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DOENÇA HEPATICA CRÔNICA AVANÇADA/CIRROSE As células estreladas estão no espaço de Disse. Quando há um tipo de inflamação as células estreladas são ativadas e transformadas em miofibroblastos, responsáveis por produzir colágeno. Com o tempo o depósito de colágeno leva a cirrose. Normalmente é preciso que os danos sejam repetitivos para causar a ativação das células estreladas. Os miofibroblastos estão “grudados” nas arteríolas hepáticas, e quando se contraem conseguem regular o fluxo hepático. Isso é algo que predispõe a hipertensão porta → componente dinâmico. Algumas pessoas não “acordam” as células estreladas. Os nódulos hepáticos impossibilitam a comunicação entre os hepatócitos. Em 2019 foi lançado o consenso de Baveno VI sobre o rastreamento da doença hepática avançada. Elastografia é algo difícil de conseguir na prática clínica. Por isso, ainda se faz Screening com a ecografia abdominal, para verificar se o fígado tem redução de volume, aumento do lobo esquerdo, heterogeneidade do fígado... A confirmação é dada da seguinte forma: • Biópsia hepática com F3 ou F4. Geralmente feito caso está em dúvida pela etiologia da cirrose ou se realmente é cirrose. • EDA para verificar a presença de varizes esofágicas. O mais utilizado. • Medida do gradiente de pressão porta (HVPG) para ver se está >5mmHg. É um procedimento radiológico, que normalmente não é utilizado. ETIOLOGIA CLÍNICA • Insuficiência hepática (fígado está funcionando mal): encefalopatia, icterícia, equimoses, desnutrição proteico-calórica, ginecomastia (aumento do estrogênio), aranhas vasculares (aumento do estrogênio), hipotensão, sarcopenia, baqueteamento digital/osteoartropatia hipertrófica. • Hipertensão portal (fluxo porta reduzido intra-hepático): HDA (varizes de esôfago), Síndrome hepatopulmonar/hidrotórax,(ascite subir ao tórax), aumento do volume abdominal (ascite), esplenomegalia, síndrome hepatorrena0 (gravíssimo)l. Normalmente uma insuficiência hepática grave está associada a uma hipertensão porta. Agora, é possível uma hipertensão porta grave sem insuficiência hepática. A cirrose é uma doença catabólica. • Cirrose compensada: todo o restante que é possível manejar. Expectativa de vida de 12 anos. • Cirrose descompensada: encefalopatia, icterícia importante, HDA, Síndrome hepatopulmonar/hidrotórax, ascite, síndrome hepatorrenal. Expectativa de vida de 2 anos. LABORATORIAIS/IMAGENS • Hematologia: anemia normo ou macrocítica (principalmente alcoolistas), plaquetopenia (é um sinal de cirrose (esplenomegalia). • Bioquímica: bilirrubinas, TP, albumina (provas de função hepática); transaminases elevadas (normalmente não é muito, em torno de 50-60); Fosfatase Alcalina levemente aumentada; Hipergamaglobulinemia. • Ecografia: fígado reduzido de volume, nodular, com lobo caudado aumentado em relação ao lobo direito, ascite, fluxo hepatofugal da veia porta (fluxo saindo do fígado, verificado no Doppler). • Tomografia: com suspeita de HCC (carcinoma hepatocelular) e trombose de veia porta (muito associada ao HCC). CLASSIFICAÇÃO • MICRONODULAR: acometimento difuso dos lóbulos, com septos regulares e espessos e pequenos nódulos de regeneração. • MACRONODULAR: septos e nódulos e tamanhos variados, que podem conter lóbulos preservados. Às vezes é mais difícil ver um nódulo de regeneração, mas do ponto de vista clínico não muda quanto a micronodular. BIÓPSIA HEPÁTICA Ausência de espaços-porta, distribuições vasculares anormais, arteríolas hepáticas não acometidas por veias porta, presença de nódulos com septos fibrosos, variabilidade no tamanho e distribuição anormal dos hepatócitos. Não é feita de rotina! PROGNÓSTICO TEM QUE SABER O CHILD DO PACIENTE. Child-Turcotte-Pugh: dá o prognóstico de mortalidade em 2 anos. Calcula se a cirrose é leve, moderada ou grave. Precisa saber se o paciente já teve: • Encefalopatia; se toma lactulose e está bem ganha 2 pontos. • Ascite: sem ascite com diurético ganha 2 pontos • Provas de função hepática: bilirrubina, albumina, TP. O valor do Child vai de 5 a 15. MELD (Model for end stage liver disease): dá o prognoóstico em 3 meses. É o utilizado para classificar na fila de transplante. Acima de 15 precisa ir para transplante hepático, abaixo de 15 pode continuar no ambulatório. Creatinina, bilirrubina e TP. Esses