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Curso de Tecnologia de Alimentos MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 92 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO IV Tecnologia de Carnes Carne é o conjunto de massa muscular, com ou sem ossos, gordura, tecido conjuntivo e gânglios linfáticos, órgãos e vísceras, com exceção de úteros e ovários. 1. Composição e Propriedades A carne de boa qualidade deve apresentar cor atraente, frescor e pouco suco exsudado, deve estar macia e suculenta, com alto teor proteico e baixa densidade calórica, livre de agentes patogênicos, resíduos químicos e baixa contagem de micro- organismos deterioradores. Segue abaixo tabela com composição centesimal aproximada da carne (parte muscular) e produtos cárneos. Umidade (%) Proteína (%) Gordura (%) Cinzas (%) Carne bovina Carne suína Carne ovina Linguiça de carne suína Presunto defumado Salame Bacon 56,0 56,7 58,9 38,1 49 29,8 19,3 17,2 15,8 16,1 9,4 19,5 23,8 8,4 25,9 26,8 23,8 50,8 25,0 38,1 69,3 0,80 0,74 1,20 1,7 5,8 7,1 2,0 Composição centesimal aproximada de carne e seus derivados (adaptado de Camargo, 1984) 2. Bem-estar animal e qualidade da carne 93 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O bem-estar é uma característica de um animal e não algo que pode ser fornecido a ele, é o estado de harmonia entre o indivíduo e seu ambiente, caracterizado por condições físicas e fisiológicas ótimas. O bem-estar animal resulta em menor porcentagem de lesões na pele do animal e consequentemente melhor qualidade de sua carne e maior valor comercial. Para que este estado seja atingido, o animal deve estar livre de fome, sede, desconforto, dor, lesões, doenças, medo, estresse e expressar comportamento normal. Deve-se ter cuidado especial no manuseio pré-transporte, durante o transporte e no desembarque para o abate. No pré-transporte o animal deve permanecer por um período de jejum e receber somente dieta hídrica, para assim eliminar o volume de dejetos de seu tubo digestivo e assim evitar contaminação durante o corte de sua carcaça pelo extravasamento do conteúdo intestinal. O transporte é considerado a etapa mais estressante devido à interação homem-animal. O animal mal conduzido sofre contusões, fraturas, arranhões, exaustão metabólica, desidratação e estresse térmico. O tempo para o transporte de bovino deve ser menor que 12 horas, de suínos deve ser menor que 3 horas e de aves deve ser no máximo em 2 horas. O meio de transporte desses animais deve oferecer espaço e temperaturas adequadas para que o estresse provocado seja mínimo. A densidade do carregamento deve ser de 400 kg/m2 para bovinos, 250 kg/m2 para suínos e para as aves deve corresponder a 18 frangos/m2. Já o desembarque deve ser feito no menor tempo possível e dependendo da quantidade de animais, pode variar de 5 minutos a várias horas. As rampas de desembarque devem ter no máximo 15° para evitar sobrecarga das articulações das patas do animal e devem ser cobertas para protegê-los da luz direta e do calor. O uso de varas e choques elétricos, gritos e pontapés dos operários responsáveis deve ser totalmente evitado para evitar que o animal se debata e cause lesões em sua pele. O curral de espera é o local em que os animais aguardam até o momento de seu abate e deve permitir que estes se recuperem do estresse do transporte e desembarque. O tempo neste local varia de 1 a 15 horas, pois depende do tamanho do abatedouro, do número de animais, do tempo de transporte e das condições ambientais do local. Entretanto, o recomendado para curral de espera é de 2 a 3 horas. 