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RESUMO AV1 TEORIA DA DECISÃO JURISDICIONAL E RECURSOS NO PROCESSO CIVIL – ARA 1224 1. AULA 1 – TEORIA DA DECISÃO O Código de Processo Civil estabeleceu um dever de fundamentação adequada de cariz analítico no artigo 489, §§1° e 2°, além de deveres de coerência e integridade de cariz hermenêutico para as decisões judiciais no artigo 926, caput. Embora a hermenêutica jurídica e a filosofia analítica do direito remetam a tradições filosóficas historicamente conflitantes entre si, o objetivo do estudo é a construção de pontes entre ambas as teorias e demonstrar que, unidas, poderão servir a um sistema de administração da justiça mais racional. 2. AULA 2 – PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS Este princípio integra a Ordem Constitucional, e representa uma garantia para o cidadão contra julgamentos arbitrários. De acordo com esse princípio, o juiz deve expor as razoes de seu convencimento pautado em aspectos racionais. A decisão que emana do órgão julgador deve ser fundamentada, demonstrar a verdade fática e jurídica a partir de provas produzidas sob o crivo do contraditório, a motivação das decisões judiciais permite que as partes tomem ciências dos critérios utilizados permitindo eventual impugnação. Sua aplicação proporciona segurança jurídica, pois se consolida em vários outros fundamentos constitucionais, dentre eles, o acesso a justiça, o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. Com o NCPC, tal princípio ganhou tratamento especial e positivou limites para a atuação do magistrado. O Princípio Constitucional da Motivação das Decisões Judiciais está previsto na CF, artigo 93, IX, e disciplina o seguinte: “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade [...]”. O NCPC, Lei n. 13.105/15, em seu artigo 11, disciplina que “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade”. Conforme o artigo 10, “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes a oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.” Nas palavras de Antônio Magalhães Gomes Filho: “A motivação exerce quer uma função política, quer uma garantia processual. Como função política, a motivação das decisões judiciais transcende o âmbito próprio do processo, alcançando o próprio povo em nome do qual a decisão é tomada, o que a legitima como ato típico de um regime democrático. Como garantia processual, dirige-se à dinâmica interna ou à técnica do processo, assegurando às partes um mecanismo formal de controle dos atos judiciais decisórios, de modo a atender a certas necessidades de racionalização e eficiência da atividade jurisdicional.” 3. TEORIAS REALISTAS DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA As teorias realistas da interpretação jurídica têm como principal referencia a concepção de interpretação de Hans Kelsen (Teoria Pura do Direito). Para Kelsen, um enunciado normativo do direito positivo é apenas uma moldura que permite ao seu intérprete extrair diversas interpretações, que, por sua vez, levam a diferentes propostas de normas jurídicas. As normas jurídicas são sempre o significado objetivo de um ato de vontade que aplica uma norma jurídica prevista na escala imediatamente superior do sistema jurídico. Assim, as normas legais são atos de vontade que resultam de uma escolha que os legisladores fazem entre as diversas possibilidades de interpretação de uma ou mais normas constitucionais. Uma decisão judicial constitui uma norma jurídica que é o significado objetivo de um ato de vontade do juiz, consistente na escolha de uma, entre diversas possibilidades de interpretação das normas constitucionais ou legais que incidem no caso em julgamento. O enunciado normativo do artigo 10, NCPC levará a formulação de uma norma jurídica que será então aplicada na atividade jurisdicional. Interpretando esse enunciado, ou conhecendo seus múltiplos possíveis significados. Kelsen sustentava que nada constrange a discricionariedade do juiz ao escolher as propostas interpretativas, nem mesmo os métodos de interpretação concebidos pela teoria do direito. Não existe nenhum método cientificamente objetivo e seguro que permita afirmar que métodos podem ser instituídos ou reconhecidos para interpretar um texto legal e quais dentre esses métodos devem preponderar em uma decisão judicial. O precedente deve ser uma decisão anterior, na qual haja elementos internos semelhantes, sendo que essa semelhança deve ser capaz de