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RELATÓRIO DE AULAS PRÁTICAS: inspeção da qualidade do leite. 1. INTRODUÇÃO No Brasil, o controle da qualidade do leite cru e leite cru refrigerado proveniente de rebanhos que fornecem matéria-prima para laticínios sob inspeção oficial, está previsto no art. 82 do Decreto 9.013/2017 e nas Instruções Normativas nº 76 e 77/2018 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Essas normas determinam a coleta mensal de pelo menos uma amostra de leite de cada rebanho, para determinação do teor de gordura; teor de proteína total; teor de lactose anidra; teor de sólidos não gordurosos; teor de sólidos totais; contagem de células somáticas (CCS); contagem total de bactérias (CTB); detecção de resíduos de produtos de uso veterinário e detecção de fraude econômica, em unidades operacionais da Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite (RBQL). Os procedimentos para coleta e transporte de amostras de leite devem ser padronizados seguindo normas aceitas internacionalmente, para que os resultados obtidos por diferentes laboratórios possam ser comparados entre si. Estes resultados podem ser utilizados no monitoramento da sanidade da glândula mamária pelo produtor rural, na determinação da qualidade da matéria prima pela indústria e avaliação da qualidade e seguridade do leite pelos serviços de fiscalização. As amostras de leite, de tanque ou latão, devem ser coletadas imediatamente antes do recolhimento do leite pelo transportador, e devem ser representativas do volume total de leite que se pretende avaliar, independente do volume produzido no rebanho. As amostras devem ser coletadas por uma pessoa treinada e que siga os procedimentos que preservem as características da amostra a fim de obter qualidade e confiabilidade dos resultados. É necessário que o mesmo seja informado sobre a importância da execução adequada dos procedimentos, riscos relativos ao contato com conservantes e sobre os cuidados higiênicos a fim de evitar contaminação da amostra e do leite do tanque ou latão. O resultado obtido através da análise laboratorial é determinado em grande parte, pela primeira etapa do processo de análise que é a amostragem. Uma amostragem incorreta resultará em uma análise que não revelará a verdade sobre o produto amostrado, portanto, a amostra deve ser representativa da população. O laudo analítico, que é o resultado final da análise laboratorial, deve ser encarado como uma fonte de informações quanto ao padrão de identidade e qualidade do produto analisado, que possibilitará, caso necessário, uma ação da Vigilância Sanitária. Pesquisa científicas demonstram que a fraude do leite ainda é prática comum no Brasil, sendo as mais comuns a adição de água, o desnate e a adição de reconstituintes da densidade, neutralizantes da acidez e substâncias conservantes. Adulterações são decorrências de tentativa de aumentar a lucratividade e causam prejuízo ao consumidor tanto do ponto de vista econômico quanto de segurança do alimento, já que a adição de substâncias químicas ao leite pode causar danos à saúde de quem consome esse alimento. Além disso, podem causar prejuízos à indústria de laticínios, pois a adição de substâncias químicas ou remoção de componentes do leite pode prejudicar a fabricação de seus derivados, como, por exemplo, diminuição do rendimento industrial. Por estes motivos, as avaliações da composição, qualidade, segurança e integridade do leite são extremamente relevantes e devem ser constantemente investigadas e reportadas a fim de alertar às autoridades sobre a importância da apropriada e rigorosa inspeção de produtos de origem animal. Ao realizar essas análises garante-se que o leite seja de qualidade e adequado ao consumo. 2. OBJETIVOS Devido a pandemia causada pelo COVID-19 e a impossibilidade das aulas práticas presenciais, as práticas necessárias para o aprendizado dos alunos foram realizadas através de vídeos gravados no laboratório da UEMA, visando disseminar o conhecimento da rotina diária daqueles que trabalham com a inspeção de leite e laticínios em geral. 3. ANÁLISES REALIZADAS Dos sete vídeos analisados, cinco continham análises realizadas no processo de inspeção do leite, e todo o procedimento necessário para realiza- las, assim como seus resultados e sua importância, que seguem descritos abaixo: 3.1 Alizarol A primeira análise é de alizarol, para verificar a acidez de forma qualitativa. Tem por objetivo verificar as diferenças de análises entre um leite que tem maior quantidade de gordura e um que tem menor quantidade. É um teste muito empregado nas plataformas de recepção como um indicador de acidez e estabilidade térmica do leite. Nesse teste é verificado se ocorre alguma mudança no leite ao utilizar alizarol. 