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TGA 3

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Universidade Estadual de Montes Claros
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social
Dissertação intitulada “O mercado de trabalho formal em Montes Claros – 1985-
2006”, de autoria do mestrando Gilson Cássio de Oliveira Santos, aprovada pela 
banca examinadora constituída pelos seguintes professores:
Prof. Dr. Gilmar Ribeiro dos Santos – Orientador
Profa. Dra. Luciene Rodrigues
Profa. Dra. Maria da Luz Alves Ferreira
Montes Claros/MG, 23 de abril de 2009.
1
Agradecimentos:
O trabalho posto nas páginas que seguirão, não teria concluído sem as 
manifestações e a presença de importantes pessoas que de algum modo, 
interessaram, preocuparam e trabalharam em um longo percurso de materialização 
de esforços físicos e intelectuais.
Dentre essas pessoas devo destacar: meus pais, Carmem e Gilson, que através dos 
incentivos verbais e materiais sempre impulsionaram a continuidade da minha 
jornada acadêmica. Minha esposa Silvia, que estando sempre ao meu lado, em 
muitos momentos optou por cuidar de minhas coisas a despeito das suas próprias, 
tendo com tal desprendimento evidenciado verdadeira prova de carinho e amor 
sincero. 
 Em todo o percurso de minha formação, em especial da acadêmica passaram 
pessoas que deixaram suas marcas, e muitas delas estão impressas nestas 
páginas. Então a todos os meus colegas e professores devo registrar os meus 
eternos agradecimentos com destaque a Célia Rosana Freitas que através de seus 
conselhos percebi a minha vocação pelas Ciências Sociais; Marcos Fábio Martins de 
Oliveira que aguçou minha atenção para a sociologia econômica; Lúcio Flávio 
Ferreira Costa que me oportunizou a ter contato com as práticas de investigação 
sobre a sociologia do trabalho; Maria da Luz Alves Ferreira, sua amizade, atenção 
possibilitaram não somente a materialização deste trabalho como também a minha 
formação profissional e acadêmica de forma geral; Luciene Rodrigues além da 
perspicácia e sabedoria, sua sensibilidade quanto à articulação da teoria com os 
processos foi fundamental para a realização das análises que se apresentam aqui.
Mente e mãos indispensáveis na difícil gênesis, no trabalhoso desenvolvimento e na 
ansiosa conclusão dessa pesquisa foram a do eterno Mestre, professor Gilmar 
Ribeiro dos Santos, sem o seu vasto conhecimento teórico, sua larga experiência 
analítica e seu olhar minucioso na percepção dos detalhes imperceptíveis, este 
trabalho não teria se quer iniciado, no entanto, tendo aqui a sua conclusão final, sou 
eternamente grato. 
 
2
Resumo:
A partir de 1973 se observou uma série de transformações ocorridas no âmbito do 
sistema produtivo nos diversos países capitalistas. Essas mudanças dizem respeito 
à transição de modelos de produção rígidos e padronizados, fundados em bases 
tayloristas para regimes um tanto flexíveis. A partir desse momento histórico, que 
muitos autores denominaram de reestruturação produtiva, tanto os países 
desenvolvidos quanto os países tidos como periféricos perceberam as 
transformações ligadas à flexibilização dos seus sistemas produtivos. A fabricação 
de mercadorias marcada pela produção em massa, pela padronização dos 
processos fabris e segmentação da produção, explicitada no taylorismo e fordismo 
entra em falência, cedendo lugar a processos mais dinâmicos, rápidos, ágeis e 
flexíveis. Isto é explicitado nos modelos como Toyotismo, Volvoísmo, Just in time, 
acumulação flexível ou especialização flexível, que trazem consequências diretas no 
mercado de trabalho. A partir da segunda metade da década de 1970, nota-se uma 
substancial diminuição das contratações na indústria em detrimento aos serviços; 
crescimento da rotatividade de mão-de-obra; aumento dos contratos temporários; 
relevância das terceirizações e participação nos lucros; evolução da ocupação 
feminina e diminuição da renda do trabalhador de forma geral; em suma, evidencia-
se a precarização do trabalho. Com algumas variações, isso se deu na maior parte 
dos países capitalistas do globo. Então, a reestruturação produtiva e os regimes 
flexíveis de produção fizeram surgir inúmeros trabalhos investigativos a respeito de 
sua atuação e consequências nas diversas sociedades. Um fator que atrai a atenção 
investigativa no trabalho que ora se apresenta, entretanto, são as formas de 
articulação da flexibilização com as especificidades eminentemente locais. Aqui se 
tenta explicitar que as atuações da flexibilidade da produção e do trabalho se 
apresentam, na localidade, ainda mais precárias do que em dimensões nacionais ou 
globais. Um exemplo capaz de demonstrar esta afirmação está posto no 
crescimento do estoque do pessoal formalmente ocupado em um contexto de 
informalidade do trabalho, articulado com as características de flexibilização. Fato 
que ocorre em âmbito local.
Palavras-Chave:
mercado de trabalho; regimes de produção; acumulação flexível; precarização do 
trabalho; relações locais. 
3
Abstract:
In several capitalist countries, from the 70´s on, a lot of transformation carried out in 
the extend of the productive system. Those changes were from rigid and standard 
models of production, based on Taylorism forms to flexible ones. This flexibilization 
occurred in developed and non-developed countries. The production process 
become more dynamic, quicker, and with a lot of flexibility, such changes, designated 
as productive restructuration had a hard and direct influence on the world work 
market. From the second half of the 70´s, there were hard contract reductions at 
industries , but the temporary ones grew up, and there was a great rotativity of 
employees, also there was an evolution of the female workers occupation, and an 
income reduction, that took place in most of capitalism countries, with some 
exceptions. Then the productive restruturation and the flexible production regimes 
made appear several investigations works about their consequences in some 
countries and regions. So, this paper follows the line investigation of the repercussion 
that those changes had on the work market, however the main focus in on the local 
ways of management of the flexibilization and its to show how the flexibility of work 
and productions here, in this region, seems to be much more precarious than in 
nationwide and worldwide dimensions. An example that demonstrates this statement 
is the growing number of people who work at an informal context articulated with the 
flexibilization characteristics. 
Keywords:
labor market, production systems, flexible accumulation, employment instability, 
location relations.
4
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ...............................................................................................................................30
TABELA 2 ...............................................................................................................................39
TABELA 3 ...............................................................................................................................40
TABELA 4 ...............................................................................................................................41
TABELA 5 ...............................................................................................................................42
TABELA 6 ...............................................................................................................................42
TABELA 7 ...............................................................................................................................43
TABELA 8 ...............................................................................................................................44
TABELA 9 ...............................................................................................................................47TABELA 10 .............................................................................................................................48
TABELA 11 .............................................................................................................................49
TABELA 12 .............................................................................................................................50
TABELA 13 .............................................................................................................................51
TABELA 14 .............................................................................................................................51
TABELA 15 .............................................................................................................................52
TABELA 16 .............................................................................................................................53
TABELA 17 .............................................................................................................................59
TABELA 18 .............................................................................................................................59
TABELA 19 .............................................................................................................................61
TABELA 20 .............................................................................................................................72
TABELA 21 .............................................................................................................................75
TABELA 22 .............................................................................................................................76
TABELA 23 .............................................................................................................................77
TABELA 24 .............................................................................................................................77
TABELA 25 .............................................................................................................................83
TABELA 26 .............................................................................................................................84
5
LISTA DE QUASROS
QUADRO 1 .............................................................................................................................28
QUADRO 2 .............................................................................................................................54
QUADRO 3 .............................................................................................................................70
6
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Ocupação formal no Norte de Minas nos setores da indústria, comércio e 
serviços.....................................................................................................................................60
GRÁFICO 2 - Percentual de homens formalmente ocupados nos setores da indústria, 
comércio e serviços no Norte de Minas – 1985-2006...............................................................62
GRÁFICO 3 - Percentual de mulheres formalmente ocupadas nos setores da indústria, 
comércio e serviços no Norte de Minas – 1985-2006...............................................................63
GRÁFICO 4 - Ocupação formal nos setores: indústria, construção civil, comércio e serviços 