transcender para a decisão contemporânea, ou seja, aquela que verificará a condição de precedente da decisão passada. AULAS 3 A 6 – CRÉDITO DIGITAL 4. SENTENÇA A sentença é o ato decisório do juiz que extingue o processo, com ou sem julgamento do mérito da causa; dando fim a fase cognitiva do processo ou à fase de execução. É um dos atos mais importantes do processo, que tem como objetivo inicial a resolução do mérito da causa, visando por um fim à contestabilidade de um bem da vida mediante a atuação da lei no caso concreto. A sentença pode ter conteúdos constitutivo, condenatório ou meramente declaratório. Isso é definido conforme ela consista em simples declaração de existência ou inexistência de determinada relação jurídica ou de falsidade de documento, em uma constituição ou desconstituição de relação ou situação jurídica ou a condenação em obrigações de fazer, não fazer, entregar coisa certa ou pagar quantia. A sentença sem resolução do mérito extingue o processo, mas não obsta que a parte proponha a mesma ação novamente em momento posterior. Todavia, na forma do artigo 486, NCPC, no caso de extinção em razão de litispendência e nos casos dos incisos I, IV, VI e VII do artigo 485, a propositura da nova ação depende da correção do vicio que levou à extinção do processo sem resolução de mérito. A sentença possui elementos essenciais, quais sejam, o relatório, os fundamentos e o dispositivo, na forma do art. 489, NCPC. RELATÓRIO: deve conter os nomes das partes, a suma do pedido e da contestação e o registro de eventuais ocorrências relevantes no decorrer do processo. é a parte inicial da sentença, ou seja, não envolve ainda análise do juiz sobre as razoes do pedido ou o mérito em si. FUNDAMENTO: envolvem a análise do juiz quanto a questões de fato e de direito. Nessa segunda parte, o juiz examina e reconhece a pretensão dos litigantes, resolve as questões de fato e de direito e expõe as razoes que lhe formaram o convencimento e que o levaram ao acolhimento da tese apresentada por uma parte e a rejeição da tesa da parte contrária. Ainda na sentença, o juiz deverá apreciar de forma justificada as provas produzidas e a sua relevância para o seu convencimento. DISPOSITIVO: indica a solução jurídica imposta pelo magistrado para a resolução das questões que lhe foram postas para julgamento. Diferentemente dos fundamentos, o dispositivo refere-se apenas à questão principal submetida à apreciação do Judiciário. É o julgamento de procedência ou improcedência, em termos básicos, ou de extinção do processo sem exame de mérito, nas sentenças terminativas. O dispositivo contém, ainda, a condenação da parte vencida a pagar os honorários e as despesas que a parte vencedora antecipou, que compreendem custas processuais (no caso do autor), gastos com testemunhas, honorários de perito e honorários advocatícios. Ao juiz é vedado proferir sentença, ainda que o pedido seja genérico na forma do artigo 491, ressalvadas as hipóteses em que não for possível determinar de modo definitivo o montante devido; ou em que a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecidana sentença. De acordo com o artigo 492, é vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como a parte em quantidade superior ou objeto diverso do que foi demandado. Trata-se da vinculação do juiz ao pedido. Caso o juiz extrapole esses limites, estará proferindo sentença ultra, infra ou extra petita, todas elas passíveis de anulação pelo órgão superior. Existe a possibilidade do juiz levar em consideração fatos constitutivos, modificativos ou extintivos do direito, ocorridos depois da propositura da ação ou do oferecimento de contestação e que sejam capazes de influir no julgamento da lide, o que poderá ocorrer de oficio ou a requerimento da parte. Uma vez publicada a sentença, de acordo com os incisos do art. 494, o juiz poderá alterá-la apenas para, de oficio ou a requerimento das partes, corrigir inexatidões materiais ou erros de calculo ou por meio de embargos de declaração. A sentença pode ser publicada na audiência de instrução e julgamento ou em momento posterior. 