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119 Capítulo 4DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA DO QUE VOCÊ PRECISA SABER? u É uma IST em mais de 90% dos casos! Lembrar dos agentes causadores (Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis) e dos fatores de risco! u Atentar para os critérios clínicos para realizar o diagnóstico (dor à mobilização de colo uterino, dor à pal- pação anexial e dor em hipogástrio). u Relembrar os principais diagnósticos diferenciais. Isso é muito comum na vida prática! Você irá se lembrar desse capítulo nos plantões de Pronto-Socorro. u Para memorizar o tratamento, lembre-se da dica do Prof. Mauricio Kitamura: DIP é Coisa Do Mal. u Complicações agudas – abscesso tubo-ovariano e Síndrome Fitz-Hugh-Curtis (fase aguda) – e tardias: infertilidade, gestação ectópica, dor pélvica crônica e síndrome de Fitz-Hugh-Curtis (fase crônica). 1. DEFINIÇÃO A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma infecção do trato genital feminino superior (acima do orifício interno do colo do útero), envolvendo útero, tubas e ovários. Pode afetar também peritônio e órgãos abdominais adjacentes. A DIP pode incluir quadros de endometrite, miome- trite, salpingite, ooforite, abscesso tubo-ovariano e peritonite pélvica. Para fins de prova, geralmente vai ser considerada uma IST (infecção sexualmente transmissível). Entretanto, alguns estudos mostraram que 85% são decorrentes de ISTs. Figura 1. DIP tem acometimento acima do orifício interno do colo do útero. 2. EPIDEMIOLOGIA É frequentemente encontrada em mulheres jovens com atividade sexual desprotegida (sem uso de métodos de barreira). Infelizmente, os dados brasileiros são escassos e incompletos para termos uma amostra real da prevalência dessa doença em nosso território. Além disso, ainda é subdiagnosticada. Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 120 Uma questão muito importante é com relação às sequelas que a DIP pode deixar, como a gestação ectópica e quadros de infertilidade, além de dor pélvica crônica. Mulheres que já tiveram um episódio de DIP têm chance de 12% a 15% de ter gravidez ectópica no futuro. A taxa de infertilidade é de 12% a 50%, aumentando com o número de episódios. 3. AGENTES ETIOLÓGICOS A DIP é uma infecção polimicrobiana causada por agentes que ascenderam pelo colo do útero. Os principais agentes classicamente são Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis (isso que a prova vai cobrar). Mas a incidência deles tem sido decrescente, sendo encontradas, em alguns estudos, em 1/3 dos casos. BASES DA MEDICINA Outras bactérias anaeróbias facultativas que fazem parte da flora vaginal normal, como Gardnerella vaginalis, Hae- mophilus influenzae e Streptococcus agalactiae, também podem ser encontradas. Outros microrganismos encontra- dos são: Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma genitalium e cytomegalovirus (CMV). Menos de 15% dos casos agudos de DIP não são transmitidos sexualmente, mas associados a germes entéricos (ex.: Peptococcus, Peptoestreptococcus, Bacteroides Escherichia coli, Streptococcus agalac- tiae e Campylobacter spp.), patógenos respiratórios (ex.: Haemophilus influenzae, Streptococcus pneu- moniae, streptococos do Grupo A e Staphylococcus aureus) ou Mycoplasma e Ureaplasma que coloni- zam o trato genital inferior. Um organismo que pode ser encontrado em DIP em pacientes com DIU é o Actinomyces israelli (picuinha de prova... hehe). Quadro 1. Agentes etiológicos de DIP: causas microbiológicas. Microrganismos sexualmente transmissíveis Clamydia trachomatis Mycoplasma genitalium Neisseria gonorrhoeae Vírus e protozoários (raros) Herpes simplex virus Trichomonas vaginalis Organismos endógenos Micoplasma do trato genital: Mycoplasma genitalium Mycoplasma hominis Ureaplasma urealyticum Bactérias anaeróbicas Bacteroides spp. e fragilis Peptoestreptococcus spp. Prevotella spp. Bactérias facultativas • Escherichia coli • Gardnerella vaginalis • Haemophilus influenzae • Steptococcus spp. e agalactiae Fonte: PCDT IST 2020 Doença inflamatória pélvica Cap. 4 121 Mapa mental 1 – Introdução INFECÇÃO DO TRATO GENITAL SUPERIOR DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA podendo comprometer SÍNDROME CLÍNICA ASCENSÃO DE MICRO-ORGANISMOS Estruturas contiguas Ovários Tubas uterinas Endométrio Advindos do trato genital inferior Polimicrobianaatribuída a Espontânea Devido à manipulação DIU (controverso) Biópsia de endométrio Curetagem Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 122 4. FATORES DE RISCO Por ser uma IST (para a maior parte dos casos), ter atividade sexual sem proteção (métodos de barreira) é um dos principais fatores de risco. Alguns estudos mostram uma prevalência maior em adolescentes, pacientes com baixo nível socioe- conômico, multiplicidade de parceiros sexuais, antecedentes de outras ISTs, parceiro atual com uretrite e quadros imunossupressores. Porém, vale reforçar que qualquer paciente com atividade sexual presente tem chance de ter DIP. Considerando os casos Não IST, procedimentos que envolvam qualquer manipulação na cavidade uterina, como Histeroscopia e a Curetagem Uterina, constituem fatores de risco. 4.1. DIP E DIU Pelo Ministério da Saúde: “usuárias de dispositivo intrauterino (DIU) apresentam risco ligeiramente aumentado de DIP em comparação com mulheres que não usam contraceptivos ou que utilizam outros métodos”. Esse risco tem relação inversa com o tempo desde a inserção do DIU, sendo mais alto nos primeiros 20 dias da inserção. A exposição à IST é responsável pela ocorrência de DIP no primeiro mês de uso, e não o uso do DIU. No entanto, esse risco é reduzido nas mulheres tratadas para IST antes da inserção do DIU. 5. FISIOPATOGENIA Como já citamos anteriormente, a DIP vai aparecer após a ascensão de microrganismos pelo orifício interno do colo do útero. BASES DA MEDICINA A ascensão dos microrganismos é favorecida por varia- ções hormonais do ciclo menstrual. O muco cervical durante o fluxo menstrual tem menor efeito bacteriostático, e a menstruação retrógrada pode favorecer a ascensão dos agentes. Características imunológicas de cada indi- víduo também podem contribuir para a disseminação da infecção. Estima-se um caso de DIP para cada oito