em Montes Claros – 1985 a 2006.............................................................................................71
GRÁFICO 5 – Contratos segundo tempo de duração no setor da indústria em Montes Claros – 
1985 a 2006...............................................................................................................................73
GRÁFICO 6 – Total de contratos temporários nos setores da indústria, comércio e serviços 
em Montes Claros – 1985-2006................................................................................................74
GRÁFICO 7 – Estabelecimentos nos setores da indústria, comércio e serviços em Montes 
Claros – 1985-2006 ..................................................................................................................75
GRÁFICO 8 - Ocupação formal segundo sexo em Montes Claros - 1985 a 2006...................81
GRÁFICO 9 - Ocupação formal segundo sexo no setor da indústria em Montes Claros - 1985 
a 2006........................................................................................................................................81
GRÁFICO 10 - Ocupação formal segundo sexo no setor de serviços em Montes Claros - 1985 
a 2006........................................................................................................................................82
GRÁFICO 11 - Ocupação formal segundo sexo no setor da construção civil em montes claros 
- 1985 a 2006............................................................................................................................83
GRÁFICO 12 - Percentual de homens e mulheres formalmente ocupados na indústria segundo 
escolaridade em Montes Claros – 2006....................................................................................86
GRÁFICO 13 - Percentual de homens e mulheres formalmente ocupados em montes claros 
segundo escolaridade – 2006....................................................................................................86
GRÁFICO 14 - Percentual de homens e mulheres formalmente ocupados na indústria segundo 
rendimento médio em Montes Claros – 2006...........................................................................87
GRÁFICO 15 - Percentual de homens e mulheres com curso superior formalmente ocupados 
na indústria segundo renda em Montes Claros – 2006.............................................................88
GRÁFICO 16 – Total de contratos temporários de homens em mulheres nos setores da 
indústria, comércio e serviços em Montes Claros – 1985-2006...............................................89
7
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Crescimento médio anual do emprego formal segundo microrregiões do Estado 
– Minas Gerais – 2000-2006.....................................................................................................56
Figura 2 – Crescimento médio anual do emprego formal na indústria segundo microrregiões 
do Estado – Minas Gerais 2003-2006.......................................................................................57
FIGURA 3 - Crescimento médio anual do emprego formal no setor de serviços segundo 
microrregiões do Estado – Minas Gerais 2003-2006................................................................58
FIGURA 4 - Índice de Gini Estado de Minas Gerais segundo municípios – 2000..................67
8
SIGLAS E ABREVIATURAS
CAGED Cadastro Geral de Emprego e Desemprego
FIBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
FJP Fundação João Pinheiro
IBGE Instituto de Geografia e Estatística
INDI Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais 
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
OCDE Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar 
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
RAIS Relação Anual de Informações Sociais
SUDENE Superintendência de Desenvolvimento para o Nordeste
9
SUMÁRIO
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11 
CAPÍTULO I - O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO: DOS MODELOS TAYLORISTA-
FORDISTA A ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL .........................................................................20 
O Taylorismo-fordismo ......................................................................................................... 21 
1.2. Pós-1973: a reestruturação produtiva ............................................................................. 24 
1.3. Modelos rígidos versus modelos flexíveis ..................................................................... 27 
1.4. O mercado de trabalho flexível ...................................................................................... 32 
CAPÍTULO II - REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E MERCADO DE TRABALHO ..... 37 
2.1. Mercado de trabalho nos países desenvolvidos ............................................................. 38 
2.2. Mercado de trabalho no Brasil ....................................................................................... 46 
2.3. A situação regional: o Norte de Minas ........................................................................... 54 
CAPÍTULO III - AS ESPECIFICIDADES DO MERCADO DE TRABALHO LOCAL: O 
CASO DE MONTES CLAROS .............................................................................................. 64 
3.1. O mercado de trabalho flexível em Montes Claros ...................................................... 68 
CAPÍTULO IV - MERCADO DE TRABALHO LOCAL E ESTRATIFICAÇÃO POR SEXO
 ................................................................................................................................................... 80 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 91 
REFERÊNCIAS: ....................................................................................................................... 96 
10
INTRODUÇÃO
Em tempos atuais, a sociedade civil e o Estado discutem com preocupação os 
processos de trabalho. As discussões geralmente estão focadas nos modos de 
produção; na inserção e na permanência do indivíduo no emprego e na forma de 
atuação deste indivíduo no mercado de trabalho.
Por mais que alguns autores insistam em argumentar sobre a perda da centralidade 
do trabalho como categoria de estudo das relações sociais, apresenta-se aqui uma 
observação contrária.
O aumento do número de contratos formais em Montes Claros refuta, por si só, esta 
possibilidade ao evidenciar de forma dicotômica um crescimento contratual pautado 
na precariedade das formas de execução do trabalho, através dos baixos salários, 
dos contratos curtos e rotativos, do acentuado número de trabalhadores informais, 
dentre outros pontos. Se de acordo com Hannah Arendt “laborar significa ser 
escravizado pela necessidade, escravidão esta inerente às condições humanas” 
(Arendt, 2007, p. 94), na localidade o labor se torna mais evidente, porque as 
necessidades são mais aguçadas.
Não há possibilidade para se acreditar no fim da centralidade do trabalho como 
categoria fundamental para se entender o comportamento das relações do homem 
em sociedade. Pelo contrário, o que se observa é um elevado anseio pelo ingresso 
ao trabalho, tendo nele a esperança da continuidade da vida. Nas palavras de 
Hirata: 
na consciência individual, a centralidade do trabalho se mantém mais 
do que nunca, e mais por falta de alternativa que pelas suas 
características próprias. A relevância dessa questão pode ser medida 
pela importância do trabalho na própria estruturação da vida dos 
trabalhadores e na estruturação da vida dos desempregados 
(HIRATA, 1997, 22). 
Ademais, defende-se aqui que o trabalho interliga não somente o trabalhador a 
outras categorias analíticas, mas os indivíduos que de forma geral estão juntos, 
envolvidos em processos sociais dinâmicos, estes estreitamente vinculados ao 
11
trabalho, nesse sentido, as palavras de Friedmann, grafadas no prefácio do seu 
clássico “Tratado de Sociologia do Trabalho (1973)” ainda são bem evidentes. 
Não tivemos a pretensão de imprimir a Sociologia do trabalho uma 
unidade teórica que, a nosso ver, ela não possui. Podemos, sem 
dúvida, defini-la como o estudo das coletividades humanas, 
diversíssimas pelo tamanho, pelas funções, que se constituem a 
mercê do trabalho, das reações que exercem sobre elas, nos diversos 
escalões, as atividades do trabalho constantemente remodeladas pelo 
progresso técnico, das relações externas, entre elas, e internas, entre 
os indivíduos que a compõem (FRIEDMANN, 1973, p.13).
No contexto nacional, o desemprego é acentuado no Brasil, tendo seu ápice nos 
tempos de recessão econômica dos anos 1980, além de, na década seguinte, notar 
um aumento da subcontratação, do emprego por conta própria e do mercado 
informal de trabalho, tornando a ocupação mais instável e extremamente flexível 
(OLIVEIRA; MATTOSO: 1996).
As preocupações sociológicas sobre o mercado de trabalho, a escassez de estudos 
científicos tanto em âmbito regional quanto local a respeito do mesmo tema, as 
mudanças acentuadas inerentes ao contexto do trabalho da contemporaneidade e 
as especificidades regionais em relação ao processo produtivo justificam o 
desenvolvimento de um estudo específico sobre o mercado de trabalho em Montes 
Claros, cidade pólo regional do Norte de Minas.
Não se negligencia aqui o fato de o processo de reestruturação produtiva ter sido 
amplamente discutido nos anos 1980 e 1990. Entretanto, o entendimento acerca das 
variáveis inerentes à acumulação flexível, avaliadas em diversos países capitalistas, 
talvez não sejam suficientes para explicar a realidade do mercado de trabalho em 
Montes Claros. De outro modo, existem algumas especificidades locais quanto a 
este processo, como características da economia local e regional, além de fatores 
culturais, sociais e políticos, específicos da região, que devem ser evidenciados.
O problema que norteia este trabalho trata-se do seguinte: como o mercado de 
trabalho local se configura no contexto da acumulação flexível? A partir desta 
pergunta central, outras questões vêm à tona: o mercado de trabalho local é 
completamente influenciado pelas articulações dos processos de produção globais 
12
seguindo uma tendência apontada pelos países capitalistas? Ou as especificidades 
locais apresentam formas peculiares de execução do mercado do trabalho? Ou, 
mais que isto, os processos globais e as especificidades locais se articulam no 
mercado de trabalho em Montes Claros?
Os capítulos que se seguem explanarão sobre o mercado formal de trabalho em 
Montes Claros, através do recorte temporal de 1985 a 2006, com enfoque nos 
grandes setores de atividade econômica (indústria, comércio e serviços) do IBGE – 
Instituto Brasileirode Geografia e Estatística -, analisando variáveis de 
remuneração, tipo de contrato, duração de tempo de contrato, tamanho do 
estabelecimento (em número de empregos), diferenças entre sexo, estoque de 
trabalhadores nos setores mencionados e outras.
O espaço de tempo de vinte e um anos (1985 a 2006) se justifica pelo fato de 
acreditar que este período compõe articulações no contexto do mercado de trabalho 
local que melhor se farão entender sobre o que aqui se propõe, além dos dados 
inerentes ao mercado de trabalho, disponibilizados pela RAIS – Relação Anual de 
Informações Sociais -, existirem até então, somente para este período. 
As discussões postas neste trabalho são referenciadas nos trabalhos de David 
Harvey, Manuel Castells, Ricardo Antunes, José Paulo Zeetano Chahad, Carlos A. 