5. EFEITOS DA SENTENÇA São aqueles que decorrem diretamente da decisão e se referem à situação jurídica controvertida, possibilitando assim que a parte vitoriosa tome as providencias executivas cabíveis, dependendo da espécie de decisão judicial (constitutiva, condenatória, declaratória). Em regra, a sentença somente produzirá efeitos sobre a esfera jurídica de quem foi parte no processo. Não obstante, é possível que efeitos reflexos atinjam terceiros que possuam relações jurídicas juridicamente conexas com aquilo que foi decidido. Ex.: extinção da relação existente entre o sublocador e o sublocatário, na hipótese de despejo daquele. A sentença poderá produzir, ainda, efeitos anexos, como é o caso da hipoteca judiciária, prevista nos §§1° a 5° do artigo 495 do NCPC. Há ainda a chamada eficácia probatória da sentença, a qual, como documento publico que é, serve como meio de prova da própria existência, bem como dos fatos nela contidos. 6. AÇÃO RESCISÓRIA A ação rescisória é uma ação própria/autônoma, que tem como finalidade desconstituir uma decisão judicial transitada em julgado (diferindo-se da apelação, pois, embora as duas ações incidam sobre decisões de mérito capazes de gerar extinção do processo, as fases e as hipóteses são diferentes. No caso da apelação, ainda não houve trânsito em julgado), que não possui mais recursos cabíveis contra. É regulada pelos artigos 966 a 975 do NCPC. HIPÓTESES DE AÇÃO RESCISÓRIA: o primeiro requisito, e mais importante para analisar a propositura de uma ação rescisória, é que exista uma decisão de mérito transitada em julgado (art. 966, NCPC). É possível notar que qualquer decisão que julgue o mérito de uma demanda pode ser rescindível se apresentadas uma das hipóteses descritas nos incisos do art. 966. No entanto, o parágrafo segundo deste mesmo artigo aponta duas situações em que o mérito não é decidido, mas cabe ação rescisória. A LEGITIMIDADE ATIVA PARA PROPOR AÇÃO RESCISÓRIA: é restrita (apenas algumas pessoas possuem legitimidade para propor). São elas: a) Própria parte que tenha sofrido algum dano decorrente da decisão a ser rescindida ou de seus sucessores (mesmo quem não tiver sido parte no processo, mas demonstra que possui interesse legítimo). Ex.: terceiro que vai suportar de forma indireta os efeitos da decisão. b) Litisconsorte: pessoa demandada juntamente com outra em juízo, figurando no processo como coautor ou corréu. c) Ministério Público em determinados casos: quando não foi ouvido em processos que era obrigatória sua intervenção, quando as partes tinham como finalidade fraudar a lei através de simulação ou colusão, ou, ainda, em casos que sua atuação seja necessária, como no interesse de incapazes. A LEGITIMIDADE PASSIVA NA AÇÃO RESCISÓRIA: todos aqueles que se beneficiaram da decisão (ou seus sucessores) que se busca a rescisão devem fazer parte da ação rescisória. É importante dizer que os réus neste caso são um litisconsórcio passivo unitário, uma vez que a decisão afetará a todos. Da mesma forma, é possível a inclusão de terceiros, em especial em caso de fraude, inserindo no processo o terceiro fraudador, mesmo que não tenha participado no processo originário. A COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA: o juiz de primeiro grau não possui competência para rescindir a própria decisão. A competência é sempre do tribunal. Essa competência é funcional absoluta, sendo certo que o tribunal julgará as ações rescisórias tanto das decisões de primeira instancia, quanto das decisões originarias do próprio tribunal. O prazo para se propor uma ação rescisória é de 2 anos a contar do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. Exceção ao prazo: artigo 975, §1°. RECURSO ADESIVO (art. 997, NCPC): tem cabimento nos casos de sucumbência das partes, como forma de desestímulo para recursos. A ideia central do recurso adesivo é que uma parte recorre somente quando a outra parte recorre também. Metaforicamente, seria como “pegar carona” no recurso do outro para tentar reformar a decisão de uma forma que melhor lhe convém. O recurso adesivo não é uma espécie de recurso propriamente dita, mas sim uma forma especial de interposição de recurso. Os casos mais recorrentes de recurso adesivo são aqueles que envolvem dano moral e dano material. Comumente, a parte autora pede a indenização por dano material e o juiz concede, mas julga improcedente o pedido por dano moral. O autor pode recorrer em busca do dano moral e o réu “pega carona” no recurso para tentar se eximir de pagar o dano material já estipulado, ou vice-versa, caso o réu recorra para não pagar o dano material, a outra parte pode buscar o dano moral não concedido em 1° grau. 7. AULA 7 – TEORIA GERAL DOS RECURSOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO (para que seja conhecido): Toda postulação se sujeita a um duplo exame do magistrado: primeiro, verifica-se se será possível o exame de conteúdo da postulação; após, e em caso de um juízo positivo no primeiro momento, examina-se a procedência ou não daquilo que se postula. