: reações de oxirredução. São as Desidrogenases e as Oxidases. • Transferases: Catalisam reações de transferência de grupamentos funcionais como grupos amina, fosfato, acil, carboxil, etc. Como exemplo, temos as Quinases e as Transaminases. • Hidrolases: Catalisam reações de hidrólise de ligação covalente, como, por exemplo, as peptidases. • Liases: Catalisam a quebra de ligações covalentes e a remoção de moléculas de água, amônia e gás carbônico. As Dehidratases e as Descarboxilases são bons exemplos. • Isomerases: Catalisam reações de interconversão entre isômeros ópticos ou geométricos. As Epimerases são exemplos. • Ligases: Catalisam reações de formação e novas moléculas a partir da ligação entre duas já existentes, sempre à custa de energia (ATP). São as Sintetases. Figura 21 - Principais enzimas Fonte: http://graduacao.iqsc.usp.br/files/Aula-09-Enzimas.pdf 43 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 5.3 Ligação enzimática As enzimas possuem alta especificidade para os seus substratos e pode ser relativa a apenas um substrato ou a vários substratos simultâneos. Isso se deve à existência, na superfície da enzima, de um local denominado sítio de ligação do substrato que é formado por um arranjo tridimensional especial dos aminoácidos de uma determinada região da molécula, geralmente complementar à molécula do substrato, e ideal espacial e eletricamente para a ligação do mesmo. O sítio de ligação do substrato é capaz de reconhecer inclusive isômeros óticos "D" e "L" de um mesmo composto. Este sítio pode conter um segundo sítio, chamado sítio catalítico ou sítio ativo, ou estar próximo dele, onde é neste sítio ativo que ocorre a reação enzimática. Os modelos de “chave fechadura” e “ajuste induzido” buscam explicar a especificidade substrato/enzima, onde o primeiro prevê um encaixe perfeito do substrato no sítio de ligação, que seria rígido como uma fechadura e o segundo modelo prevê um sítio de ligação não totalmente pré-formado, mas sim moldável à molécula do substrato, onde a enzima se ajustaria à molécula do substrato na sua presença. Figura 22 - Modelo de chave ferradura/Modelo de ajuste induzido. Fonte: http://docentes.esalq.usp.br/luagallo/enzimas.html 44 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 As enzimas aceleram a velocidade de uma reação por diminuir a energia livre de ativação da mesma, sem alterar a termodinâmica da reação. Para se superar a energia de ativação de uma reação, passa-se pela formação de um estado intermediário chamado "Estado de Transição", sempre um composto instável e de alta energia (Ts), ligado com altíssima afinidade ao sítio catalítico. Nas reações enzimáticas, este composto de transição (Ts) não pode ser isolado ou mesmo considerado um intermediário, uma vez que não é liberado para o meio de reação. Sua formação ocorre no sítio catalítico da enzima. Como a afinidade do "Ts" ao sítio catalítico é muito maior que a afinidade do substrato com o mesmo, a pequena quantidade de moléculas em "Ts" será rapidamente convertida em produto. Assim, todo o fator que leva a um aumento do número de moléculas em "Ts" aumenta a velocidade da reação. São 4 os mecanismos principais através dos quais as enzimas aceleram uma reação, aumentando a formação de moléculas de substrato em "Ts": • Catálise Ácido-Base: ocorre com a participação de aminoácidos de cadeias laterais ionizáveis, capazes de doar ou liberar prótons durante a catálise. • Torção de Substrato: depende da torção do substrato induzida pela ligação do mesmo com o sítio de ligação da enzima, alcançando o estado de transição e estimulando sua conversão em produto. • Catálise Covalente: resulta do ataque nucleofílico ou eletrofílico de um radical do sítio catalítico sobre o substrato, ligando-o covalentemente à enzima e induzindo a sua transformação em produto. Envolve com frequência a participação de coenzimas. • Efeito de Diminuição da Entropia: as enzimas ajudam no posicionamento e na definição da estequiometria correta da reação, facilitando os mecanismos anteriores. Os inibidores enzimáticos são compostos que podem diminuir a atividade de uma enzima. A inibição enzimática pode ser reversível ou irreversível. Há 2 tipos de inibição enzimática reversível: • Inibição Enzimática Reversível Competitiva: O inibidor se liga irreversivelmente ao mesmo sítio de ligação do substrato tendo como efeito reversivo o aumento da concentração do substrato. Essa inibição depende das concentrações do substrato e do inibidor. 