94 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O local deve conter corredores largos, bem iluminados e sem quinas, com piso antiderrapante e de cor uniforme e apresentar temperaturas de 15 a 18°C e umidade em torno de 59 a 65%, que é atingida através da aspersão de água, que além de manter a umidade do ar adequada também acalma os animais e os limpa, reduzindo problemas com odor. 3. Abate Humanitário Abate humanitário é o conjunto de procedimentos técnicos e científicos que garantem o bem-estar dos animais desde o embarque na propriedade rural até a operação de sangria no abatedouro. O tratamento humanitário garante menores contusões nas carcaças e assim menos áreas serão descartadas, e melhor será a qualidade da carne, pois evita-se que ossos se quebrem, previnem-se hemorragias internas, impedem-se as rasgadas, previnem-se carnes anormais (PSE e DFD) e aumenta-se a vida de prateleira do produto final. A responsabilidade do abate humanitário deve ser distribuída em toda a cadeia produtiva, desde a criação até o abate e processamento. 3.1 Mudanças post-mortem Mesmo com a sua morte, o animal ainda mantém funcionantes as funções vitais de seu sistema muscular. Ocorrem então no músculo várias modificações estruturais e bioquímicas que são dependentes do tratamento ante-mortem, do processo de abate e das condições de armazenamento desta carne. Com o abate do animal, cessa o aporte de oxigênio ao músculo e então a síntese de ATP se realiza por via anaeróbica através da fosforilação glicolítica, em que as reservas de glicogênio do músculo serão utilizadas. Partindo deste ponto, observa-se que a concentração de glicogênio em nível muscular antes do abate é que definirá a formação de ácido lático e a consequente queda de pH. O animal recém abatido apresenta em seus músculos ATP, fosfocreatina e tem pH em torno de 6,9 a 7,2. O músculo esquelético no período post-mortem apresenta três fases: a fase de pré-rigor-mortis, a fase de rigor-mortis e a fase post-rigor-mortis. 95 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3.2 Fase de pré-rigor-mortis Fase após o abate do animal e enquanto os níveis de ATP forem suficientes para satisfazer as necessidades energéticas do músculo esquelético, este permanecerá ativo. 3.3 Fase de rigor-mortis Neste momento a glicólise diminui até que as reservas de glicogênio estejam esgotadas ou até que o pH seja tão baixo (menor que 5,4) a ponto de inibir completamente as enzimas glicolíticas. Na contração muscular post-mortem, enquanto uma reserva energética na forma de ATP for suficiente, os miofilamentos do músculo irão se manter móveis e por isso ele é elástico. Após o esgotamento das reservas de glicogênio, o nível de ATP vai se exaurindo e então diminui a energia para o processo de deslizamento dos miofilamentos. Ocorrem então pontes permanentes entre a actina e a miosina do músculo que, por sua vez, perde sua elasticidade e entra em rigor-mortis. O rigor-mortis (rigidez cadavérica) refere-se à contração da musculatura estriada no sentido crânio-caudal, ou seja, os primeiros músculos que entram no “rigor-mortis” são os da cabeça, com o enrijecimento da mandíbula. Essa contração ocorre devido a um acúmulo de Ca2+ nas células musculares. 3.4 Fase post-rigor-mortis Ocorre diminuição gradual da dureza do músculo até se atingirem valores próximos àqueles existentes no momento doabate. É uma fase essencial para a produção de carne macia e para o desenvolvimento do flavour. 4. Maciez da Carne Após a resolução do rigor-mortis a carne retorna às suas características iniciais, voltando a ser macia e suculenta. 96 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os fatores que influenciam na maciez da carne são: • Fatores ante-mortem: características genéticas e fisiológicas, manejo e alimentação; • Fatores post-mortem: tempo e temperatura de armazenamento, modo como a carne é cortada, adição de agentes amaciantes, método de cozimento. Vários fatores determinam a velocidade de queda do pH da carne, o início e a duração do rigor-mortis e as propriedades da carne. Entre eles estão: • Estresse causado por fatores ambientais: temperatura, umidade, luz, barulho, exercício exaustivo; • Fatores intrínsecos do próprio animal: espécie, raça, idade, sexo. • Procedimentos realizados imediatamente após o abate. O resfriamento da carcaça rapidamente após o abate, em temperaturas entre 0 e 10°C, provoca severa contração muscular e consequente endurecimento da carne. Controlar a temperatura de resfriamento evita que a carne alcance temperatura igual ou inferior a 10°C dentro das primeiras 10 horas. 