B. de Oliveira, Helena Hirata, Jorge Eduardo Levi Mattoso, Toledo Henrique de la 
Garza, Tersa Rendón, Carlos Salas, e, ainda, Gilmar Ribeiro dos Santos, este último 
é importante por sua observação específica em relação ao mercado de trabalho do 
Norte de Minas.
Harvey representa, neste trabalho, tanto uma base teórica como uma medida de 
comparação. Este autor aponta uma tendência mundial nos processos de 
acumulação flexível. O cenário montado por ele é o seguinte:
O mercado de trabalho (...) passou por uma radical reestruturação. 
Diante da forte volatilidade do mercado, do aumento da competição 
e do estreitamento das margens de lucro, os patrões tiram proveito 
do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de 
mão-de-obra excedente (desempregados ou subempregados) para 
13
impor regimes e contratos de trabalho mais flexíveis (HARVEY, 
2002, p. 305).
As características flexíveis do mercado de trabalho pós-fordista, tornam-se, segundo 
abordagem de Harvey (2002), uma tendência inevitável dos países capitalistas, 
incluídos as economias em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
De acordo com Oliveira e Mattoso (1997), no caso do Brasil, estas transformações 
têm ocasionado crescimento do desemprego (especificamente na década de 1980), 
aumento do emprego por conta própria e do trabalho informal, expansão da 
rotatividade da mão-de-obra e grande flexibilização nos contratos. Estas 
observações apontam que o Brasil não foge, de nenhum modo, à tendência 
apontada por Harvey (2002).
Outra característica da acumulação flexível, e que ocorre também no Brasil, é o 
crescimento aguçado do setor de serviços e, de outra forma, a redução do setor 
industrial.
Observa-se, no universo do mundo do trabalho no capitalismo 
contemporâneo, uma múltipla processualidade: de um lado verificou-
se uma desproletarização do trabalho industrial, fabril, nos países de 
capitalismo avançado, com maior ou menor repercussão em áreas 
industrializadas do terceiro mundo. Em outras palavras, houve uma 
diminuição da classe operária industrial tradicional. Mas, 
paralelamente, efetivou-se uma expressiva expansão do trabalho 
assalariado, a partir de enorme ampliação do assalariamento no 
setor de serviços: verificou-se uma significativa heterogeinezação do 
trabalho (...); vivencia também uma subproletarização intensificada, 
presente na expansão do trabalho parcial, temporário, precário, 
subcontratado, terceirizado (ANTUNES, 2003, p.36).
Corroborando a explanação anterior, Santos (1997) argumenta que o processo de 
reestruturação produtiva, ocorrido em Montes Claros, afeta diretamente o número de 
emprego na indústria, levando deste modo a uma elevada redução de contratos 
neste setor. Nas palavras de Santos:
É consenso, no momento atual, que algumas indústrias vêm 
implementando modificações significativas na estrutura produtiva 
clássica, de feições tayloristas. Dentre outras, destacam-se: grandes 
14
investimentos em tecnologia, diminuição de níveis hierárquicos, 
terceirização, e redução do quadro de pessoal (SANTOS, 1997, 
p.173). 
Três motivos primordiais justificam a realização deste trabalho. O primeiro é a devida 
importância da localidade na investigação científica, corroborando o entendimento 
de Dulci (1999). O segundo diz respeito às especificidades encontradas na 
localidade quanto ao processo de reestruturação produtiva em relação ao mercado 
de trabalho. O terceiro, diretamente ligado ao segundo, explicita-se pelo fato de a 
localidade, no caso de cidades menos abastadas economicamente, sentir 
diretamente o peso da precarização do trabalho sem nem mesmo ter usufruído, no 
percurso da história, da estabilidade e da segurança no emprego. 
É possível explicitar os objetivos principais da construção deste trabalho. Em 
primeiro lugar, pretendemos estudar o mercado de trabalho em Montes Claros com 
atenção ao fenômeno da acumulação flexível. Para tanto faz-se importante realizar 
um diagnóstico do comportamento do mercado de trabalho local em relação aos 
setores da indústria, comércio e serviços. E, por consequência, identificar as 
especificidades locais e regionais no processo da acumulação flexível.
Esperamos encontrar respostas para as seguintes hipóteses: 1 - o mercado de 
trabalho local acompanha as características de flexibilidade de acordo com a 
tendência mundial ou as especificidades regionais e locais fazem emergir uma nova 
forma de organização do mercado de trabalho que se apresenta de forma ainda 
mais precária. 2 - tanto os fatores eminentemente regionais quanto a importante 
articulação do sistema capitalista mundial sobre as questões locais modificaram 
concomitantemente o comportamento do mercado de trabalho em Montes Claros. 3 
– as mulheres percebem ainda mais agudamente as formas precárias apresentadas 
pelo mercado de trabalho local.
Para tanto, o desenvolvimento deste trabalho se configura basicamente em análises 
quantitativas. A princípio, para avaliar algumas especificidades em relação à 
localidade, foi necessário realizar uma pesquisa exploratória de dados a partir da 
observação de indicadores inerentes à demografia, à economia e à avaliação social. 
15
A partir disso, e com enfoque maior, foi utilizada a análise de dados secundários a 
partir das bases RAIS – Relação Anual de Informações Sociais e CAGED – 
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do trabalho - e 
Emprego, que possibilitou a observação de variáveis como tipo de contrato, tempo 
de duração de contrato, estoque de pessoal ocupado e tamanho do 
estabelecimento.
Como a maior parte das análises de resultados deste trabalho se deu a partir da 
Fonte RAIS-CAGED/MTE, é importante informar sobre sua forma de funcionamento. 
Iniciaremos falando da RAIS. Os dados da RAIS são disponibilizados pelo Ministério 
do Trabalho e Emprego – MTE através do SGT – Sistema Gerador de Tabelas.
Estes dados apresentam um caráter censitário que permite uma diversidade de 
cruzamento de informações quanto à ocupação setorial. Entretanto, eles apresentam 
algumas limitações no sentido de não haver observações prévias nem correção dos 
dados, sendo tais divulgados tal qual declarados. Outro pormenor é inerente à 
própria forma de declaração que pode gerar erros, sendo que esta declaração é 
realizada em via direta com a RAIS, não havendo acompanhamento informativo de 
forma pessoal. Os dados da RAIS, divulgados através do SGT, são classificados em 
RAIS trabalhador e RAIS estabelecimento.
A RAIS foi criada pelo decreto nº 76.900/75 e, por abranger registros de 
trabalhadores em todo o país, é considerada, pelo Ministério do Trabalho como um 
censo do mercado formal de trabalho brasileiro.
A RAIS foi criada com intuito de:
- servir de base de cálculo das cotas do PIS e do PASEP;
- subsidiar o controle relativo ao FGTS e à PrevidênciaSocial;
- controlar a nacionalização do trabalho, substituindo a chamada lei 
dos 2/3;
- fornecer informações sobre o mercado de trabalho brasileiro;
- viabilizar o pagamento do abono salarial a que se refere o artigo 
239 da Constituição Federal.
16
Às pessoas jurídicas, independentemente de ter a organização empresarial 
estabelecido vínculo de contrato com algum trabalhador, devem declarar a RAIS. As 
empresas que em 31 de dezembro do ano-base não apresentaram nenhum contrato 
declaram como RAIS negativa. O formulário próprio deve ser respondido entre 
janeiro e abril de cada ano, com informações relativas a todas as movimentações de 
emprego ocorridas ao longo do ano-base.
As categorias mais importantes e mais utilizadas pelos usuários da RAIS são: as 
relativas aos estabelecimentos (localização, atividade econômica, tamanho, número 
de empregados, dentre outras) e as relativas a cada um dos empregados que 
tenham tido vínculo empregatício com esses estabelecimentos durante o ano-base 
(idade, ocupação, remuneração, grau de instrução, classificação profissional CBO – 
Código Brasileiro de Ocupações e outras); estas informações recebem tratamento 
estatístico e são postas à disposição dos usuários por meio de publicações 
impressas e eletrônicas.
As principais tabelas divulgadas pela RAIS abrangem informações relativas a:
- número de empregados existentes em 31 de dezembro do ano-
base, segundo as características que possam qualificá-los quanto 
à faixa etária, grau de instrução, tamanho do estabelecimento, 
natureza do vínculo, tempo de serviço, remuneração, 
nacionalidade e ocupação;
- flutuação do emprego, discriminando admissões e desligamentos 
ocorridos durante o ano, assim como as características que 
permitam a análise dessa flutuação e suas oscilações ao longo do 
ano; 
- remuneração, com informações que propiciem a análise da 
estrutura e do comportamento dessa variável; e 
- estabelecimento, com informações sobre a distribuição geográfica 
e setorial dos estabelecimentos declarantes, conforme o tamanho 
em 31 de dezembro do ano-base. 