a dez casos de pacientes com cervicite. DIA A DIA MÉDICO Procedimentos que envolvam a manipulação no trato genital superior, como Curetagem, Histeroscopia e Inserção de DIU, podem propiciar essa ascensão de microrganismos. A endometrite é frequentemente a primeira manifes- tação clínica da DIP. O processo infeccioso progride em direção às tubas, à cavidade peritoneal pélvica e, quando atinge o líquido peritoneal, o agente infec- cioso pode progredir até o espaço infradiafragmático direito e promover a peri-hepatite ou a síndrome de Fitz-Hugh-Curtis. Doença inflamatória pélvica Cap. 4 123 Mapa mental 2 – Epidemiologia ↑ A sc en sã o ba ct er ia na EP ID EM IO LO G IA M en st ru aç ão re tr óg ra da Pe río do m en st ru al Ca ra ct er ís tic as im un ol óg ic as IN DI VI DU A IS Pr in ci pa is p at óg en os An te ce de nt es gi ne co ló gi co s e ob st ét ric os H is tó ric o pe ss oa l pr eg re ss o Vu ln er ab ili da de so ci oe co nô m ic a M ul he re s jo ve ns ↓ E fe ito b ac te rio st át ic o do m uc o ce rv ic al In íc io p re co ce d a at iv id ad e se xu al ↓ C ui da do s m éd ic os H áb ito s de h ig ie ne de fic ie nt es M úl tip lo s pa rc ei ro s Re la çã o se xu al de sp ro te gi da 15 – 2 4 an os Ch la m yd ia tr ac ho m at is N ei ss er ia g on or rh oe ae In se rç ão d e DI U < 20 d ia s H is te ro sc op ia Cu re ta ge m Pa rt os re ce nt es Ab or to s DI P Va gi ni te s e va gi no se s Ut ili za çã o de d uc ha s va gi na is Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 124 6. QUADRO CLÍNICO DIA A DIA MÉDICOOs sintomas mais co- muns são dor pélvica aguda (lembrar que é um quadro infeccioso agudo), que pode ser acompanhada de corrimento vaginal purulento. A depender da gravidade, pode surgir febre e queda do estado geral da paciente. Além da dor pélvica, a paciente pode referir também queixas de dispareunia (de profundidade). Alguns quadros de endometrite também podem evoluir com sangramento uterino anormal. Quadros mais graves também podem evoluir com uma peri-hepatite, formando pequenos absces- sos na superfície do fígado. Esse quadro recebe o nome de síndrome de Fitz-Hugh-Curtis. Na fase aguda, pode aparecer um exsudato purulento na superfície hepática. Na fase crônica, aparecem as aderências de “corda de violino” entre o fígado e a parede abdominal anterior. Em resumo, os sintomas mais frequentes são: X Dor pélvica: aguda ou insidiosa. X Corrimento vaginal: purulento, com ou sem odor fétido. X Disúria e dispareunia: presentes principalmente em casos insidiosos e crônicos. X Náuseas e vômitos: surgem quase sempre quan- do há acometimento peritonial (abscessos tubo- -ovarianos). X Febre e calafrios: é um sintoma inespecífico, re- lacionado à presença de abscesso. X Metrorragia: presente particularmente em 1/3 das pacientes, sendo as mais acometidas as jovens e com envolvimento endometrial. X Astenia. X Dor à mobilização uterina e palpação dos anexos. X Tensão abdominal nos quadrantes inferiores do abdome, distensão abdominal e ausência ou di- minuição dos ruídos hidroaéreos. Doença inflamatória pélvica Cap. 4 125 Mapa mental 3 – Quadro clínico Síndrome de Fitz-Hugh- Curtis Quadro clínico Complicações Agudo Insidioso / crônico Assintomático Oligossin- tomático Sintomático Início Abcesso tubo-ovariano Hidrossalpinge Cicatrizes e adesões tubárias Durante ou após a menstruação Dias ou semanas pós contato com ist Corrimento vaginal purulento Disuria e dispareunia Náuseas e vômitos Febre e calafrios Metrorragia Dor à mobilização uterina e palpação dos anexos ↓ RHA Tensão no abdome inferior Astenia Distensão abdominal Dor pélvica Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 126 7. DIAGNÓSTICO DIA A DIA MÉDICO Infelizmente, não te- mos nenhum teste definitivo e conclusivo para o diagnóstico da DIP. Nenhum achado isolado de história, exame físico ou exame laboratorial é sensível e específico o suficiente para fechar o diagnóstico de DIP. O diagnóstico não é tão simples devido à variedade de sinais e sintomas associados a essa condição. Muitas pacientes com DIP têm sintomas sutis, não específicos ou são até mesmo assintomáticas. DIA A DIA MÉDICO Vale ressaltar que o atraso no diagnóstico e tratamento contri- bui com sequelas no trato reprodutivo fe- minino. Mesmo pacientes assintomáticas estão em risco para infertilidade. Muitos episódios de DIP podem passar despercebi- dos. Apesar de alguns casos serem assintomáticos, outros não são diagnosticados porque o paciente ou o sistema de saúde falhou em reconhecer sintomas ou sinais de DIP (corrimento vaginal, sangramento anormal, dispareunia). Para piorar, temos uma grande divergência entre critérios do Ministério da Saúde (BR) e do CDC (EUA). A diferença PRINCIPAL entre os dois é que, no americano, o limiar para o diagnóstico e para o tratamento é mais BAIXO! Vão diagnosticar mais e tratar mais! Devido às dificuldades no diagnóstico e o potencial dano à saúde reprodutiva da mulher, temos que man- ter um limiar baixo para o diagnóstico da DIP. É por isso que nós da Sanar preferimos a conduta do CDC em vez do Ministério da Saúde (dica para a vida!). Para a prova de residência, temos que ficar atentos à bibliografia adotada. Vamos lá! 7.1. EXAME CLÍNICO O profissional de saúde deverá realizar a aferição dos sinais vitais, o exame abdominal completo, o exame especular vaginal e o exame bimanual. Lembrando que o exame especular vaginal deve incluir a inspeção do colo do útero para verificar se ele está friável e se existe a presença de corrimento mucopurulento cervical. Além disso, no exame bimanual, não pode faltar a mobilização do colo e palpação dos anexos. DIA A DIA MÉDICO Sangramento vaginal anormal em pouca quantidade (spotting), dispareunia, corrimento vaginal, dor pélvi- ca, dor no abdome inferior e dor à mobili- zação do colo do útero ao toque podem estar presentes na DIP. Deve-se ficar atento para a existência de spotting em pacien- tes que utilizam anticoncepcional de baixa dosagem. Esse sinal é comum e pode ser indicativo de DIP. 7.2. MINISTÉRIO DA SAÚDE O diagnóstico clínico de DIP é baseado em critérios maiores, menores e elaborados. Para a confirmação clínica de DIP, é necessária a presença de: X Três critérios maiores MAIS um critério menor OU X Um critério elaborado. 