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Meios Alternativos de Soluções de Conflitos Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Tercius Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesari A Conciliação • A Conciliação; • Princípios da Conciliação; • O Que Pode Ser Conciliado; • Conciliação no Direito Penal; • A Conciliação no Direito do Trabalho; • A Conciliação no Direito do Consumidor. • Entender o que vem a ser a “Conciliação” como Meio Alternativo de Solução de Confl itos; • Conhecer seu conceito e princípios, fundamentais para sua aplicação, bem como a importância dela na pacifi cação dos confl itos; • Ver os principais Ramos do Direito em que o uso da ferramenta da conciliação tem obtido grande sucesso. OBJETIVO DE APRENDIZADO A Conciliação Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE A Conciliação A Conciliação A conciliação, há muito tempo, tem feito parte da história jurídica do Direito brasileiro. Para se ter uma ideia, a primeira Constituição brasileira, de 1824, pre- via que, em certas proposituras processuais, o autor deveria ter demonstrado que havia feito tentativas de promover uma tentativa de reconciliação. A mencionada norma previa, em seu Artigo 161: Artigo 161. Sem fazer constar que se tem intentado o meio de reconcilia- ção, não se começará processo algum. A ideia que impera com relação à conciliação é de ser ela a melhor forma para so- lução dos conflitos, pois dará origem a um ajuste feito pelas próprias partes envolvidas. Complementando, a conciliação se trata de uma forma de solução de conflito, em que as partes conflitantes, por intermédio de uma terceira pessoa, irão resolver o conflito. A palavra conciliação tem por significado: [...] o ato ou efeito de conciliar; que nada mais é que um ajuste, um acordo ou uma harmonização (SANTOS, 2001, p.167). Neste ponto, quanto ao significado da conciliação, vale apresentar um conceito de Petrônio Calmon. Veja a seguir. [...] Atividade desenvolvida para incentivar, facilitar e auxiliar as partes a se autocomporem, adotando metodologia que permite a apresentação de proposição por parte do conciliador, ou seja, é um mecanismo que tem como objetivo a obtenção da autocomposição com o auxílio e o incentivo de um terceiro imparcial (CALMON, 2007, p.133) O terceiro que participa da conciliação recebe a denominação de “conciliador”. Trata-se de uma pessoa capacitada, que atuará com o uso de técnicas adequadas, promovendo a facilitação de um Acordo. O conciliador deve gerar um ambiente de entendimento, permitindo que as partes se aproximem em seus interesses e solucionem o conflito. Quanto a ele, podemos afirmar que seu papel nada mais é do que fazer a justiça acontecer. Nas palavras de Eduardo Britar, podemos sintetizar: [...] a solução de conflitos que decorrem do desentendimento humano pode dar-se por força da ética ou por força do Direito, que pode intervir para pacificar as relações humanas. 8 9 O conciliador faz com que a justiça efetivamente brote de um conflito, evitando o desgaste que um Processo Judicial pode vir a causar entre as partes. Atualmente, pode-se dizer que a conciliação tem sido um importante instrumen- to de uso, seja da magistratura, seja do Ministério Público, seja dos advogados de modo geral. Ela garante celeridade na solução de conflitos, que não é vista no Processo Ju- dicial, de modo geral, ante a demora nas decisões que o instrumento processual propicia, vez que a ausência do número adequado de magistrados, serventuários da justiça e infraestrutura dos órgãos do Poder Judiciário causam grande morosidade nos processos, o que leva o acesso à justiça pela via processual a não ser a melhor forma de solução dos conflitos, o que não quer dizer que não seja eficaz. Obviamente, não se pode colocar os meios alternativos de solução de confli- to como a única modalidade de aplicação na solução de uma “lide” (conflito de interesse), pois, em várias situações, a solução “mais pacífica” do conflito não acontece, o que sem dúvida faz com que a ação do Poder Judiciário, como parte do Estado, seja a alternativa de reestabelecer a ordem legal, decidindo de forma impositiva sobre os conflitos de interesse. Podemos afirmar que a conciliação produz grande economia, não