17
O número de estabelecimentos que apresentam declarações à RAIS difere ano a 
ano, o que dificulta discriminar se a variação do emprego se deve a um real aumento 
ou redução decorrente da situação do mercado de trabalho e/ou a um melhor 
desempenho na declaração. A definição de um painel fixo, referido à quase 
totalidade dos estabelecimentos, visa superar tal dificuldade, possibilitando a 
comparação dos totais de vínculos empregatícios existentes nos estabelecimentos 
que responderam a pelo menos duas RAIS consecutivas.
Mesmo com algumas limitações, de acordo com o Ministério do Trabalho e 
Emprego, a RAIS apresenta uma segurança em torno de 98% nos dados informados 
pelo SGT.
O CAGED trata-se de um grande cadastro de emprego formal dos registros em 
carteira de trabalho. Os seus dados são divulgados pelo Módulo CAGED. Esta base 
de dados possui periodicidade mensal e suas informações destinam-se a 
acompanhar e fiscalizar o processo de admissão e dispensa dos trabalhadores, bem 
como subsidiar a adoção de medidas contra o desemprego e a implementação de 
mecanismos de assistência aos desempregados.
Os dados do CAGED são coletados por meio de formulário próprio, apresentado em 
dois módulos distintos de informações:
- Módulo I: permite calcular o índice mensal de emprego, a taxa de rotatividade 
mensal e a flutuação do emprego em cada mês, desagregados em nível de 
subatividades econômicas e municípios.
- Módulo II: informa atributos dos empregados, como: vínculo; tempo de 
permanência no emprego; horas contratuais de trabalho semanal; remuneração 
mensal, tipo de movimentação, sexo, idade, grau de instrução e ocupação.
Tendo então, até aqui, informado sobre o referencial teórico em que este trabalho foi 
fundamentado, os objetivos e hipóteses, bem como ter explicitado o método utilizado 
no desenvolvimento da pesquisa e as Fontes de dados, inclusive seu funcionamento 
e limitações, é importante destacar o modo como este trabalho está posto.
18
No primeiro capítulo estará pontuada, de forma delimitada, a fundamentação teórica 
inerente aos processos produtivos e ao mercado de trabalho, de acordo com a 
contribuição de Harvey (2002), Castells (2006), Antunes (2003), Oliveira e Mattoso 
(1997), Hirata (1997), Santos (1997) e outros. No segundo capítulo serão abordadas 
as teorias inerentes ao mercado de trabalho nos países avançados, no Brasil e no 
Norte de Minas. Na sequência, o terceiro capítulo deste texto fará uma observação a 
respeito das especificidades sociais e econômicas apresentas pela localidade. O 
quarto capítulo irá abordar sobre o mercado de trabalho local, a flexibilidade 
explicitada nos contratos, no tempo de duração destes, os salários pagos ao 
trabalhador da localidade e outras questões neste sentido. Consequentemente, 
ainda sobre o mercado de trabalho, o quinto capítulo irá discutir especificamente 
sobre a diferenciação de sexo no contexto do mercado de trabalho flexível em 
dimensão local. Por último, nas considerações finais, faremos um esforço para 
explicitar as observações gerais a respeito da flexibilidade do mercado de trabalho 
local, em observação ao caso de Montes Claros. 
19
CAPÍTULO I - O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO: DOS MODELOS 
TAYLORISTA-FORDISTA A ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL
Até a Revolução Industrial o sistema de troca de mercadorias era fundamentado nas 
trocas sociais. As relações entre pessoas ou grupos se posicionavam de forma 
superior às trocas de mercado. Uma mercadoria não se acabava em seu valor de 
compra ou de venda, esta possuía um significado abrangente que extrapolava as 
questões meramente capitalistas. No entanto, a partir do aprimoramento produtivo 
derivado das máquinas, as relações de troca se modificaram profundamente. Não 
apenas em seu caráter eminentemente mercadológico, mas também no que diz 
respeito às trocas sociais: costumes, valores, modos, condutas.
Como coloca Polanyi (2000), a economia de mercado, trazida pelo desenvolvimento 
capitalista acentuado, trouxe transformações rápidas e irreversíveis para as práticas 
sociais. Para este autor, mesmo havendo, em todas as comunidades do mundo, 
sistemas de trocas bem definidos, estes não possuíam prevalência sobre as 
relações sociais. As mercadorias eram trocadas observando práticas sociais rígidas 
e bem estabelecidas. No entanto, após o acentuado desenvolvimento capitalista, 
trazido pela implementação da indústria, surgiu um tipo específico de economia, 
chamada economia de mercado, e a partir de então as relações sociais tornaram-se 
submissas às trocas em massa. 
A inserção da máquina na produção fez surgir novas formas de mercado, de 
sociedade e de troca. As relações, tanto mercadológicas quanto sociais, tornaram-se 
mais complexas. Os problemas sociais e econômicos também se evidenciaram, 
como é o caso do surgimento da pobreza e dos desempregados pós-revolução 
industrial. Sem aprofundar nas discussões pertinentes à revolução industrial, cabe 
destacar o desenvolvimento capitalista no que diz respeito a seus modelos de 
produção pós-revolução industrial. Neste sentido, enfocando o taylorismo-fordismo e 
acumulação flexível.
É importante entender que o sistema capitalista é um modelo de organização 
econômica e social extremamente dinâmico. E seu dinamismo aumentou 
20
substancialmente a partir do regime industrial de produção e continua aumentando 
posterior ao que alguns autores denominam regime de serviços, ou acumulação 
flexível, iniciado na segunda metade da década de 1970.
Assim como a economia de mercado,posterior ao surgimento da indústria 
ocasionou grandes transformações na vida social, a acumulação flexível traz uma 
série de tantas outras transformações, ainda mais rápidas, para a vida em 
sociedade. De modo que é pertinente realizar algumas observações sobre os mais 
importantes modelos produtivos assistidos pela humanidade, bem como suas 
transformações e seus impactos no mercado de trabalho. Propõe-se, aqui, uma 
rápida revisão a respeito das articulações inerentes ao Taylosrismo-fordismo, 
modelos rígidos de produção e a acumulação flexível. Posteriormente será possível 
discutir o mercado de trabalho com base nestes regimes produtivos. 
O Taylorismo-fordismo
Em 1892 o engenheiro do trabalho Frederick Winslow Taylor (1990) preocupou-se 
com um fator demasiadamente dispendioso financeiramente para as fábricas: a 
porosidade de tempo no processo produtivo. Ou seja, pequenos intervalos temporais 
em que o trabalhador ficava ocioso no seu posto de trabalho. Para solucionar tal 
problema, Taylor pensou em um método rígido que pudesse atender aos seguintes 
princípios: aumentar o interesse do operário pelo trabalho, visando ao aumento da 
produção; monitorar o tempo de produção e a produção em si, através da instituição 
de fiscais e monitores de chão de fábrica; dividir a fábrica em setores e postos de 
trabalho para facilitar a monitoração da produção e dos lucros; criar as figuras 
gerenciais e administrativas do diretor, gerente, administrador e encarregados. Em 
1911, Taylor publicou estas contribuições como Princípios da Administração 
Científica, que modificaram as estruturas não só da produção como também do 
comportamento da sociedade. 
O Taylorismo constituiu-se, então, como uma “estratégia patronal de 
gestão/organização do processo de trabalho” (CATTANI, 1997, p.247), em que se 
21
pagava mais para quem produzisse mais, partindo de um pressuposto que se 
assemelhava com uma “compensação pelo trabalho desenvolvido”. Tal processo de 
trabalho fez de fato aumentar as taxas de lucro nas fábricas, da mesma forma que 
expandiu a produção e o número de postos de trabalho na indústria. 
Embora a humanidade tivesse passado por muitas transformações no âmbito da 
produção, sendo que veremos algumas no decorrer deste trabalho, o Taylorismo 
“(...) permanece como uma das principais estratégias patronais sob a alegação do 
caráter necessário e inevitável da divisão do trabalho e da superação entre 
dirigentes e executantes” (Idem: p. 249).
Seguindo a linha histórica dos processos de produção, o Fordismo passou por um 
plano produtivo não desigual ao Taylorismo, mas, sem dúvida, aperfeiçoado. Tal foi 
colocado em ação em 1914 pelo então industrial Henry Ford, que desenvolveu seu 
próprio método de produção de veículos na fábrica Ford Motors de sua propriedade. 
Deste modo, um ponto de especificidade do Fordismo diz respeito a um avanço 
tecnológico, à utilização da esteira mecânica na produção. 
De fato, tal especificidade garante, por si só, pontos fundamentais de 
desenvolvimento da produção e ampliação de margem de lucros. Isto ocorre porque 
o instrumental mecânico materializado por Ford possibilita a diminuição do tempo 
ocioso no trabalho e implica funções bem específicas e delimitadas no chão de 
fábrica. Mas esta especificidade não teria gerado resultados efetivos se não fosse 
vinculada a uma série de transformações no mercado e na vida social. 