5. Carnes PSE A sigla PSE significa pale, soft ,exudative, ou seja, pálida, mole e exsudativa. São as carnes nas quais houve acentuada hipertermia no post-mortem, ou seja, a glicólise post-mortem ocorreu de forma muito rápida pela liberação do hormônio adrenalina como resposta ao estresse ao qual o animal foi submetido. Os carboidratos então são decompostos em anaerobiose para a geração de energia (síntese de ATP) e são formadas altas concentrações de ácido lático e há aumento na produção de calor. Este rápido consumo das reservas musculares de ATP e glicogênio ocasionam rápida queda do pH (< 5,8 aos 45 minutos pós abate) enquanto a temperatura do músculo ainda está elevada. Como consequência do baixo pH e das altas temperaturas teremos a 97 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores desnaturação das proteínas miofibrilares e sarcoplasmáticas, menor capacidade de retenção de água e carnes apresentando problemas de cor, estrutura e perda de líquidos. Para evitar carnes PSE recomenda-se bom manejo nas etapas que antecedem o abate. 6. Carnes DFD A sigla PSE significa dark, firm e dry, ou seja, escura, dura e seca. Esta carne é caracterizada por pequena queda do pH devido à baixa concentração de glicogênio muscular, que se esgota antes do abate devido às condições a que o animal é submetido: estafa, trabalho, jejum, excitação, lutas e choques elétricos. Ocorre, então, uma glicólise lenta por falta de glicogênio muscular nos animais abatidos. Estes casos têm pouco efeito sobre as proteínas miofibrilares e sarcoplasmáticas, e então a carne se torna mais seca, escura e com maior capacidade de retenção de água. Para evitar carnes DFD recomenda-se bom manejo nas etapas que antecedem o abate para preservar as reservas de glicogênio do animal. Variação do pH muscular post-mortem pH inicial* pH final Bovinos 7,2 _____________24 horas post- mortem___________5,4 condição normal 7,2 _____________24 horas post- mortem___________6,2 DFD Suínos 7,2 _____________24 horas post- mortem ___________5,6 condição normal 7,2 _____________24 horas post- mortem ___________6,2 DFD 7,2 _____________24 horas post- mortem ___________5,8 PSE * o pH muscular no animal vivo é de 7,2 98 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores http://www.cuencarural.com/img/varias/img13759.jpg 7. Qualidade da Carne A qualidade da carne envolve vários aspectos, entre eles: • pH; • Capacidade de retenção de água; • Cor; • Firmeza; 99 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Textura; • Quantidade e distribuição da gordura; • Maciez; • Sabor; • Suculência. 8. Cor em carnes A importância da cor como um atributo mercadológico da carne vermelha está bem estabelecido. Os consumidores se acostumaram a observar o vermelho brilhante da carne preparada para a venda e a associar esta condição a uma boa qualidade sensorial. Esta associação da cor vermelha da carne com seu estado de frescor tem sido um fator dominante no mercado varejista de carne. Vários métodos de transporte, distribuição e embalagem de cortes têm sido utilizados para otimizar a cor desejada da carne. A mioglobina é o principal pigmento da carne fresca, sendo que a cor desta carne fresca depende principalmente da quantidade relativa de três pigmentos presentes na superfície da carne e derivados da mioglobina: • Mioglobina reduzida (Mb) • Oximioglobina (O2Mb) • Metamioglobina (MetMb) Os fatores que afetam a composição de Mioglobina no músculo são a atividade muscular, a idade do animal, a disponibilidade de oxigênio, a espécie animal e a natureza de sua nutrição. 9. Atividade Muscular Dependendo da atividade realizada pelo músculo do animal será sua concentração de mioglobina. Os músculos locomotores apresentam concentração de 12 mg de Mb/g de tecido fresco, enquanto que os músculos de suporte apresentam 6 mg de Mb/g de tecido fresco. 100 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 10. Idade do Animal Conforme aumenta a idade do animal, também aumenta a concentração de mioglobina em sua carne. Bois novos apresentam de 1 a 3 mg de Mb/g de tecido fresco, bois adultos de 4 a 10 mg de Mb/g de tecido fresco, já bois mais velhos possuem concentração de 16 a 20 mg de Mb/g de tecido fresco. 