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE: análise dos requisitos O objeto do juízo de admissibilidade é composto dos chamados requisitos de admissibilidade, que se classificam em dois grupos: a) Requisitos intrínsecos: concernentes à própria existência do direito de recorrer. Cabimento, legitimação, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer. a.1) Cabimento: deve ser examinado em duas dimensões, que podem ser representadas por duas perguntas: A decisão é, em tese, recorrível? Qual recurso cabível contra essa decisão? Se se interpõe o recurso adequado contra uma decisão recorrível, vence- se esse requisito intrínseco de uma admissibilidade recursal. O cabimento desdobra-se em dois elementos: a previsão legal do recurso e sua adequação: previsto o recurso em lei, cumpre verificar se ele é adequado a combater aquele tipo de decisão. Se for positiva a resposta, revela-se, então, cabível o recurso. a.2) Legitimidade: artigo 966, NCPC e Súmula 99, STJ. a.3) Interesse: O exame do interesse recursal segue a metodologia do exame do interesse de agir. Para que o recurso seja admissível, é preciso que haja utilidade (o recorrente deve esperar a situação mais vantajosa) e necessidade (que lhe seja preciso usar as vias recursais para alcançar este objetivo). Costuma-se relacionar o interesse recursal à existência de sucumbência. a.4) Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer: há fatos que não podem ocorrer para que o recurso seja admissível. São os fatos impeditivos e extintivos do direito de recorrer. Fato impeditivo: ato de que diretamente haja resultado a decisão desfavorável àquele que, depois, pretenda impugná-la. (Art. 998 e 999, NCPC). Ex.: a desistência, a renúncia aodireito sobre o que se funda a ação e o reconhecimento da procedência do pedido. Fato extintivo: a renúncia ao direito de recorrer e a aceitação. b) Requisitos extrínsecos: relativos ao modo de exercício do direito de recorrer. Tempestividade, regularidade formal e preparo. b.1) Tempestividade: artigos 1003 a 1005, NCPC. O recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei. O NPCP unificou os prazos recursais em 15 dias, ressalvado o prazo para os embargos de declaração (art. 1003, §5°, NCPC). Em razão da exigência de publicidade (artigo 93, IX, CRFB/88; artigo 8°, II e 189, NCPC), os pronunciamentos judiciais devem ser veiculados no Diário da Justiça eletrônico, permitindo o conhecimento geral das decoes tomadas e o registro do entendimento firmado pelos órgãos jurisdicionais. OBS.: O recurso interposto antes do início do prazo é tempestivo? (artigo 218, §4°, NCPC). Será considerado tempestivo o ato praticado antes do início do prazo processual. A intimação da União, Estados, Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações será realizada perante o órgão de Advocacia Pública responsável pela sua representação judicial (artigo 269, §3°, NCPC). A intimação da Advocacia Pública, da Defensoria Pública e do Ministério Público será pessoal; considera-se pessoal a intimação feita por carga, remessa ou meio eletrônico (artigo 183, §10, 180, 186, NCPC). O meio preferencial é o eletrônico (artigo 270, §único, NCPC). Também é preferencial a intimação eletrônica nos demais casos (artigo 270, caput, NCPC). Fazenda Pública (artigo 183, NCPC), e Ministério Público (artigo 180, NCPC) possuem o dobro do prazo para recorrer. A regra vale inclusive quando qualquer um deles interpuser o recurso como terceiro. As partes patrocinadas pela Defensoria Pública possuem prazo em dobro para recorrer (artigo 186, NCPC). O benefício estende-se àquele que esteja sendo patrocinado por núcleo de prática jurídica de instituição de ensino superior (pública ou privada), ou por entidade que presta serviço de assistência judiciaria, em convênio com a Defensoria Pública. Litisconsortes com advogados diferentes têm direito a prazo em dobro para recorrer (artigo 229, NCPC). Os advogados distintos devem pertencer a escritórios de advocacia diferentes. O benefício independe de requerimento e não se aplica nos casos de processo em autos eletrônicos (artigo 229, §2°, NCPC). “Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja sucumbido” (Súmula 641, STF). b.2) Regularidade