45 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 • Inibição Enzimática Reversível Não-Competitiva: A ligação do inibidor é reversível no sítio de ligação, podendo estar ligado à enzima ao mesmo tempo em que o substrato. Essa inibição depende da concentração do inibidor. Na inibição enzimática irreversível, ocorre modificação covalente e definitiva no sítio de ligação ou no sítio catalítico da enzima. Algumas enzimas podem ter suas atividades reguladas, atuando assim como moduladoras do metabolismo celular. Esta modulação é essencial na coordenação dos inúmeros processos metabólicos pela célula. Além dos mecanismos já citados de modulação de atividade enzimática existem 2 modelos de regulação enzimática mais conhecidos: • Modulação Alostérica: ocorre nas enzimas que possuem um sítio de modulação (alostérico) onde se liga de forma não covalente a um modulador alostérico podendo ser ativador da enzima (positivo) ou inibidor da enzima (negativo). A ligação do modulador induz modificações na estrutura espacial da enzima, modificando a afinidade desta para com os seus substratos. Um modelo muito comum de regulação alostérica é a inibição por "feedback", onde o próprio produto da reação atua como modulador da enzima que a catalisa. • Modulação covalente: ocorre quando há modificação covalenteda molécula da enzima com conversão entre formas ativa/inativa, iniciado principalmente por adição ou remoção de grupamentos fosfato de resíduos de serina (fixação de um radical fosforila). 46 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 UNIDADE 6 - RESPIRAÇÃO CELULAR 6.1 Respiração celular, glicólise, Ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa A respiração é o resultado da oxidação de compostos orgânicos e não apenas o resultado de trocas gasosas. Ocorre através da oxidação de compostos orgânicos para a produção de energia, porém ela é um processo muito complexo, que produz vários compostos importantes para o metabolismo, além de energia. A respiração ocorre em todas as células vivas, portanto em todas as partes da planta. A energia liberada a partir da oxidação dos alimentos será utilizada na síntese de substâncias, absorção de sais minerais, entre outros processos, não existindo um órgão sede. Ela é de fundamental importância para a vida, tendo como consequência a morte celular caso pare. A intensidade da respiração varia conforme a necessidade metabólica de cada célula e pode ser medida através do gás carbônico liberado e pelo oxigênio absorvido. Como a fotossíntese e a respiração ocorrem ao mesmo tempo e uma usa os produtos da outra, a respiração deve ser medida no escuro. Podemos representar a respiração celular de acordo com a fórmula abaixo: O gás oxigênio é transportado até o interior das células, onde reage com a glicose, molécula proveniente da digestão dos alimentos consumidos pelos animais ou, no caso dos vegetais, produzida durante a fotossíntese. Essa reação química leva à formação de moléculas de água e gás carbônico - que, por sua vez, será eliminado da célula e transportado pelo sangue ou seiva até sua eliminação para o ambiente. Esse processo, entretanto, libera a energia contida nas ligações químicas da molécula de glicose, e parte dessa energia é utilizada para a formação do trifosfato de adenosina (ATP), a partir do difosfato de adenosina (ADP) e fosfato inorgânico. C6H12O6 + 6º2 à 6CO2 + 6H2O 47 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 A energia liberada durante a respiração celular fica, portanto, armazenada nas moléculas de ATP e, a partir daí, pode ser usada para todas as atividades celulares que requerem gasto energético. Glicólise O ocorre no citoplasma das células, havendo gasto inicial de energia (duas moléculas de ATP), mas que será reposto, já que, ao final dessa primeira etapa, o resultado é a formação de duas moléculas de ácido pirúvico e 4 moléculas de ATP, havendo, portanto, um saldo energético de 2 ATP. Também ocorre a liberação de elétrons energizados e íons H+, capturados por moléculas de uma substância aceptora de elétrons chamada NAD+(Nicotinamide Adenine Dinucleotide), formando duas moléculas de NADH. O ácido pirúvico passa, então, ao interior das mitocôndrias, organelas celulares onde ocorrem as etapas seguintes. Ciclo