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Lorena Carneiro – MED 104 Teníases e Cisticercose Classificação taxonômica: • Filo: Plathyhelminthes • Classe: Cestoda • Ordem: Cyclophyllidea • Família: Taeniidae • Espécies: Taenia solium Taenia saginata OBS: Dentro da família Taeniidae, há características em comum: o corpo é em formato de fita, são hermafroditas, possuem ciclo heteroxênico. Todos os vermes dessa família usam como hospedeiro intermediário os animais vertebrados (bovinos e suínos), e é o ser humano que dissemina os ovos no ambiente, já que possuem as formas adultas no organismo. Na família Hymenolepididae há uma exceção: podem ter ciclo monoxênico. Isso favorece o espalhamento da doença. Cestoda: • a= cabeça ou escólex (com ventosas/coroas de ganchos) • b= colo ou pescoço • c= estróbilo com proglotes jovens (sem aparelho reprodutor representado, não está consolidado) • d= estróbilo com proglotes maduros (com aparelho reprodutor feminino e masculino funcionando (hermafroditas)) • e= estróbilo com proglotes grávidos (aqueles que vão conter apenas uma parte do aparelho reprodutor feminino hipertrofiado, que é o útero, repleto de ovos) OBS: Esses proglotes são unidades repetidas que, à medida que vão se desenvolvendo e evoluindo, e chegam ao auge de sua evolução, se destacam do corpo do verme, carreando com eles os ovos. Nesse caso, são chamados de proglotes grávidas, e podem ser visíveis nas fezes do hospedeiro, nas vestimentas ou região perianal, o que dá a possibilidade de um diagnóstico da presença desses vermes no organismo do indivíduo. As proglotes grávidas estão no terço final do corpo da tênia. Habitat: As formas adultas dos cestódeos vivem no tubo digestivo (intestino delgado) do hospedeiro definitivo. Necessitam viver no intestino delgado já que não possuem aparelho digestivo, o que faz com que a dependência metabólica desses vermes seja muito grande, uma vez que só conseguem absorver nutrientes. Sendo encontrados no intestino delgado, eles competem com o hospedeiro pelos nutrientes. Dessa forma, parte dos nutrientes que serão absorvidos no organismo fica no parasito. No caso das tênias, são cerca de 40% desses nutrientes. Sendo assim, algumas das características sintomatológicas é o aumento do apetite, porque o hospedeiro pode ter se alimentado bem, mas não se nutri devidamente e, ainda, não ganhará peso. As formas larvárias vivem em tecidos diversos dos hospedeiros intermediários. Lorena Carneiro – MED 104 Morfologia: Taenia solium • 2 a 3 metros (sendo que algumas podem chegar a 8 ou 9 metros); • Cabeça ligeiramente quadrangular, mas geralmente é mais globosa; • A cabeça possui 4 ventosas, que agem na fixação; • Há presença de uma coroa de ganchos em forma de foice, que serve para se prender na parede do intestino. Devido a isso, a infecção por esse parasito pode gerar sangue nas fezes do indivíduo; • Colo ou pescoço curto; • Estróbilo: podem haver de 700 a 900 proglotes – útero das proglotes gravidas com ramificações dendríticas, sendo 1/3 desses proglotes grávidos, que na Taenia solium podem conter até 80.000 ovos. Aqui possuem mais ovos em razão do ciclo ser mais trabalhoso para realizar. Só conseguimos saber se é Taenia solium ou Taenia saginata quando observamos a anatomia das alças uterinas da proglote. O comportamento da proglote somado a essa anatomia também conseguimos identificar. Pelo ovo é indistinguível. ➢ É importante observar por transparência as ramificações uterinas dessas proglotes: ▪ Se essas ramificações forem dendríticas, a proglote fica apenas com o útero nela, repleto de ovo (por isso ser chamada de proglote grávida); o aparelho reprodutor masculino e os ovários desaparecem, permanecendo apenas o útero. ▪ Se as ramificações forem dicotômicas, a tênia presente é a Taenia saginata. Em geral, as proglotes grávidas da Taenia solium saem misturadas às fezes do hospedeiro, ou imediatamente após a defecação. Taenia saginata • Tem entre 5 e 7 metros de comprimento, podendo chegar a 14 metros; • Cabeça quadrangular; • A cabeça