só processual, mas, inclusive, emocional das partes envolvidas num conflito. O conciliador tem papel fundamental na pacificação social, vez que ele deve, por meio de postura neutra e também imparcial, conduzir com técnica a comuni- cação entre as partes conflitantes, identificando os pontos sensíveis nesta relação, e estabelecendo a possibilidade das próprias partes reconhecerem a possibilidade de comporem uma solução para o conflito. Durante a relação conflituosa, é importante o conciliador demonstrar a possibili- dade de pacificação, bem como que esta oferece aos conflitantes ganhos múltiplos, o que na maioria das vezes não será possível num Processo Judicial. Diante de uma conciliação, cada conflitante cede parte de seus direitos, o que torna possível alcançar um resultado positivo. Para sabermos sobre a necessidade atual do instituto, vejamos o que nos trazem os parágrafos 2º e 3º do Artigo 3º do Código de Processo Civil: Art 3º [...] § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do Processo Judicial. 9 UNIDADE A Conciliação Imaginemos um contrato de aluguel, no qual o inquilino está sendo cobrado pela Imobiliária que administra o imóvel, pelo não pagamento em determinado mês, quando o inquilino afirma de forma contrária, que o aluguel foi pago regularmente na data de vencimento. A Imobiliária não aceita, pois não tem confirmação do Banco que efetua a cobrança. Deste impasse, surge uma lide, que pode chegar a uma demanda judicial, diante do conflito. Obviamente, o caminho da conciliação está aberto, pois é possível às partes, conduzidas por um terceiro, ainda que durante o Processo, perceberem que se pode demonstrar que o pagamento foi efetuado, segundo, por exemplo,um comprovante de transferência bancária feita, excepcionalmente, naquele mês pelo inquilino, em conta da Imobiliária, que foi notificada por e-mail, e que, por um problema ou outro, acabou não acessando. Assim, o conflito foi resolvido pelas partes, por intermédio de um diálogo. Princípios da Conciliação Antes de tratarmos sobre os princípios específicos da conciliação, vale à pena sabermos o que são princípios. Podemos entender um princípio como um fundamento central de uma determi- nada Área do Conhecimento. O objetivo do princípio é servir ao intérprete de determinada Área do conheci- mento e de todos os fundamentos que a integram, permitindo seu estudo e aplicação. Vejamos o que dispõe o Artigo 166 do atual Código de Processo Civil: Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confiden- cialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada. Vamos conhecer estes princípios. Princípio da Independência Por se tratar de um Auxiliar da Justiça, o conciliador absorve parte da indepen- dência que tem o Poder Judiciário, a ponto de não poder, em seu exercício de ati- vidade de promover a composição do conflito entre as partes, sofrer qualquer tipo de pressão, de qualquer pessoa, inclusive do juiz. Deve ter plena liberdade de conduzir a conciliação, com o emprego das técnicas nas quais foi habilitado. 10 11 Princípio da Imparcialidade do Conciliador Este princípio é fundamental, pois, como seria possível conduzir um processo de conciliação, que tem por objetivo fazer justiça, por intermédio de um conciliador que demonstre ou do qual se tenha pequena suspeita de ser tendencioso. Essa questão, fez com que o próprio Código de Processo Civil estipulasse que cabem ao Conciliador as mesmas regras de suspeição e impedimento que são ca- bíveis a um juiz. Por impedimento podemos entender que existe uma situação objetiva, que põe em risco ou em dúvida a imparcialidade do conciliador, como, por exemplo, ele ter servido de advogado de uma das partes, em qualquer momento. No caso da suspeição, esta tem caráter subjetivo, como, por exemplo, ter o con- ciliador uma relação de amizade íntima com qualquer uma das partes. Todas as hipóteses de impedimento e suspeição podem ser encontradas, respec- tivamente, nos Artigos 144 e 145 do atual Código de Processo Civil. Princípio da Autonomia da Vontade Por este princípio, fica assegurada às partes a manifestação do desejo ou não de participar da conciliação. Caso venham a participar, podem demonstrar quais pontos do conflito desejam comumente abordar. Pela