11. Disponibilidade de Oxigênio Quanto menor é a disponibilidade de oxigênio para o animal vivo, maior é a necessidade do corpo de estocá-lo na forma de mioglobina. Portanto, animais criados em altas altitudes estão sujeitos a atmosfera com menor quantidade de oxigênio e, portanto, apresentam maior síntese de mioglobina muscular. 12. Espécie Animal A concentração de mioglobina varia também de acordo com a espécie do animal. Suínos apresentam músculo com cor rosada clara e possuem concentração de mg de 1 a 3 Mb/g de tecido fresco. Já o músculo de ovinos tem cor vermelho claro e 4 a 8 mg de Mb/g de tecido fresco e os bovinos apresentam de 4 a 10 mg de Mb/g de tecido fresco com musculatura vermelho cereja. 13. Natureza da Nutrição Dietas pobres em ferro diminuem a concentração de mioglobina do músculo do animal. 14. Odor e Sabor 101 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O odor e o sabor estão sujeitos à variabilidade de certos fatores do animal. O aumento da idade do animal está associado ao aumento da intensidade do aroma de sua carne. O pH final também afeta o aroma do músculo, pois quanto mais alto o pH final, mais baixa é a intensidade do aroma, possivelmente porque o intumescimento da estrutura interfere no acesso do paladar às substâncias envolvidas. 15. Embutidos Consistem em misturas mais ou menos homogêneas de tecido muscular, gordura e água, que são acondicionadas em envoltórios naturais (tripas – vísceras de colágeno) ou artificiais (celulósicas, plásticas), nos quais são adicionados sal, temperos e aditivos, visando sempre à obtenção de característicaspróprias. As etapas gerais de fabricação dos embutidos são: • Seleção da matéria-prima • Moagem • Mistura (sal + temperos + aditivos) • Embutimento São classificados em crus, em que teremos os maturados e os não maturados, em escaldados e cozidos. 16. Carnes Reestruturadas Os produtos reestruturados podem ser considerados como intermediários entre a carne picada e uma peça de carne. Sua elaboração pode contar com ingrediente não cárneo e consiste do uso de partes da carne de diversos tamanhos, para assim conseguir um produto final consistente, com aparência similar a de um pedaço de carne para assar ou de um filé por exemplo. As carnes reestruturadas consistem em produtos de qualidade considerável a partir de porções de carne com textura deficiente e de difícil comercialização. 102 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Produto Método de fracionamento Forma de apresentação Peru desossado Presunto de peru Peito de peru Roast beaf Costela de boi Cubos de frango Cubos de peru Presunto Presunto de peru Chuleta de vitela Presunto curado Espetinho bovino Porções de frango Corte grosseiro Corte em pedaços Corte em pedaços Corte em pedaços Escamas Corte em pedaços Escamas Corte em pedaços Corte em pedaços Escamas Corte grosseiro Corte grosseiro Corte em pedaços Cru, congelado Pré-cozido, congelado Pré-cozido, congelado Cru, congelado Pré-cozido, congelado Pré-cozido, liofilizado Pré-cozido, congelado Pré-cozido, refrigerado Pré-cozido, congelado Cru, congelado Enlatado Cru, congelado Cru, congelado Exemplo de produtos cárneos reestruturados (Ordóñez, 2005) 17. Análogos da Carne Os produtos análogos da carne são aqueles cujas proteínas cárneas são substituídas total ou parcialmente por proteínas de outra origem e apresentam características organolépticas e valor nutritivo similares aos da carne. Este produto tem a intenção de dar ao consumidor a sensação de degustar um real produto cárneo. 