7.2.1. CRITÉRIOS MAIORES X Dor no hipogástrio. Doença inflamatória pélvica Cap. 4 127 X Dor à palpação dos anexos. X Dor à mobilização de colo uterino. 7.2.2. CRITÉRIOS MENORES X Temperatura axilar > 37,5°C ou > 38,3°C. X Conteúdo vaginal ou secreção endocervical anormal. X Massa pélvica. X Mais de cinco leucócitos por campo de imersão em material de endocérvice. X Leucocitose em sangue periférico. X Proteína C reativa ou velocidade de hemossedi- mentação (VHS) elevada. X Comprovação laboratorial de infecção cervical por gonococo, clamídia ou micoplasmas. 7.2.3. CRITÉRIOS ELABORADOS X Evidência histopatológica de endometrite. X Presença de abscesso tubo-ovariano ou de fun- do de saco de Douglas em estudo de imagem. X Laparoscopia com evidência de DIP. 7.3. CDC (EUA) O diagnóstico de DIP será confirmado nas pacientes com dor pélvica e se nenhuma outra causa para a dor tenha sido encontrada. Deve ter pelo menos um desses critérios mínimos presentes no exame físico: 7.3.1. CRITÉRIOS MÍNIMOS X Dor à mobilização cervical ou X Dor à palpação uterina ou X Dor à palpação anexial A presença de todos os três critérios mínimos para se iniciar o tratamento pode resultar em baixa sen- sibilidade para o diagnóstico da DIP. Alguns critérios adicionais podem ser pesquisados para aumentar a especificidade do diagnóstico. 7.3.2. CRITÉRIOS ADICIONAIS X Presença de clamídia ou gonococo cervical. X Corrimento mucopurulento cervical ou colo friável. X Febre (temperatura oral > 38,3°C). X PCR aumentado. X VHS aumentado. X Aumento de leucócitos em secreção vaginal. Há também os critérios mais específicos para o diagnóstico de DIP. 7.3.3. CRITÉRIOS ESPECÍFICOS X Biópsia endometrial com evidência histológica de endometrite. X Laparoscopia: achados consistentes com DIP, como hiperemia e edema de tubas, fímbrias al- teradas e aderências pélvicas. X Imagem (USGTV/TC/RM): espessamento das tubas, líquido nas tubas, abscesso tubo-ovaria- no ou doppler sugerindo infecção pélvica (hipe- remia de tubas). Figura 2. Hiperemia e edema de tuba uterina; fímbrias distorcidas. Fonte: Banco de imagens do autor. Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 128 Figura 3. Exame de USG – tuba dilatada e com conteúdo líquido em seu interior. Fonte: Acervo do autor. 8. EXAMES COMPLEMENTARES Para muitos casos, os achados de anamnese e exame físico podem fazer o diagnóstico de DIP. Sempre que possível, deve-se realizar os exames complementa- res, principalmente em casos duvidosos. Os exames laboratoriais e de imagens citados abaixo são de auxílio no diagnóstico da DIP: X Hemograma completo. X VHS. X Proteína C reativa. X Exame bacterioscópico para vaginose bacteriana. X Cultura de material de endocérvice com antibio- grama ou NAAT para N. gonorrhoeae. X Pesquisa de clamídia no material de endocérvi- ce, uretra, laparoscopia ou punção do fundo de saco posterior. X Exame qualitativo de urina e urocultura (para afastar hipótese de infecção do trato urinário). X Hemocultura. X BHCG (para afastar gravidez ectópica). X Exames de imagem: ultrassonografia pélvica transvaginal é um método acessível e não inva- sivo nodiagnóstico de complicações relaciona- das à DIP, como abscesso tubo-ovariano, além de avaliar outros diagnósticos diferenciais, como cistos ovarianos e torção de ovário. O principal achado ultrassonográfico na DIP é a presença de uma fina camada líquida preenchendo a trompa, com ou sem a presença de líquido livre na pelve. USG de abdômen total pode ser utilizada para avaliar a possibilidade de outros diagnósticos diferenciais, como apendicite. TC (tomografia computadorizada) ou RM (ressonância magné- tica) de abdômen e pelve são outros exames de imagem utilizados. X Biópsia de endométrio: para avaliar presença de endometrite (lembrar que esse resultado não é imediato). X Sorologias para sífilis, HIV, hepatite B e C. Outras ISTs podem ser pesquisadas (não necessaria- mente em pronto-socorro). Doença inflamatória pélvica Cap. 4 129 Fluxograma 1 trocartrocartrocar Sim Sim QUEIXA DE DOR ABDOMINAL BAIXA OU DOR PÉLVICA História clínica: avaliar práticas sexuais e fatores de risco para IST. Inserção de DIU ou biópsia de endométrio ou curetagem, entre outros. Uso de tampões e duchas vaginais. Vaginites e vaginoses recorrentes. Não Diagnóstico clínico de dip? (3 critérios maiores + 1 critério menor ou 1 critério elaborado) Sim Indicação de internação hospitalar? Não Iniciar tratamento ambulatorial e agendar retorno em 3 dias Coleta de material para investigação de gonococo, clamídia, tricomoníase e vaginose bacteriana Anamnese e exame ginecológico (toque vaginal e exame especular) Não Sangramento vaginal ou atraso menstrual ou parto/aborto recente? Quadro abdominal grave: defesa muscular ou dor à palpação ou temp. axilar>37,5°c ou temp. retal>38,3°c? Houve melhora em 3 dias?Não Sim Manter conduta; enfatizar adesão e tratamento Sim Referenciar Não Investigar outras causas • Realizar orientação centrada na pessoa e suas práticas sexuais. • Contribuir para que a pessoa a reconheça e minimize o próprio risco de infecção por uma IST. • Oferecer testagem para HIV, sífilis e hepatite B e C. • Oferecer vacinação para hepatite A e hepatite B, e para HPV, quando indicado. • Informar sobre a possibilidade de realizar prevenção combinada para IST/HIV/hepatites virais. • Tratar, acompanhar e orientar a pessoa e suas parcerias sexuais. • Notificar o caso, quando indicado. CRITÉRIOS MAIORES: Dor no hipogástrio; Dor à palpação dos anexos; Dor à mobilização de colo uterino. CRITÉRIOS MENORES: Temperatura axilar>37,5’C ou temperatura retal>38,3’C; Conteúdo vaginal ou secreção endocervical anormal; Massa pélvica; Mais de cinco leucócitos por campo de imersão em material de endocérvice; Leucocitose em sangue periférico; Proteína C reativa ou velocidade de hemossedimentação (VHS) elevada; Comprovação laboratorial de infecção cervical por gonococo, clamídia ou micoplasma. CRITÉRIOS ELABORADOS: Evidência histopatológica de endometrite; Presença de abscesso tubo-ovariano ou de fundo de saco de Douglas em estudo de imagem; Laparoscopia com evidência de DIP. Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 130 9. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Podem ser ginecológicos ou não: gestação ectó- pica, apendicite aguda, infecção do trato urinário, litíase ureteral, torção anexial, rotura de cisto ova- riano, endometriose, mioma degenerado ou torcido, diverticulite etc. 10. ESTADIAMENTO Existe a classificação de Monif para quadros de DIP. DIA A DIA MÉDICO Na prática, é pouquís- simo utilizado. X Estágio 1 – Endometrite e salpingite aguda sem peritonite. X Estágio 2 – Salpingite aguda com peritonite. X Estágio 3 – Salpingite aguda com oclusão tubária ou comprometimento tubo-ovariano (abscesso tubo-ovariano). X Estágio 4 – Abscesso tubo-ovariano roto com secreção purulenta na cavidade ou abscesso maior que 10 cm. 11. TRATAMENTO A antibioticoterapia deve ser iniciada o mais rápido possível, tão logo o diagnóstico presuntivo tenha sido feito, já que a prevenção de sequelas depende da administração precoce dos ATB apropriados. O tratamento deve incluir regime de ATB de amplo espectro (lembrar da flora POLIMICROBIANA) e deve obrigatoriamente ser efetivo contra o gonococo e a clamídia. A necessidade de erradicar os anaeró- bios ainda é discutível na literatura. Mas, pelo MS, cobri-los-emos! BASES DA MEDICINA A monoterapia não é recomendada na DIP devido à diver- sidade de agentes etiológicos implicados nessa condição. Com isso, a melhor conduta é a associação de antibióticos, visando cobrir Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia tracho- matis, anaeróbios (em especial, o Bacteroides fragilis), vaginose bacteriana, bactérias Gram-negativas, bactérias facultativas e estreptococos, mesmo que esses agentes não tenham sido confirmados nos exames laboratoriais. É importante saber avaliar se a paciente deve ser tratada em regime ambulatorial ou se deve ser internada. O tratamento ambulatorial aplica-se a mulheres que apresentam quadro clínico leve e exame abdominal e ginecológico sem sinais de pelviperitonite. A necessidade de hospitalização deve ser baseada em alguns critérios, como os da Ministério da Saúde: X Abscesso tubo-ovariano. X Gestação. X Estado geral grave, com náuseas, vômitos e febre. X Paciente que não conseguiu tolerar medicação por via oral em casa. X Ausência de resposta clínica após 72 horas do início do tratamento com ATB oral. X Dificuldade em exclusão de emergência cirúrgica (apendicite, gravidez ectópica). 11.1. MINISTÉRIO DA SAÚDE DIA A DIA MÉDICO Mnemônico do Prof. Kitamura para tratamento: DIP é Coisa Do Mal! C de Ceftriaxona, D de Doxiciclina e M de Metronidazol. Para lembrar pra vida! Doença inflamatória pélvica Cap. 4 131 Tabela 1. Tratamento da DIP. TRATAMENTO 1 OPÇÃO 2 OPÇÃO 3 OPÇÃO AMBULATORIAL Ceftriaxona 500 mg, IM, dose única. + Doxiciclina*, 100 mg, 1 cp, VO, 2x ao dia, por 14 dias. + Metronidazol, 250mg, 2 cp, VO, 2x ao dia, por 14 dias. Cefotaxima 500 mg, IM, dose única. + Doxiciclina*, 100 mg, 1 cp, VO, 2x ao dia, por 14 dias. + Metronidazol, 250 mg, 2 cp, VO, 2x ao dia, por 14 dias. – HOSPITALAR Ceftriaxona 1 g, EV, 1x ao dia, por 14 dias. + Doxiciclina*, 100 mg, 1 cp, VO, 2x ao dia, por 14 dias. + Metronidazol, 400 mg, EV, 2x ao dia. Clindamicina 900 mg, EV, 3x ao dia, por 14 dias. + Gentamicina, 3-5 mg/Kg/dia, 1x ao dia, IM ou EV, por 14 dias. Ampicilina/Subactam 3 g, EV, de 6/6h, por 14 dias. + Doxiciclina*, 100 mg, 1 cp, VO, 2x ao dia, por 14 dias. O uso parenteral deverá ser suspenso 24h após a cessação dos sintomas, e a continuação terapêutica antimicrobiana deve se estender até 14 dias. Orientar sobre não usar bebidas alcoólicas durante e após o uso de metronidazol para evitar efeito dissuflan (antiabuse) símile. * É contraindicada na gestação. Fonte: PCDT IST 2020 A melhora clínica das pacientes com DIP deverá acontecer após 72 horas do início do ATB. Se hou- ver piora do quadro, considerar outros exames de imagem, como ressonância nuclear magnética ou tomografia computadorizada axial, para diagnósti- cos diferenciais ou complicações de DIP. A cura é baseada no desaparecimento dos sinais e sintomas. Se a avaliação for feita com critérios bacteriológicos após trinta dias, 40% das mulhe- res ainda persistem com a presença de um ou mais agentes bacterianos, de acordo com o estudo PEACH (Pelvic Inflammatory Disease Evaluation Clinical Health Trial). A paciente deverá retornar ao ambulatório para seguimento na primeira semana após a alta hospita- lar, observando abstinência sexual até a cura clínica. 11.2. TRATAMENTO CIRÚRGICO DIA A DIA MÉDICO Mesmo com abscesso, a cirurgia não será a primeira opção! Deve ser indicado em: X Falha do tratamento clínico. X Presença de massa pélvica (abscesso) que au- menta, apesar do tratamento clínico. X Suspeita de rotura de abscesso tubo-ovariano. X Abscesso tubo-ovariano volumoso (alguns estu- dos mostramvalores > 7 cm, mas não é a con- duta do Ministério da Saúde). Nos casos de abscesso sem melhora clínica, a drenagem pode ser realizada por laparoscopia, laparotomia ou pela radiologia intervencionista (guiada por USG ou TC). Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 132 11.3. TRATAMENTO EM PACIENTES COM DIU a) Ministério da Saúde: X Não há necessidade de remoção do dispositivo, porém, caso exista indicação, a remoção não de- ve ser anterior à instituição da antibioticoterapia, devendo ser realizada somente após duas doses do esquema terapêutico. Nesses casos, orientar a paciente sobre ouso de métodos de barreira (preservativo masculino e feminino, diafragma etc.). Não recomendar duchas vaginais. b) CDC (EUA): X Não precisa ser removido. Isso só deverá aconte- cer caso a paciente não apresente melhora entre 48 e 72 horas de tratamento. 11.4. TRATAMENTO EM PACIENTES IMUNOCOMPROMETIDAS Comportamento similar às pacientes com imunidade normal, apenas com a ressalva de que desenvolvem mais facilmente abscesso tubo-ovariano, mere- cendo, portanto, maior cuidado, sem necessidade de internação. 12. SEGUIMENTO X As pacientes tratadas ambulatorialmente, ideal- mente, deveriam ser reavaliadas em 72 horas. X Deve manter abstinência sexual até o fim do tratamento. X Devem ser colhidas sorologias para IST (com consentimento). X Parceiros sexuais dos últimos 60 dias devem ser avaliados e preferencialmente tratados para cla- mídia e gonococo, sendo sintomáticos ou não. Recomenda-se ceftriaxona 500 mg IM associa- da à azitromicina 1 g VO, ambas em dose única (Ministério da Saúde). X Ministério da Saúde: Enfatizar o uso de métodos contraceptivos de barreira. 