Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TTEECCNNOOLLOOGGIIAA DDEE CCAARRNNEE CENTRO TECNOLÓGICO DO SETOR ALIMENTÍCIO - CTSA “ALICE DE PODESTÁ NAVARRO VIEIRA” Presidente da FIEMG Robson Braga de Andrade Gestor do SENAI Petrônio Machado Zica Diretor Regional do SENAI e Superintendente de Conhecimento e Tecnologia Lúcio José de Figueiredo Sampaio Gerente de Educação e Tecnologia Edmar Fernando de Alcântara Elaboração Karine Helena Theodoro Unidade Operacional Centro Tecnológico do Setor Alimentício - CTSA SSuummáárr iioo APRESENTAÇÃO ....................................... .......................................................................................6 1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................1 2. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA.............................. .....................................................................2 3. CARACTERIZAÇÃO DAS ESPÉCIES ANIMAIS PARA CORTE ..... .......................................3 4. ESTRUTURA DO MÚSCULO............................... .....................................................................4 4.1 TECIDO MUSCULAR ........................................................................................................4 4.2 TECIDO CONECTIVO.......................................................................................................5 4.3 TECIDO ADIPOSO ............................................................................................................5 4.4 TECIDO ÓSSEO................................................................................................................6 5. COMPOSIÇÃO DA CARNE ................................ ......................................................................6 5.1 ÁGUA.................................................................................................................................6 5.2 PROTEÍNAS ......................................................................................................................6 5.3 GORDURA.........................................................................................................................7 5.4 MINERAIS E VITAMINAS..................................................................................................7 5.5 CARBOIDRATOS ..............................................................................................................7 6. CONTRAÇÃO MUSCULAR ................................. .....................................................................8 6.1 PROTEÍNAS ENVOLVIDAS NA CONTRAÇÃO MUSCULAR ...........................................8 6.2 MECANISMO DA CONTRAÇÃO MUSCULAR..................................................................9 7. CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE ...................... ......................................................10 7.1 FENÔMENOS PÓS-MORTE...........................................................................................10 8. MATURAÇÃO DA CARNE................................. .....................................................................13 9. PARÂMETROS DE QUALIDADE DA CARNE FRESCA ............ ...........................................14 9.1 CAPACIDADE DE RETENÇÃO DE ÁGUA......................................................................14 9.2 COR.................................................................................................................................15 9.3 TEXTURA ........................................................................................................................16 10. MICROBIOLOGIA DA CARNE ............................. ..............................................................17 10.1 DETERIORAÇÃO EM CARNES FRESCAS....................................................................17 11. CONSERVAÇÃO DA CARNE............................... ..............................................................18 11.1 REFRIGERAÇÃO ............................................................................................................18 11.2 CONGELAMENTO ..........................................................................................................18 11.3 TRATAMENTO TÉRMICO...............................................................................................19 11.4 DESIDRATAÇÃO ............................................................................................................19 11.5 IRRADIAÇÃO ..................................................................................................................19 12. TECNOLOGIA DE ABATE................................ ..................................................................20 12.1 FLUXOGRAMA DE ABATE DE BOVINOS......................................................................20 12.2 FLUXOGRAMA DE ABATE DE SUÍNOS.........................................................................24 12.3 FLUXOGRAMA DE ABATE DE AVES.............................................................................26 13. OPERAÇÕES PARA O PREPARO DE CARCAÇAS, VÍSCERAS E CO RTES COMERCIAIS DE ANIMAIS DE ABATE ..................... ....................................................................28 13.1 PADRONIZAÇÃO DOS CORTES DE CARNE BOVINA..................................................28 13.2 CORTES DE CARNE SUÍNA...........................................................................................32 13.3 CORTES DE CARNE DE AVES ......................................................................................33 13.4 TECNOLOGIA DE OBTENÇÃO DE MIÚDOS .................................................................35 14. HIGIENE DOS ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS PARA O PRO CESSAMENTO DE CARNE 36 14.1 HIGIENIZAÇÃO DE CURRAIS E ANEXOS .....................................................................36 14.2 HIGIENIZAÇÃO DA SALA DE MATANÇA.......................................................................37 15. ADITIVOS ............................................................................................................................39 15.1 GRUPOS DE ADITIVOS MAIS UTILIZADOS NA ELABORAÇÃO DA MAIORIA DOS PRODUTOS CÁRNEOS...............................................................................................................39 15.2 APLICAÇÕES DOS INGREDIENTES NÃO-CÁRNEOS .................................................42 15.3 INGREDIENTES NÃO-CÁRNEOS IMPORTANTES NO PROCESSAMENTO DE CARNES E SUAS PROPRIEDADES ...........................................................................................43 16. PRINCÍPIOS BÁSICOS DO PROCESSAMENTO DE CARNES...... ..................................50 16.1 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NO PROCESSAMENTO DE CARNES........................50 16.2 CORTE (REDUÇÃO DO TAMANHO DA CARNE)...........................................................60 16.3 SALGA / CURA ................................................................................................................61 16.4 DEFUMAÇÃO..................................................................................................................65 16.5 EMULSÕES CÁRNEAS...................................................................................................67 17. EMBUTIDOS........................................................................................................................72 17.1 LINGUIÇAS......................................................................................................................72 17.2 SALSICHA .......................................................................................................................79 18. PRESUNTO .........................................................................................................................8419. PRODUTOS SALGADOS .................................. .................................................................87 19.1 SALGA SECA ..................................................................................................................87 19.2 SALGA ÚMIDA ................................................................................................................88 19.3 SALGA MISTA .................................................................................................................89 19.4 ADITIVOS E INGREDIENTES EMPREGADOS NA SALGA ...........................................89 19.5 CHARQUE.......................................................................................................................90 20. PRODUTOS DEFUMADOS ................................................................................................93 20.1 ALGUNS PRODUTOS DEFUMADOS.............................................................................93 20.2 BACON ............................................................................................................................94 