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Abordagem do paciente com dor torácica · Caso clínico 1 • ID: Paciente JJS, 50 anos, masculino, negro, casado, bancário, residente e procedente de Muriaé, católico, Unimed. •QP: “muita dor no peito há 45 minutos” •HDA: Paciente tabagista e sem antecedentes cardiovasculares conhecidos, relata que, há 45 minutos, iniciou quadro dor torácica lancinante, característica cortante, de início súbito e agudo, contínua, intensidade 10/10, em repouso, localizada em região retroesternal e irradiada para dorso. Nega fatores desencadeantes, agravantes ou atenuantes. Admitido na Unidade de Emergência Médica com persistência dos sintomas relatados. • HPP: nada significativo • H. Fisiol: nada significativo • H. Fam.: pai falecido por IAM aos 75 anos •H. Social e hábitos de vida: alimentação nutricionalmente adequada. Sedentário. Etilista social. Carga tabágica de 80 maços/ano. • IS: nada significativo. •Sinais vitais: PA: 230 x 130 mmHg em MSD e 150 x 90 no MSE / FC 107 bpm / SO2 98% / TAX 36,8ºC • Medidas antropométricas: A: 171 cm / P: 75 kg / CA: 98 cm / IMC: 25,6 •Ectoscopia: grave estado geral, fácies de dor intensa, LOTE, posição e atitudes ativa e atípica, corado, hidratado, perfusão periférica preservada, acianótico, eutrófico, normolíneo. •AR: tórax atípico, expansibilidade e elasticidade simétricas preservadas, FTV normal, percussão claro timpânico, MVUA sem ruídos acessórios. • ACV: ectoscopia normal, ictus visível e palpável no 5º EIC junto à LHCE, sem frêmitos. RCR, 2T, sopro diastólico e aspirativo, 4+/6+, melhor audível no 2º EIC paraesternal direito. •ABD: plano, depressível, indolor à palpação superficial e profunda, sem visceromegalias. •MMII: sem edemas / pulsos femorais e poplíteos palpáveis e baixa amplitude / pulsos distais são simétricos e de baixa amplitude · Diagnóstico sindrômico: síndrome álgica torácica aguda · Diagnóstico diferencial: ? · Importância do tema · Maior causa de morte no mundo são as doenças cardiovasculares · Segunda queixa mis comum nas salas de emergência · Em apenas metade dos casos há uma confirmação diagnóstica · Após avaliação inicial, apenas 15 a 25% com dor torácica de fato apresentam síndrome coronariana aguda · Saber diferenciar situações ameaçadoras à vida daquelas que não são, ou seja, é preciso dizer para o paciente aquilo que ele não tem · Cerca de 10% dos pacientes com SCA são liberados para residência sem diagnóstico correto (mortalidade neste grupo em torno de 25%) · Por outro lado, pacientes de baixo risco são expostos a exames, internações e procedimentos inapropriados que tem baixa probabilidade de melhorar os desfechos clínicos · Causas mais comuns de dor torácica · Cardíaca · Doença aterosclerótica · Pericardite · Angina variante de Prinzmetal (causada por uma vasoconstrição momentânea da coronária) · Síndrome X (doença de microcirculação) · Anomalias coronarianas · Doenças valvares aórticas · Miocardiopatia hipertrófica · Não cardíaca · Vascular (dissecção de aorta) · Pulmonar (embolia) · Musculoesquelética · Pleural · Biliar/gástrica · Esofágica · Psicogênica · Para ser uma angina estável é preciso um fator desencadeante claro que provoca a dor, durando de 2 a 10 minutos. Ao interromper o evento desencadeante a dor some · A dor da pericardite é respiratória dependente; pode durar dias · As dores gastrointestinais geralmente se irradiam, melhoram com o uso de antiácidos · Diagnóstico diferencial · São múltiplas as causas de dor torácica, desde condições benignas a outras potenciais fatais · Apesar dos recentes avanços nos exames por imagem, o diagnóstico correto atraves de uma boa anamnese e exame físico são capazes de definir o diagnóstico em 88% dos casos · Causa psicogênica é relativamente comum nas salas de emergência. É um diagnóstico de exclusão, já que não existem exames complementares que a confirmem. Geralmente em pacientes ansiosos, depressivos, com síndrome do pânico. A dor pode ser opressiva, mas outras características tipicamente anginosas estão ausentes · As doenças do TGI podem ser facilmente confundidas com SCA. Geralmente anamnese e exame físico são suficientes para definição. Relação com jejum e