é dotada de 4 ventosas; • Coroa de ganchos ausente; • Colo ou pescoço longo; • Estróbilo – 1000 a 2000 proglotes, sendo 1/3 proglotes grávidos, tendo útero com ramificações dicotômicas, ou seja, possuem eixo principal e secundário dicotomizados. As proglotes da Taenia saginata saem ativamente pelo ânus do indivíduo, no intervalo entre as defecações. Não tem associação direta com as fezes. Lorena Carneiro – MED 104 OBS: Ficar de cócoras, umidade e temperatura, são fatores que favorecem o deslocamento/saída dos proglotes. Existem formas, como o indivíduo ficar de cócoras em uma bacia contendo leite morno, que são usadas como tenífugos. Se eliminar todo o corpo da tênia, e a cabeça e o pescoço permanecerem fixados no intestino, em 2 ou 3 meses ela cresce novamente, através da regeneração dos proglotes. As proglotes das tênias: A função das proglotes é de reprodução. Para se reproduzirem, as tênias consomem muita energia, e por isso necessitam de bastante nutrientes do hospedeiro. Proglotes jovens, não se vê o aparelho reprodutor Proglote maduro, vê o útero em desenvolvimento, os testículos e os ovários. Pode haver autofecundação em cada proglote ou fecundação cruzada, que é quando uma proglote madura de uma extremidade do corpo toca outra proglote, trocando espermatozoide (reprodução sexuada) e aumentando a variabilidade genética. Nas ramificações dicotômicas, nota-se que em cada ramificação do eixo do útero partem duas ramificações. Nas ramificações dendríticas, não há um eixo fixo, em cada ramificação tem uma quantidade diferente de eixos extras. As proglotes da Taenia saginata saem ativamente do corpo do hospedeiro no intervalo entre as defecações (7 a 10 por dia) e podem provocar coceiras. São mais longas do que largas e suas ramificações são dicotômicas, ou seja, de seu eixo principal partem dois eixos secundários. As proglotes da Taenia solium saem do corpo do hospedeiro misturadas às suas fezes ou logo após a defecação (3 a 6 por dia), e podem passar despercebidas por esse motivo. São mais curtas e mais largas, suas ramificações são dendríticas, ou seja, do eixo principal saem ramificações desorganizadas, em quantidade menores e diferentes. Lorena Carneiro – MED 104 A análise da proglote é importante para identificar qual é o tipo de tênia presente no organismo do hospedeiro. Se o indivíduo tiver uma Taenia solium, é necessário fazer exames complementares para averiguar se ele já tem uma cisticercose ou não. Se tiver uma Taenia saginata, apenas trata-se a teníase. É necessária a realização de exames complementares, pois, apenas pelos ovos do verme, não é possível identificar qual das tênias é o parasito naquele indivíduo. Apesar de possuírem uma característica singular, os ovos não possuem diferença de uma espécie para a outra. OBS: O paciente com Taenia solium pode passar por um processo de autoinfecção interna ou externa, em que os ovos permanecem no organismo dele, ou a partir de maus hábitos de higiene os ovos retornam via oral. Assim, ele pode ter as duas doenças, a teníase em si e a cisticercose. Quando se faz o tratamento para teníase usando Praziquantel, por exemplo, o medicamento mata a tênia com muita eficiência, mas pode trazer grandes problemas quando o indivíduo tem cisticercose. Então, até para se o escolher o tratamento adequado, é necessário um diagnóstico correto de qual espécie do parasito o paciente tem, através das proglotes, para uma confirmação do caso, e não através do exame dos ovos. ➢ Proglotes jovens: são mais largos do que longos e não apresentam órgãos sexuais. ➢ Proglotes maduras: são longos e largos (podem chegar a 1 metro) e apresentam aparelhos reprodutores funcionais. ➢ Proglotes grávidos: mais longos do que largos e estão no terçofinal de toda a tênia; o útero é completamente cheio de ovos. Em um único proglote de Taenia solium pode haver 80 mil ovos. Uma pessoa que tem teníase por Taenia solium elimina cerca de 480 mil ovos por dia, contaminando o ambiente e o solo, e consequentemente os suínos que se alimentam de fezes deles