21. PRODUTOS MARINADOS................................. .................................................................97 21.1 CORTES DE FRANGO MARINADO ...............................................................................97 22. PRODUTOS FERMENTADOS............................................................................................99 22.1 SALAME ..........................................................................................................................99 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................... .....................................................................102 Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos Apresentação “Muda a forma de trabalhar, agir, sentir, pensar na chamada sociedade do conhecimento. “ Peter Drucker O ingresso na sociedade da informação exige mudanças profundas em todos os perfis profissionais, especialmente naqueles diretamente envolvidos na produção, coleta, disseminação e uso da informação. O SENAI, maior rede privada de educação profissional do país,sabe disso , e ,consciente do seu papel formativo , educa o trabalhador sob a égide do conceito da competência:” formar o profissional com responsabilidade no pr ocesso produtivo, com iniciativa na resolução de problemas , com conhecimentos técnicos aprofundados, flexibilidade e criatividade , empreendedorismo e consciência da necessidade de educação continuada .” Vivemos numa sociedade da informação. O conhecimento , na sua área tecnológica, amplia-se e se multiplica a cada dia. Uma constante atualização se faz necessária. Para o SENAI, cuidar do seu acervo bibliográfico, da sua infovia, da conexão de suas escolas à rede mundial de informações – internet- é tão importante quanto zelar pela produção de material didático. Isto porque, nos embates diários,instrutores e alunos , nas diversas oficinas e laboratórios do SENAI, fazem com que as informações, contidas nos materiais didáticos, tomem sentido e se concretizem em múltiplos conhecimentos. O SENAI deseja , por meio dos diversos materiais didáticos, aguçar a sua curiosidade, responder às suas demandas de informações e construir links entre os diversos conhecimentos, tão importantes para sua formação continuada ! Gerência de Educação e Tecnologia Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 1 1. INTRODUÇÃO De acordo com a legislação, são consideradas carnes “as massas musculares maturadas e demais tecidos que as acompanham, incluindo ou não a base óssea correspondente, procedentes de animais abatidos sob inspeção veterinária”. Para efeitos de industrialização, considera-se como carne os músculos junto ao esqueleto, os tendões, nervos e vasos sangüíneos. Desta forma, entende-se por carnes todas as partes comestíveis dos animais utilizados na alimentação humana. Isto inclui músculos, vísceras (miúdos), sangue, gorduras, cartilagens, ossos e produtos cárneos. Os produtos cárneos processados são aqueles em que as propriedades da carne fresca foram modificadas pelo uso de um ou mais procedimentos como moagem, adição de algum ingrediente ou aditivo, alteração da cor, aquecimento ou outro método. Exemplos comuns de carnes processadas são as lingüiças, salsichas, charque, salames, presuntos, bacon, dentre outros. Como existem centenas de diferentes produtos cárneos processados, é impossível discutir todos eles. Entretanto, a maioria é submetida a processamentos básicos comuns e nossa proposta é discutir estes procedimentos básicos. Para a compreensão dos fundamentos do processamento tecnológico da carne são necessários estudos preliminares da sua estrutura, seus constituintes básicos, a bioquímica do músculo e sua conversão em carne, além de suas características organolépticas e de seu valor nutritivo. Desta forma, o curso será iniciado com a abordagem destes fundamentos básicos da ciência da carne, seguindo posteriormente com o estudo de seu processamento. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 2 2. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA No Brasil, os sistemas agroindustriais de carnes vêm se apresentando como um dos mais relevantes para o setor agroindustrial do país. A produção de carnes apresentou um crescimento significativo, passando de 9,9 milhões de toneladas em 1994, para 18,9 milhões de toneladas em 2004, um acréscimo de 90% para o período considerado. Entre as cadeias que compõem o complexo agroindustrial, as indústrias de carne têm papel importante e dinâmico no desenvolvimento econômico das regiões onde estão inseridas. Estas indústrias contribuem expressivamente na geração de renda, empregos e exportações e na geração de tributos federais, estaduais e municipais. Uma das grandes contribuições deste setor é o fato de agregar valor à produção primária, além de aquecer a economia dos municípios pelo efeito multiplicador das atividades ligadas indiretamente, bem como da prestação de serviços. Em Minas Gerais, dentre as cadeias agroindustriais de carne, a bovina é a mais importante, seguida da carne de aves e de suínos, nesta ordem. A competitividade e até mesmo a sobrevivência das indústrias de carne no mercado está intimamente associada a sua eficiência em gerenciar a qualidade, o que se traduz na segurança do cliente ao consumir os produtos, contribuindo para a satisfação de suas exigências e na redução de custos de perdas e refugos. Deve ser dada atenção sobre todas as etapas da cadeia de produção: matéria- prima básica, processamento industrial e distribuição. Um descuido ou falta de atenção em qualquer dessas etapas pode comprometer seriamente a qualidade do produto final, o que pode por em risco a sobrevivência da empresa. Desta forma, é essencial a participação, na indústria, de profissionais habilitados que tenham o conhecimento e que façam bom uso das tecnologias empregadas no processamento e industrialização de carnes. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 3 3. CARACTERIZAÇÃO DAS ESPÉCIES ANIMAIS PARA CORTE Na produção de carne, alimento de elevado valor nutritivo, sem excesso de gordura, a escolha do tipo de animal e do momento ideal de abate são pontos fundamentais num sistema produtivo comprometido com eficiência e produtividade. Isto vale para a produção detoda espécie animal destinada ao abate. A composição da carcaça é geralmente a de maior interesse. Em relação aos componentes da carcaça bruta, as proporções de músculo, gordura e ossos são as de maior importância para a avaliação da produção. Quando a porcentagem de gordura na carcaça aumenta, a porcentagem de músculo e de ossos mais tendões diminui. Estas características da composição afetam o valor comercial da carcaça e são influenciadas por fatores genéticos e ambientais, durante o crescimento e o desenvolvimento do animal. Deve-se buscar animais com boa expressão das massas musculares, já que o objetivo e produzir carne e não gordura. O excesso de gordura reduz o valor comercial da carcaça na venda para os setores de processamento de subprodutos. A ausência de gordura na carcaça também é indesejável, pois uma quantidade mínima é importante para a boa palatabilidade da carne. Além disso, a gordura protege a carcaça durante o resfriamento e armazenamento, impedindo alterações indesejáveis provocadas pelo frio. A utilização da genética associada às técnicas de manejo, nutrição, reprodução, sanidade e processamento permitirão oferecer aos consumidores de carne um produto de melhor padrão e qualidade. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 4 4. ESTRUTURA DO MÚSCULO As carnes são compostas por tecido muscular, tecido conectivo (ou conjuntivo), tecido adiposo e ossos. 4.1 TECIDO MUSCULAR O tecido muscular é o mais importante, pois é o constituinte da carcaça a que chamamos de “carne”. Ele é formado basicamente por proteínas. Os músculos são compostos por células cilíndricas longas chamadas de fibras musculares, e que ficam paralelas umas às outras. As fibras musculares são envolvidas individualmente por tecido conectivo e estão agrupadas, formando feixes também envolvidos por tecido conectivo. Estes feixes de fibras musculares são, por sua vez, unidos por mais tecido conectivo. Em alguns músculos os feixes são facilmente identificados quando o músculo é cortado transversalmente. A proporção de tecido conectivo varia nos diversos músculos e é, em parte, responsável pela sua maior ou menor dureza. A maioria dos músculos une-se aos ossos através da confluência destes tecidos conectivos nas extremidades musculares, que são os tendões. Figura 1: Relação do músculo esquelético com os ossos e tecidos conjuntivos fibrosos dos tendões Fonte: www.curlygirl.no.sapo.pt/.../fibramuscular.jpg As fibras musculares são preenchidas por grande quantidade de filamentos protéicos de actina (filamentos finos) e miosina (filamentos grossos), que são responsáveis pela contração muscular. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 5 4.2 TECIDO CONECTIVO O tecido conectivo tem a função de unir e sustentar os demais tecidos e é um dos responsáveis pela dureza da carne. Ele é formado principalmente por fibras de proteínas, especialmente as chamadas fibras de colágeno, constituídas pela proteína colágeno. Ele é flexível, macio e semitransparente. Quando aquecido em meio líquido por tempo suficiente, dissolve-se, formando a gelatina. A quantidade de tecido conectivo varia de acordo com a raça do animal, com o sexo (machos possuem mais tecido conectivo) e com as diferentes partes musculares. As cartilagens também são formadas por tecido conectivo e caracterizam- se por serem um tecido mais duro e menos flexível. 4.3 TECIDO ADIPOSO O tecido adiposo também é chamado de gordura. A gordura está depositada em quatro áreas distintas da carcaça. A primeira delas é a gordura que se encontra sob o couro, recobrindo a carcaça e que chamamos gordura subcutânea, gordura de cobertura ou ainda de acabamento. A segunda é a gordura interna depositada em torno das vísceras, que são as gorduras renal, pélvica e cardíaca. A terceira é a gordura intermuscular, que se localiza entre os músculos. A quarta é a gordura encontrada no interior dos músculos podendo ser chamada de intramuscular, marmorização ou marmoreio. Em geral, a gordura contribui para o sabor, a suculência e a maciez da carne. Sua cor varia de branca a amarela, dependendo da idade e alimentação do animal. Animais alimentados com vegetais verdes possuem a gordura mais amarelada, pois nela se acumulam os pigmentos carotenóides que possuem esta coloração. Figura 2: Gordura de cobertura e marmoreio, observadas em bife bovino. Fonte: GORDURA DE COBERTURA MARMOREIO GORDURA INTERMUSCULAR Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 6 4.4 TECIDO ÓSSEO Os ossos de animais adultos são brancos, duros e quebradiços, enquanto que não animais jovens, são rosados, maleáveis e pouco quebradiços. Os ossos longos localizados nas pernas possuem uma substância gelatinosa muito apreciada, o tutano, formado por proteínas, gorduras, minerais e vitaminas. 5. COMPOSIÇÃO DA CARNE O valor nutritivo e a composição química da carne variam de acordo com a proporção entre os seus diferentes tecidos. A água é o maior constituinte e sua quantidade varia inversamente ao conteúdo de gordura. A carne é, ainda, um alimento rico em proteínas, gorduras, vitaminas e minerais e possui muito pouco carboidrato. 5.1 ÁGUA A água é o maior constituinte da carne e sua proporção é inversamente proporcional ao conteúdo de gordura. O teor total de água é importante nos processamentos que a carne pode sofrer como, por exemplo, congelamento, resfriamento, salga, cura e enlatamento. 5.2 PROTEÍNAS As proteínas são o segundo maior componente da carne, representando 20 a 22% do seu peso. É o constituinte mais importante, pois além de estar presente em grande quantidade, possui elevado valor nutricional, contendo todos os aminoácidos essenciais. Na industrialização, as proteínas assumem um papel fundamental, participando ativamente das mudanças pós-morte que levam o músculo a transformar-se em carne. Além disso, interferem na maioria dos processamentos através de propriedades funcionais como emulsificação, capacidade de retenção de água, gelificação e outros. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 7 5.3 GORDURA O teor de gordura nos tecidos animais varia em relação ao corte cárneo, à composição e ao estado de nutrição dos animais, dentre outros fatores. A gordura assume importância nutricional, sendo responsável pela sensação de saciedade por longos períodos. Além disso, está diretamente relacionada ao sabor e aroma da carne. 5.4 MINERAIS E VITAMINAS A quantidade total de minerais da carne situa-se ao redor de 1%. De maneira geral, os principais minerais encontrados na carne são: enxofre, potássio, fósforo, sódio, cloro, magnésio, cálcio, ferro e zinco. Os músculos e órgãos animais usados como alimento são considerados boas fontes de vitaminas, principalmente as do complexo B, além de conter quantidades razoáveis de vitaminas A e C. A carne de porco é particularmente rica em tiamina e o fígado é rico em vitaminas A, C, B6, B12, ácido nicotínico, ácido pantotênico e biotina. O processamento diminui o teor de vitamina das carnes. 5.5 CARBOIDRATOS A carne possui muito pouco carboidrato, aproximadamente 1%, e esta quantidade diminui ainda mais com os processos bioquímicos que ocorrem no período pós-morte, quando a reserva de glicogênio do músculo é convertida em ácido lático. Tecnologia de Carne ________________________________________________________________________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 8 6. CONTRAÇÃO MUSCULAR 6.1 PROTEÍNAS ENVOLVIDAS NA CONTRAÇÃO MUSCULAR As proteínas dos miofilamentos exercem papel fundamental na contração muscular. Dentre estas, as principais são a actina, miosina, troponina e tropomiosina. Destas, actina e miosina representam 75 a 80% do total de proteínas presentes nos miofilamentos. As moléculas de actina são esféricas e associam-se como um duplo colar de pérolas, longitudinalmente, enrolado em uma espiral. Este arranjo filamentoso de actinas é chamado de F-actina. Para constituir o chamado filamento fino, essa estrutura recebe a contribuição de pelo menos duas proteínas diferentes: a troponina, de estrutura globular e a tropomiosina, de estrutura filamentosa. A intervalos regulares da estrutura do filamento existem duas moléculas de troponina e todo o conjunto é “amarrado” externamente por segmentos filamentosos de tropomiosina, como pode ser observado na figura 3. Figura 3: Estrutura de um filamento fino. Os filamentos de actina formam a estrutura básica dos filamentos finos. Os filamentos de actina são polímeros de moléculas globulares de actina que se enrolam formando uma hélice. A tropomiosina forma um cordão em torno do filamento de actina. A troponina liga- se à tropomiosina. Fonte: Adaptado de RAWN (1989). Além dos filamentos finos, para que ocorra a contração e relaxamento musculares, existe a necessidade de outro filamento – o de miosina. A miosina é a proteína predominante e representa 50 a 55% das proteínas fibrilares. A forma estrutural da miosina associa uma cabeça globular dupla, unida a uma cauda longa e filamentosa, assemelhando-se a um taco de golfe. Figura 4: Estrutura da molécula de miosina. Fonte: Adaptado de RAWN (1989). Troponina Tropomiosina Actina Troponina CABEÇA CAUDA Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 9 No filamento de miosina, chamado de filamento grosso, as moléculas são aglomeradas longitudinalmente pelas caudas, sendo “amarradas” em forma de feixes. As cabeças ficam voltadas para ambas as extremidades. Observe a estrutura do filamento grosso na figura 5. Figura 5: Estrutura do feixe de miosinas no filamento grosso. Fonte: Adaptado de RAWN (1989). 6.2 MECANISMO DA CONTRAÇÃO MUSCULAR A contração muscular pode ser resumidamente definida como sendo a formação do complexo actomiosina. A contração do músculo esquelético envolve diretamente quatro proteínas miofibrilares: actina, miosina, tropomiosina e troponina. O modelo esquemático que explica a contração muscular é a Teoria do Deslizamento. De acordo com esta teoria, no músculo em repouso a maioria dos íons cálcio (Ca++) está ligada a proteínas. Quando o Ca++ é liberado destas proteínas e se torna livre na célula, o mecanismo da contração muscular é iniciado. Para que ocorra a contração muscular, o Ca++ liga-se à troponina, que neste momento sofre uma rotação e expõe o lado livre da actina que é ligado à cabeça da miosina. Desta forma a cabeça da miosina une-se à actina, gerando uma tensão e o deslizamento dos filamentos finos sobre os filamentos grossos, gerando a contração muscular. Durante a contração, os filamentos finos ligam-se e desligam-se do filamento grosso alternadamente, sendo que cada ligação representa apenas uma pequena parte da contração total. Quando o Ca++ livre da célula retorna à sua ligação com as proteínas, ocorre o relaxamento do músculo. Para que o músculo permaneça em repouso, é necessário se manter uma concentração relativamente alta de ATP. A contração muscular requer uma quantidade adicional de energia, além da que é normalmente consumida pelo músculo em repouso. Esta energia é proveniente do ATP. A utilização do ATP é intensificada pela liberação de íons de cálcio na fibra muscular. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 10 Figura 6: Mecanismo de deslizamento dos filamentos de actina sobre o filamento de miosina. Observe as várias posições assumidas pelas cabeças de miosina durante um ciclo. Fonte: www.bms.ed.ac.uk/.../smaciver/Myosin%20II.htm 7. CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE As funções vitais do músculo não param no momento da morte do animal. Uma série de modificações bioquímicas e estruturais ocorre após a morte do animal e é denominada “conversão do músculo em carne”. Muitas destas reações ocorrem como uma tentativa do músculo em manter suas condições normais de funcionamento. 