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1 Maria Fernanda Megale RESTRIÇÃO DE MOVIMENTO DA COLUNA (RMC) Caso 1: Paciente masculino, 35 anos, vítima de queda de 10m de altura em espaço de difícil acesso. Com necessidade de resgate vertical pelo corpo de bombeiros. Levado ao HGE em protocolo de trauma Como abordar esse paciente? • Avalia cena segura (risco de desabamento, área bem delimitada, se tem fios elétricos que podem dar choque) • Atentar aos EPIs • XABCDE o X – Lesões exsanguinantes (sangramento muito proeminente) ▪ Geralmente de origem arterial ▪ Muitas vezes relacionados amputações traumáticas o A – Vias aéreas ▪ Estabilização da coluna cervical manual (tentando trazer a uma posição neutra e restringindo o movimento) ▪ Avalia vias aéreas por contato verbal com o paciente Após imobilização da cervical, deve ser mantida nessa posição até que a avaliação NÃO revele indicação de imobilização, ou seja, substituída por um dispositivo de imobilização O fato de o paciente precisar de uma RMC, não significa que o paciente precisa de um colar cervical Ter uma lesão de estrutura óssea não significa necessariamente que existe uma lesão medular de SNC. Quando se faz restrição do movimento da coluna, tenta-se evitar danos secundários (ex: TRM) É comum se ter um choque neurogênico associado ao TRM A avaliação do pescoço para a necessidade de imobilização espinhal deve incluir: • Mecanismo de lesão (em relação a quedas, é considerada uma queda grave quando o paciente cai de um local que é 3x a sua propria altura – cinemática importante) • Avaliação da função motora e sensitiva (para avaliar déficit neurológicos, alteração de nivel de consciência) • Confiabilidade do doente como indicadores de lesão de medula o Dificulta a confiabilidade: intoxicado por drogas, álcool, alteração do nível de consciencia (possível intoxicação ou TCE), surdos/mudos, lesão de grande distração muito dolorosa em outro local Muitos doentes NÃO apresentam lesão vertebro-medular → Abordagem mais seletiva para imobilização • Por que não imobilizar todos? o Imobilização da coluna produz efeitos adversos em voluntários saudáveis incluindo aumento do esforço respiratório, isquemia cutânea, dor → efeitos maléficos em pacientes saudáveis “O principal foco do socorrista deve ser o reconhecimento das indicações para imobilização em vez de tentar definir que não existe lesão na coluna” PHTLS 3 POSSÍVEIS CAMINHOS: • Não restringir • Restrição completa • Restrição minimalista (Não existe mais o termo de imobilização total, foi trocado por restrição completa e minimalista) 2 Maria Fernanda Megale TRAUMA CONTUSO → alteração do nível de consciência? (ECG < 15) OU instabilidade hemodinâmica? • SIM: RMC minimalista → transporte rápido • NÃO: Dores na coluna ou sensibilidade? OU queixas neurológicas? OU deformidade anatômica da coluna? o SIM: RMC completa → transporte o NÃO: Presença de: uso de álcool ou drogas? Traumas distrativos? Incapacidade de comunicação? ▪ SIM: RMC completa → transporte ▪ NÃO: RMC não indicada → transporte TRAUMA PENETRANTE → RMC contraindicada • Tem que fazer um transporte rápido do paciente • Ex: PAF (arma de fogo), arma branca • Por que não tem indicação? Tem mais chance de morrer de choque hemorrágico do que por TRM • Exceção: trauma penetrante + déficit neurológico (ex: paciente atirado não consegue mexer a perna) Quando paciente tem trauma penetrante + contuso: avalia de maneira particular a necessidade de RMC Critérios para tomada de decisão: • Nexus e CCR → orientam necessidade de o paciente realizar radiografia da coluna (extrapolando a teoria: usa também para ver se indica ou não o uso do colar cervical) o Protocolos indicados para vítimas de trauma contuso NEXUS (Nacional Emergency X-Radiography Utilization Study) Não restringe a cervical se: • Sem dor cervical • Sem evidência de intoxicação (álcool/drogas) • Nível normal de alerta (Glasgow 15, sem TCE