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IHERING, Rudolf Von. A luta pelo direito. Título original: Der Kampf um's Recht. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Editora Martin Claret, 2008. Para o Rudolf von Ihering, direito é uma ideia prática e que possui uma antítese, o fim e o meio. A paz é o objetivo do direito e a luta é o meio de obtê-la. O autor acredita que o direito possua uma dupla ideia: Direito Objetivo: “a ideia objetiva, que nos oferece o conjunto dos princípios do direito em vigor, — a ordem legal da vida”; Direito Subjetivo: “o precipitado da regra abstrata no direito concreto da pessoa”. Ihering afirma que nós somos os responsáveis por nossos direitos e que este, por sua vez, é defendido através da luta. E, para ele, as leis de nada valem sem o sentimento de justiça, e querer justiça também não é suficiente, deve- se agir. Ihering inicialmente revela que somente através do contínuo esforço e da luta os cidadãos alcançarão o seu real direito, pois esta é uma relação de força viva e de normas teóricas que coexistem. A simbologia do Direito, representada pela deusa Têmis é retomada na obra. Ihering diz que a balança e a espada usadas pela Deusa representam, quando utilizadas com a mesma habilidade, o verdadeiro estado de direito. A espada significa o poder de coerção, já a balança o equilíbrio.Todos e quaisquer princípios de direito no mundo foram adquiridos pela luta e imposição àqueles que não os aceitavam. É necessário, segundo o autor, nunca se esquecer de que a paz que desfrutamos hoje é resultado de incessantes guerras de gerações passadas. Segundo o autor a luta pelo direito é um dever do interessado para consigo próprio e para ele, o indivíduo lesado, em seu direito, pode se resolver de duas formas: ele pode resistir ao adversário e pode ceder, porém, seja qual for a escolha deve fazer um sacrifício: ou sacrificará o direito à paz ou a paz ao direito, limitando ao mais vantajoso. Direito algum, tanto o dos indivíduos como o dos povos, está isento daquela permutação e desvio, resultando daí que essa luta pode travar-se em todas as esferas do direito, desde as inferiores regiões do direito privado até as alturas do direito público e do direito das gentes. O autor considera que existem dois grupos de indivíduos: um primeiro grupo que luta por seu direito até o fim, não somente pelo interesse ou valor material mas pela dor moral que lhe é causada através da injustiça, e um último grupo que escolhem abrir mão de seus direitos à paz. Como não podia deixar de citar algumas ressalvas de Montesquieu, do livro "O Espírito das Leis", Ihering expõe suas idéias onde cada Estado pune mais severamente os delitos que ameaçam o seu princípio vital particular, ao passo que para os outros mostra uma indulgência tal, que por vezes manifesta um contraste extraordinário. Na visão da autor temos a obrigação de resistir ao ser atacado em nosso direito, também defende que é injustiça é um ataque contra o direito, ele afirma então, que a vida do homem se divide em dois meios: o material: onde o homem defende sua propriedade (fim de matrimônio, divisão de patrimônio); o moral: onde o homem defende sua honra (contratos em geral) Ihering destaca que nos Estados adiantados, o poder público pune e persegue oficialmente infrações graves. Para tanto, demonstra algumas épocas como o direito antigo de Roma, o Estado comerciante (que colocará em primeiro plano a falsificação da moeda), o Estado Militar (onde os delitos mais graves eram insubordinação e falta de disciplina) e até o Estado absoluto (onde os delitos norteavam às lesões praticadas contra a realeza). A dualidade entre os sentimentos jurídicos dos Estados e os dos indivídu - os atinge seu ápice sempre que há a ameaça nas condições particulares de suas existências. Surge aí a luta pelo direito, que independentemente da época segue a mesma linha: cada qual luta pelos seus direitos, seja pela moral ou pela honra, sempre influenciados pelo interesse. Com relação aos indivíduos, nenhum poder consegue desvicula-los da prerrogativa de defender seus direitos, pleitean- do-os através do litígio e, por fim, afirma que devemos defender nosso direito, seja ele qual for. Ihering classifica o direito público e o direito criminal como dever das autoridades estatais, já o direito privado como faculdade das pessoas privadas, ou seja, depende da iniciativa individual das pessoas. Sendo assim, o direito privado fica sujeito ao desconhecimento e à covardia, já que nem todos fazem valer seu direito. Surge aí, no direito privado, a luta contra a injustiça. "no campo do direito privado há de ser travada uma luta do direito contra a injustiça, uma luta comum de que participa toda a nação e que exige a união indefectível de todos os indivíduos. O autor nos mostra que as leis só são úteis, enquanto são usadas com frequência as leis menos usadas ou abandonadas, caem em desuso, ele nos mostra também que no direito privado cada um deve defender a lei na sua posição, pois quem defende o seu direito defende todo o direito, a essência do direito é a ação. Ihering r traça uma breve comparação entra o direito romano e o direito atual. No direito romano havia uma distinção entre a antijuridicidade subjetiva e a objetiva, já nos tempos atuais isso não existe. O cidadão romano não aceitava receber apenas uma indenização pela irregularidade cometida contra sua pessoa, pena aplicada pela transgressão ao direito objetivo. As penalidades iam além de bens materiais, o criminoso estava sujeito a outras penas, isto é às penas aplicadas pela transgressão ao direito subjetivo. Dentre as quais, segundo Ihering, destaca a da infâmia. Nos dias atuais, as penalidades aplicadas ao transgressor são as mesmas, tanto para o direito subjetivo como para o objetivo. Geralmente, uma quantia de dinheiro e/ou a uma prisão. Mantendo-se num plano equidistante do direito antigo, que aplicava a mesma medida na avaliação da lesão objetiva e subjetiva do direito, e do extremo oposto encontrado no direito moderno, onde a lesão subjetiva ficou relegada a nível idêntico ao da objetiva a lesão de direito põe em jogo não apenas um valor pecuniário, mas representa uma ofensa ao sentimento de justiça, que exige reparação. Na parte final do livro o autor volta a fazer um clamor à luta pelo direito, comparando a luta e o direto ao trabalho e à propriedade. “ A luta representa o trabalho externo da direito. Sem luta não há direito, da mesma forma que sem trabalho não há propriedade" O direito conquistado pela luta é valorizado tal como a propriedade conquistada pelo trabalho. Ihering compara o direito da Alemanha com o Romano. O nosso direito civil para é repleto de materialismo, porque a maioria das medidas em relação a violação do direito gera um valor material. No direito Romano, a resolução do crime no direito civil, não era por atribuição de valor e sim por decreto de penas. O ladrão quando lesa uma pessoa, ataca seu patrimônio, as leis do estado, a ordem legal e a sua moral. Quando o devedor de um empréstimo, nega de má fé que se lhe fez, acontece o mesmo ataque em relação a moral e as leis do estado mas sua pena geralmente é uma multa. O autor finaliza a obra por afirmar que é tarefa inexorável do direito suprimir as injustiças, aproximando-se mais da moral: “a luta é o eterno trabalho do direito. (...) Sem a luta não há direito, como sem o trabalho não há propriedade. (...) Só na luta encontrarás o teu direito”.
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