Transformações estas sempre lincadas ao processo rígido e altamente controlado 
da produção de bens. O Fordismo, então, apresenta-se como modo de produção em 
massa, padronizado e rígido, tanto no que diz respeito às questões de produção 
quanto às de contrato e salários. Nas palavras de Laranjeira: 
(...) o Fordismo caracterizar-se-ia como prática de gestão na qual se 
observa a radical separação entre concepção e execução, baseando-
se esta no trabalho fragmentado e simplificado, com ciclos operários 
muito curtos, requerendo pouco tempo para formação e treinamento 
dos trabalhadores (1997, p. 89). 
22
O Fordismo não se desvincula do Taylorismo em relação às características inerentes 
à: divisão no processo de trabalho, fragmentação em níveis hierárquicos, rigidez na 
produção. Entretanto, Henry Ford acrescenta em seu modelo a produção 
massificada. Para Ford, produzir em massa significa induzir ao consumo também em 
massa. Ford tinha plena consciência de que esta forma de produção de bens 
ocasionaria a diminuição nos custos da produção, possibilitando o aumento de suas 
vendas.
Está devidamente claro que a produção em massa não teria êxito se não existisse 
uma massa de consumidores. Pensando nisso, Ford modificou o sistema 
administrativo para fazer com que os operários se tornassem consumidores do que 
eles, nas fábricas, produziam. 
Uma vez modificado o sistema produtivo, algumas medidas inovadoras foram 
tomadas para alterar o sistema de consumo no regime fordista. A jornada de 
trabalho foi definida em oito horas-dia; os salários tornaram-se rígidos e estáveis; foi 
instituída uma forma rígida de controle dos trabalhadores em âmbito social, para 
evitar gastos desnecessários aos olhos do modelo produtivo vigente.
Como foi dito, a rigidez da produção não se faria viável sem os consumidores 
artificialmente criados pelo próprio regime produtivo. Entretanto, a harmonia do 
regime fordista dependia do comportamento destes consumidores. Os gastos 
abundantes com álcool impediam o consumo dos bens industrializados, por 
exemplo. Ford, no entanto, institui uma forma de controle social, a fim de garantir um 
modo de vida padronizado e rígido.
Assim o fordismo, como forma aperfeiçoada do Taylorismo, consegue aumentar 
incomensuravelmente a produção e consequentemente suas margens de lucro, 
fazendo-se solidificar não somente como sistema de produção, mas como modelo 
de conduta social.
Na década de 1970, especificamente a partir de 1973, com a crise do petróleo, o 
mundo se viu em plenas transformações econômicas. O consumo diminuiu, 
impedindo a continuação da produção em massa; os recursos tornaram-se 
23
escassos; o fluxo de capital se modificou drasticamente. Deste modo, a produção de 
mercadorias sofreu diretamente o impacto da crise e a mudança de comportamento 
do consumidor emanada desta. A partir de então, o sistema de produção se 
flexibilizou, dando início a novas e diversas formas produtivas em todo o mundo. 
Formas produtivas estas que, embora diversas, se equiparam em pelo menos uma 
característica marcante: a flexibilidade. 
 
1.2. Pós-1973: a reestruturação produtiva
O Fordismo se fundamenta não como modelo complementar ao Taylorismo, uma 
vez que explicita características próprias e autônomas e possui em sua configuração 
características outras fundamentais de racionalidade, intrínsecas ao regime 
taylorista. A Reestruturação produtiva, no entanto, diferencia-se do Fordismo pela 
inclusão de novas tecnologias informatizadas, pelas transformações constantes e 
rápidas no âmbito da produção e pela diversificação das formas de vendas através 
dos mecanismos do marketing e da publicidade. De forma geral, tal modelo de 
produção ocasiona “(...) mudanças institucionais e organizacionais nas relações de 
produção e de trabalho, bem como redefinição dos papéis dos estados nacionais e 
das instituições financeiras” (LARANJEIRA, 1997, p.77).
Após a crise da década de 1970 muitos trabalhadores se encontraram excluídos do 
processo de produção, principalmente pela diminuição do número de contratos 
formais das indústrias, o que levou tais despojados do trabalho a usarem como 
alternativa de sobrevivência a tentativade produção familiar, em pequenos lotes ou 
de forma artesanal. Esta observação remete a um modelo produtivo denominado, 
principalmente por Piore e Sabel (1997), de Especialização flexível e por Harvey, de 
Acumulação flexível. Neste estágio a produção é marcada pela desarticulação da 
produção em larga escala, sendo esta substituída pela produção diversificada e 
estritamente fragmentada. Em suma, a “especialização flexível inverte agudamente 
os princípios tecnológicos estabelecidos e conduz de volta àqueles métodos 
artesanais de produção” (PIORE; SABEL. apud XAVIER SO. 1997, p.83:).
24
No sistema de especialização flexível o mercado de trabalho se destaca pela 
diversidade de profissionais que estão inseridos em formas de produção 
completamente mutáveis e adaptáveis às demandas do mercado. Deste modo os 
contratos, quando existentes, tendem a ser curtos. Além disso, é aparente a 
expansão dos índices de desemprego e instabilidade em relação aos números de 
empregos formais. Em contrapartida desponta-se de forma crescente a quantidade 
de empregos informais, de profissionais autônomos e pequenas empresas.
Imersos no contexto da especialização estão outros modelos de produção que não 
ocorreram de forma homogênea nos diversos países capitalistas do mundo, 
entretanto se instalaram pontualmente segundo as formas de articulações do 
trabalho em uma composição local. Tais modelos revelam mais uma vez as 
características fragmentárias, diversificadas e mutáveis da acumulação flexível, uma 
vez que não se trata de modelos distintos, mas sim de modelos específicos, no 
entanto inseridos no mesmo regime produtivo. Aqui será abordado sumariamente 
sobre o Toyotismo (japonês) e o Volvoísmo (sueco). 
Através dos abalos provocados pela guerra, o Japão formula as técnicas de 
produção existentes de forma genérica que modificaria a “organização da produção 
e do trabalho industrial, práticas administrativas, relações de trabalho e princípio de 
gestão da empresa” (XAVIER SO. 1997, p.156). Tais modificações no âmbito da 
produção foram demasiadamente proveitosas para a economia até então decadente 
daquele país. Devido ao sucesso manifesto do modelo, tal foi profundamente 
estudado por sociólogos e economistas do trabalho e copiado por países 
desenvolvidos do ocidente, segundo argumentos de Xavier So. 
O modelo Japonês promove um maior contato entre os membros da instituição entre 
si, modificando também as relações com o consumidor e relações interempresas.
Existe interesse por parte do capital em que os operários participem ativamente do 
processo de planejamento. Deste modo, o mercado de trabalho se torna além de 
mais diversificado, mais excludente. Na medida aumenta a participação do 
trabalhador nas decisões relativas, aumenta a flexibilidade produtiva e o controle 
25
entre os operários. O pertencimento do funcionário à empresa, através da 
concessão de participação nos lucros e na propriedade; além da disponibilização de 
benefícios materiais e simbólicos flexibiliza tanto a participação do trabalhador na 
empresa como sua permanência nela (XAVIER SO., 1997, p.156).
A Suécia também prestou suas contribuições para com as mudanças ocorridas na 
produção através da participação das técnicas implementadas por seu modelo 
produtivo, conhecido como Volvoísmo, que se instalou através de uma tentativa de 
diferenciação das formas produtivas do modelo Japonês. 
O Volvoísmo, apresenta-se com a pretensão de transformar a produção em larga 
escala em um tipo de produção segmentada, compelindo a participação de 
trabalhadores em equipe e remunerando-os não individualmente pelos cargos, mas 
sim segundo os minutos trabalhados pela equipe. Este modelo de produção 
apresenta-se como técnico, dando importância à realização de pesquisas e estudos 
relacionados às organizações de trabalho, ergonomia e arquitetura dos prédios de 
produção. Fato explicado pela necessidade de adaptação de um sistema produtivo 
que substituísse a esteira mecânica ao mesmo tempo em que diminuísse a 
ociosidade de tempo na produção. 
O Toyotismo e o Volvoísmo explicitam a diversidade do regime de acumulação 
flexível. Este não se configura com uma formatação rígida, bem definida – como 
ocorreu no Fordismo; pelo contrário, se fosse possível abordar sobre uma forma 
básica de funcionamento dos modelos da acumulação flexível, esta seria descrita 
como versátil, mutável, instável e flexível. A reestruturação produtiva não trouxe um 
modelo específico de produção, mas várias formas e possibilidades diferentes de se 
produzir e gerenciar. Deste modo, a especialização flexível não se trata de um 
modelo específico, mas sim da abrangência de vários modelos diferentes intrínsecos 
ao contexto de variabilidade da produção.
Quais seriam, então, as principais diferenças apresentadas entre os regimes 
taylorista-fordista e os pós-fordistas, postos na acumulação flexível? 
