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Genética Médica Hiperplasia Adrenal Congênita Mayara Medeiros de Lima Introdução A denominação hiperplasia adrenal congênita (HAC) engloba um conjunto de síndromes transmitidas de forma autossômica recessiva (são necessários dois genes com defeito, um do pai e um da mãe para que a pessoa tenha a doença) que se caracterizam por diferentes deficiências enzimáticas na síntese dos esteroides adrenais (etapas bioquímicas da produção de glicocorticóides - cortisol, mineralocorticóides - aldosterona ou esteróides sexuais do colesterol - andrógenos). A maioria dessas doenças envolve a produção excessiva ou deficiente de esteróides sexuais que podem alterar o desenvolvimento de características sexuais primárias ou secundárias em alguns bebês, crianças ou adultos afetados. A HAC geralmente resulta de mutações ou deleções do gene CYP21A2, encontrado no cromossomo 6p21.3, que em 90% a 95% dos casos resulta em deficiência da enzima 21-hidroxilase, causando produção reduzida de aldosterona e cortisol, levando ao aumento de ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) da hipófise. Também pode ser causada pela deficiência da enzima 3𝛽-hidroxiesteróide desidrogenase, por mutação no gene HSD3B2 (cromossomo 1), por deficiência da enzima 11𝛽-hidroxilase, por mutação no gene CYP11B1 (cromossomo 8), ou por deficiência da enzima 17-alfa-hidroxilase por mutação do gene CYP17A1 (presente em 10q24.3). Etapas bioquímicas da síntese de esteróides adrenais Todos os hormônios esteróides humanos são sintetizados partindo do colesterol, 80% deste é dado por lipoproteínas de baixa densidade (LDL), estes se difundem do plasma para o líquido intersticial, ligando-se a receptores na membrana das células 1 adrenocorticais, tal processo é estimulado pelo ACTH. A deficiência de uma dessas enzimas prejudica a produção dos principais esteróides, estimulando o acúmulo mediado pela corticotropina dos precursores do cortisol, causando uma mudança na patogênese dos esteróides para a produção de androgênios (qualquer hormônio esteroide que tenha efeitos masculinizantes). O excesso de androgênio fetal leva a vários graus de virilização no nascimento. Em casos de HAC por deficiência das enzimas 11-beta-hidroxilase e 17-alfa-hidroxilase, o acúmulo dos precursores pregnenolona e progesterona pode ocasionar desvio na rota e aumento na síntese do mineralocorticoide desoxicorticosterona, com consequente hipertensão e hipopotassemia. A redução da atividade da 21OH com decorrente diminuição da síntese de cortisol resulta em estimulação crônica do córtex adrenal pelo ACTH com hiperplasia adrenal e superprodução dos precursores do cortisol. Estes precursores são desviados para a biossíntese dos andrógenos, que não necessita da atividade da 21OH, causando os sinais de virilização característicos em indivíduos com esta deficiência enzimática. 2 Quando o nível de cortisol está baixo, há uma sinalização para o hipotálamo e há a liberação de ACTH, o qual vai estimular a produção do colesterol. Esse estímulo faz com que aumente a produção de testosterona (devido redução da atividade da 21OH). Consequências da deficiência de Cortisol e Aldosterona ● Má formação cardíaca, baixa resposta vascular às catecolaminas e aumento da secreção do hormônio antidiurético; ● Hipercalemia, devido a diminuição na eficácia da excreção do potássio; ● A falta de exposição pré-natal ao cortisol interfere no desenvolvimento adrenomedular e pode estar associada à deficiência de adrenalina e a hipoglicemia. Histopatologia Mostra as diferenças celulares causadas pela doença. ● Hiperplasia (aumento) do córtex adrenal; 3 ● Arquitetura desorganizada da medula adrenal e do córtex; ● Depósitos lipóides que representam ésteres de colesterol que não poderiam entrar nas mitocôndrias para síntese de esteróides; ● Hipertrofia do aparelho justaglomerular quando há perda de sal. Tipos de Hiperplasia Adrenal Congênita Forma clássica perdedora de sal: As glândulas adrenais não conseguem