autonomia da vontade, as partes podem, inclusive, decidir pelo não prosse- guimento da conciliação e partir para outra forma de solução do conflito. Mas, pela autonomia que têm, as partes podem en- contrar a melhor solução co- mum para o fim do conflito. Com relação a esse princí- pio e sua importância, pode- -se afirmar que em momento algum do processo de con- ciliação, qualquer uma das partes pode ser coagida a decidir, sob pena de produ- zir uma nulidade no procedi- mento conciliatório. Figura 1 Fonte: Pixabay 11 UNIDADE A Conciliação Princípio da Confidencialidade Pelo Princípio da Confidencialidade, também conhecido como Princípio do Si- gilo, o conciliador está impedido de expor fora do ambiente da conciliação tudo que presenciou, na tentativa ou na composição efetiva do conflito. Esse princípio também atinge as partes do conflito. A ideia é de que as partes e o conciliador fiquem à vontade para compor o con- flito, dando segurança a eles, no sentido de que o que foi tratado nas audiências de conciliação fique reservado exclusivamente a elas. Para tanto, o que foi discutido e tratado de modo periférico a uma composição fica restrito ao ambiente da conciliação, não sendo possível utilizar como argumen- to ou prova em um eventual Processo Judicial. Com relação ao conciliador, ele está impedido de participar na condição de testemunha numa eventual demanda judicial. Para garantia desse sigilo, vejamos o que diz o Artigo 448 do Código de Processo Civil brasileiro. Art. 448. A testemunha não é obrigada a depor sobre fatos: (...) II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo. Princípio da Oralidade Sem dúvida, a solução de conflitos pela oralidade é uma das formas mais antigas na História, pois, a partir do momento em que o ser humano iniciou a comuni- cação oral, que vem bem antes da escrita, os conflitos já eram resolvidos pelas palavras que, muitas vezes, associadas ao emprego da força impunham decisões aos conflitos. Assim, a troca de informações propiciada pela comunicação verbal é uma forma de demonstrar posições, que podem se transformar num mecanismo de solução dos conflitos. Dessa forma, com o em- prego de uma comunicação oral, é possível ao conciliador estabelecer o diálogo entre as partes, e este tem boas chan- ces de elas comporem e finda- rem um conflito, que somente ao final será reduzido a termo, tornando-se título-executivo entre as partes, que efetiva- mente se dará após a homo- logação da decisão pelo juiz. Figura 1 Fonte: Pixabay 12 13 A oralidade traz economia processual de tempo e desgastes, pois somente a decisão final será formalizada. Princípio da Informalidade Não existe uma forma específica de se conduzir uma conciliação; o que temos é o emprego de técnicas, por parte do conciliador, em conduzir as comunicações entre as partes, a fim de que elas promovam, com o ajuste de seus interesses e posições, uma solução, por intermédio da composição de um conflito de interesses que existe entre elas. Princípio da Decisão Informada Cabe ao conciliador, durante a condução da composição do conflito, informar as partes conflitantes sobre as consequências de suas decisões, para que não possa ser alegado posteriormente, por qualquer uma delas, o desconhecimento sobre as implicações das posturas assumidas, sobretudo, sob o aspecto jurídico. Não pode existir qualquer espanto, simbolizado pela expressão: “Ah eu não sabia! Ninguém me falou”. O Que Pode Ser Conciliado Podem ser objeto de conciliação qualquer Direito que seja disponível ou indispo- nível, mas que possa ser transacionado. Podem ser objeto de conciliação direitos pertinentes à discussão de pensão ali- mentícia, à guarda de filhos, a acidentes de trânsito, a questões ou a avenças entre vizinhos, a qualquer forma de dano moral, a dívidas bancárias, a dívidas com car- tões de crédito, a discussão de direitos trabalhistas e muito mais. Atualmente, no Brasil, temos mais de sessenta milhões de pessoas endividadas, sendo a maior parte delas com dívidas de cartão de crédito, até por que deixar de pagar as faturas do cartão de crédito, ou utilizar o sistema rotativo de pagamento, levam as pessoas a uma verdadeira calamidade fi nanceira. Os juros dos cartões de crédito chegam em média ao valor de 436% ao