de Krebs O ácido pirúvico, no interior da matriz mitocondrial, reage com a coenzima A, gerando duas moléculas de gás carbônico e duas de acetilcoenzima A que é totalmente degradada numa série de reações denominadas ciclo de Krebs formando mais quatro moléculas de gás carbônico, além de elétrons energizados e íons H+, que serão capturados por NAD+ e por um outro aceptor de elétrons e de hidrogênio chamado FAD (Flavine Adenine Dinucleotide), originando moléculas de NADH e FADH2. Durante esse processo, formam-se também duas moléculas de GTP (Guanosine triphosphate - muito semelhante ao ATP). Fosforilação oxidativa As moléculas de NADH e FADH2 provenientes do ciclo de Krebs liberam os elétrons energizados e os íons H+. Os elétrons assim liberados - e também aqueles provenientes da glicólise - passam por uma série de proteínas transportadoras (citocromos e quinonas) presentes nas membranas internas da mitocôndria. A essa série de proteínas dá-se o nome de cadeia respiratória e, durante a passagem através dela, os elétrons perdem energia que é, então, armazenada em moléculas de ATP. Ao final da cadeia respiratória, os elétrons menos energizados e os íons H+combinam-se com átomos provenientes do gás oxigênio, formando seis 48 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 moléculas de água. Fosforilação oxidativa é a reação em que se formam as moléculas de ATP (26 no máximo) com a energia liberada pelos elétrons durante sua passagem pela cadeia respiratória, tendo o gás oxigênio ao final dela. Embora o gás oxigênio só participe da fosforilação oxidativa, na sua ausência também não acontece o ciclo de Krebs, razão pela qual dizemos que essas são etapas aeróbicas da respiração celular, enquanto a glicólise é uma etapa anaeróbica. Na ausência desse gás, alguns organismos realizam a fermentação, onde a quebra da glicose forma duas moléculas de ATP e ácido pirúvico, que é transformado em ácido lático ou etanol, dependendo do organismo. Exercício 6 1. Sobre as proteínas é INCORRETO afirmar: a) Reserva alimentar: albumina b) Transporte: hemoglobina (transporte O2). c) Contrácteis: miosina d) Protetoras como ceras. e) Toxinas: venenos de cobras ou insetos 2. Sobre as enzimas é INCORRETO afirmar: a) As enzimas são proteínas especializadas em catalisar reações biológicas. b) Aumentam a velocidade de uma reação química sem interferir no processo. c) As enzimas estão associadas a biomoléculas, devido a sua especificidade e poder catalítico. d) As ligases catalisam reações de formação de novas moléculas a partir da ligação entre duas pré-existentes com gasto de energia. e) Enzimas descarboxilases catalisam a quebra de ligações covalentes e a remoção de peróxido de oxigênio. 3. Sobre respiração celular é INCORRETO afirmar: a) Mitocôndria é formada por 2 membranas, com uma membrana externa é lisa e controla a entrada e saída de substâncias da organela. b) A membrana interna contém inúmeras pregas conhecidas como cristas mitocondriais, onde ocorre a cadeia transportadora de elétrons. 49 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 c) Cavidade interna é preenchida por uma matriz viscosa, onde há várias enzimas envolvidas com a respiração celular, DNA, RNA e pequenos ribossomos. d) Na matriz mitocondrial ocorre o ciclo de Krebs e glicólise. e) Na respiração anaeróbica requer e presença de oxigênio e ocorre dentro das mitocôndrias. 4. Em relação à cadeia transportadora de elétrons é INCORRETO afirmar que: a) Os elétrons são passados de molécula para molécula presente nas cristas mitocondriais, os citocromos. b) Quando o elétron é transferido de um citocromo para outro até chegar no aceptor final (o oxigênio), ocorre liberação de energia que é convertida em ATP. c) É um sistema de transferência de elétrons provenientes do NADH2 e FADH2 até a molécula de oxigênio. d) São liberados vários hidrogênios, que são então capturados pelos NAD e FAD, transformando-se em NADH2 e FADH2. e) A oxidação das coenzimas é feita pela cadeia de transporte de elétrons, localizada na membrana interna da mitocôndria. 50 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 REFERÊNCIAS AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia das células. São Paulo: Moderna, 2004. BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. BORGES, Júlio César. Enzimas. USP. 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