7.1 FENÔMENOS PÓS-MORTE Em vida, o músculo armazena boa parte do glicogênio do corpo. O glicogênio muscular é usado como fonte de energia para sustentar a contração quando a demanda por energia é maior do que a que pode ser oferecida pela glicose sangüínea. Estas reações ocorrem geralmente em aerobiose, ou seja, na presença de oxigênio. A primeira etapa no abate convencional consiste na imobilização do animal, seguida imediatamente da sangria. A remoção do sangue marca uma série de Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 11 alterações pós-morte que irão culminar com a transformação do músculo em carne. 7.1.1 Declínio do pH após a morte O animal recém abatido após um período de repouso, apresenta em seus músculos, ATP, e tem pH em torno de 6,9 a 7,2. Quando o suprimento de oxigênio é cortado através da sangria, o músculo torna-se anaeróbio. Em anaerobiose há formação de ácido lático e apenas 8% do ATP em relação ao ATP formado pelo metabolismo com presença de oxigênio. Portanto, as reservas energéticas se esgotam rapidamente. Como resultado, o ácido lático produzido durante a glicólise anaeróbica causa diminuição significativa do pH muscular. A queda do pH após a morte é causada pelo acúmulo de ácido lático e o pH final da carne está em torno de 5,5 (5,3 a 5,7 decorridas 24 horas do abate nos suínos e 5,5 a 5,5, 24 horas após o abate nos bovinos). A queda do pH constitui um dos fatores mais marcantes na transformação do músculo em carne, sendo decisivo na futura qualidade da carne e dos produtos preparados a partir dela. Em suínos, quando o pH atinge níveis inferiores a 5,8 dentro de 45 minutos post-mortem tem-se o indício da presença de carne PSE ("pale, soft, exudative"). Esta glicólise extremamente rápida, que ocorre em suínos susceptíveis ao estresse, não é observada em bovinos. Figura 7: Curvas de queda do pH post-mortem. Fonte: FORREST et al. (1979). A queda prematura do pH ocorre devido à presença de ácido lático no músculo já no momento do abate. Se o animal é submetido a condições estressantes no manejo imediatamente antes do abate, ele gasta muita energia e necessita iniciar a glicólise anaeróbica, com produção de ácido lático, imediatamente antes de ser abatido. Desta forma o músculo já entra no pós-morte com uma concentração considerável de ácido lático e pH reduzido (ácido). Com as reações bioquímicas que ocorrem naturalmente após o abate, a acidificação é acentuada. Por outro lado, se devido a uma deficiência de glicogênio, o pH permanece após 24 horas acima de 6,2, tem-se o indício de uma carne DFD ("dark, firm, dry" ou "dark-cutting"). Esta condição ocorre em bovinos, suínos e ovinos, mas com pequena importância econômica para ovinos. A carne DFD é um problema causado pelo estresse crônico antes do abate, que esgota os níveis de glicogênio. Há evidências que o principal fator de indução do aparecimento do "dark cutting" seja o manejo inadequado antes do abate que conduz à exaustão física do animal.Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 12 Neste caso, o problema é que as reservas de glicogênio não podem ser repostas, já que os animais permanecem em jejum no frigorífico. Assim, como as reservas de glicogênio já foram gastas, não ocorre a produção de ácido lático no músculo, que permanece com pH elevado. 7.1.2 Modificações estruturais Uma das conseqüências imediatas da sangria é a interrupção do transporte de oxigênio para os músculos e, daí iniciando a glicólise anaeróbica. O teor de ATP produzido pela glicólise anaeróbica é pequeno e, ao cair os níveis de ATP, a actina e miosina unem-se irreversivelmente, fazendo surgir a inextensibilidade característica do músculo em rigor mortis. 7.1.3 Modificações do aspecto físico Dentre as modificações do aspecto físico destacam-se as da cor, da firmeza e da capacidade de retenção de água. Com relação à cor, na ausência de oxigênio, ao invés de vermelho brilhante, o músculo apresenta um vermelho mais escuro ou púrpura. Durante o processo de maturação, devido à degradação enzimática por enzimas do próprio músculo e à desnaturação protéica, o músculo perde firmeza. A capacidade de retenção de água, em grau elevado no músculo em vida, é importante principalmente na fabricação de embutidos. À medida que o pH diminui, a capacidade de retenção de água também diminui. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 13 8. MATURAÇÃO DA CARNE Pode-se definir maturação comercial como um processo ao qual a carne é submetida a condições controladas, embalada a vácuo e mantida em temperatura de -1ºC a 2ºC por 14 dias, aproximadamente. Porém, a maturação é um fenômeno complexo, que ocorre a partir da resolução do rigor-mortis, que se prolonga durante as estocagens refrigeradas, envolvendo atividade enzimática. A resolução do rigor-mortis é iniciada pela atividade de enzimas pertencentes ao próprio músculo. Estas enzimas quebram as proteínas musculares envolvidas no processo de contração, desfazendo este estado. Assim, a dureza observada durante a instalação do rigor mortis desfaz-se à medida que progride a maturação no estágio pós-rigor. Além de levar ao amaciamento da carne, a maturação tem ainda importante função nas propriedades organolépticas da carne, em especial, na textura e odor, influindo significativamente em sua palatabilidade. Para um melhor efeito do processo, é importante que ocorra acidificação adequada da carne, ou seja, o pH final deve estar entre 5,4 e 5,8. Durante a maturação há um aumento do pH, mas este valor não deve ser superior a 6,0 a fim de não ocorrer contaminação microbiana. Quanto mais alta a temperatura, mais rapidamente há manifestação dos efeitos da maturação sobre a carne, porém também é mais alto o risco de contaminação microbiológica, portanto maior a probabilidade de deterioração da carne. Uma alternativa utilizada para evitar esse fenômeno de contaminação é a utilização de embalagens a vácuo, ou atmosfera modificada com teores residuais de oxigênio baixo, que conservam a carne, possibilitando sua permanência em temperaturas mais elevadas. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 14 9. PARÂMETROS DE QUALIDADE DA CARNE FRESCA As propriedades da carne fresca determinam sua utilidade para o comerciante, a atração para o consumidor e a adequação para processamento posterior. São importantes suas características de retenção de água, cor, textura, sabor e aroma. 9.1 CAPACIDADE DE RETENÇÃO DE ÁGUA Capacidade de retenção de água é definida como a capacidade da carne de reter sua umidade ou água durante a aplicação de forças externas, como corte, aquecimento, trituração e prensagem. A capacidade de retenção de água do tecido muscular tem grande importância durante o armazenamento. Quando os tecidos têm pouca capacidade de retenção de água, as perdas de umidade e conseqüentemente de peso durante o armazenamento são grandes. Esta perda ocorre geralmente nas superfícies musculares da carcaça exposta à atmosfera durante a estocagem. Uma vez realizado os cortes para a venda, existe uma maior oportunidade de perda de água em conseqüência do aumento de superfície muscular exposta à atmosfera. A formação de ácido lático e a conseqüente queda do pH pós-morte são responsáveis pela diminuição da capacidade de reter água da carne. Essas reações causam uma desnaturação e perda da solubilidade das proteínas musculares. Conseqüentemente, estes grupos não têm capacidade de atrair água. Figura 8: Efeito do pH na quantidade de água imobilizada da carne. Fonte: Roça (propriedades da carne) Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 15 9.2 COR A cor da carne é originada principalmente da proteína mioglobina. A grande variação de cor nas carnes ocorre porque a quantidade de mioglobina varia com a espécie, idade, sexo, músculo e atividade física. Estresse, queda do pH e pH final da carne também influenciam na sua coloração. A diferença entre a cor da carne proveniente de diferentes espécies é notada facilmente. Como exemplo, pode-se observar que o bovino adulto possui carne de cor vermelho-cereja brilhante, enquanto a carne ovina é vermelho-pálida a vermelho-ladrilho, a de eqüino é vermelho-escura, a de suíno, rosa acinzentada e a de aves, branco-cinza a vermelho-pálido. Animais mais novos possuem menos mioglobina no músculo e por isso apresentam carne mais pálida. Os machos, por sua vez, possuem mais mioglobina que as fêmeas. Devido a essa diferença no teor de mioglobina, a carne brilhante do peito das aves contrasta com a carne escura situada na coxa. Com relação ao exercício físico, este induz a formação de mais mioglobina, deixando a carne mais escura. A reação dos pigmentos com outros compostos ou íons pode resultar na alteração da cor das carnes. Ao cortar a carne proveniente de um bovino recém abatido, observa-se a cor vermelho púrpura, devido principalmente à mioglobina. Quando a carne fica em contato com o ar, os pigmentos reagem com o oxigênio e formam um pigmento relativamente estável