ano, o que torna o pagamento muitas vezes impossível. Assim, a tentativa de conciliação e a produção de um acordo extrajudicial é uma boa saída para a solução de um confl ito, que existe entre o inadimplente da fatura de cartão e a Empresa que concede o crédito. Essa conciliação irá buscar, por exemplo, a possibilidade de a Empresa do cartão receber no todo ou em parte a sua dívida, e o devedor fi car livre dela. A conciliação pode ocorrer de duas formas: extrajudicial e judicial. Vamos entendê-las! 13 UNIDADE A Conciliação Como o próprio nome diz, a conciliação extrajudicial, denominada também pré-processual, ocorre fora de um processo. Aqui, as partes conduzidas por um conciliador promovem uma transação de direitos. Esses direitos são transcritos em um termo e encaminhados a um juiz de direito que, concordando, quanto à forma e à legalidade em que se deu a conciliação, homologa a composição do conflito, que passa a ser obrigatória entre as partes, ou seja, torna-se exigível, pois se trata agora de um título executivoextrajudicial. Por outro lado, temos a conciliação judicial, também chamada de endoproces- sual. Nessa espécie de conciliação, o processo já existe; entretanto, mesmo assim, existirá a possibilidade de conciliar. O papel de conciliador pode ser exercido pelo próprio juiz, ou por pessoa habi- litada e certificada para exercer as funções de conciliador. Com a conquista de um Acordo, o Processo finda, com uma decisão do juiz, que põe fim ao conflito, obrigando-se as partes pela decisão que tomada, pois trata-se de um titulo executivo judicial, que pode ser exigido na forma da Lei. Vejamos o que dispõe o atual Código de Processo Civil sobre a conciliação judi- cial, em seu artigo 334. Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. § 1º O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência de conciliação ou de mediação, observando o disposto neste Código, bem como as disposições da lei de organização judiciária. § 2º Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à me- diação, não podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde que necessárias à composição das partes. Vamos fazer algumas explicações para o esclarecimento dos termos utilizados, no texto do Artigo destacado. Quando o Artigo fala de Petição Inicial, ele está se referindo a um documento elaborado por um advogado a um juiz de direito, que seja competente para apreciar aquele pedido. Podemos dizer que a Petição Inicial é um pedido do reconhecimento de deter- minado direito, que a parte defendida por aquele advogado requer. Ao falar de “improcedência liminar do pedido”, o Artigo de Lei trata do inde- ferimento do pedido, ou seja, o juiz não o recebe, pois deixou de observar certos formalismos ou requisitos que devem fazer parte de sua Petição e são exigidos pela Lei. 14 15 A tentativa de conciliação prevista na lei somente não será realizada em duas hipóteses: 1. Quando se tratar de um direito indisponível, ou seja, um direito que em razão de sua natureza não pode ser disposto pelas partes. Tais como: • a vida; • a liberdade; • a saúde; • a imagem. Todos esses são encontrados e protegidos na Constituição Federal; 2. Outra possibilidade de não existir a tentativa de conciliação é quando as partes envolvidas no confl ito que, num Processo Judicial, podem ser denominadas autor e réu, manifestarem que não têm interesse em promover qualquer conciliação ou diálogo, e se submetem à decisão do juiz. Como fica demonstrado, as relações conflituosas entre as pessoas, com exceção dos denominados direitos constitucionais indisponíveis, poderão ser a qualquer mo- mento (antes ou durante um Processo) objeto de uma conciliação; com isso, a cada dia, percebe-se que a busca da paz social passa pelo ajuste de vontade das partes envolvidas num conflito. Conciliação no Direito Penal A Lei Federal nº 9099, de 26 de setembro de 1995, criou os chamados Juiza- dos Especiais Civis e Criminais. No tocante aos Juizados Especiais Criminais, a Lei possibilitou sua aplicação para as Infrações Penais de menor potencial ofensivo, que são aquelas que en- volvem qualquer Contravenção Penal e os Crimes cuja pena máxima privativa de liberdade seja de até dois anos, terem um Rito de Julgamento mais célere. Uma das