18. Tecnologia de Pescados 18.1 Composição e Propriedades 103 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Nutricionalmente falando, a carne do pescado pode ser comparada a outros alimentos de origem animal. Entretanto, difere muito destes produtos em relação à sua captura, abate, estocagem e processamento. O pescado apresenta alta susceptibilidade devido a seu pH ser próximo da neutralidade, elevada atividade de água nos tecidos, elevado teor de nutrientes e lipídios insaturados (podem sofrer oxidação), além de apresentar rápida ação destrutiva de enzimas endógenas e alta atividade metabólica da microbiota. A carne do pescado é constituída principalmente de tecido muscular, tecido conectivo e gordura e sua composição química depende da espécie, idade, estado fisiológico, época e região de captura. Além da proteína, o pescado é fonte de óleos, rações e produtos valor para a indústria. A tabela abaixo compara a composição química aproximada (%) de algumas espécies de pescado e marisco. Espécie Água Proteína Gordura Cinzas Merluza Bacalhau Truta Cavala Atum Lagostim Ostra Mexilhão 79,2 80,8 78,2 67,5 70,4 78,0 83,0 83,0 17,9 17,3 18,3 18,0 24,7 19,0 9,0 10,0 1,5 0,4 3,1 13,0 3,9 2,0 1,2 1,3 1,3 1,2 1,4 1,5 1,3 1,4 2,0 1,7 Ordóñez, 2005 18.2 Mudanças post-mortem Os principais agentes deterioradores do pescado são o rigor-mortis, os micro- organismos e a autólise. O uso de ganchos, tridentes ou qualquer outro equipamento que perfure os peixes deve ser evitado, pois prejudica seu aspecto e pode acelerar a contaminação microbiana, danificando sua conservação. 104 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 18.3 Rigor-mortis A captura de peixes através de redes de pesca ou até mesmo o uso de varas de pescar faz que os peixes se agitem e se esforcem intensamente antes de morrer, causando rápido rigor-mortis, ao qual se seguirão sinais precoces de alteração. Se o peixe for rapidamente retirado da água e sacrificado, o rigor-mortis demorará mais tempo a surgir. Ao contrário, se estes animais forem mortos por asfixia irão se debater muito antes da morte e o rigor irá aparecer mais rapidamente. No pescado, o pH do músculo diminui menos quando comparado à diminuição do pH de animais de abate. Tal fato é observado devido às reservas de glicogênio serem mais escassas na musculatura de pescados, não havendo então grande produção de ácido lático. 19. Decomposição Microbiana O crescimento microbiano é influenciado pela temperatura pela qual o pescado é submetido após a morte. A decomposição microbiana depende da contaminação sofrida pelo pescado e ocorre principalmente por bactérias das brânquias e do intestino do próprio animal. Lipólise e proteólise são acentuadas pelo crescimento microbiano causado pela autólise. Além disso, a decomposição das proteínas produz vários compostos tóxicos e/ou fétidos e a decomposição das gorduras acarretam hidrólise de triglicerídeos e oxidação. 20. Autólise A autólise, assim como o desenvolvimento bacteriano, é influenciada pela temperatura ambiente em que o pescado se encontra. Trata-se do processo de degradação de proteínas pela ação de proteases e lipases, respectivamente, e poucas horas após a morte do pescado as proteases já estão prontas para degradar a parede abdominal e a musculatura adjacente do animal. 105 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os peixes que são capturados no momento em que estavam se alimentando são os que apresentam as maiores alterações autolíticas, decorrentes da ação de enzimas digestivas e por isso necessitam ser eviscerados e colocados em gelo o mais rapidamente possível. 21. Alterações do Pescado Os principais indicadores de alterações organolépticas no pescado são: • Olhos fundos e opacos; • Brânquias esbranquiçadas, com muco e odores pútridos; • Corpo sem firmeza; • Escamas se soltando facilmente; • Superfície do pescado com cor escura; • Ânus úmido, avermelhado e inchado; • Descolorações vermelhas próximas à espinha (somente visualizadas com cortes transversais). 