 
26
1.3. Modelos rígidos versus modelos flexíveis
A mudança da forma de produção não ocorreu repentinamente. O percurso 
econômico é marcado por ciclos de inflação e deflação de recursos financeiros. E as 
observações sobre a história econômica mundial mostram que o sistema capitalista 
tem encontrado estratégias para sanar ou amenizar suas crises (HARVEY, 2002). 
A transição do fordismo para a acumulação flexível ocorreu como estratégia do 
capitalismo em tentar remediar uma intensa crise econômica iniciada em 1965, 
segundo David Harvey, porque, de acordo com ele, a crise de 1973 pontuava a 
inviabilidade da rigidez dos processos de administração seguidos pelas estruturas 
fordistas, compelindo assim a instituição de modelos flexíveis, mutáveis e 
adaptáveis. 
De modo mais geral, o período de 1965 a 1973 tornou cada vez mais 
evidente a incapacidade do fordismo e do Keynesianismo de conter as 
contradições inerentes ao capitalismo. Na superfície, essas 
dificuldades podem ser melhor apreendidas por uma palavra: rigidez. 
Havia problemas com rigidez dos investimentos de capital fixo de larga 
escala e de longo prazo em sistemas de produção em massa que 
impediam muita flexibilidade de planejamento e presumiam 
crescimento estável em mercado de consumo invariantes. Havia 
problema de rigidez nos mercados, na alocação e nos contratos de 
trabalho. E toda tentativa de superar estes problemas de rigidez 
encontrava a força aparentemente invencível do poder profundamente 
entrincheirado da classe trabalhadora (...) (HARVEY, 2006, p.135).
As crises econômicas nascentes e, principalmente, o seu auge em 1973, fez com 
que o capitalismo tomasse medidas imediatas de solução do problema, flexibilizando 
a produção, os contratos de trabalho, os salários e principalmente os setores 
produtivos. Deste modo, em resposta a uma rigidez falida, nasce dicotomicamente a 
flexibilidade produtiva, como forma de prevalência da supremacia capitalista. No 
QUADRO 1 estão postas as principais diferenças entre o taylorismo-fordismo e os 
modelos pós-reestruturação produtiva, de acordo com Swyngedouw, citado por 
Harvey (2002).
27
QUADRO 1 
Caracterização dos modelos produtivos
Fonte: Swyngedouw, 1986, apud Harvey, 2002, p.168-169.
Pontos de 
análise
Modelos Rígidos (Fordismo e 
Taylorismo)
Modelos Flexíveis 
(Especialização Flexível)
O processo 
de Produção
Produção em massa de bens 
homogêneos
Produção em pequenos lotes
Uniformidade e padronização Produção flexível e em 
pequenos lotes de uma 
variedade de tipos de produto
Grandes estoques de inventários Sem estoques
Testes de qualidade ex-post (detecção 
tardia de erros e produtos defeituosos)
Controle de qualidade 
integrado ao processo 
(detectação imediatade 
erros)
Produtos defeituosos ficam ocultos nos 
estoques
Rejeição imediata de peças 
com defeito
O processo 
de Produção
Perda de tempo de produção por causa 
de longos tempos de preparo, peças 
com defeito, pontos de estrangulamento 
nos estoques, etc.
Redução do tempo perdido, 
diminuição da porosidade do 
tempo no trabalho.
Voltada para os recursos Voltada para a demanda
Integração vertical e (em alguns casos) 
horizontal
Integração (quase) vertical, 
sub-contratação.
Redução dos custos através do controle 
dos salários
Aprendizagem na prática 
integrada ao planejamento a 
longo prazo
Relação de 
trabalho
Realização de uma única tarefa pelo 
trabalhador
Múltiplas tarefas
Pagamento baseado em critérios da 
definição do emprego
Pagamento baseado em 
sistema detalhado de 
bonificação
Alto grau de especialização de tarefas Eliminação da demarcação 
de tarefas (polivalência)
Pouco ou nenhum treinamento do 
trabalho
Longo treinamento no 
trabalho
Organização vertical do trabalho Organização mais horizontal 
do trabalho
Nenhuma experiência de aprendizagem Aprendizagem no trabalho
Ênfase na redução da responsabilidade 
do trabalhador (disciplinamento da força 
de trabalho)
Ênfase na co-
responsabilidade do 
trabalhador
Nenhuma segurança no trabalho Grande segurança no 
emprego para trabalhadores 
centrais (emprego perpétuo). 
Nenhuma segurança no 
trabalho e condições de 
trabalho ruins para 
trabalhadores temporários
28
Como mostrado anteriormente, o período do taylorismo-fordismo é marcado pela 
inflexibilidade das formas tanto de produção quanto de contrato, e isto se explica, 
principalmente, através da produção em larga escala que condicionava uma 
invariabilidade produtiva estendendo para os contratos em si, tempo de trabalho e 
salários. Aqui o mercado de trabalho é pontuado pelo emprego formal, contratos 
longos e estáveis e ausência de negociações múltiplas entre empregado e 
empregador, embora os sindicatos fossem fortes e organizados.
Após uma sequência de crises ocorridas nos diversos países capitalistas, 
ocasionadas pela produção em massa, o mercado de trabalho passa a sofrer 
grandes transformações em todo o mundo. O setor da indústria que ostentava os 
mais altos percentuais de ocupação formal passa a crescer de forma mais lenta 
quanto aos números de emprego formal. Em contrapartida, o setor de serviços 
começa a absorver um número cada vez maior de pessoas ocupadas, como pode 
ser observado na TAB. 1. 
TABELA 1 
Estrutura do emprego em países capitalistas avançados - 1960-1981
 
Porcentagem da População Empregada em:
Agricultura Indústria Serviços
1960 1973 1981 1960 1973 1981 1960 1973 1981
Austrália 10,3 7,4 6,5 39,9 35,5 30,6 49,8 57,1 62,8
Canadá 13,3 6,5 5,5 33,2 30,6 28,3 53,5 62,8 66,2
França 22,4 11,4 8,6 37,8 39,7 35,2 39,8 48,9 56,2
Alemanha Ocidental 14,0 7,5 5,9 48,8 47,5 44,1 37,3 45,0 49,9
Itália 32,8 18,3 13,4 36,9 39,2 37,5 30,2 42,5 49,2
Japão 30,2 13,4 10,0 28,5 37,2 35,3 41,3 49,3 54,7
Espanha 42,3 24,3 18,2 32,0 36,7 35,2 25,7 39,0 46,6
Suécia 13,1 7,1 5,6 42,0 36,8 31,3 45,0 56,0 63,1
Reino Unido 4,1 2,9 2,8 48,8 42,6 36,3 47,0 54,5 60,9
EUA 8,3 4,2 3,5 33,6 33,2 30,1 58,1 62,6 66,4
Fonte: OCDE
Elaboração: HARVEY, David, 2006.
A contemporaneidade está pautada em um grande emaranhado de transformações 
ocorridas no mundo dos negócios que perpassa por outras esferas como o mercado 
de trabalho, os contratos, os salários, o perfil do trabalhador formal, além do lazer, 
da vida familiar, da religião e da cultura. Se, anteriormente à crise do petróleo, os 
29
processos de ocupação no trabalho eram mais estáveis devido ao rigor e 
invariabilidade da sequência produtiva, pós-1973 as transformações no âmbito da 
produção, decorrentes das insistentes crises do capitalismo, fazem nascer, 
processualmente, novas relações de produção e de trocas; mais instáveis, mutáveis, 
flexíveis e diversificadas. 
Na atualidade o emprego formal perde espaço para uma enorme lista de 
possibilidade de aquisição de renda. A indústria, que antes era o setor mais 
abrangente diversifica-se e fragmenta-se, abrindo janelas para as terceirizações e 
consecutivamente para as médias e pequenas empresas. E assim firma a pós-
modernidade: não se evidencia o fim do emprego, mas este é apresentado como 
instável, flexível, temporário e, para muitos autores, precário.
Os processos produtivos estão inseridos nos mecanismos de racionalidade do 
sistema capitalista. Não se trata, no entanto, de estruturas autônomas e 
independentes. No bojo do desenvolvimento econômico, os ciclos de apogeu e crise 
fazem consolidar, reformular ou dizimar regimes produtivos.
Aqui se observou o declínio de um dos mais importantes modelos de produção 
capitalista em lugar ao crescimento de modelos ainda instáveis e incertos. De forma 
comparada, a reestruturação produtiva, através de sua flexibilidade, nasce como 
possibilidade de sanar problemas econômicos provocados pela rigidez do fordismo.
A dicotomia dos modelos traz a possibilidade racional de permanência do todo 
econômico. No entanto, o preço que se paga está na elevada rotatividade de mão-
de-obra; no declínio constante dos salários; diminuição dos contratos formais, em 
contradição ao aumento da informalidade; e principalmente na incerteza da 
prevalência ou dos resultados futuros de um regime flexível. 