mesmos e outros animais. Por esse motivo, as proglotes saem misturadas às fezes. Em cada proglote de Taenia saginata pode haver 120 mil ovos, 1.200.000 ovos por dia são eliminados, contaminando o ambiente. O bovino é seletivo, ou seja, não pastam em um raio de 1 metro de bolo fecal de nenhum animal. Por isso, as proglotes e Taenia saginata são dotadas de movimento próprio; elas saem do ânus do indivíduo com movimentos próprios, e ao caírem no solo, se deslocam para longe do local em que caíram para, então, se romperem e espalharem os ovos por todo o ambiente. Hospedeiros: ➢ Hospedeiro definitivo para ambas as espécies: humanos, onde habitam no intestino delgado. ➢ Hospedeiro intermediário da Taenia solium: natural – suínos; acidentais – macacos, cães e humanos. ➢ Hospedeiro intermediário da Taenia saginata: bovinos. Ovos: ➢ Possuem uma casca estriada. ➢ São ovos bem redondos. ➢ São bem escurecidos. ➢ No diagnóstico do parasitológico de fezes, avaliando o ovo, vem como Taenia sp, uma vez que nessa fase ainda não dá para diferenciar. ➢ Dentro deles possuem larvas chamadas de oncosfera/embrião hexacanto, que darão origem aos cisticercos depois de migrarem pelo corpo do hospedeiro intermediário. Lorena Carneiro – MED 104 Cisticerco é uma estrutura larvária, composta por uma membrana externa, que contém no seu interior um líquido que banha a cabeça do verme. A larva que fica dentro do ovo (oncosfera) eclode dentro do intestino delgado do hospedeiro intermediário, penetra na mucosa intestinal e não fica parada ali. Ela cai na corrente sanguínea e vai dispersar, e vai ter quimiotropismo por órgãos ricamente oxigenados: tecido subcutâneo e musculatura estriada, principalmente a esquelética. Chegando ali essas oncosferas, a partir das características fisiológicas desses tecidos ou dos órgãos que elas venham a atingir, vai haver a modificação de oncosfera em cisticerco. Esse cisticerco vai viver por cerca de 1 a 2 anos no hospedeiro intermediário, e quando ingerirmos esse cisticerco em meio aos tecidos contaminados, adquirimos a tênia. Enquanto o cisticerco está vivo no tecido do hospedeiro, não é atacado pelas células de defesa e anticorpos, pois seu tegumento o permite ficar invisível perante o sistema imunológico, exercendo apenas uma ação mecânica compressiva, uma vez que está crescendo sob os órgãos. No entanto, quando morre, vai ser gerado um processo inflamatório granulomatoso e posterior calcificação, e a partir desse processo inflamatório vão se desencadear os sintomas atrelados a cisticercose. Cisticercos em carne de porco. Ciclo biológico: As proglotes com ovos são eliminadas do organismo do ser humano. De cada ovo eclode uma oncosfera, que podem permanecer viáveis no solo por 1 ano. No estômago do porco ou do boi, a oncosfera resiste ao suco gástrico graças a sua casca estriada. Chegando no intestino delgado, o suco intestinal fragmenta a casca dos ovos, liberando as oncosfera, que destroem o epitélio intestinal, chegando ao tecido conjuntivo subjacente e caem na corrente circulatória. Após caírem na corrente circulatória, se instalam principalmente na musculatura estriada, pele, diafragma, do porco ou do boi. Assim, originam o Cysticercus cellulosae ou Cysticercus bovis, que sobrevivem cerca de 2 anos, após isso eles calcificam. A ingestão de uma carne mal passada ou mal cozida com cisticercos faz com que esses cisticercos se fixam ao intestino, e deem origem a uma tênia adulta. De 2 a 3 meses depois, o indivíduo já começa a expelir proglotes. Lorena Carneiro – MED 104 Teníase Patologia e Sintomatologia: É a alteração causada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da Taenia saginata, ou eventualmente das duas, no intestino delgado do homem. É uma doença que costuma ser branda. Ações do Parasito ➢ Ação tóxica alérgica: é causada pela absorção das toxinas despejadas pelo no lúmen do intestino delgado diariamente, que podem levar à cólicas intestinais, aumento do peristaltismo e crises diarreicas, dificulta a absorção de nutrientes, cefaleias, náuseas e