22. Ovos 22.1 Composição e Propriedades De todos os alimentos que ingerimos, o ovo é o que nos fornece as proteínas mais completas, além de fornecer gorduras, vitaminas e minerais. A clara é composta quase em sua totalidade por proteínas de natureza viscosa, apresentando baixo conteúdo lipídico, de vitaminas, minerais e carboidratos. Já a gema é uma emulsão lipídica, apresentando 50% de água, uma parte maior de lipídios e outra um pouco menor de proteínas. Sua fração lipídica é composta por 66% de triglicerídios, 28% de fosfolipídios e 5% de colesterol e ainda 64% doas ácidos graxos são insaturados. A gema apresenta mais vitaminas do que a clara e contém principalmente as vitaminas A e ácido pantotênico. A casca do ovo é rica em sais minerais, principalmente cálcio, magnésio e fósforo e o pó da casca de ovo é usado como fonte de cálcio em 106 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores multimisturas distribuídas no Brasil por várias organizações não-governamentais. Na tabela abaixo encontra-se a composição aproximada (%) das diferentes partes do ovo. Componentes Casca Clara Gema Ovo inteiro Água Proteína Lipídios Carboidratos MineraisExtrato seco Proporção do peso total 1 3,8 0 0 95 98,4 10,3 88,5 10 0,03 0,8 0,5 12,1 56,9 46,7 16 35 1 1,1 51,3 32,8 74 13 11 1 0,1 26,5 - Ordóñez, 2005 22.2 Conservação O ovo, quando é expulso, entra em contato com as fezes da galinha e sujeira dos ninhos, que contém inúmeros micro-organismos e a casca é a principal barreira protetora deste alimento. Entretanto, a casca não é uma barreira inviolável, ficando mais vulnerável à proliferação bacteriana com o passar o tempo. A eliminação da sujeira dos ovos auxilia em sua conservação durante seu período de armazenamento. 22.3 Alterações As alterações nos ovos são diretamente proporcionais à sua temperatura de armazenamento, pois quanto mais baixa for esta temperatura, menores serão as perdas de água e CO2 e por isso o armazenamento de ovos deve ser feito entre 0 e 1,5°C e com umidade relativa do ar entre 85 e 90%. A perda do dióxido de carbono através dos poros da casca aumenta o pH da clara, alterando sua consistência. Já a saída de vapor d’água pelos poros da casca diminui a densidade do ovo e aumenta o espaço ocupado pela 107 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores câmara de ar, que irá então comprimir a gema, que ficará mais frágil e se romperá facilmente quando este ovo for quebrado. 23. Óleos e Gorduras Comestíveis 23.1 Composição e Propriedades A importância dos óleos e gorduras na nutrição humana está no fato desses alimentos proporcionarem maior palatabilidade e saciedade, fornecerem ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis. Em relação ao aspecto nutricional, quanto maior for o número de insaturações melhor será a gordura, entretanto, em relação ao aspecto tecnológico, essa gordura apresentará maior susceptibilidade à rancificação, pois quanto maior o número de insaturações, mais rápida será a rancificação deste lipídio. As gorduras e os óleos são menos densos que a água, solúveis em solventes orgânicos e insolúveis em água. São produtos da reação de uma molécula de glicerol (glicerina) com até três moléculas de ácidos graxos, apresentando composição triglicerídica predominante, por isso são chamados de glicerídeos. A diferença entre os óleos e as gorduras dois está no ponto de fusão de cada um. Enquanto em temperaturas ambiente as gorduras ainda estão em seu estado sólido (ponto de fusão mais alto), os lipídios já se apresentam em estado líquido (ponto de fusão mais baixo). Essa propriedade física é consequência da composição dos ácidos graxos e suas respectivas posições esterificadas na molécula de glicerol. Os óleos então apresentam ponto de ebulição abaixo de 20°C, enquanto que as gorduras têm seu ponto de fusão acima de 20°C. 108 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Tanto óleos quanto gorduras podem apresentar origem vegetal ou animal e derivar de grãos (soja, milho, algodão, etc) ou frutos (oliva, coco, dendê). Os azeites são obtidos pela prensagem da polpa de frutos, como a azeitona e o dendê, enquanto que os óleos são extraídos de grãos oleoginosos. 