alimentação, melhora com antiácidos e alterações do exame físico abdominal sugerem patologias do TGI · Grupo dos 5- dor torácica com risco de vida · Síndrome coronariana aguda · Dissecção de aorta · Embolia pulmonar · Pneumotórax hipertensivo · Rotura esofageana · Isquemia ou Infarto do miocárdio · Causa grave mais comum · Ocorre quando a oferta de oxigênio para o miocárdio é inadequada em relação à demanda · Pode se ter um excesso de consumo ou déficit de oferta · Etiologia mais comum é aterosclerose (tem-se uma placa que diminui o fluxo de oxigênio e nutrientes) · Quando se está estável, tem a presença da placa, mas essa se encontra em repouso, continua balanceado entre o que é ofertado e o que é consumido. Entretanto, se realiza um exercício físico a demanda aumenta e não é possível suprir o excesso de demanda · Causas menos comum: espasmo coronariano, arterite, dissecção espontânea, embolia coronariana... · Manifestação clássica da isquemia: angina · Sensação de peso ou aperto, queimação ou dificuldade de respirar · Irradiada para ombro, pescoço ou braço · Aumenta de intensidade em poucos minutos · Pode ser desencadeada por esforços ou estresse, mas na maioria, ocorre sem fatores desencadeantes óbvios · Na prática: grande dificuldade na caracterização da dor por ser sintoma subjetivo, tanto para o paciente que informa quanto na interpretação pelo médico que faz o atendimento · No caso das síndromes isquêmicas agudas, a dor torácica pode ocorrer de forma atípica ou ser substituída pelos equivalentes isquêmicos (dispneia, sudorese, palidez, arritmias) · Manifestações atípicas que reduzem a probabilidade de SCA · Dor pleurítica. · Localização principal na região mediana ou inferior do abdome. · Dor localizada com a ponta dos dedos. · Dor reproduzida com movimento ou palpação. · Dor constante que permanece por muitas horas ou dias. · Episódios que duram poucos segundos. · Irradiação para membros inferiores. · Dor pericárdica · Pericárdio visceral é indolor, assim como a maior parte do parietal. Por isso, causas não infecciosas são indolores · Causas infecciosas comprometem a pleura subjacente: dor · Dor pleurítica ao respirar, tossir, mudar de posição · Dor a deglutição: proximidade do esôfago com parede posterior do coração · Dor no pescoço ou ombro: comprometimento do nervo frênico · No eletro o segmento PR em V2 fica infra desnivelado e em aVR fica supra Dissecção de aorta · Ocorre quando há laceração ou úlcera da camada média, permitindo, por consequência, a passagem de fluxo de sangue ou quando há rotura do vaso vasorum causando sangramento da camada média · Fazem parte as dissecções de aorta, hematomas intramurais, úlceras ateroscleróticas penetrantes e as lesões traumáticas de aorta · Classificações · Anatômica: DeBakey e de Stanford: ajudam a orientar o tratamento · DeBakey: · Tipo I: comprometimento tanto da aorta ascendente quando da descendente · Tipo II: limitada à aorta ascendente · Tipo III: limitada à aorta descendente · Stanford · Tipo A: comprometimento da aorta ascendente (tendo ou não comprometimento da descendente) · Tipo B: compromete só a descendente · Temporal: aguda (<14 dias), subaguda (14-90 dias) e crônica (>90 dias) · Quadro clínico · Dor aguda, de início súbito, excruciante e lacerante ou cortante. · Localização da dor indica lugar: aorta ascendente, linha média anterior tórax; aorta torácica, posterior. · Tipo A: síncope (15%), sinais de baixo débito cardíaco, assimetria de pulsos (30-50% dos casos), sopro diastólico de foco aórtico (insuficiência aórtica), isquemia e infarto miocárdico (10 a 15%). · Tipo B: assimetria entre pulsos superiores e inferiores, claudicação, má perfusão dos membros inferiores, insuficiência renal aguda, paraplegia. · Raras, incidência 3/100.000. · Fatores de risco: doenças do tecido conectivo (Marfan e Ehlers-Danlos),valva aórtica bicúspide, gravidez, HAS. · Mortalidade elevada: 30% morrem no momento da dissecção e cerca de 50% em 48h · Diagnóstico · Principal objetivo: determinar a classificação da dissecção; se tipo A (indicação de cirurgia de emergência) ou tipo B. · Objetivos secundários: localização da fenda na íntima, a extensão da dissecção, o comprometimento ou não dos