produzir quantidades suficientes de cortisol e aldosterona, é a forma mais comum, cerca de 60% dos casos. Nos recém-nascidos do sexo feminino, há virilização da genitália externa (aumento de clitóris, fusão labial e formação de seio urogenital), decorrente do excesso de andrógenos durante a vida intrauterina. . Nos recém-nascidos do sexo masculino e nos do sexo feminino nos quais a virilização da genitália externa não foi identificada, como há deficiência mineralocorticoide, a apresentação ocorre nos primeiros dias de vida com crise adrenal: depleção de volume, desidratação, hipotensão, hiponatremia e hiperpotassemia, sendo uma doença potencialmente fatal. Forma clássica não perdedora de sal (virilizante simples): As glândulas adrenais produzem quantidades suficientes de aldosterona, mas não suficientes de cortisol. Nos recém-nascidos do sexo feminino, há virilização da genitália externa. Como nesta forma não há deficiência mineralocorticoide com repercussão clínica, os recém-nascidos do sexo masculino são frequentemente identificados em idade tardia por sinais de hiperandrogenismo: velocidade de crescimento aumentada, maturação óssea acelerada ou pubarca precoce. Forma não clássica (de início tardio): Esta forma de apresentação é cerca de 15 vezes mais frequente do que a forma clássica de HAC, é leve e não ameaça a vida. Os pacientes frequentemente são assintomáticos ou as manifestações se apresentam tardiamente na infância ou adolescência. No sexo feminino, devido ao hiperandrogenismo decorrente da deficiência enzimática, a apresentação pode 4 ser por aumento de clitóris, pubarca precoce, ciclos menstruais irregulares e hirsutismo. No sexo masculino, o quadro costuma ser assintomático. HAC por deficiência em 17-alfa-hidroxilase: ● Diminuição na produção de testosterona. ● É responsável por cerca de 1% dos casos de HAC, tendo prevalência de 1/1.000.000 nascidos vivos. ● Mulheres (cariótipo 46XX) apresentam quadro de infantilismo sexual, amenorréia primária e ausência de pêlos pubianos e axilares. Em homens (46XY), o defeito enzimático manifesta-se por quadro de subvirilização e falta de desenvolvimento puberal, pseudo-hermafroditismo masculino, com genitália externa feminina, vagina em fundo cego e ausência de estruturas mullerianas (1/3 superior da vagina, útero e tubas uterinas), bem como ausência de pêlos axilares e pubianos. ● Alguns pacientes apresentam deficiência parcial de 17-hidroxilase com algum grau de síntese de hormônios sexuais, levando a quadros de genitália ambígua (em homens genéticos) e irregularidade menstrual (em mulheres genéticas). 5 Epidemiologia ● A prevalência global de hiperplasia adrenal congênita clássica é de aproximadamente 1/15.000 nascimentos, variando conforme a etnia e regiões geográficas. ● A incidência de HAC é variável entre diferentes populações, com incidência da forma perdedora de sal variando de 1/280 a 1/42.000 nascidos vivos. ● No Brasil, a incidência da forma perdedora de sal parece oscilar de 1/7.500 a 1/10.000 nascidos vivos. Etiologia ● A HAC, causada pela deficiência de 21-hidroxilase, é encontrada em todas as populações, enquanto a deficiência de 11-beta-hidroxilase é mais comum em indivíduos de descendência iraniana, judaica ou marroquina. ● A gravidade da doença e a apresentação fenotípica variam dependendo da localização e extensão das mutações ou deleções genéticas. ● No gene CYP21A2 foram identificadas cerca e 300 mutações , o que torna a genotipagem desses indivíduos uma tarefa complicada. Apresentações clínicas As manifestações clínicas das HACs dependem da enzima envolvida e do grau de deficiência enzimática (total ou parcial). A apresentação clínica pode se expressar por insuficiência glicocorticoide (deficiência na síntese de cortisol), insuficiência mineralocorticoide (deficiência na síntese da aldosterona) ou por excesso de andrógenos (desvio da rota de síntese hormonal, com aumento de síntese dos precursores androgênicos). 