vômitos. ➢ Hemorragias: produzidas pela Taenia solium, devido sua coroa de ganchos. ➢ Destruição do epitélio: ambas as tênias se fixam na parede do intestino, no epitélio intestinal. Ao se fixarem, a peristalse tenta empurrá-las, e elas acabam se soltando parcialmente e causando esse transtorno. ➢ Inflamação: ➢ Competição nutricional: a tênia rouba cerca de 30 a 40% dos nutrientes ingeridos diariamente pelo hospedeiro. Sintomas: ➢ Tontura, pela ação tóxica. ➢ Náuseas e vômitos, pela ação tóxica. ➢ Apetite excessivo, pela competição nutricional. ➢ Alargamento do abdômen e dores abdominais, devido a presença física do parasito, pela ação mecânica e pela toxicidade. ➢ Perda de peso, pela competição nutricional, já que uma determinada quantidade vai para a alimentação do verme. Em casos graves, as proglotes podem obstruir ductos pancreáticos e biliares, causando pancreatite. Epidemiologia Fatores que influenciam a ocorrência da teníase: ➢ Hábitos alimentares: se não possui uma alimentação com carne, a forma com que se come a carne (bem/mal passada) ➢ Deficiência ou ausência de serviço de inspeção de carne ➢ Condições precárias de higiene ➢ Criação extensiva de animais: contaminações com fezes humanas ou proglotes nas pastagens. ➢ Água e alimentos destinados à alimentação humana contaminados com dejetos humanos ➢ Disseminação de ovos de T solium por moscas e baratas: eles tiram do esgoto os ovos e levam para próximo dos animais, e podem levar para alimentos a serem ingeridos por humanos. ➢ Acidente de laboratório: quando o sujeito, eventualmente, entra em contato com ovos da T. solium. Lorena Carneiro – MED 104 Diagnósticos: ➢ Clínico: através da sintomatologia e anamnese. ➢ Laboratorial/parasitológico: pesquisa de proglotes e mais raramente de ovos nas fezes. As proglotes dão o perfil de que tênia o indivíduo tem. OBS: em geral, uma tênia que chega ao organismo do indivíduo produz substâncias químicas que bloqueiam a instalação de outras. Mas, raramente, pode acontecer de haver mais de uma. Tratamento: Várias drogas tenicidas são usadas no tratamento: ➢ Niclosamida: medicamento insolúvel na água e não absorvível pelo intestino. Praticamente não apresenta efeitos colaterais. É necessário tomar apenas líquidos, desde a véspera, e 2 gramas de Niclosamida de uma só vez em jejum, mastigando bem os comprimidos. A taxa de cura fica em torno de 90%, dependendo do grau de micronização do produto. ➢ Praziquantel: muito efetivo no tratamento das teníases, mas por ser absorvível pelo intestino, é contraindicado nos casos de cisticercoses, que podem ter seu quadro clínico agravado. Por essa razão, só se recomenda o uso contra a Taenia saginata, na dose de 5 a 10 mg/kg de peso corporal. Sua eficácia é de 96% de cura. ➢ Mebendazol: também usado somente contra Taenia saginata, na dose de 200 mg, duas vezes ao dia, durante 4 dias. ➢ Sementes de abóboras: de 200 a 400 gramas, sob a forma de decocto ou trituradas com mel, constituem um tratamento tenífugo, recomendado para criança. Além de matar o verme, promove a liberação desse verme do organismo humano. Atenção: Só a eliminação ou destruição da cabeça/escólex assegura a cura. Portanto, se ela não for encontrada nas evacuações, é necessário aguardar cerca de 4 meses para ver se as proglotes não reaparecem, exigindo novo tratamento. Cuidado: nenhum tratamento é ovicida. Cisticercose Transmissão dacisticercose humana ➢ Autoinfecção externa: ovos levados à boca a partir de maus hábitos de higiene. Quando o indivíduo tem a Taenia solium no intestino, os ovos são eliminados do seu organismo e por maus hábitos de higiene, esses ovos voltam para o indivíduo. ➢ Autoinfecção interna: vômitos ou movimento retro peristálticos fazem com quem os ovos retornem ao estômago. É uma condição gravíssima. Os ovos de Taenia solium no estômago fazem com que a oncosfera se ativa e sendo ativada, quando esse ovo chega ao intestino delgada, o larga eclode e ela interpreta que está no organismo do suíno erraticamente, reconhecendo esse indivíduo como hospedeiro