inovações da Lei foi criar a possibilidade de conciliação entre as par- tes, quando a Ação Penal, nesses juizados, tratarem de crimes cuja prosperidade do Julgamento depende da vontade da vítima ou de seu representante legal em dar sequência ao Processo, o que ocorre nos crimes denominados de Ação Penal Privada, nos quais a Ação Penal somente prospera com a pura vontade da vítima em dar andamento ao processo. Outra possibilidade são os chamados crimes de Ação Pública Condicionada. Nes- ses, a vítima ou seu representante devem praticar um ato formal denominado Repre- sentação, que autoriza o Ministério Público a promover a devida ação penal, denomi- nada Ação Penal Pública Condicionada, pois para ser proposta depende da existência da autorização da vítima, que se formaliza por intermédio da Representação. 15 UNIDADE A Conciliação Nessas duas situações, por existir a possibilidade de a vítima do crime dispor da Ação Penal, existe a hipótese de conciliação entre as partes (autor e réu). Na conformidade da Lei, deve ser realizado um encontro entre as partes envolvi- das, com a presença obrigatória dos respectivos advogados, e de um representante do Ministério Público. Com todos os presentes, o juiz anunciará, informalmente, a possibilidade da conciliação, desde que haja composição de danos. A condução da conciliação é estabelecida por um auxiliar do juiz, ou seja, o conci- liador, que procura interagir com as partes, a fim de que haja conciliação do conflito. Em havendo a conciliação, por intermédio da reparação de danos a ser feita pelo acusado, a vítima abre mão da sua possibilidade de dar continuidade à Ação Penal Privada e também de sua representação. Assim, finda-se o conflito na esfera penal. Exemplo de crime que pode ser objeto de conciliação em um Juizado Especial Criminal: Lesão corporal culposa: por exemplo, causada em um acidente de trânsito. Nesse tipo de crime, uma pessoa que não tem vontade de lesionar ninguém acaba, por uma ação de descuido, atropelando uma pessoa e a ferindo levemente. Não estamos diante de um criminoso de alta periculosidade, mas de um cidadão comum que acabou se envolvendo num crime. Nessa hipótese, como em muitas outras, o conflito pode se encerrar com uma efetiva conciliação. A Conciliação no Direito do Trabalho Ao final de um Contrato de Trabalho, podem existir questões que não ficaram muito claras para uma das partes da relação de trabalho, ou seja, o empregado; hoje, também conhecido por colaborador, que pode não estar satisfeito com os cálculos rescisórios, por exemplo, e vai à procura de um advogado, o qual postula junto à Justiça do Trabalho uma “Reclamação Trabalhista”. Pronto! Estamos diante de um conflito que “bateu às portas” da Justiça para ser resolvido. Como tratado, os conflitos, de modo geral, implicam desgastes entre as partes, não só pelas questões emocionais, mas pelos impactos materiais que podem causar. Aliado a tudo, têm-se ainda a demora, em razão dos prazos processuais e do grande número de demandas. Pensando nessa condição de conflito, a Lei Trabalhista permite a possibilidade da conciliação das partes envolvidas. 16 17 A oportunidade de as partes se conciliarem ocorre basicamente em dois mo- mentos, que podem ser vistos em dois Artigos da Consolidação das Leis do Traba- lho – CLT, respectivamente, nos Artigos 846 e 850: Art. 846 - Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação. § 1º - Se houver acordo lavrar-se-á termo, assinado pelo presidente e pelos litigantes, consignando-se o prazo e demais condições para seu cumprimento. Art. 850 - Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovará a proposta de conciliação, e não se realizan- do esta, será proferida a decisão. A Conciliação no Direito do Consumidor Devido a serem cada vez mais crescentes as relações jurídicas oriundas das prá- ticas das atividades de consumo em nossa Sociedade, os conflitos nas denominadas relações de consumo são cada vez mais comuns. Por relação de consumo, podemos entender uma relação que se estabelece en- tre fornecedor e consumidor em razão da compra e venda de um produto, ou sobre uma determinada prestação de serviço. Assim, problemas com referência a essas relações acontecem centenas de mi- lhares de vezes todos os