denominado oximioglobina. A oximioglobina se forma em 30-40 minutos de exposição ao ar e é responsável pela cor vermelha brilhante, que proporciona um aspecto atraente para o consumidor. A desoxigenação da oximioglobina forma a metamioglobina, de coloração marrom, indesejável. A formação desta cor constitui um sério problema para a venda da carne, porque a maioria dos consumidores a associa com um longo período de armazenamento, embora possa haver formação deste composto em poucos minutos. A formação de metamioglobina é favorecida por baixas pressões de oxigênio, altas temperaturas (ativa enzimas que utilizam o oxigênio), sal (oxidante) e bactérias aeróbias (reduzem a tensão de oxigênio). A redução da metamioglobina pode ocorrer por enzimas presentes no músculo. Figura 9: Formação de diferentes pigmentos da carne através da reação com oxigênio. Fonte: Roça Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 16 9.3 TEXTURA De todos os atributos da qualidade sensorial, a textura e a maciez são consideradas as mais importantes pela maioria dos consumidores. Os atributos que mais contribuem para a textura da carne são a maciez, suculência e mastigabilidade. O processode maciez envolve uma série de mudanças no metabolismo muscular imediatamente após o abate. Muitos fatores influenciam aa maciez da carne, incluindo idade, sexo, nutrição, exercício, estresse antes do abate, presença de tecido conjuntivo, estimulação elétrica da carcaça, rigor-mortis, esfriamento da carcaça, maturação, método e temperatura de cozimento, e pH final da carne. A suculência da carne cozida é a sensação de umidade observada nos primeiros movimentos de mastigação, devido à rápida liberação de líquido pela carne e, também, da sensação de suculência mantida, devido principalmente à gordura que estimula a salivação. A gordura intermuscular funciona como uma barreira contra a perda do suco muscular durante o cozimento, aumentando, portanto, a retenção de água pela carne e aumento da suculência. A gordura intramuscular aumenta a sensação de suculência na carne. A maturação da carne a 0ºC por 14 a 21 dias também aumenta a suculência da carne devido ao aumento da capacidade de retenção de água. A suculência da carne depende também da perda de água durante o cozimento. Temperaturas de 80ºC produzem maiores perdas no cozimento que temperaturas ao redor de 60ºC. A mastigabilidade é um atributo secundário da textura que é avaliado pelo número de mastigadas necessário para deixar a carne em condições e ser deglutida. Apresenta alta correlação positiva com a maciez. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 17 10. MICROBIOLOGIA DA CARNE Os microrganismos presentes na carne podem contaminá-la por infecção do animal vivo ou por contaminação pós-morte da carne e podem causar sua deterioração ou uma infecção ou intoxicação no consumidor. A contaminação pode ocorrer durante todo o abate, armazenamento e distribuição dos produtos e são várias as fontes de infecção. A maior contaminação ocorre na esfola e é proveniente da própria pele do animal, que é rica em microrganismos. Ao cortar a pele, a faca leva microrganismos para a superfície da carcaça. Além disso, a pele já removida pode encostar-se à carcaça, contaminando-a, ou a própria mão do manipulador pode ser a fonte de contaminação. Bactérias presentes normalmente no interior do animal também podem contaminar a carcaça. As principais fontes deste tipo de microrganismo é o trato digestivo. Esta contaminação ocorre principalmente quando o conteúdo gástrico ou intestinal cai na carcaça, por descuido com a amarração do esôfago ou reto e por ruptura acidental destes órgãos durante as operações de abertura e evisceração da carcaça. Vale lembrar, ainda, que o ar, água, utensílios, manipuladores e equipamentos são fontes de microrganismos. Desta forma, os cuidados com a higiene são fundamentais para assegurar a qualidade do produto final. A carne é um alimento altamente perecível e são necessários cuidados intensos com a higiene e o fornecimento de um ambiente adequado de preparo e armazenagem. 10.1 DETERIORAÇÃO EM CARNES FRESCAS Na deterioração da carne refrigerada as bactérias crescem apenas na superfície. As Pseudomonas predominam e quando chegam a uma população de 107/g inicia-se o aparecimento de uma limosidade superficial que leva à alteração da aparência e do aroma. Nessas condições a amônia também pode ser detectada. Outras bactérias que podem estar presentes são Achromobacter e Flavobacterium, que causam limosidade superficial, formação de pigmentos fluorescentes, esverdeamento da carne e aparecimentos de pontos brancos ou coloridos. Lactobacillus, Microbacterium e Micrococcus causam limosidade superficial, acidificação e, num estágio mais avançado, putrefação. As carnes moídas ou muito fragmentadas favorecem o desenvolvimento das bactérias. Bolores e leveduras também podem levar a alterações da carne. Entre eles, os mais importantes são Thamnidium, Mucor e Rhysopus, que produzem filamentos, Cladosporium, que produzem manchas negras, Penicillium, que levam ao aparecimento de placas verdes e Sporothricum, que produzem manchas brancas. As leveduras encontradas são do gênero Cândida, Torulopsis e Rhodotorula. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 18 11. CONSERVAÇÃO DA CARNE Os métodos de preservação da carne têm como princípio o emprego de condições ambientais que desencorajam o crescimento de microrganismos. Eles podem ser agrupados em três categorias, com base no controle pela temperatura, umidade e, de forma mais direta, por agentes letais (bactericidas, bacteriostáticos, fungicidas, fungistáticos). 11.1 REFRIGERAÇÃO É o principal método de conservação das carnes e consiste na estocagem acima do ponto de congelamento. A temperatura usada para a refrigeração varia entre -2ºC e 5ºC. A refrigeração prolonga a vida de prateleira dos produtos e é utilizada em carnes in natura ou processadas. Para que a conservação seja eficiente deve-se formar a cadeia de frio desde o matadouro e indústria até o consumidor final. Qualquer quebra nesta cadeia é uma oportunidade que as bactérias encontram para se multiplicarem. Os métodos empregados para a refrigeração de carnes são a câmara fria (- 4ºC a 0ºC), usada para bovinos, suínos e eqüinos; e o tanque de resfriamento e/ou câmara fria, para aves, coelhos e pescados. Vários fatores interferem no resfriamento da carcaça, como: • Calor latente: quanto mais quente a carcaça chegar ao resfriamento, mais tempo levará para atingir a temperatura de refrigeração; • Tamanho da carcaça: carcaças maiores demoram mais para resfriar; • Quantidade de gordura de cobertura: a gordura é um isolante térmico e por isso reduz a velocidade de resfriamento do interior da carcaça; • Temperatura da câmara fria (velocidade do ar frio); • Quantidade e disposição das carcaças: número excessivo de carcaças e sua aglomeração dificultam o seu resfriament. 11.2 CONGELAMENTO O congelamento prolonga a vida de prateleira das carnes e é usado tanto para carne in natura como para os produtos processados. A temperatura de congelamento das carnes é de no máximo -2ºC. Este método de conservação tem grandes vantagens pois mantém as características físicas, as características organolépticas e o valor nutritivo da carne. Entretanto, possui custo elevado, necessita de equipamentos especiais, dependendo do produto enfrenta a rejeição por parte dos consumidores e a perda de nutrientes no descongelamento. Os métodos empregados no congelamento são o ar frio (-10º a -20ºC), que é o freezer caseiro; ar frio forçado ou ventilado (-10º a -30ºC), nos túneis de congelamento; placas de contato (-10º a -30ºC), no congelador de placas, Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 19 imersão em sprays líquidos, usado para aves e produtos processados; e aspersão de gases como o nitrogênio (-195ºC) ou dióxido de carbono (-98ºC). 11.3 TRATAMENTO TÉRMICO A carne enlatada e os produtos cárneos podem ser sujeitos ao calor em dois níveis – a pasteurização, que é destinada a parar o crescimento microbiológico, com o mínimo dano, e a esterilização, na qual quase todas as bactérias são eliminadas, porém com grau considerável de alteração na carne. 11.4 DESIDRATAÇÃO Neste método a conservação ocorre pela redução de água (Aa ) na carne, a níveis que dificultam o crescimento de bactérias. Normalmente é associado com acidificantes e aditivos. A carne-de-sol, o charque e os embutidos fermentados secos são exemplos de produtos desidratados. Métodos de desidratação: 11.4.1 Secagem em estufas: reduz o teor de umidade para aproximadamente 8%. 11.4.2 Spray dryer:o teor de umidade é reduzido para próximo de 5%. É ideal para produtos líquidos. 11.4.3 Freezer drying: a umidade é reduzida para 2%. É usado para alimentos usados pelo exército, carne em pedaços, sopa, camarão. 11.4.4 Meio ambiente ou câmara de secagem: utiliza aditivo (sal, cura, fermento). Reduz a umidade para valores entre 35% e 50%. È usado para salame, carne-de-sol, charque. 