intermediário. Dessa forma, ela faz seu ciclo como se fosse no organismo do suíno. Terão inúmeros cisticercos no organismo. Lorena Carneiro – MED 104 ➢ Heteroinfecção: é quando o indivíduo elimina os ovos e as proglotes junto com suas vezes, essas fezes com proglotes e ovos contamina o ambiente (verdura, alimentos, objetos, água) e esses alimentos são ingeridos por um outro indivíduo. De uma pessoa a outra. ➢ Obs: pode acontecer de a proglote se romper ainda no lúmen do intestino, deixando os ovos livres ali. No retro peristalse, eles vão para o estômago e são ativados. Quando a oncosfera chegar no intestino delgado, ela rompe a casca do ovo e faz o ciclo que faria no suíno. A autoinfecção externa é uma forma direta de contaminação. Há também uma forma de autoinfecção externa indireta, em que o indivíduo vai eliminar suas fezes e essas fezes vão contaminar objetos ou alimentos, e ele mesmo vai levar à boca, levando de volta para si. Localização dos cisticercos: Só depois de 1 a 3 dias tendo ocorrido a infecção os ovos eclodem, as oncosferas invadem a mucosa intestinal e ganham a circulação, indo para os tecidos As localizações mais frequentes, quando há raros parasitos, são: • 46% das oncosfera que caem na corrente circulatória humana e se deslocam para órgãos ricamente oxigenados se instalam nos globos oculares e anexos. Das localizações oculares, 60% ocorrem na retina ou no vítreo. • No sistema nervoso central ou periférico 41% dos cisticercos. • 6% dos cisticercos se instalam no tecido subcutâneo e pele, provocando aqueles carocinhos, se fizer uma incisão nesse local dos caroços é encontrada a larva. • 3,5% na musculatura estriada esquelética ou cardíaca. • Outros órgãos: cerca de 3,2% dos cisticercos. Comparando a cisticercose humana com a do hospedeiro intermediário natural, 46% dos cisticercos no suíno se instalam no tecido subcutâneo e cutâneo. 41% se instalam na musculatura, 6% potencialmente se instalam no globo ocular ou em outras localizações, 3,5% se instalam no sistema nervoso dos suínos. Isso acontece porque os suínos são uma presa para os humanos, então a instalação dos cisticercos no organismo do suíno, estrategicamente ocorre em partes do corpo que serão consumidas como alimento. Como o ser humano é um hospedeiro acidental, o verme não está bem adaptado para se alojar no organismo humano Lorena Carneiro – MED 104 dentro desse contexto característico, então se alojam em órgãos vitais. Determinando uma doença muito grave, é o parasitismo acidental. O homem sofre muito mais por ser o hospedeiro acidental. Na radiografia ao lado, numerosos cisticercos projetam-se sobre a imagem do esqueleto, muitos deles localizados na pele e nos músculos. O RX não é o melhor método para diagnóstico, pois só é possível visualizar os cisticercos calcificados (mortos), o que traz um grande problema para o diagnóstico, uma vez que só é possível tratar a cisticercose de forma medicamentosa se houver a identificação do cisticerco vivo. Para identificar os cisticercos vivos, é preciso uma tomografia computadorizada (identifica vivos e mortos) e a ressonância magnética. Patogenia e Sintomatologia: É a alteração causada pela presença da forma larvária da Taenia solium ou da Taenia saginata nos tecidos dos hospedeiros intermediários naturais. A cisticercose humana é provocada pelas larvas (cisticercos) da Taenia solium, que parasitam o homem como hospedeiro intermediário acidental. OBS: em todo hospedeiro acidental, a forma da doença é mais grave. Existe incompatibilidade, maior agressividade, falhas na adaptação recíproca. • De cada 100.000 pessoas no mundo/habitantes, estima-se que 100 tenham neurocisticercose e 30 tenham cisticercose ocular. • A cisticercose ocular quase sempre é percebida, por conta do tamanho que a larva pode atingir (pode chegar a 2cm), o que pode trazer consequências gravíssimas para o globo ocular do indivíduo. • A neurocisticercose nem sempre é percebida pelo indivíduo. Há muitas pessoas que possuem neurocisticercose, mas não apresentam um quadro clínico