6 Bebês● Em recém-nascidos do sexo feminino, o diagnóstico da forma clássica de HAC é suspeitado pela presença de virilização da genitália externa (Genitália ambígua (podem variar de uma aparência quase masculina com uretra peniana e testículos não descendentes bilaterais a clitoromegalia mínima), clitoromegalia, grandes lábios rugosos fundidos, único orifício perineal). ● Já em recém-nascidos do sexo masculino, o diagnóstico clínico é dependente do grau de deficiência mineralocorticoide. Na genitália, pode apresentar hiperpigmentação (a diminuição do cortisol no sangue resulta em aumento da produção de ACTH pela hipófise e aumento da betalipotrofina no sangue, que possui atividade estimulante de melanócitos e, juntamente com o ACTH, produz hiperpigmentação de pele e mucosas), desenvolvimento genital externo normal ou macrogenitossomia. ● A forma perdedora de sal apresenta-se nos primeiros dias de vida com desidratação, hipotensão, taquicardia, vômitos, perda ponderal, letargia, hiponatremia e hiperpotassemia nos primeiros 10 a 14 dias de vida. Crianças ● Sexo feminino: Desenvolvimento prematuro de pelos pubianos, axilares e odor apócrino antes dos 8 anos (pubarca prematura), alta estatura, velocidade de crescimento linear acelerada e maturação esquelética avançada, clitoromegalia. ● Sexo masculino: Desenvolvimento prematuro de pelos pubianos, axilares e odor apócrino antes dos 9 anos (pubarca prematura), alta estatura, velocidade de crescimento linear acelerada e maturação esquelética avançada,aumento fálico com testículos do tamanho pré-púbere. Adolescentes e Adultos ● Sexo feminino: Hirsutismo (mais comum) e acne, menstruação irregular, anovulação crônica e infertilidade, baixa estatura devido a puberdade precoce, devido às características clínicas semelhantes, pode ser difícil distinguir a NCAH da síndrome dos ovários policísticos (SOP). 7 ○ Mulheres com NCAH tendem a ter maiores concentrações de 17-OHP e progesterona do que mulheres com SOP. Resistência à insulina, obesidade, morfologia dos ovários policísticos e taxas elevadas de LH / FSH tendem a ser mais comuns em mulheres com SOP. No entanto, nenhum desses recursos diferencia claramente as mulheres com NCAH daquelas com SOP. Concentrações hormônio antimülleriano não discriminam as mulheres com NCAH daqueles com SOP. ● Sexo masculino: Tipicamente identificados através de estudos familiares, não apresentam concentrações elevadas de ACTH (assim como as mulheres), baixa estatura devido a puberdade precoce. ● Os adultos com hiperplasia adrenal congênita são mais baixos em estatura que a população normal, devido à puberdade precoce causada por andrógenos e ao retardo do crescimento resultante da superdosagem de glicocorticóides. Outros achados clínicos da HAC ● Os pacientes com HAC apresentam maior massa gorda que a população em geral, principalmente no caso de mulheres mais jovens. Podem também apresentar densidade óssea reduzida. ● Em estudo recente do registro sueco, a prevalência de doenças cardiovasculares e metabólicas em HAC foi quatro vezes maior que na população em geral. Houve também aumento na prevalência de hipertensão, fibrilação atrial, tromboembolismo venoso, obesidade, diabetes tipo 2 e apneia obstrutiva do sono. ● Os pacientes são vulneráveis ao desenvolvimento de tumores adrenais, principalmente mielolipomas (tumores benignos, não homogêneos e gordurosos). Sexualidade ● A maioria das mulheres com HAC relata preferências heterossexuais. Embora a frequência exata não seja clara, até 25% das mulheres com HAC relatam inclinações homossexuais quando pesquisadas; ● Em relação a experiências e atividades sexuais, em mulheres, costuma ser mais 8 tardia, incluem pequeno intróito vaginal, falta de lubrificação, dor com penetração, falta de sensibilidade do clitóris e ansiedades sobre desempenho sexual e aparência genital. ● As meninas com ambiguidade genital podem ser submetidas à cirurgia de genitoplastia feminilizante durante o primeiro ano de vida. Para reduzir as cicatrizes, essa operação é preferencialmente realizada nos primeiros meses em