associado ou rebaixamento da consciência) • Sem déficit neurológico focal • Sem ferimentos dolorosos de distração Nexus não abrange mecanismos de lesão (ex: altura da queda, se foi ejetado do carro) CCR (Canadian C-Spine Rule Study) Paciente cooperativo? • NÃO: RMC • SIM: Paciente tem fator de risco elevado? (> 65a, déficit neurológico, queda > 1m, carga axial na coluna, acidente com velocidade > 100km/h, história de rolamento, ejeção, colisão de bicicleta) o SIM: RMC o NÃO: Baixo fator de risco presente? (colisão traseira de veículo, andando, sentado na cena, dor cervical de inicio tardio, sem dor cervical em linha média) ▪ NÃO: RMC ▪ SIM: Capaz de girar o pescoço 45° bilateralmente sem dor? • NÃO: RMC • SIM: Não há necessidade de restrição de movimento cervical CCR inclui mecanismos de lesão do trauma “Ponto chave é: avaliação física completa + bom julgamento clínico para tomar decisão e, em caso de dúvida, imobilizar” PHTLS 3 Maria Fernanda Megale RMC – COMO REALIZAR • Primeira forma de sempre: restrição do movimento de forma manual COLAR CERVICAL • Ao avaliar que o paciente precisa mesmo ser imobilizado • Colar bem colocado: o Paciente consegue abrir a boca o Tamanho adequado (maioria deles são ajustáveis) o Apoiado em estruturas ósseas (queixo e esterno) o Olhar no horizonte (reto – nem acima e nem abaixo) o Impede: flexão e hiperextensão (não impede o movimento de rotação) ▪ Head block → impede rotação e lateralização • Antes de colocar o colar, aproveita-se para fazer uma inspeção na região do pescoço (turgência jugular, enfisema, desvio de traqueia) • Se o paciente no A (do ABCDE) tiver uma indicação de abordagem de via aérea (aspirar ou VA definitiva), pode-se manter por um tempo a restrição manual (enquanto mantém a perviedade da via) PRANCHA RÍGIDA • Mais usado no SAMU • Para colocar essa prancha no paciente, tem que fazer um movimento de rotação em bloco o Aproveita para avaliar o dorso • Retira a vítima do solo • Restrição minimalista PRANCHA SCOOP • Consegue retirar o paciente rapidamente no local • Prancha entra abaixo do paciente como se fosse uma concha (não é necessário a rotação em bloco) • Usada para pequenas distancias, evitando perda de tempo na retirada do paciente • Benefício: mexe muito pouco no paciente • Restrição minimalista MACA A VÁCUO • Disponível no SAMU • Enche como uma bomba inflável e vai modelando ao corpo do paciente, deixando-o imobilizado • Perde um pouco de tempo • Restrição completa Paciente “andando” na cena? Capacidade de locomoção é suficiente para tratá-lo como se não tivesse uma lesão vertebromedular? Não. Pode ter uma lesão óssea instável que com o movimento acaba evoluindo para uma lesão de TRM. → Paciente recebe orientações do que fazer para deitar na prancha e a imobilização ser feira. TIPOS DE RETIRADAS VEICULARES Imediata • Risco enorme da cena deixar de ser segura (ex: fórmula 1, stock car) • Manobras bem rápidas e que tem chance de ser feita com 1 socorrista Rápida • Vítima grave/crítico com lesões que ameaçam a vida • Restrição minimalista • Às vezes, para acessar um paciente crítico, faz a retirada de um não-crítico de forma rápida 4 Maria Fernanda Megale Controlada • Paciente estável sem lesão ameaçadora de vida • Manuseio suave da vítima, minimizando a sua movimentação • Risco de TRM • Restrição completa Autoestração assistida • Paciente não-crítico e sem lesões ameaçadoras de vida • Baixo risco de lesão de TRM • Orientações dos socorristas na saída do paciente do carro o “Levanta-te e anda” o O risco de lesão é menor quando o próprio paciente realiza a sua movimentação • Critérios para indicação: o Paciente estável hemodinamicamente, com indicação de RMC completa, não alcoolizado, sem lesões de distração, que não está preso nas ferragens sem dor durante o processo de autoextração+ veículo com as 4 rodas no chão e devidamente estabilizado.
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