sintomatológico, não levando a um diagnóstico para a doença, mesmo após a morte do cisticerco. OBS: há dois momentos na cisticercose. O primeiro ocorre quando os cisticercos ainda estão vivos. O segundo momento ocorre quando os cisticercos morrem e se calcificam. Nesse primeiro momento, o quadro sintomatológico, em geral, é brando e o indivíduo não apresenta muitos sintomas. O cisticerco pode viver entre 6 meses e 1 ano, podendo chegar a sobreviver até 2 anos. Depois que esse cisticerco morre, ocorre um processo inflamatório poderoso, e posteriormente ocorre a calcificação desse cisticerco. Essa calcificação Lorena Carneiro – MED 104 leva a uma desestruturação da organização natural dos tecidos, o que promove um agravo da doença, trazendo consequências do que quando o cisticerco está vivo. Enquanto os cisticercos estão vivos, se o diagnóstico for feito, há tratamento medicamentoso. Quando os cisticercos morrem, há duas condutas possíveis: um procedimento cirúrgico para a remoção dos cisticercos (dependendo da área em que estejam), ou o indivíduo vai conviver com esses cisticercos se não houver sintomas; se houverem sintomas produzidos pelos cisticercos calcificados, o indivíduo terá que fazer um tratamento paliativo, usando medicamentos relacionados àqueles sintomas presentes. ➢ Patogenia: as lesões mais graves estão relacionadas à morte da larva, ao processo inflamatório e a calcificação. ➢ Sintomas: dependem da localização e da quantidade de cisticercos. Há três categorias básicas de cisticercose: a neurocisticercose (relacionada ao sistema nervoso central ou periférico), o oftalmocisticercose (relacionada aos globos oculares), e a cisticercose disseminada (há cisticercos presentes na pele, na musculatura estriada esquelética, e eventualmente no musculo cardíaco). Dentre essas modalidades, as que costumam favorecer o diagnóstico são a neurocisticercose e a oftalmocisticercose. No caso da cisticercose disseminada, se há apenas a derme afetada ou a musculatura estriada esquelética, o sujeito não terá sintomas apreciáveis para diagnóstico, que costuma ser negligenciado, e ele viverá bem com esses cisticercos. Neurocisticercose: Em geral, os indivíduos têm menos de 10 cisticercos, mas excepcionalmente, podem chegar a mais de 2000, através da autoinfecção interna. Isso porque nessa forma de infecção, as proglotes podem se romper ainda no lúmen do intestino, fazendo com que os ovos sejam despojados e, a partir de movimentos retro peristálticos, esses ovos são levados até o estômago; ao chegarem no estômago, as oncosferas são ativadas, e o ovo, ao seguir seu caminho normal até o intestino delgado, libera a larva, que vai agir no organismo do indivíduo como um hospedeiro intermediário. A localização mais frequente dos cisticercos é na leptomeninge e no córtex cerebral. As características mais marcantes da doença são: • Dores de cabeça com vômitos: geralmente essas cefaleias são holocranianas (por toda a cabeça) OBS: se o indivíduo tem uma teníase por Taenia solium e tem um quadro de cisticercose associado, ele começa a ter vômitos e, consequentemente, faz a retro peristalse. Isso fazcom que o quadro clínico se agrave, uma vez que ele vai ingerir cada vez mais cisticercos, desencadeando violentas cargas parasitárias. Lorena Carneiro – MED 104 • Ataques epileptiformes: (muito frequentes). Cerca de 30% de casos de pessoas que têm crise epileptiformes, sem história pregressa, sem histórico familiar, sendo essas crises de uma hora para a outra, está relacionado à neurocisticercose. • Delírio, alucinações. • Prostração (o indivíduo fica apático). Outros tipos/formas: • Formas convulsivas: se apresentam em metade dos casos de neurocisticercose e aparecem em adultos sem antecedentes pessoais ou familiares. Podem surgir paralisias, paresias e afasias. • Formas hipertensivas e pseudotumorais: hipertensão intracraniana e sintomas neuropsíquicos. O cisticerco exerce sob seu hospedeiro uma ação mecânica compressiva, uma vez que ele vai estar se desenvolvendo em meio aos tecidos, comprimindo-os