que a pele do bebê ainda é estrogenizada. Contracepção, fertilidade e gravidez ● Pacientes do sexo feminino com HAC (clássica e não-clássica) são férteis (com tratamento adequado) e devem receber contracepção se sexualmente ativas sem o desejo de conceber. No passado, a infertilidade era o resultado esperado para mulheres com HAC clássica. Foram relatadas taxas de gravidez melhoradas, mas fatores que contribuem para a falta de fecundidade incluem estenose vaginal com dispareunia, sensação prejudicada, baixa auto-estima, anovulação crônica, desinteresse por ter filhos e concentrações elevadas de progesterona. Com a otimização dos regimes glicocorticóide e mineralocorticóide, menos pacientes com HAC necessitam de indução da ovulação. Antes do diagnóstico de NCAH, o risco de perda precoce da gravidez é maior. Dois estudos de mulheres com NCAH demonstraram diminuição do número de abortos espontâneos em mulheres após o diagnóstico de NCAH e com o uso de terapia de reposição de glicocorticóides. ● A fertilidade pode ser comprometida em homens afetados por causa dos tumores testiculares de restos adrenais. Além disso, concentrações elevadas de esteróides bioativos adrenais podem levar a hipogonadismo hipogonadotrófico, ambos podendo levar à oligospermia; ● Antes da gravidez, as mulheres devem receber aconselhamento genético sobre o risco de ter filhos. Uma vez alcançada a gravidez, as mulheres com HAC justificam um atendimento individualizado por meio de um tratamento conjunto com endocrinologistas e obstetras. 9 Manejo do paciente - perguntas frequentes ● A hiperplasia adrenal congênita é doença de família? Todos os meus filhos terão essa doença? A hiperplasia adrenal congênita (HAC) é uma doença genética hereditária, isto é, passada dos pais para o filho. A doença só ocorre quando a pessoa recebe dois genes alterados, um do pai e um da mãe, que são sadios (transmissão autossômica recessiva). Nesta situação, a cada gravidez, o casal que possui genes alterados terá 25% de chance de ter uma criança com a doença, 50% de ter uma criança sadia e portadora do gene alterado (como os pais) e 25% de ter uma criança sadia e sem o gene alterado. Por isso, é recomendado o aconselhamento genético aos pais, mostrando a possibilidade de novos casos na família e a importância redobrada do diagnóstico logo ao nascimento. ● E se o resultado para a HAC for duvidoso no teste do pezinho? Nesses casos duvidosos, quando o bebê é prematuro ou teve alguma doença, o acompanhamento clínico e laboratorial é muito importante. A realização de exames hormonais e genéticos é que podem confirmar ou afastar o diagnóstico. ● Se o tratamento for realizado corretamente, a criança que possui a doença vai crescer com saúde? Sim. Apesar de não ter cura, o tratamento consiste na reposição hormonal diária, via oral, por toda vida e garante a saúde física e mental da criança, desde que feito da forma correta e iniciado precocemente. ● Se o hormônio não for dado um dia, por esquecimento, adianta dobrar a dose no dia seguinte? Não, pois o corpo da criança necessita da dosagem certa diariamente. Em caso de esquecimento, continue com a dose normal. ● Meus vizinhos e parentes dizem que a criança está saudável. Que é bobagem ela tomar o hormônio e que posso parar o tratamento. Isso é verdade? 10 Não. Se sua criança está saudável assim, é exatamente devido ao tratamento bem feito. ● Se meu filho necessitar tomar um antibiótico ou outro medicamento, nós podemos dá-lo junto com o hormônio? Sim. O medicamento não deve ser interrompido em nenhuma hipótese, a não ser quando orientado pelos médicos responsáveis pelo tratamento. ● Meu filho deve seguir o calendário de vacinação normalmente? Sim, todas as vacinas devem ser dadas normalmente. ● A criança com hiperplasia adrenal congênita deve ser educada de forma diferente das demais?Não, pois a criança com HAC, quando bem cuidada, é perfeitamente saudável. Tratá-la de forma diferente pode ser prejudicial ao desenvolvimento psíquico. Diagnóstico de HAC forma