dias, de modo que, praticamente, todos os dias estamos envolvidos em relaçõesde consumo, seja, por exemplo, pelo serviço de prestação de sinal de Internet que não funciona, seja de telefonia, seja quando você adquire um produto que não funciona ou que não atende ao que se propõe numa propaganda. Tais demandas podem até chegar às “portas da Justiça”, e quando chegam, deparam-se com a necessidade de uma conciliação, nas formas das Leis Processu- ais, como já vimos. Atualmente, entretanto, grande parte desses conflitos nas relações de consumo são resolvidos por intermédio de entidades de defesa do consumidor ou de entida- des privadas, que se propõem a atuar como conciliadores nas relações conturbadas. Veja a matéria jornalística publicada pela Revista Exame, no link a seguir: https://goo.gl/Cju3nE Ex pl or A matéria menciona alguns pontos importantes: “São Paulo – Com uma popularidade crescente entre os internautas brasileiros, sites de reclamação planejam expandir a rede de atendimento e se consolidar como canais alternativos para a resolução de confl itos entre consumidores e empresas”. 17 UNIDADE A Conciliação Outra questão importante abordada é que o site de Internet do Instituto privado possui cerca de 15 milhões de consumidores cadastrados. Não resta dúvida de que o emprego da comunicação digital é certamente uma excelente forma de solução de conflitos nas relações de consumo. O sucesso desses sites privados fizeram com que o Governo Federal lançasse sua própria plataforma, com os mesmos objetivos. Assim, foi desenvolvida, desde o ano de 2015, pela Secretaria Nacional de Defesa do Consu- midor, a plataforma eletrônica, disponível em: https://goo.gl/bQq5kfEx pl or 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Audiência de conciliação: relação consumo https://youtu.be/XoSO6gjEibY Semana Nacional da Conciliação Trabalhista 2017 – Acordar https://youtu.be/ovMzslZemqQ Juizado Especial Criminal https://youtu.be/43sXEEguYlU Você sabe como funciona uma audiência de conciliação? https://youtu.be/qLJydPfIgSg Leitura Código de Processo Civil brasileiro https://goo.gl/jBJQ4V 19 UNIDADE A Conciliação Referências BITTAR, Eduardo C. Bianca. Curso de Ética Jurídica. São Paulo: Saraiva, 2002. BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil. 25 mar. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm>. Acesso em: 29 ago. 2018. ______. Decreto-lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho – CL. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto- -Lei/Del5452>. Acesso em: 29 ago. 2018. ______. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil, Dis- ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/ L13105.htm>. Acesso em: 29 ago. 2018. ______. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Con- sumidor – CDC. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L8078>. Acesso em: 29 ago. 2018. ______. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Juizados Especiais Civil e Criminais. Código de Processo Civil Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/LEIS/L9099.htm>. Acesso em: 29 ago. 2018. CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. Rio de Ja- neiro: Forense, 2007. CARNELUTTI, Francesco. Teoria geral do direito. São Paulo: Lejus, 1999. FACCHINI NETO, Eugênio. A outra justiça: ensaio jurídico de direito comparado sobre os meios alternativos de resolução de conflitos, Revista da Ajuris, Porto Alegre, v. 36, 2009. KRIESBERG, Louis. Constructive Conflicts: From Escalation to Resolution. Lon- dres: Sage.1998. NETO, Antônio et al. Negociação e administração de conflitos. 3.ed. São Paulo: FGV, 2012. NUNES, Antônio Carlos Ozório. Manual de Mediação. Revista dos Tribunais. (E-Book). PRUITT, Dean; RUBIN, Jeffrey. Social Conflict: Escalation, Stalemate and Settle- ment. NY: McGraw-Hill, 1986. REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 7.ed. São Paulo: Saraiva. 1980. SANTOS. Altamiro J. dos. Comissão de conciliação prévia: conviviologia jurídi- ca e harmonia social. São Paulo: Livraria dos Tribunais. 2001. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. VASCONCELOS, Carlos Eduardo. Mediação de conflitos: práticas restaurativas. São Paulo: Método. 2008. 20
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