De qualquer modo, a comparação inerente aos regimes fordista-taylorista e 
acumulação flexível mostra que o desenvolvimento do capitalismo é marcado por 
contradições distintas, a ponto de apresentar como possibilidade de permanência do 
sistema a emergência de dicotomias claras, instaladas não apenas no sistema 
30
produtivo, como também nas relações de mercado, do mercado de trabalho e até 
mesmo nas próprias relações sociais. 
1.4. O mercado de trabalho flexível
Dentre as diversas transformações inerentes ao processo produtivo que afetaram 
diretamente as formas de emprego nos diversos países do mundo, a tecnologia, a 
automação e a informática sobressaem como fatores preponderantes em relação às 
grandes transformações ligadas à flexibilidade da produção e do mercado de 
trabalho.
Os mecanismos de produção automáticos voltados para as tecnologias da 
informação propiciam a flexibilização de toda cadeia produtiva. Com base na 
volatilidade da demanda, e através dos sistemas integrados e flexíveis da produção 
automatizada, é possível programar e re-programar toda a linha de produção, a 
ponto de atender as mais variadas exigências de mercado.
Esta flexibilidade da linha de produção condiciona, concomitantemente, uma 
flexibilidade no trabalho. O trabalho flexível pode ser facilmente observado pela 
variabilidade das profissões, principalmente aquelas ligadas ao setor de serviços, e 
pela relevância temporária de algumas profissões específicas: ora o administrador, 
ora o técnico, ora o engenheiro e etc.. De acordo com Coriat (1988), 
Em muitos casos, a adoção de novas tecnologias significa que tarefas 
que antes eram assumidas por indivíduos altamente qualificados, no 
nível da fábrica, agora podem ser executadas por um número menor 
de trabalhadores menos qualificados. Em outros casos, tarefas que já 
haviam sido qualificadas foram inteiramente abolidas pela automação. 
Estas mudanças são acompanhadas por um crescimento no número 
de qualificações em duas áreas em particular: programação e 
manutenção eletrônica (CORIAT, 1988, 162).
Castells (2006) defende a inexistência de uma relação direta entre desenvolvimento 
da informática e desemprego. Para ele, por mais que os contratos sejam rápidos e 
rotativos, que o período de permanência dos trabalhadores em um posto específico 
de trabalho seja curto, e que a tendência aponte paraa diminuição cada vez mais 
31
acentuada da duração dos contratos, o número de empregos não diminui por conta 
da produção informacional. Nas palavras deste pesquisador: 
(...) a tecnologia da informação em si não causa desemprego, mesmo 
que, obviamente, reduza o tempo de trabalho por unidade de 
produção. Mas, sob o paradigma informacional, os tipos de emprego 
mudam em quantidade, qualidade e na natureza do trabalho 
executado (CASTELLS, 2006, p. 328).
No entanto, Castells não negligencia a forma precária (embora não utilize este 
termo) de execução do trabalho no período informacional, que coincide com a 
reestruturação produtiva, pós-1973. Sobre isto, o autor explicita: 
 
(...) o processo de transição histórica para uma sociedade 
informacional e uma economia global é caracterizado pela 
deterioração das condições de trabalho e de vida para uma 
quantidade significativa de trabalhadores. Essa deterioração assume 
formas diferentes nos diversos contextos: aumento do desemprego na 
Europa; queda dos salários reais (pelo menos até 1996), aumentando 
a desigualdade, e instabilidade no emprego nos Estados Unidos; 
subemprego e maior segmentação da força do trabalho no Japão; 
“informalização” e desvalorização da mão-de-obra urbana recém 
incorporada nos países em desenvolvimento; e crescente 
marginalização da força de trabalho rural nas economias 
subdesenvolvidas e estagnadas. (...) essas tendências não originam 
da lógica estrutural do paradigma informacional, mas são o resultado 
da reestruturação atual das relações capital-trabalho, com a ajuda de 
poderosas ferramentas oferecidas pelas novas tecnologias de 
informação e facilitadas por uma nova forma organizacional, a 
empresa em rede (Idem, p. 345).
 
É evidente que a inserção da tecnologia informacional e da automação não é a única 
característica da acumulação flexível capaz de interagir com o mercado de trabalho. 
Como antes foi dito, a informática e a automação se configuram em um ponto 
importante na observação a respeito do trabalho flexível, mas não são certamente o 
único fator.
Castells (2006) neste sentido defende que a precarização dos empregos está muito 
mais ligada às questões de articulações econômicas, de estratégia de marketing do 
que às tecnologias informacionais da produção e da administração, como pôde ser 
observado na citação anterior. Neste sentido a informática, como parte de um 
processo inerente às articulações de mercado, não faz emergir, de acordo com esse 
32
autor, o decréscimo do número de empregos e nem é responsável diretamente por 
outras formas de precarização do trabalho. 
Analisando o mercado de trabalho historicamente percebe-se que as grandes 
transformações estão muito mais relacionadas às estruturas macro emanadas dos 
regimes de produção. No percurso da história é possível separar o mercado de 
trabalho dicotomicamente e perceber esta estreita relação. A separação se daria 
então entre modelos rígidos e flexíveis de acordo com a definição de Harvey; 
industriais e pós-industriais, segundo denominação de Castells; ou modernos e pós-
modernos, ainda de acordo com Harvey.
Esta separação dicotômica pode ser melhor entendida pela verbalização de 
Pochmann (1996) quando argumenta: “tivemos um período em que os empregos 
foram regulares, de jornada plena e de salários adequados. Estamos diante de um 
outro período em que o que mais se expande são os empregos parciais, com 
jornada reduzida e salários comprimidos” (POCHMANN, 1999, p. 23).
Por mais que existam algumas divergências nas teorias quanto às causas da 
flexibilidade, ou sobre a forma como esta se dá nos diversos países, é consenso, 
que a partir da década de 1970, as relações de trabalho e as formas de execução do 
trabalho no âmbito da produção têm-se flexibilizado ao extremo. De forma geral o 
que se percebe é o seguinte:
- diminuição da ocupação no setor industrial;
- expansão dos contratos no setor de serviços, mesmo os serviços ligados à 
produção industrial;
- diminuição dos salários;
- aumento da rotatividade no emprego;
- diversidade de profissões, principalmente no setor de serviços, que é o que mais 
cresce em número de empregos;
- crescimento das terceirizações, principalmente no setor da indústria, fato que ajuda 
a explicar a perda dos contratos neste setor;
- aumento expressivo do número de empregos por conta própria e de pequenas 
empresas;
33
- aumento de benefícios como participação nos lucros e pagamento de salários em 
ações;
- subcontratações.
Para muitos autores, este processo de flexibilização configura uma crise do trabalho 
e principalmente a precarização deste. De acordo com Singer (1996) “a crise no 
mundo do trabalho é exatamente a destruição da relação padrão de emprego. Este 
processo tem sido chamado por muitos e por mim também de precarização do 
trabalho” (SINGER, 1996, p. 32).
Não diferente é a abordagem de Rendón e Sales (2001), que através de seus 
estudos sobre o mercado de trabalho na América Latina expressam a seguinte 
observação:
El crecimiento del empleo asalariado se ha concentrado 
principalmente en el comércio y los servicios. Este hecho, junto con la 
proliferación de pequeños negocios donde predomino el trabajo no 
asalariado, dieron como resultado que se profundizara la tendencia a 
la terciarización del empleo y que se frenara el proceso de 
asalariamiento de la fuerza de trabajo que tuvo lugar entre 1950 y 
1980.
Estos cambios en la estructura del empleo implican un deterioro de la 
calidad de los empleo, ya que el salario medio en las actividades 
terciarias es menor que en la industria y también es menor en las 
empresas pequeñas que en las grandes, además de que las 
condiciones laborales en las microempresas son muy inferiores a las 
que caracterizan a las empresas de mayor tamaño1 (RENDÓN; SALES 
2001, p. 559).
De forma parecida seguem as interpretações de Ricardo Antunes, Helena Hirata, 
Chahad e tantos outros autores. Não se negligencia aqui que os apontamentos até 
agora explicitados não são novos. No entanto não poderiam passar despercebidos 
uma vez que representam a base teórica fundamental para o entendimento acerca 
1 O crescimento do emprego assalariado tem-se concentrado principalmente no comércio e 
serviços. Isto, juntamente com a proliferação de empresas de pequeno porte, predominantemente de 
trabalho não assalariado, o que resultou na tendência para a terceirização de empregos e para o 
impasse do processo de empregos formais no mercado de trabalho que ocorreu entre 1950 e 1980 . 
Essas mudanças na estrutura do emprego envolve uma deterioração da qualidade de 
emprego, uma vez que o salário médio em atividades terciárias é menor do que na indústria e 
também é menor nas pequenas empresas do que nas grandes, além disso as condições trabalhando 
nas micro-empresas são muito inferiores do que aquelas que caracterizam as empresas de maior 
dimensão
34
do mercado de trabalho local, que é o foco desta pesquisa e que posteriormente 
será abordado.