11.5 IRRADIAÇÃO Existem dois tipos de irradiação: a ionizante e a não ionizante. Na ionizante são emitidos isótopos radioativos 60Co e 137Cs, produzindo íons com efeito bacteriostático e conservando o produto sem promover um aumento de temperatura. Também apresenta excelentes efeitos contra parasitas, mas não é permitido em todos os países, além de causar alterações no sabor e coloração e a rejeição por consumidores. A irradiação não ionizante é realizada por microondas (fornos) ou por lâmpadas ultravioleta e infravermelha. São radiações de alta freqüência e algumas podem gerar calor. Também podem provocar alterações na cor e no flavor. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 20 12. TECNOLOGIA DE ABATE 12.1 FLUXOGRAMA DE ABATE DE BOVINOS 1) Recepção e desembarque Ao chegarem ao frigorífico, os animais são recepcionados ainda no caminhão. Após exame da documentação, o desembarque é autorizado. Durante o desembarque devem ser tomados os devidos cuidados para evitar maus-tratos e agitação excessiva dos animais, que influenciam negativamente a qualidade da carne. Após o desembarque, o veículo de transporte deve ser lavado e desinfetado para prevenir a disseminação de doenças. 2) Currais a) Curral de chegada e seleção: nestes currais os animais são separados por procedência, idade, sexo e categoria. Eles devem possuir iluminação adequada (mínimo de 5 watts/m2), pavimentação e uma pequena inclinação para facilitar a limpeza e o escoamento de dejetos. As cercas devem ter 2 m de altura e sem cantos vivos e proeminências que possam machucar os animais. Entre os currais as muretas separatórias de 30 cm de altura impedem a passagem de água e dejetos de um curral para o outro. Nestes currais existem, ainda, bebedouros com capacidade para que 20% dos animais bebam simultaneamente. A água para lavagem do piso deve percorrer um encanamento aéreo com pelo menos 3 atm de pressão. O piso é lavado logo após a retirada dos animais. b) Curral de observação: aí ficam os animais excluídos da matança por suspeita de doença. c) Curral de matança: os animais que ocupam o curral de chegada e seleção e que estão aparentemente sadios são levados a este curral. Além dos requisitos já citados (ver “curral de chegada e seleção”), deve ter área para a capacidade de matança diária. Aí os animais ficam em descanso, jejum e dieta hídrica por no mínimo 24 horas. Isto é importante para garantir a qualidade da carne. 3) Rampa de acesso à matança É um afunilamento dos currais. 4) Chuveiro (banho coletivo) Remove sujidades do pelo e pele e acalma os animais. 5) Seringa É um corredor estreito onde os animais andam em fila indiana. 6) Box de atordoamento Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 21 Neste box entra um animal de cada vez. Possui uma abertura lateral (alçapão) e o piso é inclinável. Quando a porta abre (mecanicamente), o piso reclina e o animal cai na área de vômito. Figura 10: Box de atordoamento Fonte: www.msimsuzano.com.br 7) Insensibilização Deve ser feita sem provocar a morte do animal. Podem ser utilizados: • Marreta: se for aplicado com muita força, provoca a morte do animal. Geralmente só é utilizada em caso de defeito no equipamento mecânico. O local exato a ser acertado é a interseção de duas linhas imaginárias que unem a base de cada chifre com a parte interna do olho do lado oposto. Esta é a região menos resistente da fronte do bovino. • Pistola de dardo cativo: possui um êmbolo que sai com pressão, perfura a fronte do bovino e volta. Usa o mesmo princípio da marreta, mas possui os inconvenientes de depreciar o cérebro como produto comercial, só é prático para animais mansos e tem alto custo. • Martelo pneumático: é uma pistola que dá pancada com força pré- determinada. Após insensibilização os animais devem ser sangrados imediatamente, pois mesmo paralisados eles retomam a consciência em curto período de tempo. Figura 11: Martelo pneumático. Fonte: Pesce, 2008 8) Área de vômito (pendura do animal) Aí o animal é içado pela pata traseira esquerda por um trilho aéreo e assume posição vertical. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 22 9) Sangria O sangrador, assim como os demais, deve ter ao seu lado uma pia para lavagem das mãos e esterilizador para instrumentos, que devem ser usados após cada operação. A sangria é realizada por meio do corte da veia jugular, no pescoço. Com a remoção do sangue ocorre a morte do animal. O tempo mínimo para escoamento do sangue é de 3 minutos. É importante que o animal permaneça vivo neste momento porque o coração batendo auxilia no bombeamento do sangue para fora do animal. No caso do aproveitamento do sangue para alimentação, a coleta será feita com facas e recipientes especiais. Uma canaleta no piso, em continuação à canaleta de sangria acompanha toda a trilhagem aérea percorrida pelo animal, recolhendo o sangue que ainda escorre e os resíduos das operações seguintes. 10) Serragem dos chifres e retirada dos mocotós dianteiros. Os pés são apresentados à inspeção. 11) Início da esfola A pele é cortada longitudinalmente do peito até o ânus 12) Esfola da região do traseiro e da cauda A pele é cortada nas patas traseiras até a região lombar. Esfola da região do dianteiro Das patas até a altura da cabeça. Oclusão do reto Impede a contaminação da carcaça pelas fezes. 13) Esfola da região lateral da carcaça Feita com uma faca pneumática. Nesta região a pele é muito aderida às costelas e esta faca evita a depreciação do couro. 14) Transpasse e retirada dos mocotós traseiros A carretilha é passada para a perna direita, já esfolada, liberando a perna esquerda para esfola. 15) Esfola da região abdominal 16) Roletamento do couro Uma máquina especial puxa a pele da região da coluna, que é a única que permanece presa até agora. - - - - - - - - - - - - - LIMITE ENTRE ÁREA SUJA E ÁREA LIMPA - - - - - - - - - - - - - Figura 12: Pia e esterilizador para facas Fonte: www.msimsuzano.com.br Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 23 17) Serra de peito 18) Desarticulação da cabeça e numeração (cabeça e carcaça) A cabeça fica presa pelo músculo do pescoço (acém). Oclusão do esôfago Separação do esôfago e da traquéia Feita com um equipamento chamado de “saca-rolhas”, para que o esôfago saia com o trato digestivo e a traquéia, com os pulmões. 19) Retirada da cabeça Após retirada, a cabeça é apresentada à inspeção. 20) Abertura da cavidade abdominal É realizada com uma faca que possui um capuz na ponta para não perfurar o sistema digestivo. Figura 13: Faca para abertura abdominal e torácica. Fonte: Fonte: MAPA - Portaria Nº 711 21) Evisceração genital 22) Retirada das vísceras abdominais As vísceras são apresentadas à inspeção antes de irem para o processamento. 23) Retirada das vísceras torácicas As vísceras são apresentadas à inspeção antes de irem parao processamento. 24) Serragem da carcaça A carcaça é serrada e dividida em duas meias-carcaças, que são apresentadas à inspeção junto com os rins, que permanecem presos e a cauda. Se elas estiverem aptas para o consumo, serão carimbadas. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 24 25) Toalete Remoção dos pequenos restos de ossos que espirraram na serragem, gordura abdominal, áreas onde houve contusões (sangue), diafragma e a rabada. 26) Pesagem 27) Chuveiro da carcaça 28) Câmara fria A carcaça permanece aí por 24 horas, Á temperatura de -4 a 0ºC. A tendência é que ela atinja 10ºC em 24 horas e, caso permaneça por mais tempo, 0 a 4ºC em 48 horas. 12.2 FLUXOGRAMA DE ABATE DE SUÍNOS 1) Rampa de desembarque 2) Pocilgas a) Pocilga de chegada e seleção: devem ser bem iluminadas (5 watts/m2), com divisões internas de 1,10 m em alvenaria, cobertas e com pé direito de 4 m. Devem possuir bebedouros para os animais. b) Pocilga de seqüestro: para os animais suspeitos. c) Pocilga de matança: para os animais considerados sadios, aptos para serem abatidos. 3) Chuveiro anterior à insensibilização Além das vantagens já comentadas, ele umedece a pele, facilitando a condução do eletro choque. 4) Atordoamento Para suínos, o método de insensibilização mais empregado é o choque elétrico. Para uma sangria bem feita, o tempo máximo entre a insensibilização e a sangria deve ser de 2 minutos. Figura 14: Equipamento utilizado para insensibilização por choque elétrico nos suínos. Fonte: MAPA - Portaria Nº 711 Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 25 5) Sangria 6) Chuveiro pós-sangria Este chuveiro remove os restos de sangue ou sujidades. Figura 15: Chuveiro Fonte: MAPA - Portaria Nº 711 7) Escalda e depilação A escalda é realizada para facilitar a remoção dos pêlos. Para a escaldagem é usado um tanque com água e vapor, a uma temperatura de 62 a 65ºC, por dois minutos. Deve-se evitar o pré-cozimento da pele. A escalda também pode ser realizada em um túnel com aspersão de água quente e vapor a 60ºC por 5 minutos. Após a depilação, os suínos são pendurados novamente. 