3.1.1 Materiais • Leite UHT integral com cerca de 3% de gordura da marca LeitBom • Leite UHT desnatado com cerca de 0 a 0,5% de godura da marca Betânia • Pipetas • Tubos de ensaio • Reagente: alizarol - formado por álcool e alizarina 3.1.2 Procedimento O álcool tem a função de nos indicar a estabilidade térmica do leite, ou seja, saber se este leite tem condição de passar pelo tratamento de pasteurização e pelo tratamento UHT. Se o leite está muito ácido, por exemplo, ele não vai conseguir passar pela pasteurização sem talhar. O outro componente, que é o que dá a coloração ao alizarol, a alizarina, vai indicar qualitativamente se esse leite está ácido, alcalino ou normal. Iniciou-se pipetando 2ml do leite integral e 2ml do desnatado em cada um dos tubos de ensaio, e em seguida adicionando 2ml de alizarol a 72% em cada um dos tubos. Foi em seguida realizada a homogeneização das amostras pra realizar a leitura. 3.1.3 Resultados Inicialmente já foi possível observar diferenças de tonalidade entre a amostra de leite desnatado e do integral. Apresentaram a cor do padrão normal, que é observada quando o leite não tem problemas de acidez e nem de estabilidade térmica. Essa diferença de tons se dá apenas pela quantidade de gordura deles, já que o integral pelo maior teor de gordura se apresenta mais esbranquiçado enquanto o desnatado se apresenta mais translúcido. Ao agitar o líquido dos tubos de ensaio, ambas as amostras escorreram pela parede sem formar nenhum tipo de grumos. Quando o leite está fora de padrão para estabilidade térmica, quando há essa agitação ele forma grumos pequenos aderidos no tubo ou então grumos grandes e aparentes na parte do líquido, dependendo da quantidade de acidez. 3.2 Simulação de acidez 3.2.1 Materiais • Leite UHT integral com cerca de 3% de gordura da marca LeitBom • Leite UHT desnatado com cerca de 0 a 0,5% de godura da marca Betânia • Pipetas • Tubos de ensaio • Reagente: alizarol - formado por álcool e alizarina • Ácido sulfúrico • Solução alcalina 3.2.2 Procedimento Foi utilizada para a demonstração as amostras de leite integral de 2ml com 2ml de alizarina, que estavam dentro dos padrões normais. Em uma delas foi gotejado ácido sulfúrico a esse tubo para simular um leite ácido e na outra foi gotejada uma solução alcalina para simular um leite alcalino. A terceira amostra foi mantida normal, inalterada, exatamente para que houvesse essa comparação entre a amostra normal, alcalina e ácida. 3.2.3 Resultados O intuito dessa demonstração foi observar as mudanças de coloração nas amostras que é vista pelo reagente da alizarina. No leite ácido observa-se uma coloração amarela, podendo gerar até mesmo um amarelo intenso, como foi o caso dessa amostra. Esse tipo de alteração, que torna o leite ácido, pode acontecer pela produção excessiva de ácido lático, excesso de microorganismos e falta de higiene. Já o leite alcalino fica com o tom arroxeado, o que pode acontecer pela aguagem do leite, quando há presença de água, diluindoos outros ácidos presentes no leite e isso faz com que o leite se apresente mais alcalino. Também pode acontecer na presença de agentes alcalinizantes, quando o produtor, ao ver que o seu leite está ficando ácido, adiciona algum alcalinizante para mascarar a condição e realizar uma fraude. Esse agente pode ser por exemplo soda ou bicarbonato. Além disso, com relação a formação de grumos, no leite ácido foi possível observar vários grumos aderidos, enquanto o leite normal continua deslizando pelo tubo. No caso da amostra alcalina, ele não apresenta a formação de grumos, porém caso fosse na verdade um leite ácido no qual foi adicionado agente alcalinizante haveria a presença de grumos. Vale lembrar que essa formação de grumos diz respeito a perda de estabilidade térmica do leite, então o leite que está dessa forma, não aguentaria passar pelo processo de pasteurização ou UHT. 3.3 Acidez titulável Avalia a acidez quantitativa do leite, medir numericamente a quantidade ácido lático que foi produzida no leite pelos microorganismos. 3.3.1 Materiais • 10mL de leite • Solução indicadora de fenoftaleína a 1% • Acidimítro de Dornic • Bureta com graduação • Solução de hidróxido de sódio a 0,1% 3.3.2 Procedimento Iniciou a medição pipetando 10ml de leite no recipiente e então gotejando de 3 a 5 gotas de fenoftaleína em cada amostra, e em seguida homogeneizando. Então, deu-se início a articulação. Ao gotejar lentamente, já é possível observar uma pequena alteração na cor, só que quando a homogeneização acontece essa cor desaparece. Significa que o ponto de viragem é quando permanece uma cor róseo fraca ou a 20 segundos. 3.3.3 Resultados A amostra que foi gotejada então foi comparada com uma amostra normal, e a gotejada apresenta uma diferença de cor comparada a ela, sendo mais rosa. Em seguida, é necessário olhar na graduação do acidímetro quantos mls foram gastos para fazer essa titulação. No caso desse experimento, forma gastos 1,8ml. 3.4 Gordura do leite Tem por objetivo avaliar a porcentagem de gordura presente nas amostras. 