13. COMPLICAÇÕES 13.1. AGUDAS X Abscesso tubo-ovariano: é uma coleção de pus nos anexos que se desenvolve a partir de uma tentativa do organismo de conter uma salpingite. Pode surgir acompanhando uma infecção agu- da ou crônica e há maior probabilidade de sua ocorrência se o quadro for tratado tardiamente ou de maneira incompleta. A pior complicação do abcesso é o seu rompimento e a ocorrência de um possível choque séptico. X Síndrome Fitz-Hugh-Curtis (fase aguda): corres- ponde a uma peri-hepatite que causa dor no hi- pocôndrio direito e pode resultar de salpingites agudas pelo gonococo ou clamídia. X A infecção pode se tornar crônica, caracteriza- da por exacerbações e remissões intermitentes. 13.2. TARDIAS 13.2.1. INFERTILIDADE As tubas uterinas podem ter comprometimento anatômico e funcional após episódios de DIP. Uma das possíveis evoluções, além das aderências locais, seria a obstrução tubária bilateral. 13.2.2. GESTAÇÃO ECTÓPICA Também justificada pelo comprometimento tubário. DIP prévia é o principal fator de risco para um pri- meiro episódio de gestação ectópica. Doença inflamatória pélvica Cap. 4 133 13.2.3. DOR PÉLVICA CRÔNICA Surge em decorrência de aderências determinadas pelo processo infeccioso e inflamatório da DIP. Pode ser acompanhada de dispareunia de profun- didade. 13.2.4. SÍNDROME DE FITZ-HUGH-CURTIS (FASE CRÔNICA) Aderências em “corda de violino” entre a superfície hepática e a parede abdominal anterior. Figura 4. Aderências em corda de violino. Fonte: Autor. 13.2.5. HIDROSSALPINGE Geralmente assintomática, corresponde à obstru- ção das fímbrias e distensão tubária com líquido não purulento, podendo causar pressão pélvica, dor pélvica crônica, dispareunia e/ou infertilidade. Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 134 Fluxograma 2 – Para o manejo clínico de DIP do ministério da saúde Tr at o ge ni ta l s up er io r Do en ça in fla m at ór ia pé lv ic a Sí nd ro m e cl ín ic a Tr at am en to M ic ro -o rg an is m os d o tra to g en ita l i nf er io r qu e ac om et e o ca us ad a po r In íc io p re co ce d a at iv id ad e se xu al Di ag nó st ic o Es po nt ân ea De vi do à m an ip ul aç ão Do r n o hi po gá st rio M as sa p él vi ca Do r à p al p. a ne xo s Ta x> 37 ,5 °C /T re t> 38 ,3 °C Do r à m ob . d e co lo Se cr . e nd oc er vi ca l a no rm al PC R ou V H S el ev ad os H is to pa to lo gi a + pa ra e nd om et rit e In fe cç ão c om pr ov ad a Ab ce ss o tu bo -o va ria no e m im g +5 le uc /c am po e m s g pe rif ér ic o Ev id . l ap ar os co -p ic a de d ip Cr ité rio s m en or es Cr ité rio s m ai or es Cr ité rio s el ab or ad os 3 + 1 O U 1 ↑ V ul ne ra bi lid ad e so ci oe co nô m ic a An te ce de nt es gi ne co ló gi co s e ob st ét ric os H is tó ric o pe ss oa l pr eg re ss o Ca ra ct er ís tic as im un ol óg ic as in di vi du ai s M en st ru aç ão re tró gr ad a Ce ft ria xo na 5 00 m g, IM , d os e ún ic a M et ro ni da zo l 4 00 m g, IV , d e 12 /1 2h Am bu la to ria l H os pi ta la r ↓ C ui da do s m éd ic os H áb ito s de h ig ie ne d efi ci en te s M úl tip lo s pa rc ei ro s Re la çã o se xu al d es pr ot eg id a ↓ E fe ito b ac te rio st át ic o do m uc o ce rv ic al Ep id em io lo gi a M UL H ER ES J O VE N S PR IN CI PA IS P AT Ó G EN O S PE RÍ O DO M EN ST RU AL 15 – 2 4 AN O S Ch la m yd ia tr ac ho m at is N ei ss er ia g on or rh oe ae ↑ A sc en sã o ba ct er ia na Ut ili za çã o de d uc ha s va gi na is H is te ro sc op ia Pa rt os re ce nt es DI P In se rç ão d e di u < 20 d ia s Cu re ta ge m Ab or to s Va gi ni te s e va gi no se s 1ª li nh a Do xi ci cl in a 10 0m g, VO , 2 x/ di a/ 14 d ia s Do xi ci cl in a 10 0m g, VO , 2 x/ di a/ 14 d ia s M et ro ni da zo l 2 50 m g, 2 cp , V O, 2 x/ di a/ 14 d ia s Ce ft r 1 g, IV , 1x /d ia /1 4 di as 1ª li nh a Doença inflamatória pélvica Cap. 4 135 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (HOSPITAL UNIMED RIO – 2018) A doença inflamatória pél- vica (DIP) é uma síndrome que atinge inúmeras mulheres no mundo, podendo evoluir para quadros de infertilidade e gerando custos significativos para os sistemas de saúde. Em relação à DIP, entre as afirmativas abaixo, a única CORRETA é: ⮦ Os principais critérios de diagnóstico são clíni- cos (anamnese e exame físico). ⮧ Para confirmar o diagnóstico e estabelecer o tra- tamento são necessários hemograma e exame de imagem (ultrassonografia [USG], tomografia computadorizada [TC] ou ressonância magné- tica [RM]). ⮨ Se a mulher for usuária de dispositivo intrauteri- no (DIU), é consenso estabelecer a sua retirada imediata. ⮩ Os principais critérios que indicam hospitali- zação são o diagnóstico incerto, a suspeita de abscesso tubo-ovariano, quadro clínico grave e ser usuária de DIU. dificuldade: Alternativa A: CORRETA. Em geral, o diagnós- tico da DIP é CLÍNICO. Tradicionalmente, baseia-se na presença de três critérios MAIORES (dor abdomi- nal infraumbilical ou dor pélvica, dor à palpação dos anexos, dor à mobilização do colo do útero) + um critério MENOR (febre, corrimento, massa pélvica, leucocitose, PCR ou velocidade de hemossedimen- tação (VHS) elevadas, mais de 5 leucócitos p/c de imersão em secreção de endocérvice, comprovação laboratorial de infecção cervical por gonococo e cla- mídia ou micoplasma), ou na presença de apenas um critério ELABORADO (evidência histopatológica de endometrite, abscesso tubo-ovariano ou em fundo de saco de Douglas em US ou RM, VLSC com evi- dências de DIP). Alternativa B: INCORRETA. Para confirmar o diagnóstico, utiliza-se a regra descrita (3 maiores + 1 menor ou 1 elaborado). Logo, hemograma e exame de imagem (USG, TC ou RM) não são necessários, caso outros critérios estejam presentes. Alternativa C: INCORRETA. De acordo com o CDC, no diagnóstico de DIP em uma paciente usuáriade DIU, o dispositivo não precisa ser retirado de rotina; porém, na ausência de melhora clínica em 48 a 72 horas de tratamento, é autorizada a sua retirada. Para o Minis- tério da Saúde, a retirada do DIU em uma paciente com DIP também não deve ser feita de rotina, apenas se houver indicação. Nesse caso, a retirada do dis- positivo só poderá ser realizada após administração das duas primeiras doses de antibiótico. Alternativa D: INCORRETA. Critérios para indicar hospi- talização: emergências cirúrgicas; abscesso tubo-o- variano; quadro grave; DIP em gestante, em pacien- tes imunodeprimidas ou em pacientes em uso de imunossupressores; ausência de melhora com 72 horas de tratamento ambulatorial; e baixa adesão ao tratamento. Questão 2 (HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC/RS – 2009) Em relação ao uso de dispositivo intrauterino (DIU) e ao surgimento de doença inflamatória pélvica (DIP), são apresentadas as assertivas a seguir: I. A exposição a patógenos sexualmente transmis- síveis é mais importante como determinante de DIP do que o uso do DIU. Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 136 II. O maior risco de surgimento de DIP ocorre nos primeiros dias após a inserção de DIU; a seguir, a frequência de DIP é a mesma da população em geral. III. A única infecção pélvica inquestionavelmente relacionada ao uso de DIU é a actinomicose. Qual é a alternativa CORRETA? ⮦ Apenas I. ⮧ Apenas II. ⮨ Apenas III. ⮩ I e III. ⮪ I, II e III. dificuldade: Y Dica do autor: Questão sobre DIU versus DIP, assunto recorrente em provas. Assertiva I: VERDADEIRA. O risco de desenvolver DIP será bem maior se a paciente se expuser diretamen- te aos patógenos transmitidos por via sexual do que apenas ser portadora de um DIU. Mas o Ministério da Saúde afirma que o risco das pacientes com DIU em desenvolver a DIP é 3 a 5 vezes maior, considerando as pacientes COM CERVICITE. Já o CDC 2015 mostra que não há evidência consistente entre a utilização de DIU e a ocorrência de DIP. Assertiva II: VERDADEIRA. De acordo com o CDC, o ris- co aumentado de DIP só existirá nas primeiras três semanas após a inserção do DIU, podendo refletir infecção preexistente de modo a favorecer a ascen- são desses agentes patológicos. Assertiva III: VERDADEIRA. Em pacientes com DIU que apresentam DIP, devemos sempre pensar em infec- ção por Actinomyces israelii. ✔ resposta: ⮪ Questão 3 (HOSPITAL MEMORIAL ARTHUR RAMOS – 2017) Aponte a alter- nativa que NÃO é considerada uma característica da síndrome de Fitz-Hugh-Curtis. ⮦ Causada pela Neisseria gonorroeae. ⮧ É complicação grave de DST. ⮨ O tratamento de escolha é metronidazol por via oral. ⮩ As lesões são classicamente chamadas de “cor- da de violino”. dificuldade: Y Dica do autor: A síndrome de Fitz-Hugh-Cur- tis é uma complicação da DIP, causada por uma infec- ção ascendente pelo trato genital, com ascensão de gonococo e clamídia pelo orifício interno do colo do útero, sendo capaz de alcançar a cavidade peritonial; caracteriza-se por abscessos na superfície hepática. A fase aguda dessa síndrome é marcada pela pre- sença de exsudato purulento visível na cápsula de Glisson, ausência de aderências ou acometimento hepático. Já na fase crônica existirão caracteristica- mente aderências em “corda de violino” entre a parede abdominal anterior e a superfície hepática. O quadro clínico da paciente é determinado por dor pleurítica à direita e dor em hipocôndrio direito. Alternativa A: CORRETA. Tanto a Chlamydia trachoma- tis quanto a Neisseria gonorrhoeae podem causar essa síndrome. Alternativa B: CORRETA. É um quadro grave, indicando progressão de processo infeccioso que se iniciou no trato genital para outros órgãos, com repercussões importantes para a paciente, exigindo internação hospitalar. Alternativa C: INCORRETA. De acordo com o Ministé- rio da Saúde, o tratamento ambulatorial da DIP com metronidazol + ceftriaxona + doxiciclina reserva-se aos quadros leves. Nessa situação, em que há uma provável peritonite, o tratamento deve ser hospita- lar, com uso de cefoxitina (1 g, por via intravenosa, durante 14 dias) + doxiciclina (100 mg, por via oral, 2 vezes/dia, durante 14 dias) e Metroniodazol (400 mg, via intravenosa, de 12 em 12 horas). Alternativa D: CORRETA. Conforme citado acima. Questão 4 (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE TERESÓPOLIS COSTANTINO OTTAVIANO – 2017) A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma infecção dos órgãos do trato reprodutivo superior. Sobre esta, podemos afirmar que: Doença inflamatória pélvica Cap. 4 137 ⮦ Em mulheres imunossuprimidas, os sintomas da DIP são mais brandos. ⮧ Em caso de abscesso tubo-ovariano, o tratamen- to de escolha é sempre cirúrgico. ⮨ Dor pélvica crônica, hidrossalpinge e infertilidade são complicações tardias da DIP. ⮩ A quinta década de vida é o período mais comum de acometimento. ⮪ Durante o período menstrual diminuem as chan- ces de contaminação. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. Os sintomas de DIP em mulheres imunossuprimidas são os mesmos que em imunocompetentes. Mas há um risco maior de desenvolver abscessos tubo-ovarianos. Alternativa B: INCORRETA. O abscesso tubo-ovaria- no corresponde à classificação estágio 3 de Monif e tem como conduta a internação hospitalar para antibioticoterapia parenteral. O abscesso só terá indicação cirúrgica se > 10 cm, falha de tratamento clínico ou aumentando em vigência dele, ou suspei- ta de sua ruptura. Alternativa C: CORRETA. A alternativa cita três exemplos de complicações tardias. São exemplos de compli- cações precoces da DIP: abscesso tubo-ovariano, fase aguda da síndrome de Fitz-Hugh-Curtis e morte. Alternativa D: INCORRETA. A DIP é uma infecção mais comum em mulheres jovens com atividade sexual sem proteção, sendo mais prevalente entre 15 e 25 anos de idade. Aproximadamente 70% das pacien- tes acometidas apresentam faixa etária inferior a 25 anos; além disso, as adolescentes possuem risco três vezes maior de desenvolver DIP do que as pacientes acima de 25 anos. Alternativa E: INCORRETA. Durante o período mens- trual, AUMENTAM as chances de contaminação, devido a inúmeros motivos, dentre eles: abertura do colo do útero, fluidez do muco cervical determinada pela ação estrogênica e sucção do conteúdo vaginal promovida pela contratilidade uterina, facilitando as- censão de bactérias. Questão 5 (INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – 2014) Em relação ao comprometimento da tuba ute- rina em caso de infertilidade, pode-se afirmar que a doença inflamatória pélvica (DIP) leva à formação de aderências e ao comprometimento