clássica As deficiências enzimáticas de HAC, na síntese do cortisol e da aldosterona, levam ao acúmulo de metabólitos precursores, dentre os quais 17-hidroxi-progesterona (17OHP). A dosagem de 17-OH-progesterona é utilizada como forma de rastreamento neonatal através do teste do pezinho . Em neonatos, os valores dependem da idade gestacional ao nascimento , da idade de coleta do material para exame, do peso ao nascimento e do sexo. O uso de glicocorticoide antenatal pela mãe, devido a sua passagem transplacentária, pode suprimir a produção de 17-OH-progesterona no neonato, ocasionando resultados falso-negativos. Os valores de referência para ponto de corte para rastreamento de HAC variam de 15 a 40 ng/ml. Pacientes com rastreamento positivo para HAC por papel filtro devem confirmar o resultado através de dosagem de 17-OH-progesterona em sangue periférico. Em neonatos, valores de 17-OH-progesterona < 10 ng/ml excluem HAC. Pacientes com HAC geralmente apresentam dosagem de 17-OH-progesterona > 35 ng/ml, sendo que resultados acima de 100 ng/ml, vistos na maioria dos pacientes com a forma 11 clássica, confirmam o diagnóstico. Quando os resultados de 17-OH-progesterona basais são indeterminados, teste de estímulo com 250 mg/ml de ACTH ou testagem por biologia molecular são opções para complementação da avaliação. Diagnóstico de HAC forma não clássica ● Em crianças: valores de 17-hidroxi-progesterona, sugestivo quando > 0,8 ng/ml ● Em mulheres adultas: valores sugestivos de 17-hidroxi-progesterona > 2 ng/ml (dosados durante a fase folicular do ciclo menstrual) ● Nesses casos, devem ser realizados o teste de estímulo com 250mg de ACTH sintético (teste de cortrosina), com dosagem de 17-OH-progesterona > 10 ng/ml, confirmando o diagnóstico. ● Vale ressaltar que 10% dos pacientes com forma não clássica podem apresentar valores basais normais da 17-OH-progesterona, reforçando-se a necessidade de indicação do teste de estímulo nos casos sintomáticos. Tratamento ● Suprir as deficiências de glicocorticóides e mineralocorticóides e controlar os sinais/sintomas da hiperandrogenemia, preservando a altura final e a fertilidade. ● Indicado para todos os casos na forma clássica e na forma não clássica da HAC só deverá ser indicado para pacientes sintomáticos. ● Quando necessário, utilizar contraceptivos e antiandrogênicos, obedecendo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Síndrome dos Ovários Policísticos e Hirsutismo. ● Os pacientes que desenvolvem puberdade precoce central deverão receber tratamento complementar com análogos de GnRH conforme PCDT da Puberdade Precoce. 12 Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: ● Critérios de Inclusão: ○ Para uso de glicocorticóides: pacientes com diagnóstico de HAC clássica com ou sem deficiência mineralocorticoide, feito através de dosagem de 17-OH-progesterona em amostra de sangue periférico com valores > 100 ng/ml. ○ Para uso de mineralocorticoide: pacientes com diagnóstico de deficiência mineralocorticoide (forma perdedora de sal) que apresentarem, além da dosagem de 17-OH-progesterona em amostra de sangue periférico com valores > 100 ng/ml, quadro clínico e dosagem de sódio e potássio séricos ou renina plasmática e aldosterona com os seguintes resultados: ■ hiponatremia (sódio < 135 mEq/l) e hiperpotassemia (potássio > 5,5 mEq/l); ■ renina plasmática acima do valor de referência e aldosterona abaixo do valor de referência. ● Critérios de Exclusão: ○ Resultado de teste do pezinho com 17-OH-progesterona elevada, sem exame confirmatório em amostra de sangue; ○ Contraindicação ou intolerância aos medicamentos especificados. ● Casos Especiais: ○ Pacientes do sexo masculino assintomáticos com HAC forma não clássica não necessitam de tratamento. Para pacientes do sexo feminino deve ser seguido o tratamento proposto no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Síndrome dos Ovários Policísticos e Hirsutismo Fármacos utilizados ● Glicocorticóides: Dexametasona, Prednisona, Prednisolona e