formal: para que o recurso seja conhecido, é necessário, também, que preencha determinado requisitos formais que a lei exige, Deve o recorrente, sob pena de inadmissibilidade do seu recurso: a) apresentar as suas razões, impugnando especificamente os fundamentos da decisão recorrida (artigo 932, III, NCPC). b) formular o pedido recursal. c) respeitar a forma escrita para interposição do recurso (à exceção dos embargos de declaração em Juizados Especiais Cíveis, art. 49, Lei n. 9.099/95, que podem ser interpostos oralmente). O recurso deve ser subscrito por quem tenha capacidade postulatória. Mesmo no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, em que se confere à própria parte a capacidade postulatória, o recurso deve ser subscrito por Advogado (artigo 75, NCPC). b.3) Preparo: é o adiantamento das despesas relativas ao processamento do recurso. À sanção para a falta de preparo oportuno dá-se o nome de deserção. Trata-se de causa objetiva de inadmissibilidade, que prescinde de qualquer indagação quanto à vontade do omisso. (artigo 1007, NCPC). JUÍZO DE MÉRITO: análise da matéria para anulação ou reforma da decisão. O mérito do recurso é a pretensão recursal, que pode ser a de invalidação, reforma, integração ou esclarecimento (esse último exclusivo dos embargos de declaração). A causa de pedir recursal e o respectivo pedido recursal compõem o mérito do recurso. Ao acolher o pedido recursal, o órgão ad quem dá provimento ao recurso; ao negar o pedido recursal, nega provimento ou desprovê o recurso. O mérito do recurso é, em regra, sujeito a uma única apreciação (órgão ad quem). CARÁTER SUBSTITUTIVO DO JULGAMENTO PROFERIDO PELO TRIBUNAL – artigo 1008, NCPC. EFEITOS DOS RECURSOS (artigo 995, NCPC): a interposição do recurso impede o trânsito em julgado da decisão. A interposição do recurso prolonga o estado de ineficácia me que se encontrava a decisão; com o recurso, os efeitos dessa decisão não se produzem, EFEITOS SUSPENSIVOS: é aquele que provoca o impedimento da produção imediata dos efeitos da decisão que se quer impugnar. Há os recursos que possuem efeito suspensivo automático, por determinação legal. É o que acontece com a apelação (artigo 1012, NCPC) e o recurso especial ou extraordinário interposto contra decisão que julga incidente de resolução de demandas repetitivas (artigo 987, NCPC). Porém a regra é a de que o recurso não possua efeito suspensivo automático por determinação legal (artigo 995, NCPC). Cabe ao recorrente pedir o efeito suspensivo ao relator do recurso, preenchido os pressupostos legais (artigo 995, § único, NCPC). Atribuir um efeito ao recurso é consequência do juízo de mérito e só incide se este for conhecido pelo juízo, ou seja, se já tiver preenchido todos os requisitos de admissibilidade, podendo lhe ser atribuído, além de devolutivo (devolução da matéria impugnada à apreciação do Tribunal) os efeitos suspensivos, translativo, substitutivo, expansivo e regressivo: Efeito regressivo ou efeito de retratação: é que autoriza o órgão a quo rever a decisão recorrida. Efeito expansivo subjetivo (extensão subjetiva dos efeitos): em regra, a interposição do recurso produz efeitos apenas para o recorrente (princípio da personalidade do recurso). Efeito translativo: aptidão em permitir que o Tribunal examine, de ofício, matérias de ordem pública. Efeitos substitutivo: tendo sido o recurso conhecido, a decisão de mérito do recurso substitui, a decisão recorrida. Há casos, porém, em que o recurso interposto por uma parte produz efeitos em relação a outra. Ex.: o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses (artigo 1005, NCPC). COMO AGIR PARA IMPEDIR OS EFEITOS IMEDIATOS DA DECISAO RECORRIDA? Mesmo que não haja previsão expressa para o efeito suspensivo, há mecanismos processuais que possibilitam a suspensão de eventual decisão, quais sejam: probabilidade do direito; risco de dano grave ou de difícil reparação (artigo 995, § único, NCPC). 