Julga-se pertinente a realização de uma descrição a respeito do mercado de 
trabalho em uma dimensão geopolítica. Neste sentido é relevante observar as 
discussões teóricas relativas à dimensão global do mercado de trabalho bem como 
às dimensões nacional e regional (condizente ao norte de Minas).
As observações posteriores darão subsídio para análises comparativas, além de 
propiciarem a contextualização do mercado de trabalho pós-1973. Fato que 
possibilitará interpretações a respeito das diversidades, variabilidades e 
especificidades do mercado de trabalho segundo as dimensões geográficas. 
 
 
35CAPÍTULO II - REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E MERCADO DE TRABALHO
Em qualquer processo de transição histórica, uma das expressões de 
mudança sistêmica mais direta é a transformação da estrutura 
ocupacional, ou seja, da composição das categorias profissionais e do 
emprego. Na verdade, as teorias do pós-industrialismo e 
informacionalismo utilizam como maior prova empírica da mudança do 
curso histórico o aparecimento de uma nova estrutura social 
caracterizada pela mudança de produtos para serviços, pelo 
surgimento de profissões administrativas e especializadas, pelo fim do 
emprego rural e industrial e pelo crescente conteúdo de informação no 
trabalho das economias mais avançadas. Implícita na maior parte 
dessas formulações, há uma espécie de lei natural das economias e 
sociedades que devem seguir um único caminho na trajetória da 
modernidade, lideradas pela sociedade norte-americana. (CASTELLS, 
2006, p. 266).
 
Castells discorda das afirmações postas na citação acima. Em primeiro lugar, critica 
o conceito de pós-industrialismo, argumentando que a existência e a importância da 
indústria na dinâmica da economia e da sociedade atual, nos diversos países 
descaracteriza o período “pós-industrial”. No entanto, mesmo com as críticas, utiliza 
este conceito em seus esboços teóricos. Em segundo lugar, não concorda que haja 
uma nova estrutura social baseada nos serviços, no fim do emprego rural e da 
fundamentação informacional no trabalho de países desenvolvidos. Segundo ele, o 
que existe é uma interação diversa entre as especificidades geográficas, históricas e 
culturais de cada país, com a adaptação do uso da tecnologia e informações no 
âmbito da produção. Em terceiro lugar e por último, Castells contesta o fato de toda 
esta inovação produtiva partir de bases norte-americanas. Defende, entretanto, que 
as mudanças produtivas ocorrem de forma diferente em cada país, segundo as suas 
especificidades. 
Não queremos discutir aqui a existência ou não de um estágio pós-industrial, nem a 
evidência de uma nova ordem pragmática fundamentada unicamente nos serviços, 
em que se destitui o trabalho agrícola. O que está em evidência neste trabalho são 
as mudanças relativas ao mercado de trabalho em que diversificam, fragmentam, 
especializam e flexibilizam o processo produtivo trazendo agudas consequências 
para os trabalhadores inseridos neste processo. 
36
As consequências, como serão mostradas, dizem respeito a uma ordem cada vez 
mais precária e imprevisível das relações entre empresa e trabalhador. E sejam 
estas consequências, advindas ou não dos processos informacionais, elas 
certamente são prejudiciais a uma numerosa e importante população de pessoas 
que vive unicamente do seu trabalho, aplicado nesta ordem flexível e inconstante.
Embora os dados apresentados por Castells sejam controversos em sua forma de 
cálculo, por não haver, segundo ele, um entendimento claro a respeito do setor de 
serviços, eles são relevantes para entendermos tanto o processo de mudança do 
mercado de trabalho nos países mais desenvolvidos do mundo, como também nos 
ajudam a entender variações existentes no percurso histórico destes países. 
Ademais, embora Catells não aborde sobre a precariedade do mercado de trabalho 
nos países desenvolvidos, os dados por ele mesmo apresentados explicitam isto. 
Deste modo, iremos atentar para tais indicadores a partir daqui. 
2.1. Mercado de trabalho nos países desenvolvidos
É evidente que, como aponta Castells, as especificidades culturais, sociais, políticas, 
econômicas de cada país norteiam os rumos do mercado de trabalho das diferentes 
nações. De outro modo, é também evidente que uma tendência geral, vivenciada 
pela maioria dos países, possui relevante probabilidade de influenciar as diversas 
formas de articulação do mercado de trabalho. Tendência esta, como mencionado, 
marcada pelo crescimento do setor de serviços, diminuição do setor industrial, 
redução da jornada de trabalho, declínio dos salários, aumento da rotatividade, e, 
além de outros fatores, ampliação dos contratos femininos. 
Por mais que os indicadores dos distintos países apresentem algum tipo de 
divergência em relação ao comportamento do mercado de trabalho, eles 
acompanham inequivocamente a tendência que alguns autores denominam como 
sendo da precariedade do trabalho.
37
Uma das mais importantes evidências de precariedade do mercado de trabalho em 
todo o mundo nas últimas décadas é o crescimento do desemprego, principalmente 
a partir da década de 1980. De acordo com dados da OCDE – Organização para 
Cooperação do Desenvolvimento Econômico -, apresentados por Casttels (2006), o 
crescimento do emprego nos países desenvolvidos foi ínfimo e ao contrário disso, o 
desemprego nesses países fixou-se de forma surpreendentemente alta no ano de 
1995.
Neste ano Bélgica, Finlândia, França, Irlanda, Itália e Espanha apresentaram índice 
de desemprego superior a 10%, enquanto explicitaram crescimento do emprego 
inferior a 1% entre os anos 1987 a 1994, com ênfase à Finlândia e à Suécia que 
obtiveram crescimento negativo do emprego de 1,6% e 0,6% respectivamente. 
TABELA 2 
Aumento do índice de emprego (1987-1994), e índice de desemprego (1995) por 
país
País Crescimento do 
emprego 1987-94
Índice de desemprego 
1995
Austrália 1,9 8,5
Áustria 0,8 5,6
Bélgica 0,5 13,0
Canadá 1,6 9,5
Dinamarca 0,2 10,0
Finlândia -1,6 17,2
França 0,1 11,6
Alemanha 0,7 9,4
Grécia 0,5 10,0
Irlanda 0,4 12,9
Itália 0,0 12,0
Japão 1,2 3,1
Holanda 1,8 7,1
Nova Zelândia 0,3 6,3
Noruega 0,3 4,9
Portugal 0,3 7,2
Espanha 0,6 22,9
Suécia -0,6 7,7
Suíça 1,5 4,2
Reino Unido 0,6 8,2
Estados Unidos 1,8 5,6
Fonte: OCDE
Elaboração: CASTELLS, (2006). 
38
Outra característica marcante da precarização do trabalho está focada no 
crescimento aguçado do setor de serviços e no decrescimento do setor industrial, 
como antes pontuamos. O crescimento do setor de serviços em detrimento da 
indústria ilustra a precariedade do trabalho fundamentalmente pelo comportamento 
do mercado de trabalho inerente a cada setor. Enquanto a indústria, símbolo da 
estabilidade Fordista, diminui acentuadamente seus postos de trabalho, o setor de 
serviços notavelmente flexível, dinâmico, ao extremo fragmentado, rotativo e 
instável, eleva expressivamente suas contratações. Contratos estes marcados pelo 
trabalho temporário de jornada reduzida e remunerações decrescentes em sua 
maior parte.
De acordo com os dados apresentados por Castells, mostrados nas tabelas que se 
seguem, o século XX é marcado por essa reestruturação notória dos setores 
econômicos. Em 1920, nos Estados Unidos, o setor de serviços possuía 52% do 
percentual de empregos, em uma relação dicotômica com o setor industrial que 
ostentava 48% do pessoal ocupado, enquanto em 1991 o primeiro setor atingiu a 
marca de 75,1% das vagas de trabalho contra 24,9% do segundo setor citado.
Com atenção ao Japão, Alemanha, França, Reino Unido e aos Estados Unidos, a 
maior potência mundial representa de fato a guarida dos serviços. Ao final da 
década de oitenta, os Estados Unidos apresentam o maior percentual de emprego 
no setor de serviços comparativamente ao setor industrial. 
 
TABELA 3 
Percentual de emprego nos setores da indústria e dos serviços nos Estados 
Unidos 1920-1991
Ano Indústria Serviços
1920 48,0 52,0
1930 43,3 56,7
1940 37,9 62,1
1950 39,2 60,8
1960 38,2 61,8
1970 33,6 66,4
1980 30,5 69,5
1985 27,7 72,3
1990 25,8 74,2
1991 24,9 75,1
39
Fontes: (a) Singelmann (1978); (b) 1970: Censo Populacional; 1980-1991: Current 
population Survey, Departamento de Estatística do Trabalho; Estatística do trabalho; 
Employment and Earnings, varia edições.
Elaboração: CASTELLS, 2006.
Segundo Castells (2006), o Japão

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