escores devem ser calculados em TODAS as consultas. • 10% dos pctes com cirrose compensada evoluem para descompensada; • Taxa de mortalidade de 15% se diagnóstico de ascite; • Taxa de sobrevida após o primeiro episódio de PBE é de 30-45%; • Taxa de sobrevida após o primeiro episódio de EPS é de 40% HIPERTENSÃO PORTAL Tudo que provoca hipertensão acaba atingindo o baço, vasculatura das artérias locais. FISIOPATOLOGIA Circulação hiperdinâmica: • Dim resistência vascular periférica • Dim pressão arterial média • Aum volume plasmático • Aum fluxo sanguíneo esplâncnico • Aum débito cardíaco Há um aumento da pressão no sistema porta. Primeira coisa que irá ocorrer é um shunt porta sistêmico devido os vasodilatadores que o sistema vai liberando, como por exemplo o óxido nítrico. O sistema porta é pouco sensível ao óxido nítrico, contudo, o restante do corpo não. Começa a ocorrer vasodilatação sistêmica, que diminui o volume sanguíneo que chega no rim, provocando ativamento do sistema renina angiotensina aldosterona para conseguir reter água. Aos poucos, a circulação esplâncnica que estava vasodilatada começa a liberar vasoconstritores (essa circulação irá responder mau aos vasoconstritores, mas o rim irá responder bem). Acaba ocorrendo a síndrome hepatorrenal. O cirrótico é vasodilatado pela liberação de óxido nítrico → por isso a pressão dele é baixa. Com o avançar da doença começa haver vasoconstrição no rim. Síndrome hepatorenal significa doença hepática grave avançada. VARIZES ESOFÁGICAS É uma consequência da hipertensão portal, como uma manifestação da vasodilatação. Ocorre em 40% dos pacientes com cirrose; 60% quando há ascite associada. A taxa de desenvolvimento é de cerca de 5% ao ano. Podem ir aumentando de calibre com o avançar da doença. A taxa de sangramento das varizes depende do tamanho, mas depende muito mais do estado do fígado do paciente. Todo paciente com diagnóstico de cirrose faz EDA para verificar varizes esofágicas. Profilaxia primária: CHILD C ou marcas vermelhas nas varizes que possam sangrar ou varizes de pequeno calibre deve ser tratado com beta bloqueador não seletivo. Varizes de pequeno calibre, sem sinal de sangramento pode ser tratado com beta bloqueador não seletivo. Varizes de médio ou grande calibre antes do primeiro sangramento independente do CHILD pode ser feito beta bloqueador ou ligadura elástica das varizes para evitar sangramento. Beta bloqueadores utilizados: propranolol (menor dose 10mg), nadolol, carvedilol Atuam na vasodilatação esplâncnica na vasculatura esplâncnica fazem vasoconstrição e também diminuem o débito cardíaco o que provoca retenção de menos água. ASCITE Presença de líquido na cavidade peritoneal. No exame físico há aumento do volume abdominal, macicez móvel e sinal do Piparote. Pode estar associada a edema periférico e derrame pleural (hidrotórax). A principal causa é cirrose. Há dois mecanismos que explicam a ascite, mas no fim das contas não muda algo isso, pois ambos fazem o rim reter água. Primeiro mecanismo: vasodilatação periférica + dim do volume arterial efetivo + isso aumenta a renina, angiotensina e aldosterona o que estimula o sistema nervoso simpático o que provoca vasoconstrição renal → aum vol plasmático + hipertensãoporta → água sai do sistema porta e provoca ascite junto com a albumina baixa devido insuficiência hepática. Segundo mecanismo; barroreceptor dentro do fígado verifica que a pressão do fígado está aumentada estimulando o rim a reter água. DIAGNÓSTICO Paracentese abdominal → TODO paciente cirrótico com ascite precisa fazer paracentese diagnóstica (manda o líquido para análise). Paracentese diagnóstica: • Contagem global de células com diferencial • Albumina • Proteínas totais • Bacterioscópico e bacteriológico • Citopatológico: na primeira sempre é pedido. Primeira coisa a se avaliar é se o paciente tem ou não PBE (peritonite bacteriana espontânea) pois aumenta muito o risco de mortalidade! O diagnóstico de PBE é a presença de mais de 250 polimorfonucleares (neutrófilos) por mm³. A bacterioscopia e a bacteriologia podem ou não serem positivos. • Se houver desconfiança de que o paciente possui PBE + após a coleta da paracentese diagnóstica iniciar antibiótico, pois se for + já foi iniciado o tto. A segunda pergunta a ser feita é se o líquido coletado é compatível com cirrose! O que