23.2 Processamento Os óleos são extraídos de grãos oleoginosos e refinados na maioria das vezes por solventes, podendo também ser utilizado o processo de moagem para a extração do óleo. Depois de colhidos, esses grãos deverão passar por uma pré-limpeza para a retirada de impurezas e matérias estranhas. Após esta etapa, prossegue-se com a redução da umidade do grão para um nível de atividade de água que traga estabilidade microbiológica e segue-se para a armazenagem. Os grãos são então levados dos silos de armazenamento para os quebradores, que irão reduzir o tamanho dos grãos para possibilitar a extração perfeita do óleo. A etapa de acondicionamento antecede a laminação com o objetivo de tornar o grão que está duro e quebradiço, em um material mais fácil de ser laminado e com umidade ajustada para 11%. Os grãos serão então aquecidos por 20 a 30 minutos em temperaturas entre 70°C e 17°C. A próxima etapa é a laminação do grão a flocos finos para auxiliar na extração do óleo pelo solvente. Após a laminação, os flocos finos dos grãos são levados ao expansor, equipamento que irá torná-los porosos e ainda mais permeáveis ao solvente de extração. Segue-se então a extração, que poderá ser feita pelos solventes ou por prensagem. 109 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 23.3 Hidrogenação de Óleos A hidrogenação de óleos ocorre na reação do hidrogênio gasoso com ácidos graxos insaturados. Na presença dos catalisadores corretos, o hidrogênio será prontamente incorporado nas duplas ligações dos ácidos graxos insaturados, transformando-os nos ácidos graxos saturados correspondentes ou, no mínimo, reduzindo seu grau de insaturação, como é mostrado abaixo: A hidrogenação de óleos é de grande importância para a indústria, pois promove a transformação de óleos em banhas vegetais com diferentes intensidades de plasticidade, que são amplamente utilizadas em panificação e confeitaria, além da fabricação de margarinas. 110 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 23.4 Alterações em Gorduras e Lipídios 23.4.1 Rancificação A rancificação de óleos e gorduras pode ser classificada em dois grupos: rancidez hidrolítica e oxidativa. 23.4.2 Rancidez Hidrolítica A rancidez hidrolítica enzimática é a hidrólise de óleos e gorduras com a consequente produção de ácidos graxos livres. Essa reação se faz devido à ação de enzimas lipases de origem microbiana ou de lipases das próprias sementes oleaginosas, cuja reação ocorre naturalmente. Nas refinarias de óleos, os ácidos graxos produzidos pelas lipases das sementes são removidos durante os processos de refinamento. 23.4.3 Rancidez Oxidativa A rancidez oxidativa ou auto-oxidação é a reação mais importe em gorduras e óleos do ponto de vista da qualidade. É uma reação do oxigênio atmosférico com as duplas ligações dos ácidos graxos insaturados. Esta reação produz hidroperóxidos e peróxidos, que posteriormente irão produzir compostos voláteis, cetonas e aldeídos que irão caracterizar o odor de ranço nos alimentos. A variação de compostos voláteis produzidos pode ser dependente da natureza do ácido graxo envolvido e do tipo de mecanismos de auto-oxidação. Como já dito anteriormente, o grau de insaturação de um óleo ou gordura determina sua suscetibilidade à oxidação. A gordura de porco, por exemplo, é mais suscetível à oxidação quando comparada à gordura de bovinos, porque a primeira possui maior quantidade de insaturação em sua estrutura. 111 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 23.5 Fatores que afetam a oxidação 23.5.1 Oxigênio Para que a oxidação ocorra é fundamental a presença de oxigênio. Métodos utilizados para aumentar a vida de prateleira de produtos à base de óleos e gorduras são o emprego de embalagens fechadas a vácuo, atmosfera modificada inerte (nitrogênio), sachês que absorvem o oxigênio e uso de embalagens feitas com material de baixa permeabilidade ao oxigênio. 23.5.2 Temperatura A formação de hidroperóxidos é afetada pela variação da temperatura. A cada aumento de temperatura em 15°C a velocidade de formação de hidroperóxidos dobra. Entretanto, em determinada temperatura atinge-se a concentração máximade hidroperóxidos, isto é, alcança-se sua velocidade máxima de formação, como acontece durante as frituras. O uso contínuo do óleo em temperaturas médias de 180°C acrescido da constante renovação de oxigênio promove alterações hidrolíticas e termo-oxidativas que consequentemente irão alteram a qualidade do óleo. As reações que ocorrem durante a fritura estão no quadro