da fertiliza- ção. Diante do exposto, assinale a alternativa que apresenta uma das causas da DIP. ⮦ Clamidiose. ⮧ Tabagismo. ⮨ Herpes. ⮩ Anticorpos antibeta-hCG. ⮪ Obesidade. dificuldade: Y Resolução: Os principais agentes que cau- sam DIP são Chlamydia trachomatis e Neisseria go- norrhoeae. ✔ resposta: ⮦ Questão 6 (USP/RIBEIRÃO PRETO – 2020) Mulher 25 anos, nulípara, tabagista, última menstruação há 13 dias, procura serviço de urgência com queixa de dor em região inguinal esquerda e hipogástrio há 5 dias com piora significativa há 3h, associada a náusea, fraqueza e tontura. O exame clínico geral mostra regular esta- do geral, descorada, FC = 100 bpm, PA = 105 x 65 mmHg, T = 37,8°C. O abdome apresenta-se bastante sensível à palpação no andar inferior. Observa-se pequena quantidade de material vaginal amarelado sem odor característico. O toque vaginal é muito doloroso e não é possível fazer uma boa avaliação da região da pelve. Exames laboratoriais: 1) β-H- CG: negativo; 2) hemograma: leucócitos = 10.500/ mL, Hb = 10,1 g/dL, Ht = 37%. A imagem mais re- presentativa da ultrassonografia transvaginal está mostrada abaixo. A descrição dos achados prin- cipais está na legenda da imagem. Com base nas informações descritas, assinale a alternativa que Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 138 contemple o diagnóstico mais provávele a melhor opção terapêutica. ⮦ Abscesso tubo-ovariano; antibiótico terapia en- dovenosa hospitalar. ⮧ Corpo lúteo hemorrágico; analgesia e observa- ção hospitalar. ⮨ Torção de ovário; laparoscopia com preserva- ção do anexo. ⮩ Tumor anexial provavelmente maligno; ooforec- tomia e estadiamento. dificuldade: Y Dica do autor: O abdome agudo ginecológi- co tem 3 principais etiologias: hemorrágico, sendo composto pela gravidez ectópica rota, cisto hemor- rágico roto e endometrioma roto; inflamatório – ab- cesso tubo ovariano; e isquêmico – torção de ovário e/ou tuba e degeneração de mioma. O mais predo- minante de todos é o cisto hemorrágico, seguido de gravidez ectópica e abcesso tubo-ovariano. Muitas vezes, apenas o quadro clínico para diferenciá-los é difícil, sendo necessários exames de imagem como a USG transvaginal. Alternativa A: CORRETA. Pacientes com DIP apresen- tam risco para desenvolver abscesso tubo ovariano. Elas podem apresentar sintomas inespecíficos que dificultam o diagnóstico, mas em geral o quadro clí- nico é composto por febre, dor abdominal à palpação superficial e profunda, corrimento purulento e toque vaginal doloroso. De acordo com a classificação de Monif, o tratamento ideal para a paciente do caso, que já apresenta sinais de peritonite, é antibioticote- rapia hospitalar. Alternativa B: INCORRETA. A maior causa de abdome agudo ginecológico é o cisto hemorrágico, sendo o mais comum o do corpo lúteo. Quadro clínico ge- ralmente é inespecífico, apresentando dor leve pél- vica de início abrupto ou não, após relação sexual, podendo ser acompanhada de sinais de tenesmo e massa pélvica, o que não é característico do quadro apresentado da paciente. Alternativa C: INCORRETA. De difícil diagnóstico, pois, na maioria, o quadro clínico é inespecífico. Contudo, podem apresentar dor repentina, contínua e inespe- cífica, localizada geralmente em região inguinal que pode se estender para flanco e hipogástrio. Podem ocorrer também náuseas e vômitos. A USG revela presença de ovário de aparência sólida, aumentado de volume, com estruturas císticas na periferia e edema no estroma. Alternativa D: INCORRETA. É caracterizado por afecções que levam a um aumento do volume ovariano, como o cisto dermoide. O quadro clínico se caracteriza com dor abrupta em fossa ilíaca, podendo ser direita ou esquerda, de forte intensidade, com náuseas e vô- mitos. O diagnóstico é feito com quadro clínico, e a USG que mostra aumento anexial, que não é o caso da USG apresentada pela paciente do caso. Questão 7 (USP/SP – 2020) Paciente de 21 anos com dor abdomi- nal em hipogástrio e fossas ilíacas há 2 dias, com piora progressiva e febre medida de 38°C. Ao exa- me ginecológico apresenta conteúdo vaginal acin- zentado e bolhoso; ao toque vaginal apresenta dor à mobilização do colo uterino e aumento anexial direito de difícil caracterização em decorrência da dor. Inicia tratamento com ceftriaxone intramuscular e doxiciclina oral. Qual é o agente antimicrobiano que deve ser associado? ⮦ Metronidazol. ⮧ Amoxicilina. ⮨ Ciprofloxacino. ⮩ Eritromicina. dificuldade: Y Dica do autor: Questão clássica que sempre aparece nas provas! Mulher com quadro de dor pél- vica intensa, com sinais de irritação peritoneal (dor à palpação) e febre. Exame ginecológico evidencia Doença inflamatória pélvica Cap. 4 139 secreção anormal, dor à mobilização do colo uterino e dor intensa à palpação de anexos. Ninja, até que se prove o contrário, é DIP – Doença Inflamatória Pélvica, uma infecção do trato genital feminino su- perior (que também pode ser apontada como IST em prova, então fique ligado!). O avaliador ajudou trazendo uma paciente com quadro sugestivo, mas não é assim que ocorre na prática; o diagnóstico é difícil e há discordâncias nos critérios diagnósticos brasileiros e americanos. Vamos analisar? Resolução: Critérios do Ministério da Saúde – BR: (1) MAIORES – Dor no hipogástrio, Dor à palpação ane- xial; Dor à mobilização do colo. (2) MENORES: Temp > 37,5 ou > 38,3; Conteúdo vaginal anormal; Massa pélvica; Mais que 5 leucócitos por campo em material de endocérvice; Leucocitose em sangue periférico; PCR ou VHS aumentados; Comprovação laboratorial de infecção. (3) ELABORADOS: Evidência histopato- lógica de endometrite; Evidência de abcesso tubo-o- variano; Laparoscopia com evidência de DIP. Agora, os critérios do CDC – EUA. Respira e revisa: (I) MÍ- NIMOS: Dor à mobilização cervical, Dor à palpação uterina ou Dor à palpação anexial. (II) ADICIONAIS: Presença de clamídia ou gonococo cérvica, Corrimen- to mucopurulento ou colo friável, Temp > 38,3, PCR aumentado, VHS aumentado, aumento de leucócitos na secreção vaginal. (III) ESPECÍFICOS: Biópsia com evidência de endometrite, Laparoscopia com acha- dos de DIP (hiperemia e edema de tubas) e Imagem sugestiva (espessamento ou líquido nas tubas), ab- cesso ou sinais de infecção. Quem chegou até aqui