8) Toalete da depilação Remoção das unhas e flambagem, para retirada dos pêlos remanescentes. Se necessário, completar a remoção dos pêlos com toalete manual, raspando-os com uma faca. 9) Chuveiro da depilação É obrigatório e retira as sujidades da depilação. 10) Abertura abdominal torácica Para isso é utilizada uma faca especial para evitar perfuração de vísceras. 11) Corte da sínfise pubiana 12) Oclusão do reto 13) Abertura da papada A cabeça e a papada são, então, apresentadas à inspeção. 14) Mesa de evisceração As vísceras são apresentadas à inspeção antes de irem para o processamento. 15) Divisão longitudinal da carcaça e cabeça 16) Retirada do unto (gordura que recobre algumas vísceras) 17) Toalete das carcaças Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 26 18) Chuveiro para as carcaças 19) Pesagem 20) Câmaras frias As carcaças são mantidas a 0ºC por 24 horas. As carcaças não devem encostar umas nas outras na câmara fria, pois irão “melar”, prejudicando a sua qualidade. 12.3 FLUXOGRAMA DE ABATE DE AVES 1) Insensibilização Podem ser utilizados: • Gás - alto custo • Eletronarcose: imersão em água ou salmoura, durante 1 a 2 segundos: 60V - frango; 70-80V - galinha; >120V - peru. Evitar a imersão além da cabeça para evitar problemas de sangria. Pode ser feito a seco com condutores metálicos. 2) Sangria A sangria é realizada em no máximo 3 minutos. 3) Escalda Tem como objetivo uma lavagem prévia e afrouxamento das penas. No Brasil é mais comum a utilização de 52-54ºC - 90 segundos para o corpo e 70- 80ºC - 2 a 3 minutos para os pés. 4) Depenagem Pode ser usada duas ou três depenadeiras posicionadas em alturas diferentes, com o objetivo de atingir todo o frango. Cada depenadeira tem em média 700 dedos de borracha que promovem um atrito com a ave, removendo a pena e, preferencialmente, sem causar leões na pele. 5) Evisceração As aves já depenadas são suspensas em linhas de evisceração, pela junta da coxa, na nória. Antes da evisceração as aves são lavadas em chuveiros de aspersão. Figura 16: Carcaças dependuradas, após depenagem. Fonte: SENAI (2001). Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 27 Inicialmente é feito o corte da cloaca com uma lâmina rotatória. Em equipamento com vácuo é feita a evacuação do intestino grosso. Isto ajuda a evitar a contaminação fecal da carcaça. No método manual, o operador segura a cloaca entre os dedos indicador e polegar e faz cortes tranversais próximos a ela, de tal forma que o intestino possa ser retirado até 1/3 do comprimento do dorso A seguir é feita a abertura do abdome através de uma incisão próxima à cloaca. As vísceras são expostas, examinadas e separadas. Os pulmões são extraídos por pistola à vácuo. Procede-se uma lavagem interna. 6) Pré-resfriamento Pode ser realizado por vários métodos: pulverização com água gelada, imersão em tanques e pré-resfriadores contínuos (“spin-chiller). O chiller pode funcionar em duas unidades: um pré-chiller com temperatura de 17ºC durante 12 minutos e um chiller com temperatura de 2ºC durante 17 minutos. A temperatura final deve ser inferior a 8ºC, sendo ideal abaixo de 4ºC, medida no peito da ave. 7) Gotejamento O máximo de água que pode ser absorvida é 8%. O tempo de gotejamento mínimo (SIF) é de 3 minutos, podendo chegar a 11 minutos. 8) Resfriamernto É utilizada temperatura entre -1 e 1ºC. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 28 13. OPERAÇÕES PARA O PREPARO DE CARCAÇAS, VÍSCERAS E CORTES COMERCIAIS DE ANIMAIS DE ABATE 13.1 PADRONIZAÇÃO DOS CORTES DE CARNE BOVINA CARCAÇA: Entende-se por carcaça o bovino abatido, sangrado, esfolado, eviscerado, desprovido de cabeça, patas, rabada, glândula mamária (na fêmea), verga, exceto suas raízes, e testículos (no macho). Após a sua divisão em meias carcaças retiram-se ainda os rins, gordura perirrenal e inguinal, “ferida de sangria”, medula espinhal, diafragma e seus pilares. MEIA CARCAÇA: Resulta do corte longitudinal da carcaça, abrangendo a sínfise isquiopubiana, a coluna vertebral e esterno. QUARTO: Resulta da subdivisão da meia-carcaça em traseiro e dianteiro, por separação entre a quinta e a sexta costelas. A incisão deverá ser feita a igual distância das referidas costelas, alcançando as regiões esternal (peito) e da coluna vertebral, à altura do quinto espaço intervertebral. Figura 17: Local de divisão dos quartos. Fonte: MAPA (1990). Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 29 13.1.1 Subdivisão do quarto dianteiro: PALETA DIANTEIRO SEM PALETA a) A paleta, por sua vez, é subdividida nos cortes: PÁMÚSCULO DO DIANTEIRO • A pá pode ser subdividida em outros cortes, que são: RAQUETE PEIXINHO CORAÇÃO DA PALETA b) O dianteiro-sem-paleta pode ser subdividido em outros cortes: PESCOÇO ACÉM COSTELA DO PEITO CUPIM DIANTEIRO Fonte: MAPA (1990) Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 30 13.1.2 Subdivisão do quarto traseiro: TRASEIRO SERROTE PONTA DE AGULHA a) O traseiro-serrote é subdividido em grandes peças, tais como: LOMBO ALCATRA COXÃO • O lombo é subdividido nos cortes: CONTRAFILÉ CAPA-DE-FILÉ FILÉ MIGNON � Variantes do lombo: BISTECA (CHULETA) TIBONE • O coxão subdivide-se em: COXÃO-MOLE COXÃO-DURO LAGARTO PATINHO Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 31 MÚSCULO-MOLE MÚSCULO-DURO b) A ponta-de-agulha pode ser subdividida nos cortes: COSTELA-DO-TRASEIRO VAZIO • O vazio pode ser subdividido em: bife-do-vazio fralda diafragma Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 32 Figura 18: Localização dos cortes primários e secundários. Fonte: Roça 13.2 CORTES DE CARNE SUÍNA Nos suínos a carcaça pode ou não incluir o couro, cabeça e pés. Os cortes suínos que vigoram hoje em nossos mercados são: Fonte: www.frigorificomaisa.com.br/produtos.htm Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 33 • Pernil ou perna • Lombo • Filezinho • Ombro, pescoço, sobrepaleta ou nuca • Barriga • Costela • Carré (bisteca) • Suã • Alcatra • Lagarto • Coxão de dentro • Coxão de fora • Patinho • Paleta • Papada • Máscara, pés e mãos 13.3 CORTES DE CARNE DE AVES As carcaças de aves são comercializadas em cortes muito variados hoje em dia, seguindo as exigências do consumidor: • Frango inteiro com vísceras: consiste da carcaça intacta, incluindo todas as partes, com exceção da cabeça e dos pés. Inclui ainda moela, fígado, coração e pescoço. • Frango inteiro sem vísceras: consiste da carcaça intacta, incluindo todas as partes, com exceção da cabeça e dos pés. Não inclui vísceras. • Meia-carcaça (duas peças): a carcaça é separada em duas metades – direita e esquerda. Não inclui vísceras. • Quatro partes: a carcaça é dividida em quatro partes, sendo dois peitos com a asa e duas coxas com as sobre coxas. Não inclui vísceras. • Seis partes: dois peitos sem asas com as costelas, duas coxas e duas sobre coxas. Não inclui vísceras. • Oito partes: dois peitos com as costelas, duas asas, duas coxas e duas sobre coxas. Não inclui vísceras. • Dez partes: peitos cortados ao meio formando quatro partes, duas asas, duas coxas e duas sobre coxas. Não inclui vísceras. • Metade frontal com asas: peito inteiro com as asas. Não inclui vísceras. • Metade frontal sem asas: peito inteiro sem as asas. Não inclui vísceras. • Metade posterior: parte posterior unida às coxas e sobre coxas e gordura abdominal. • Metade posterior sem sambiqueira • Peito inteiro com costelas e filé: peito inteiro com as costelas e filezinho. • Peito inteiro com osso, costelas e asas: peito inteiro com as costelas, asas e filezinho. • Peito sem osso com filé: peito inteiro sem ossos, sem pele, sem filezinho. • Peito sem osso, com carne da costela: corte do peito inteiro com costelas e filezinho em duas partes iguais. • Peito sem osso, sem carne da costela: peito cortado ao meio, sem carnes da costela. O filezinho pode estar presente ou não. • Filé sem o tendão: filezinho aparado do tendão. • Coxa e sobre coxa. • Sobre coxa. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 34 • Coxa. • Asa: asa inteira (três partes). • Asa – meio e ponta. • Coxinha da asa. • Tulipa: meio da asa. • Pescoço • Pés. • Miúdos: o Moela o Fígado o Coração Fonte: apcesiccarnes7.blogspot.com/2007_12_01_archiv... Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 35 13.4 TECNOLOGIA DE OBTENÇÃO DE MIÚDOS De acordo com o RIISPOA, miúdos são órgãos e vísceras dos animais de açougue usados na alimentação humana (miolos, língua, coração, fígado, rins, rúmen, retículo), além dos mocotós e rabada. Os miúdos devem ser processados imediatamente após sua liberação da sala de matança. Sua toalete deve ser realizada com o máximo cuidado, excluindo-se a matéria-prima de qualidade inferior, como as glândulas salivares, amídalas, ovários, baço, glândulas endócrinas em geral, linfonodos e outros, não permitidos pela legislação. A seguir, devem ser devidamente embalados e rotulados, constando todos os dados necessários, de acordo com a legislação. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 36 14. HIGIENE DOS ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS PARA O PROCESSAMENTO DE CARNE A higiene dos estabelecimentos processadores de carne segue as mesmas bases dos outros setores envolvidos com alimentos. Entretanto, possui alguns pontos característicos. Um importante aspecto é o desenho dos abatedouros. Em geral, tudo que contribui para um fluxo calmo de animais irá reduzir as fontes de contaminação. O excesso de animais nos currais é um fator importante, pois além de gerar problemas de estresse nestes animais, aumentará a carga bacteriana carreada para o interior da sala de abate. A remoção adequada do sangue, do couro e do trato gastrintestinal também é especialmente importante. O resfriamento rápido e adequado das carcaças é fundamental. Um dos primeiros programas a ser estabelecido na indústria de carne é a higienização - limpeza e desinfecção - em todas as fases de produção. Procedimentos de limpeza têm por objetivo eliminar diversos tipos de sujidade, e.g. incrustações, gorduras, proteínas, dos equipamentos e instalações. Já os procedimentos de sanificação visam à redução ou eliminação de microrganismos presentes nas superfícies. Importante verificar, antes da escolha dos produtos de limpeza, a boa qualidade da água, quanto aos seus aspectos físicos, químicos e microbiológicos, que, dependendo do uso, deve apresentar características, e.g. potabilidade, dureza e outros. Materiais de revestimento de paredes, teto, piso e cuidados com o acabamento sanitário (cantos arredondados, impermeabilização, iluminação, ventilação) como partes da edificação, devem estar emconformidade com as normas técnicas e requisitos sanitários. 14.1 HIGIENIZAÇÃO DE CURRAIS E ANEXOS Os cuidados com a higienização dos currais e anexos são muito importantes pois a falta deles pode levar ao carreamento pelos animais, para a sala de matança, de esterco e de lama que, pelo excesso, não podem ser convenientemente removidos pelo banho; exalação de mau cheiro, pela fermentação de urina e fezes, com repercussão negativa nas demais dependências do estabelecimento e na circunvizinhança. O acúmulo de fezes também constitui foco de proliferação de moscas. De um modo geral, a higienização dos currais, corredores, banheiro, rampa e seringa abrange a remoção dos escrementos e demais sujidades, lavagem e desinfecção. A remoção dos detritos é realizada por raspagem do piso, utilizando-se enxadas ou outro meio eficiente, com o recolhimento e transporte do material para Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 37 locais adequados, situados à distância. A lavagem é executada com mangueira sob pressão, auxiliada por escovões. A desinfecção é conseguida pelo emprego de fórmulas aprovadas. Obriga-se a caiação periódica dos currais. Os currais de chegada e seleção serão higienizados sempre que necessário. Os de matança são lavados logo após a saída dos animais e desinfetados semanal ou mensalmente. A caiação é procedida com freqüência, de modo a permitir que os currais apresentem sempre bom aspecto higiênico. Os métodos e a freqüência da limpeza e desinfecção dos corredores, banheiro/ rampa e seringa são os mesmos empregados nos currais de matança. Os bebedouros precisam ser mantidos limpos e sua água diariamente trocado. Os currais só poderão receber novos lotes, após serem convenientemente higienizados. Os currais de observação são higienizados sempre que forem ocupados. Para a desinfecção dos veículos transportadores de gado vivo, os agentes empregados são aqueles indicados pelo Serviço de Defesa Sanitária Animal do Ministério da Agricultura. A pulverização é o meio mais indicado para a desinfecção rotineira. 14.2 HIGIENIZAÇÃO DA SALA DE MATANÇA Para o trabalho de higiene na sala de abate é destacada uma equipe de profissionais, apropriadamente treinada, corretamente equipada (resguardando a integridade física) e uniformizada em cor diferente, que os identifique dos demais funcionários presentes na produção, a fim de que a higiene seja mantida no inicio das operações de abate, durante e ao fim das mesmas. A limpeza das instalações e equipamentos, após o abate, consiste inicialmente na remoção manual dos resíduos sólidos (remoção de sangue coagulado na canaleta de sangria usando rodos metálicos, escoando o sangue para o ralo duplo da própria canaleta) seguida da pré-lavagem de plataformas, pias, mesa de evisceração, serras, paredes, portas, deixando por último o piso; removendo assim, os resíduos solúveis em água e parte da carga microbiana auxiliada pela água de arrasto a temperatura de 45oC a 55oC. Seguindo com o procedimento, aplica-se detergente (neutro ou de baixa alcalinidade), deixando a espuma em contato com as superfícies por tempo suficiente, que permita umectar e emulsionar a sujidade. O enxágüe, preferencialmente realizado com água quente, temperatura de 90oC, além de eliminar determinados microrganismos, facilita a secagem e intensifica a evaporação, este, realizado de forma análoga à seqüência da pré- lavagem. Concluindo a limpeza do setor, abrir os ralos, limpar seus interiores e enxaguá-los, repondo a tampa no lugar. Nebulizar o setor com o auxílio de equipamentos de aspersão, usando sanificantes (compostos quaternários de amônia, compostos a base de cloro, iodo ou ácido peracético). A limpeza feita com gerador de espuma (alta ou baixa pressão), onde o jato de água age nas superfícies, substituindo a escovação manual e a diluição correta e turbulência geram as bolhas características da espuma pela mistura das soluções com água e ar comprimido, permite a dispersão da água da pré- lavagem, enxágüe e aspersão das soluções detergentes e sanificantes. O que se Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 38 traduz em economia de tempo, água, produtos de limpeza, menor esforço e resultados reprodutíveis. Ações de monitoramento incluem a combinação de métodos químicos, microbiológicos e sensoriais. Encontrando-se disponíveis, sistema de bioluminescência, indicadores ácido-base (fenolftaleína); avaliação microbiologia de superfícies e observação criteriosa usando os sentidos. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 39 15. AADDIITTIIVVOOSS São substâncias intencionalmente adicionadas aos alimentos com o objetivo de conservar, intensificar ou modificar suas propriedades, desde que não prejudiquem seu valor nutritivo. 15.1 GRUPOS DE ADITIVOS MAIS UTILIZADOS NA ELABORAÇÃO DA MAIORIA DOS PRODUTOS CÁRNEOS 15.1.1 Conservantes Os principais são os sais de nitrato e nitrito de sódio, também conhecidos como sais e que desempenham duas funções específicas no produto: ação conservante, especialmente sobre C. botulinum; e desenvolvimento de coloração característica (rosada) em produtos cárneos. b) Uso de conservantes na cura da carne O termo cura de carnes se refere à conservação de um produto por adição de sal, nitratos e/ou nitritos, açúcar e condimentos, onde também é obtida a melhoria das propriedades sensoriais. A cura de carnes é um procedimento que tem por finalidade conservar a carne por um período de tempo mais longo, além de conferir-lhe determinadas qualidades sensoriais, como sabor e aroma mais agradáveis e coloração vermelha ou rósea atraente. As finalidades da utilização de nitrato de sódio ou potássio e nitrito de sódio ou potássio são de desenvolver cor característica da carne curada e funcionar como bacteriostático em meio ácido. O nitrato é bastante empregado nas misturas de carnes, entretanto seu papel tanto na cura como na conservação ainda não está totalmente esclarecido. O nitrato atua como fonte de nitrito, que permite que a carne mantenha um nível de nitrito eficaz para a sua conservação. O nitrato é reduzido a nitrito mediante um processo bacteriano, mas para que a quantidade reduzida seja significativa é necessário um número de bactérias razoavelmente alto, que pode ser prejudicial aos produtos cárneos curados e dificilmente se sabe da quantidade de nitrito que pode se formar. A tolerância do nitrito varia amplamente entre diferentes grupos de bactérias. Existem diversas explicações das propriedades bacteriostáticas do nitrito. Nas fórmulas de cura, podem ser adicionado nitrito de sódio ou nitrito de potássio, embora raramente seja utilizado o nitrito de potássio. O nitrito inibe a germinação do Clostridium botulinum e previne a formação de toxinas nos produtos cárneos curados. Admite-se que a concentração mínima de nitrito necessária para inibir o Clostridium botulinum seja de 150 ppm. Investigações estão sendo realizadas para encontrar um substituto para o nitrito, porém ainda não foi encontrada nenhuma substância igual ou superior ao nitrito no desenvolvimento de cor e na ação antimicrobiana. Tecnologia de Carne ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Curso Técnico de Alimentos 40 A aplicação desses sais acima do limite máximo estabelecido pela legislação vigente pode acarretar sérios riscos à saúde humana, pela possibilidade de manifestações de efeitos tóxicos agudos e crônicos. 15.1.2 Antioxidantes
Compartilhar