é um líquido compatível com cirrose? Gradiente de albumina sérico de ascite maior que 1. Quanto mais alto o gradiente mais grave a hipertensão porta. Existe risco aumentado do paciente fazer PBE? Quem responde isso são as proteínas totais. Se estão < ou = 1,5 g/dL a capacidade de opsonização é reduzida. Nesse caso, se o paciente tá internado com ascite se dá antibiótico pelo risco de PBE. É um processo neoplásico? Citopatológico irá dizer, tem uma sensibilidade muito boa. TRATAMENTO • Dieta: hipossídica (permitida 2g por dia), restrição hídrica se hiponatremia severa (<120mg/dL). • Diuréticos: espironolactona 100-400 mg/d; furosemida 40-160mg/d → AUMENTAR AOUS POUCOS para evitar encefalopatia hepática ou perda de função renal. Primeiro usa só espiro e se não houver melhora clínica associa a furo. • Paracentese de alívio: retira o líquido para melhorar a condição clínica do paciente. Se retirado mais de 5 litros dar albumina para prevenir a função renal do paciente. • TIPS/Transplante hepático: tips é um shunt entre a veia hepática e veia porta, contudo aumenta o risco de encefalopatia e é uma ponte até o transplante hepático. Os objetivos do tratamento são diminuir 0,5kg/dia e menos 1kg/dia se edema periférico. As complicações que podem ocorrer são perda de função renal, encefalopatia, hipercalemia, hiponatremia e câimbras. A paracentese de alívio é para ascite tensa, ascite refratária (resistente ou intratável). Precisa administrar albumina se retirar mais de 5 litros (6- 8g/l). Quando o paciente está na fase final da cirrose com ascite refratária é preciso separar os beta bloqueadores pois os beta bloqueadores aumentam a mortalidade. Então se está com ascite refratária, o que depende muito da pressão do paciente: sistólica abaixo de 90 os betabloqueadores aumentam a mortalidade, devido a queda da reserva cardíaca, por isso é preciso retirar esses medicamentos. PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PEB) Diagnóstico: > ou = 250 PMN/mm³. Tratamento: cefalosporina de 3ª geração ou amoxi/clavulanato por 5 dias; Albumina 1,5 mg/kg no dia 1 e 1 mg/kg no dia 3 (a administração de albumina melhora da função renal); transplante hepático (TODOS com PBE devem ser encaminhados, pois há uma piora muito grande em um ano). Prevenção: controle da ascite; profilaxia primária com ceftriaxone, norfloxacina, SMZ/TMP 1x/dia se proteínas < 1,5 mg/d e cirrose Child B-C; profilaxia quando HDA. Profilaxia secundária: quando já teve PBE, bactrim por pelo menos 1 ano com melhora clínica. SÍNDROME HEPATORRENAL Perda de função renal + creatinina > 1,5 → considera-se síndrome hepatorrenal até que se prove o contrário. • TIPO I: piora rápida (<2 semanas) da função renal (>2,5 mg/dl ou aumento de 150% ou aumento > = 0,3 mg/dl do basal). • TIPO II: mesmos critérios, mas piora lenta. Tratamento: remover fator precipitante se possível; albumina 1g/kg DI, após 20-40g/d; vasoconstritores esplâncnicos (vasoconstrição do sistema porta): terlipressina (é o mais utilizado), octreotide, noradrenalina se ausência dos primeiros, pois a noradrenalina vai fazer vasoconstrição sistêmica o que prejudica ainda mais o rim que já está vasoconstrito; TIPS; transplante hepático (normalmente já está na lista). Objetivo: creatinina < 1,5. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA Estado neuropsiquiátrico reversível associado a doença hepática. Clínica: • Distúrbios da consciência • Alterações da personalidade • Deteriorização intelectual • Fala arrastada • Flopping • Reflexos tendinosos profundos exacerbados A hiperamonemia vai provocar edema dos astrócitos + ativação da micróglia + disfunção neuronal. Grau I: família percebe. Grau II: médico percebe. Grau III: sonolento sem conseguir manter diálogo. Grau IV: comatoso. Encefalopatia mínima: clinicamente ainda não apresenta encefalopatia, mas os exames já demonstram. Diagnóstico: • Avaliação neurológica • Testes psicométricos • Eletroencefalograma • Potenciais evocados • TC e RM • Líquor Tratamento: • Corrigir fator precipitante • NÃO RESTRINGIR PROTEÍNAS • Suspender diuréticos • Enemas se constipação • Lactulose 40-120ml/d ou lacilol 20-40 g/d • Se falha de resposta metronidazol (neomicina ou rifaximina) Prevenção: • Lactulose 40-120 ml/dia ou lactilol 20-40 g/d → SEMPRE CONTINUARÁ TOMANDO. TRANSPLANTE HEPÁTICO Critérios de Milão!