8. AULA 8 – APELAÇÃO (artigo 1009 e seguintes, NCPC) Conceito de apelação: é o recurso cabível contra sentença terminativa (quando põe fim ao processo, mas não julga o mérito) ou sentença de mérito (exceção: artigo 356, §5°, NCPC). Conceito de sentença: artigo 203, §1°, NCPC. Objetivo do recurso: o recurso de apelação visa a obtenção da reforma total ou parcial da decisão impugnada, ou mesmo sua invalidação. Objeto: a apelação é cabível de toda e qualquer sentença seja proferida em processo de conhecimento ou de execução (art. 925, NCPC), ou em qualquer tipo de rito (comum e especial) tanto em jurisdição voluntária quanto contenciosa. Legitimidade: artigo 966, NCPC. APELAÇÃO EM DECISÕES INCIDENTAIS (excluída do agravo de instrumento) O NCPC aboliu o agravo retido afastando a necessidade de interposição imediata de recurso, para impedir a preclusão, desde que a matéria incidental não conste do rol taxativo do artigo 1016, NCPC. Qual seria o recurso para essas demais decisões incidentais? Qual seria o momento? Preliminar de apelação ou contrarrazões (artigo 1009, §1°, NCPC). INTERPOSIÇÃO: Prazo: 15 dias (artigo 1003, §5°, NCPC), a contar da publicação da decisão de que se quer recorrer (artigo 1003, caput).Endereçamento: será dirigido ao órgão prolator da decisão (juízo a quo) (requisitos: artigo 1010, NCPC). Manifestações: conterá duas manifestações apresentadas em um único momento: a) Petição de Interposição: dirigida ao juízo a quo, onde a parte anuncia que vai interpor recurso. b) Razões recursais: dirigida ao Tribunal, onde o recorrente expõe os motivos do seu inconformismo, demonstra porque a decisão deve ser alterada e formula o pedido de reforma/nulidade de sentença. “Tantum devolutum quantum apelatum”: o pedido de nova decisão delimita o objeto do recurso. Apenas a matéria impugnada é transferida ao conhecimento e apreciação do tribunal. Apelação genérica: é vedado ao recorrente interpor apelação genérica. As faltas das razões do pedido de nova decisão impedem o conhecimento da apelação. Apresentação de documentos da apelação: os documentos, em regra, somente se forem destinados a provar fatos novos (artigos 435 e 1014, NCPC). Do que se recorre? Artigo 1013, NCPC. Na apelação, denunciam-se os erros ou vícios de juízo, chamados error in judicando e error in procedendo ou vícios do procedimento. Ex.: Erros de juízo (ligados ao juízo de mérito) – má valoração de uma prova acostada aos autos. Ex.: Erros de procedimento (ligados ao procedimento) – julgamento antecipado da lide quando não seria o caso (cerceamento de defesa). Consequências: Error in judicando: o acolhimento gera a substituição da sentença por um acórdão. Error in procedendo: com o acolhimento a sentença é anulada pelo Tribunal (não simplesmente substituída). Remete-se os autos à instancia inferior para que o juiz profira outra decisão. Teoria da causa madura: o Tribunal julgará desde logo a lide (artigo 1013, §§3° e 4°, NCPC). Juízo de retratação (artigos 331, 332, §3° e §7°, 485 do NCPC): não reformada a decisão, devem os autos ser remetidos ao tribunal para que seja julgada a apelação. Contrarrazões (artigo 1010, §1°, NCPC). Juízo de admissibilidade (artigo 1010, §3°, NCPC): caberá exclusivamente ao Tribunal. Cumpre ao órgão a quo tão somente processar o recurso. Ocorrendo nulidades sanáveis (artigo 938, §1°, NCPC): economia processual. Deserção (artigo 1007, NCPC): não cumprir o preparo no prazo devido (pagamento das custas recursais). Cumpre ao relator observar. EFEITOS (duplo – suspensivo e devolutivo) Efeito suspensivo: a apelação normalmente suspende os efeitos da sentença. O efeito suspensivo consiste na suspensão da eficácia natural da sentença, isto é, dos seus efeitos normais. Hipóteses em que este efeito não existirá: artigo 1012, §1°, I a VI, NCPC, que dispõe que este recurso somente será recebido no efeito devolutivo. Efeito devolutivo: ocorre quando mesmo após sua interposição, a sentença produz seus efeitos. Possibilidade de o Tribunal de Justiça julgar imediatamente o mérito da ação (artigo 1013, NCPC). Princípio da celeridade. A apelação devolverá ao Tribunal o conhecimento da matéria impugnada. Alegação de questão de fato novo na apelação (artigo 1014, NCPC): caberá ao recorrente provar não só o fato como o motivo de força maior que o impediu de argui- lo no momento processual adequado. Reformatio in pejus: a piora da situação da parte, sob o ponto de vista prático, quando ocasionada por recurso que ela mesma interpôs não é admitida (entendimento jurisprudencial). Foi omisso o CPC/15. Processamento em 2° grau: No Tribunal, a apelação será registrada e distribuída, designando-se relator (artigo 1011, NCPC), que deverá observar o artigo 992, NCPC. A apelação poderá ser decidida monocraticamente pelo próprio relator (artigo 932, III a V, NCPC). Não sendo o caso, elaborará o seu voto para julgamento (para câmara ou turma do tribunal), artigo 1011, II, NCPC. O Presidente do tribunal que