3.4.1 Materiais • Solução de ácido sulfúrico com densidade 1,820 a 1,825g/l • Um bico dosador ou outro tipo de dosador porque essa solução pode ser corrosiva • Uma pipeta volumétrica própria para leite de 11ml • Um butirômetro de Gerber com rolha • Álcool isoamílico em solução PA próprio para análise de leite 3.4.2 Procedimento Para dar início, com muito cuidado, são introduzidas diretamente no butirômetro 10ml de ácido sulfúrico. Em seguida, foi inserido integral, com o auxílio da pipeta volumétrica, bem lentamente pelas paredes do tubo. Por fim, colocou adicionou 1ml de álcool isoamílico e adicionou a rolha para dar início à homogeneização. O que acontece então dentro do butirômetro é que quando a amostra é homogeneizada, o ácido entra em contato com as moléculas do leite e separa toda a proteína, digerindo e separando-a da gordura; enquanto que o álcool isoamílico vai se juntar a essa gordura que foi separada, tornando possível visualizá-la, formando então duas soluções: uma rosa e uma gordurosa, que é evidenciada no interior do butirômetro. A parte branca desaparece. Após homogenizar a amostra, é colocada numa centrífuga com rotação de 1200rpm própria para butirômetros de leite e deixá-la para o 2 a 5 minutos. 3.4.3 Resultados Foi possível então observar a diferença de tonalidades da gordura, mais amarelada e separada, com a parte escura que foi digerida de proteína e outros nutrientes. A leitura então foi feita contando pela marcação que está no butirômetro e o resultado foi de 3,1% de gordura. 3.5 Densidade relativa a 15º Densidade é a relação entre massa e volume, que pode ser alterada pela temperatura da amostra. 3.5.1 Materiais • Leite integral em temperatura ambiente • Duas provetas • Termolactodensímetro • Tabela de correção 3.5.2 Procedimento Deu-se início homogeneizando o leite e vertendo ele nas paredes laterais da proveta de forma que não forme bolhas. No total, foram despejadas 230 ml de leite. Então, o termolactodensimetro foi lentamente introduzido dentro da proveta, tendo o cuidado para não derramar, e então é dada uma leve girada para que não grude nas paredes, ficando solto dentro da proveta. Aguardou-se em torno de dois minutos para que ele estabilizasse a leitura da temperatura e a leitura da densidade. Enquanto isso, realizou-se o mesmo procedimento em outra proveta, só que com o leite desnatado e aguardou o tempo da estabilização. 3.5.3 Resultados Como resultados da amostra do leite integral, observou-se a temperatura de 27º C e a densidade 30. Já na amostra do leite desnatado, foram obtidos como resultados a temperatura de 27º C e a densidade de 28. Por fim, para realizar a leitura final onde temos a densidade a 15ºC, foi utilizada a tabela de correção, onde as densidade corrigida obtidas foram de 33 para o leite integral e de 30,8 para o leite desnatado. 3.6 Sólidos totais e não gordurosos 3.6.1 Materiais • Disco de Ackermann • Calculadora 3.6.2 Procedimento Por fim, foi realizada a análise do extrato seco total (sólidos totais) e desengordurado. Para isso, é necessário utilizar dados obtidos anteriormente, como os valores encontrados de gordura e densidade. Foi utilizado um instrumento denominado disco de Ackermann. Nele, há três faixas. A primeira delas é a densidade, a segunda é a matéria gorda, e a ultima é a porcentagem de extrato seco. 3.6.3 Resultados É possível então girar a roda para ajustar com os parâmetros dos valores que foram obtidos. Para o leite integral, ajustou-se a densidade para 33 e a gordura para 3,1%, obtendo então como resultado da leitura de sólidos totais 12,24%. Já para a realização do cálculo do extrato seco desengordurado, foi necessário subtrair esse valor obtido no extrato seco total (12,24%) da gordura, o que gerou um resultado de 9,14% no leite integral. Para fins didáticos, esses dados seguem resumidos na tabela abaixo: Densidade Gordura Extrato seco total (sólidos totais) Cálculo do extrato seco desengordurado Extrato seco desengordurado Amostra de leite integral 33 3,1% 12,24% 12,24 – 3,1 9,14% 4. CONCLUSÃO Sabe-se que a qualidade do leite pode ser determinada por meio de avaliações físicas, químicas, microbiológicas e sensoriais. A análise físico- química do leite, bem como análises que detectam adulterações no produto, como as realizadas nessa aula prática, devem ser realizadas em laticínios com base nos padrões mínimos exigidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) conforme a legislação vigente, a Instrução Normativa 76 e 77/2018. Os procedimentos realizados nessas aulas práticas, demonstrando como é a lida diária de quem trabalha com a inspeção de leite, mostram um pouco de como é realizar na prática todos esses testes para garantir que o leite que está sendo analisado e será posteriormente consumido seja de qualidade e livre de alterações. Ficar atento às regras e legislações impostas pra isso é essencial para a produção leiteira segura e de alta qualidade, o que pode ser alcançado através da profissionalização da atividade leiteira. Os produtores devem buscar auxílio técnico para atender às normas, garantir qualidade e lucratividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. 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