abaixo: 112 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Tipo de degradação Principal variável Compostos gerados Hidrólise Oxidação Degradação térmica Umidade Ar Temperatura Diglicerídeos Ácidos graxos Triglicerídeos Dímeros e polímeros oxidativos Compostos voláteis Ácidos graxos cíclicos Ácidos graxos trans Dímeros e polímeros de origem térmica (Oettere & Regitano-D’Arc & Spoto, 2006) 23.5.3 Luz A presença de luz acelera o desenvolvimento de ranço em gorduras e as mais prejudiciais são a luz visível de onda curta e a luz ultravioleta. Isso ocorre porque diferentes hidroperóxidos são produzidos quando a luz e certas moléculas fotossensibilizadoras estão presentes. ------------------FIM DO MÓDULO IV--------------- 113 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AZEREDO, Henriette Monteiro Cordeiro de. Fundamentos de estabilidade de alimentos. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução RDC nº 272, de 22 de setembro de 2005. Aprovar o “Regulamento Técnico para Produtos de Vegetais, Produtos de Frutas e Cogumelos Comestíveis”. Publicado no D. O. U. Poder Executivo, de 23 de setembro de 2005. BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução RDC nº 175, de 08 de julho de 2003. Aprovar o “Regulamento Técnico de Avaliação de Matérias Macroscópicas e Microscópicas Prejudiciais à Saúde Humana em Alimentos Embalados”. Publicado no D. O. U. Poder Executivo, de 09 de julho de 2003. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA. Instrução Normativa n. 51 de 18 de setembro de 2002. Aprovar os “Regulamentos Técnicos de Produção Identidade e Qualidade do Leite Tipo A, do Leite Tipo B, do Leite Tipo C, do Leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado”. Publicado no D. O. U. de 20 de Setembro de 2002. BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução RDC nº 234, de 19 de agosto de 2002. Aprova a tabela de aditivos para complementação do “Regulamento Técnico Sobre Aditivos utilizados Segundo as Boas Práticas de Fabricação e suas Funções”. Publicado no D. O. U. Poder Executivo, de 21 de agosto de 2002. BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução RDC nº 21, de 26 de janeiro de 2001. Aprova o “Regulamento Técnico para Irradiação de Alimentos”. Publicado no D. O. U. Poder Executivo, de 29 de janeiro de 2001. 114 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 37 de 31 de outubro de 2000. Aprova o “Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite de Cabra”. Publicado no D. O. U. de 08 de Novembro de 2000. BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Portaria nº 540, de 27 de outubro de 1997. Aprova o “Regulamento Técnico: Aditivos Alimentares - definições, classificação e emprego”. Publicado no D. O. U. Poder Executivo, de 28 de outubro de 1997. BRASIL, Ministério da Agricultura. Departamento Nacional de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal – R. I. I. S. P. O. A. (Aprovado pelo decreto n° 30.691, de 29 de Março de 1952, alterado pelo Decreto 1.255, de 25 de junho de 1962. Alterado pelo Decreto 2.244, de 04/06/1997). Brasília – DF, 1997. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria nº 146, de 07 de março de 1996. Aprova o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade dos Produtos Lácteos. Publicado no D. O. U., de 11 de Março de 1996. BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução Normativa nº 9, de outubro de 1978. Atualiza a Resolução n°. 52/77 da antiga CNNPA (Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos). Publicado no D. O. U. Poder Executivo, de 11 de dezembro de 1978. BRASIL. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução nº 12 de 1978. Aprova NORMAS TÉCNICAS ESPECIAIS, do Estado de São Paulo, revistas pela CNNPA, relativas a alimentos (e bebidas), para efeito em todo território brasileiro. Publicado no D. O. U. Poder Executivo, de 24 de julho de 1978. BEHMER, M. L. A. Tecnologia do Leite. 10. ed. São Paulo: Nobel, 1980. 115 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores CAMARGO, Rodolpho de, et al. 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