designa dia para julgamento (artigo 934, NCPC). Possibilidade de sustentação oral (artigo 937, I, NCPC). AGRAVO DE INSTRUMENTO (artigos 1015 a 1020, NCPC) Conceito de Agravo: é o recurso cabível contra as decisões interlocutórias que versem sobre o artigo 1015, NCPC (rol taxativo). Conceito de decisão interlocutória (artigo 203, §2°, NCPC): é um dos atos processuais praticados pelo juiz no processo, que decide uma questão incidente sem resolução do mérito (sem dar uma solução final à lide proposta em juízo que é a característica da sentença). Cabimento de Agravo de Instrumento: O CPC/15 taxou as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento, inviabilizando, consequentemente, a interposição desse recurso contra decisões interlocutórias proferidas sobre outros assuntos. IMPORTANTE: toda decisão interlocutória proferida, mas da qual não tenha cabimento Agravo de Instrumento, não se sujeita à preclusão, podendo e devendo ser objeto de preliminar de apelação ou suas contrarrazões. Neste sentido, destaco a análise da Relatora Ministra Nancy Andrighi no Resp 1704520-MT: “Não há dúvida de que o novo CPC modificou substancialmente o regime de preclusões do processo. Pelo novo regime, apenas precluem as decisões que possuam o conteúdo descrito nas hipóteses previstas no art. 1015 do NCPC e que não tenham sido impugnadas por agravo de instrumento, ficando todas as demais questões imunizadas pelo sistema até o momento futuro – prolação da sentença – ocasião em que as questões, até então imunes, deverão ser impugnadas pela parte no recurso de apelação ou em suas contrarrazões sob pena de, a partir desse momento, tornarem-se indiscutíveis.” Prazo do agravo de instrumento: o prazo para interposição de agravo de instrumento é de 15 dias úteis, contados da data da intimação da decisão (a partir do primeiro dia útil subsequente à publicação da decisão recorrida). O agravo de instrumento é um recurso dirigido diretamente ao Tribunal de Justiça ou ao Superior Tribunal de Justiça (ad quem), a fim de reanalisar pronunciamento judicial de natureza decisória que não coloque fim ao processo (decisão interlocutória). A petição escrita deve conter: os nomes das partes; exposição dos fatos e do direito; as razões do pedido de reforma ou da invalidação da decisão; o pedido; o nome e endereço completo dos advogados das partes. Os documentos que acompanham a petição de interposição, e dão razão ao instrumento, estão previstos no artigo 1017, NCPC. Juízo de retratação (artigo 1018, NCPC): possibilita ao juiz que proferiu a decisão agravada modificar o seu entendimento, levando em consideração as razões contidas no agravo. Para isso, a parte deve comunicar ao juízo a interposição do recurso, juntando cópia do agravo de instrumento, comprovante de interposição, bem com informar as peças que seguiram com o agravo. Se o juiz reformar a decisão, o agravo perderá seu objeto e o relator o considerará prejudicado. Efeitos: o recurso de agravo de instrumento no NCPC não é dotado de efeito suspensivo automático (ope legis) ficando a critério do julgador a atribuição de efeito suspensivo ao recurso (ope judicis). Assim, distribuindo o agravo de instrumento ao tribunal, o recurso será sorteado ao relator. Ele poderá, liminarmente, atribuir efeito suspensivo ao recurso, ainda que a outra parte não tenha se manifestado, ou deferir tutela total ou parcial, comunicando de imediato ao juiz a sua decisão. AGRAVO INTERNO O artigo 994, NCPC, ao estabelecer quais os recursos cabíveis em nosso ordenamento jurídico, elenca três tipos de agravo: agravo de instrumento, agravo interno e agravo em recurso especial ou extraordinário. Cabimento do agravo interno (artigo 1021. NCPC): cabe agravo interno de toda decisão proferida pelo relator em recurso que será analisado pelo órgão colegiado. A decisão monocrática contraria a própria natureza das decisões de segundo grau, que deveriam ser colegiadas, mas que por uma questão de urgência e facilitação procedimental, o relator recebe a incumbência de decidir temporariamentepelo órgão colegiado. Diante disso, nada mais justo que, caso o jurisdicionado não concorde com a decisão do relator, tenha o direito do pronunciamento do órgão que delegou o poder de decidir a ele. Ex.: Você é advogado de um idoso que precisa de uma revisão de contrato de plano de saúde, pois este estipulou o reajuste de 100% da mensalidade quando o contratante completasse 60 anos Na inicial você pede uma tutela provisória de urgência quanto ao pedido de redução da mensalidade de acordo com os índices estipulados pela Agência Nacional de Saúde, e assim têm a liminar deferida pelo juízo de 1° grau. Considerando que a seguradora do plano de saúde ingresse com o agravo de instrumento dessa decisão que deferiu a tutela pleiteada, e que peça a imediata suspensão de seus efeitos, quem analisará de antemão esse pedido liminar é o relator. Essa decisão vale até que o órgão colegiado profira o pertinente acórdão. Neste caso, o recurso pertinente para impugnar a decisão proferida pelo relator é justamente o agravo interno. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (artigos 1022 a 1026, NCPC) Conceito: é o instrumento por meio do qual uma das partes pode pedir esclarecimentos sobre a decisão proferida. Cabimento: por meio dele é possível sanar dúvidas causadas por contradições ou obscuridades, pode-se suprir omissões ou apontar erros materiais (artigo 1022, NCPC). Portanto, os embargos de declaração garantem às partes meios de pleitear que o princípio da devida fundamentação das decisões seja seguido, requerendo: esclarecimentos de obscuridade; eliminação de contradição; preenchimento de omissão; correção de erro material. Obscuridade: uma decisão obscura é uma decisão sem clareza, ininteligível. Contradição: toda decisão deve ser coerente (bem fundamentada), os argumentos do juízo não podem ser incongruentes. Limite da contradição: o artigo 1022, NCPC, dispõe hipóteses de embargos de declaração para eliminar contradição interna (entre elementos da mesma decisão). Não se considera as contradições externas (existentes entre a decisão e outros documentos ou peças dos autos). Omissão: de acordo com o 1022, § único, NCPC, incorre omissão a decisão que: a) Não se manifeste sobre o entendimento firmado em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso (necessidade de uniformização da jurisprudência prevista no artigo 926, NCPC). b) Ou se trate de uma das condutas do artigo 489, §1°, NCPC. Erro material: erros causados por equívoco ou inexatidão, referentes a aspectos objetivos, como material ou cálculo. Não envolvem, portanto, defeitos de juízo. “A alteração da decisão para corrigir erros de cálculo ou inexatidões materiais não implica a possibilidade de o juiz proferir nova decisão ou proceder a um rejulgamento da causa. O que se permite é que o juiz possa corrigir evidentes e inequívocos enganos involuntários ou inconscientes, retratados em discrepâncias entre o que se quis afirmar e o que restou consignado no texto da decisão.” (Fredie Didier – Curso de Direito Processual Civil, 2016, página 249) Os embargos de declaração são uma das hipóteses em que o magistrado pode alterar a sentença após a sua publicação (art. 494, II, NCPC). Prazo: 5 dias (artigo 1023, NCPC). Efeito: o artigo 1026 dispõe que os embargos de declaração não possuem efeitos suspensivo, porem o §1° do mesmo artigo assevera que o efeito suspensivo pode ser concedido pelo juiz ou relator, desde que preenchidos os requisitos de existência de dano grave ou de difícil reparação. Os §§2° e 4° do mesmo artigo preveem também punição àqueles que apresentaram embargos apenas para fim de protelação. Efeitos infringentes: referem-se à capacidade modificativa do resultado (dos efeitos da sentença). De maneira geral os embargos de declaração não visam modificar os efeitos da decisão, mas sanar alguns de seus vícios. Porém, há casos em que a alteração de algum vício da decisão acarreta modificações de suas conclusões (artigo 1024, §4°, NCPC). RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL (artigo 1027 e 1028, NCPC) Conceito: tem a finalidade de garantir o duplo grau de jurisdição nos processos de competência originária dos Tribunais. Cabimento: artigo 1027, NCPC. Juízo de admissibilidade: findo o prazo de contrarrazões os autos serão remetidos ao Tribunal Superior independentemente do juízo de admissibilidade. Obs.: artigo 1028, §3° - neste caso só há um juízo de admissibilidade, que deve ser feito no juízo ad quem. Prazo: 15 dias Competência: o artigo 102, II, CRFB/88 descreve quais são os recursos ordinários julgados pelo STF. Já o artigo 105, II, CRFB/88 expõe os casos em que o STJ tem competência para julgar tal recurso. No mais, devem ser aplicadas as disposições referentes ao recurso de apelação e aquelas consignadas nos regimentos internos do STF e do STJ.
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