está pensando: os critérios são tão parecidos, qual a divergência? O limiar americano é mais baixo, afinal, o diagnóstico de DIP é confirmado com Dor pélvica sem outra causa mais provável mais um dos crité- rios mínimos. De acordo com o MS, são necessários 3 critérios maiores (a nossa paciente preenche) + 1 menor ou 1 critério elaborado. A primeira opção de tratamento ambulatorial é: Ceftriaxona IM + Doxici- clina VO + Metronidazol VO. ✔ resposta: ⮦ Questão 8 (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – 2020) Mulher de 25 anos de idade vai ao pronto-socorro com dor pélvica intensa que se iniciou há 2 dias. Nega comorbidades. Utiliza, como método contraceptivo, preservativo masculino, embora faça uso irregular. Sua última menstruação ocorreu há 15 dias. Encontra-se em regular estado geral, febril (39 ºC), normotensa. Ao exame físico, observam-se sinais de irritação peri- toneal em toda região pélvica. Há conteúdo vaginal aumentado, amarelado, de odor desagradável. Ao toque, não foi possível avaliar os órgãos pélvicos por intensa dor ao tentar palpar o útero. A ultrasso- nografia pélvica mostra útero normal, ovário direito com imagem anecoica de 10 mm e ovário esquerdo normal. Com base nesses dados, suspeita-se de ⮦ apendicite aguda. ⮧ endometriose pélvica. ⮨ gravidez ectópica íntegra. ⮩ doença inflamatória pélvica aguda. ⮪ abscesso tubovariano. dificuldade: Y Dica do autor: Mulher jovem com quadro de dor pélvica intensa (aguda), febril, com sinais de irritação peritoneal (intensa dor à palpação). Exame ginecológico evidencia conteúdo amarelado (puru- lento?) e com odor desagradável, além de imagem anecoica em ovário esquerdo. Pergunta direta e objetiva: qual a suspeita? Ninja, até que se prove o contrário, é DIP – Doença Inflamatória Pélvica, uma Infecção do trato genital feminino superior (que tam- bém pode ser apontada como IST em prova). Apesar de a nossa paciente ter um quadro bem clássico, não é assim que ocorre na prática; o diagnóstico é difícil e há discordâncias nos critérios diagnósticos brasileiros e americanos. Vamos analisar? Resolução: Critérios do MS: (1) MAIORES – Dor no hipogástrio, Dor à palpação anexial; Dor à mobiliza- ção do colo. (2) MENORES: Temp > 37,5 ou > 38,3; Conteúdo vaginal anormal; Massa pélvica; Mais que 5 leucócitos por campo em material de endocérvice; Leucocitose em sangue periférico; PCR ou VHS au- mentados; Comprovação laboratorial de infecção. (3) ELABORADOS: Evidência histopatológica de endo- metrite; Evidência de abcesso tubo-ovariano; Lapa- roscopia com evidência de DIP. Agora, os critérios do CDC – EUA. Respira e revisa: (I) MÍNIMOS: Dor à mobilização cervical, Dor à palpação uterina ou Dor à palpação anexial. (II) ADICIONAIS: Presença Doença inflamatória pélvica Capítulo 4 140 de clamídia ou gonococo cervica, Corrimento mu- copurulento ou colo friável, Temp > 38,3, PCR au- mentado, VHS aumentado, aumento de leucócitos na secreção vaginal. (III) ESPECÍFICOS: Biópsia com evidência de endometrite, Laparoscopiacom acha- dos de DIP (hiperemia e edema de tubas) e Imagem sugestiva (espessamento ou líquido nas tubas), ab- cesso ou sinais de infecção. Quem chegou até aqui está pensando: os critérios são tão parecidos, qual a divergência? O limiar americano é mais baixo, afinal, o diagnóstico de DIP é confirmado com Dor pélvica sem outra causa mais provável mais um dos critérios mínimos. De acordo com o MS, são necessários 3 critérios maiores + 1 menor ou 1 critério elaborado. ✔ resposta: ⮩ Questão 9 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – 2020) Assinale a alternativa que apresenta os agentes que são considerados como agentes primários na doença inflamatória pélvica. ⮦ Gardnerella vaginalis e Mobiluncus ⮧ micoplasma e Gardnerella ⮨ clamídia e gonococo ⮩ HIV e trichomonas ⮪ bacteroides e Clostridium dificuldade: Y Dica do autor: Questão clássica de Doença Inflamatória Pélvica merece um resuminho, não acha? A DIP é uma infecção do trato genital feminino supe- rior envolvendo útero, tubas e ovários. Pode afetar também peritônio e órgãos abdominais adjacentes. Resolução: Para fins de prova, geralmente será consi- derada uma IST, causada pela Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. Atente-se para os critérios clínicos diagnósticos: dor à mobilização do colo ute- rino, dor à palpação anexial e dor em hipogástrio. A antibioticoterapia deverá ser iniciada o mais rápido possível e deve obrigatoriamente ser efetiva contra gonococo e clamídia. Você deve saber avaliar se a paciente deve ser tratada ambulatorialmente ou se deve ser internada: o tratamento aplica-se a mulheres que apresentam quadro clínico leve e exame avdo- minal e ginecológico sem sinais de pelviperitonite. ✔ resposta: ⮨ Questão 10 (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DE PERNAMBUCO – 2018) Em seu plantão de emergência, uma mulher de 20 anos foi trazida com queixa de dor pélvica há uma semana, associada à febre medida de 38,5º C. G2 P2 A0. Ao ser examinada, apresentou dor à palpação no hipo- gástrico, a mobilização do colo e ao exame da região anexial, no entanto o sinal de Blumberg foi negativo. Traz avaliação ultrassonográfica que não demons- trou achados patológicos significativos. Beta-HCG negativo e discreta leucocitose no hemograma. De acordo com o quadro acima, assinale a alternativa que indica a melhor classificação e conduta ⮦ DIPA estágio I, tratamento ambulatorial ⮧ DIPA estágio IV, tratamento cirúrgico ⮨ DIPA estágio II, tratamento hospitalar ⮩ DIPA estágio V, tratamento ambulatorial ⮪ DIPA estágio III, tratamento hospitalar dificuldade: Y Dica do autor: Dor em baixo-ventre, à mobi- lização de colo e anexos (os três critérios maiores de DIP presentes), com febre e leucocitose (dois critérios menores, sendo que um bastaria) dá o diagnóstico de DIP. Não há sinais de peritonite (descompressão brusca negativa). Resolução: Estadiamento clínico-laparoscópico da DIP: I (ausência de peritonite), II (peritonite), III (oclusão tubária ou abscesso tubo-ovariano) e IV (abscesso tubo-ovariano roto). Estádio I permite tratamento am- bulatorial, enquanto do II em diante (pela presença de peritonite) indica-se internação hospitalar. ✔ resposta: ⮦
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