e produzindo as lesões; além disso, exerce uma ação inflamatória; quando ele morre, gera também uma ação tóxica, que desencadeia uma série de processos. Cefaleia intensa, holocraniana, constante e com paroxismos (agravamento) ao esforço físico. Vômitos em jato; Edema da papila, causando diminuição da visão e atrofia do nervo óptico. Ataques epiléticos e convulsões; Apatia, indiferença, diminuição da atenção, estado de torpor ou agitação ocasional. • Formas psíquicas: as perturbações metais dominam o quadro clínico ou são as únicas presentes como sintomas. Elas não distinguem das apresentadas em outras psicoses, como a esquizofrenia, a mania, a melancolia, as síndromes delirantes etc., o que pode levar à uma confusão de diagnóstico. Na imagem ao lado vemos cisticercos alojados no cérebro do indivíduo. Na seta laranja o cisticerco ainda vivo Na seta azul ainda em estágio de calcificação. Na imagem ao lado vemos vários cisticercos, onde os mais claros estão vivos e os pontos escuros mostram as áreas com início de calcificação. Essa calcificação faz com que os cistos fiquem maiores do que eram inicialmente. Gerando distúrbios. Lorena Carneiro – MED 104 Oftalmocisticercose: A localização na câmara anterior do globo ocular logo chama a atenção do paciente; mas, na posterior, os sintomas são discretos, indolores e só percebidos ao interferirem com a visão central ou periférica. As formas mais graves comprometem a visão por deslocarem a retina ou por opacificarem os meios transparentes, e também pode haver dor devido à irite. As localizações orbitárias são assintomáticas ou produzem exoftalmia, desvio do globo ocular ou miosite com ptose. Das localizações oculares, 60% ocorrem na retina ou no vítreo. Cisticercose no globo ocular do indivíduo, uma larva localizada, indicada pela seta. Vermelhidão, dor, incomodo, fotos sensibilidade, estão presentes no quadro clínico. Dependendo da posição do olho aparece o nódulo (seta), formado por um cisticerco. A extração é feita por um procedimento cirúrgico simples. Sempre que haja oftalmocisticercose, é importante entrar com tratamento cirúrgico ou medicamentoso mais corticoide no acompanhamento, para evitar reações inflamatórias desproporcionais e possibilidade de quadros clínicos mais graves. A localização está causando ptose de globo ocular (o cisticerco indicado pela seta), ou seja, está deslocando a vista do indivíduo para baixo, podendo levar à ruptura desse globo ocular. Lorena Carneiro – MED 104 Cisticercose disseminada: A presença dos cisticercos no tecido subcutâneo e na musculatura esquelética não causa incomodo ou produzem apenas mialgias, fadiga muscular e câimbras. No coração, pode haver palpitações, ruídos anormais e dispneia. OBS: É sempre bom lembrar que nem sempre o paciente manifesta sintomas. Não é sempre que a oncosfera consegue chegar ao órgão e dar origem ao cisticerco, elas são combatidas pelo sistema imunológico. Quando os cisticercos se consolidam, enquanto estão vivos, eles ficam totalmente escondidos por mecanismo de escape em relação ao seu sistema imunológico. Isso permite que eles cresçam e quando morrem determinam essas lesões mais graves. E o crescimento desses cisticercos determina essa ação mecânica compressiva discutida anteriormente. Diagnóstico da neurocisticercose: Por sua raridade e pela variedade de seus quadros clínicos, que podem ser atribuídos a outras causas, em geral não se pensa nessa doença. Apenas a oftalmocisticercose (com os meios transparentes) e a cisticercose subcutânea são facilmente diagnosticadas. A origem do paciente, seus hábitos alimentares (se há consumo de carne de porco) e se foi/é portador de uma tênia devem levar a suspeita clínica. Os exames de laboratório são essenciais para o diagnóstico. ➢ Exame de fezes: procura-se as proglotes, assim como na técnica utilizada para as teníases em geral. Identificando uma proglote de Taenia solium, já leva a uma suspeita maior de que esse indivíduo, por autoinfecção interna ou externa possa estar desenvolvendo uma neurocisticercose. ➢ Exame de líquor: é o mais informativo, visto que muitas vezes a pressão está aumentada em relação a esse líquido cefalorraquidiano. O exame citológico mostra aumento de proteínas, hipercitose moderada (5-50 células/mm³), com predomínio de linfócitos, mas é a eosinofilia no líquor que tem alto significado diagnóstico. Além disso, a reação de fixação do complemento é positiva para cisticercose e as reações para sífilis são negativas. OBS: a eosinofilia sanguínea está muito relacionada com parasitos, principalmente com os helmintos. ➢ Testes imunológicos: • A Técnica de ELISA, que mostra a sensibilidade próxima de 80%. Lorena Carneiro – MED 104 • A imunoeletroforese, recomendada por não apresentar resultados falsos positivos, mas apenas 54 a 87% dos positivos. • A imunofluorescência indireta, tida por altamente específica, mas faltando-lhe a sensibilidade. • A sorologia tem como limitação maior a presença de anticorpos que nem sempre indica uma infecção atual, assim como não localiza os parasitos e pode dar reações cruzadas com outras cestoidíases. ➢ Exames radiológicos: a demonstração radiológica da cisticercose é feita pelo encontro dos nódulos calcificados, com aspectos mais ou menos característicos, ou seja, quando os cisticercos estão mortos. • Pela tomografia computadorizada ou pela ressonância magnética é possível identificar cisticercos vivos e cisticercos mortos/calcificados. As imagens abaixo mostram tomografias computadorizadas de crânio de pacientes com neurocisticercose. Imagem A: paciente com cisticercos vivos (esses pontos claros), três dos quais situados nos lobos frontais (área circulares claras e com escólex bem visível). Os pontinhos pretos nas áreas circulares brancas, são os escólex do verme, que ficam bem evidentes por ser a coroa de ganchos. Por apresentar hipertensão intracraniana, foi implantada uma válvula de derivação intraventricular-peritoneal, visível na região póstero lateral da cabeça (lado esquerdo) Imagem B: caso com vários cisticercos vivos (áreas circulares claras) e outros calcificados (manchas negras). Imagem C: cérebro com um grande número de cisticercos calcificados. Lorena Carneiro – MED 104 Tratamento da cisticercose: • A neurocirurgia dependendo do número e localização dos cisticercos. • Na cisticercose ocular, a cirurgia não oferece dificuldades quando o parasito se encontra na câmara anterior do olho, ou em situação subconjuntival ou subcutânea. No caso da câmara posterior, o caso já é mais grave, tendo risco de comprometer a visão. • A quimioterapia é feita com Praziquantel (contraindicado na oftalmocisticercose) juntamente com corticoides (dexametasona) ou com albendazol. Esses medicamentos penetram rapidamente no líquor e lentamente nos cisticercos. • A tolerânciaao tratamento é boa em 80% dos casos. Nos demais, aparecem sintomas atribuídos à reação dos pacientes aos produtos dos cisticercos mortos. • Em alguns casos ocorre hipertensão aguda intracraniana por edema cerebral, que exige cuidados de urgência. • Todo tratamento deve ser feito com paciente internado em uma enfermaria de Clínica Neurológica e sob estrita vigilância médica, mesmo por alguns dias após terminada a medicação. • Pacientes assintomáticos ou com cisticercos mortos não devem ser tratados. Profilaxia e controle da cisticercose • A profilaxia da cisticercose humana é essencialmente a da prevenção e do controle dos casos de teníase por Taenia solium. • A educação sanitária deve alertar as pessoas para o perigo de consumir carne crua ou mal cozida, assim como a carne que não passou pelo controle sanitário. Além disso, deve se ensinar às pessoas como reconhecer a eliminação de proglotes, ensinar sobre higiene pessoal, a não levarem a mão à boca sem lavá-la previamente, lavá-la após o uso do sanitário, a higienizarem bem as frutas, verduras e legumes. • Lembrar que as mãos sujas dos portadores de teníase e certas práticas sexuais com portadores podem levar à ingestão de ovos de Taenia solium e causar cisticercose no portador da teníase ou em seus próximos.