Hidrocortisona; ● Mineralocorticóide: Fludrocortisona (utilizada nos pacientes com HAC na forma perdedora de sal, com o objetivo de normalizar a volemia e corrigir os distúrbios de sódio e potássio). ● O tratamento com glicocorticóides deve ser feito com a menor dose possível para 13 manter controlados ou níveis de andrógenos. A tentativa de supressão extrema dos níveis de andrógenos leva ao excesso de glicocorticoide, com desenvolvimento da Síndrome de Cushing iatrogênica. Tempo de tratamento ● O tratamento com glicocorticoide deve ser feito ao longo da vida em pacientes com HAC forma clássica. ● O tratamento com mineralocorticóide deve ser oferecido a todos os pacientes perdedores de sal e alguns virilizantes simples (com concentrações elevadas de renina) e sua continuidade deve ser reavaliada na vida adulta. ● Pacientes com a forma não clássica deverão ser avaliados clinicamente para a tomada de decisão em relação à necessidade de terapêutica com glicocorticóides. Benefícios esperados ● O tratamento da HAC forma perdedora de sal com fludrocortisona salva a vida de pacientes afetados, caso haja adesão total ao tratamento. Pacientes com HAC forma perdedora de sal, mesmo com o tratamento instituído, quando há problemas de entendimento da doença e de adesão ao tratamento, o risco de morte por insuficiência adrenal aguda (crise adrenal) permanece alto. ● Espera-se a normalização do distúrbio hidroeletrolítico, além da interrupção da evolução do quadro de virilização e da maturação óssea, mantendo-se a previsão do potencial de estatura final e fertilidade. ● O tratamento da HAC melhora o padrão de crescimento sem, entretanto, normalizá-lo. Pacientes com HAC tratados adequadamente atingem altura final cerca de 10 cm abaixo da altura prevista. Monitorização e acompanhamento pós-tratamento ● A cada 3 meses até o primeiro ano de vida e, em crianças com tratamento adequado, após 1 ano de idade, a cada 4-6 meses; ● Em todas as consultas de acompanhamento deve ser avaliada a velocidade de 14 crescimento e sinais clínicos de excesso de glicocorticoide, como ganho de peso excessivo, fragilidade capilar, presença de giba, estrias violáceas, fácies de lua cheia, fraqueza muscular proximal e hipertensão; ● A maturação óssea é estimada por meio da realização anual de raio-X de mãos e punhos (idade óssea); ● Dosagem de 17-OH-progesterona, androstenediona e testosterona plasmáticas, a fim de para acompanhamento da reposição dos glicocorticóides; ● Dosagem de renina plasmática, sódio e potássio séricos para acompanhamento da reposição do mineralocorticóide; ● Na adolescência e idade adulta o ultrassom testicular deve ser realizado para pesquisa de restos adrenais. Referências Bibliográficas Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Triagem neonatal : hiperplasia adrenal congênita / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. IFEANYI, Momodu, GURDEEP, Singh. Congenital Adrenal Hyperplasia. October 9, 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK448098/. Ministério da Saúde - Secretaria de Atenção à Saúde. PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA. PORTARIA Nº 16, DE 15 DE JANEIRO DE 2010. Ministério da Saúde. Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) ou HIperplasia Congênita da Supra-Renal. 2017. Disponível em: http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/programa-nacional-da-triagem-neonatal/hipe rplasia-adrenal-congenita-hac Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG: Faculdade de Medicina da UFMG. In: Hiperplasia Adrenal Congênita. Disponível em: https://www.nupad.medicina.ufmg.br/topicos-em-saude/hiperplasia-adrenal-congenita/.Acesso em: 29 out. 2019. SILVA, Eliana Aparecida et al. Hiperplasia Adrenal Congênita - Deficiência de 17alfa-Hidroxilase. Arq Bras Endocrinol Metab vol.44.São Paulo.2000 WITCHEL, Selma Feldman. Congenital Adrenal Hyperplasia. J Pediatr Adolesc Gynecol. 2017 Oct; Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5624825/ 15
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