ramos da aorta, a presença de insuficiência valvar aórtica, a presença de trombas murais. · Radiografia de tórax: inespecífico, podendo mostrar alargamento do mediastino ou derrame pleural (mais comum a esquerda). · Eletrocardiograma: normal ou inespecífico em até 75% dos casos. · Ecocardiograma transesofágico: disponível, avalia função ventricular, insuficiência aórtica, origens das coronárias, derrame pleural e/ou pericárdico. · Angiotomografia computadorizada: rápida, disponível, imagens de fácil interpretação. S: 90-100%; E: 90-100%. · Angiorressonância: imagens dinâmicas e muito detalhadas da aorta, coração, válvula aórtica, fluxo nos ramos vasculares. É contrainicada em pacientes com instabilidade. S: 98-100%; E: 98-100%. · Se o paciente estiver instável é contraindicado · Aortografia. · Tratamento · O principal objetivo da terapia médica é o de reduzir a propagação da dissecção através da redução da pressão arterial e da contratilidade miocárdica (reduzir FC) · As que envolvem o segmento ascendente são emergências médicas e devem ser encaminhadas à cirurgia de emergência. · Aquelas confinadas ao segmento descendente devem ser tratadas de forma conservadora (medicamentosa) e encaminhadas à cirurgia se apresentarem comprometimento de órgão-alvo ou membros e/ou risco de ruptura iminente (dor persistente ou recorrente). · Betabloqueadores · Na ausência de contraindicação, para todos os pacientes. · Iniciar antes dos vasodilatadores para evitar taquicardia reflexa, o que pode aumentar a dissecção. · Não há dose máxima. Importante a meta de FC abaixo de 60 bpm. · Anti-hipertensivos · Iniciar após atingir a FC-alvo e controle da dor · A PAS deve ficar entre 100 e 200 mmHg para se manter uma adequada pressão de perfusão cerebral, coronariana e renal · Nitroprussiato de sódio é o de escolha (dilatador arterial e venoso de ação muito rápida) · OBS: sempre começar com betabloqueador, primeiro controla a FC e depois a PA, pois o NPT é um vasodilatador, com isso irá aumentar a FC como efeito de compensação. Por isso, que primeiramente betabloqueia Embolia pulmonar · Características · Dor pleurítica súbita associada à dispneia · Incidência: 1/1000 · Se maciça, pode causar hipotensão, sincope e sinais de insuficiência cardíaca direita Doenças pulmonares · Normalmente, associados à dispneia e sintomas pleuríticos · Localização reflete o local da doença Doenças gastrointestinais · Doença do refluxo gastresofágico · Refluxo ácido gera dor em queimação. · Exacerbado por álcool, aspirina e determinados alimentos. · Acentuados em decúbito e aliviados em posição sentada / ereta. · Melhora com terapias que reduzem acidez · Espasmo esofágico · Dor em aperto semelhante à angina. Também melhora com nitrato · Lacerações de Mallory-weiss · Síndrome de Boerhaave: ruptura esofagiana com mediastinite · Úlcera péptica · 60 a 90 minutos após as refeições e aliviam com terapias que reduzem acidez. Dor epigástrica, mas pode irradiar para tórax e ombros. · Colecistite · Pancreatite Avaliação clínica inicial · Abordar questões de alta prioridade (por vezes, antes mesmo de um diagnóstico) 1) Estabilidade clínica: antes mesmo de ter um diagnostico final 2) Prognostico imediato (reconhecimento rápido dos casos de SCA): se clinicamente estável, qual probabilidade de apresentar doença ameaçadora à vida 3) Segurança das opções de triagem (reconhecimento de outras causas potencialmente fatais): se risco de doença grave for baixo, é seguro dar alta ou ele deve realizar testes ou observação adicional que orientem seu tratamento 4) Minimizar custos e hospitalização de pacientes com dor torácica de origem benigna · Para realizar isso é preciso caracterizar a dor, saber os fatores de risco e realizar exame físico Caracterização da dor torácica · Características · Tipo · Intensidade · Irradiação · Fatores atenuantes e agravantes · Ritmo (aguda ou gradual) · Fatores relacionados ao tempo: duração, frequência, recorrência, relação circadiana · Sinais/sintomas/gestos associados · Comparar com eventos prévios · Classificação tipo de dor: CASS · DEFINITIVAMENTE ANGINOSA - TIPO A: caracterização clássica da dor anginosa típica; dão certeza de ICO. · PROVAVELMENTE ANGINOSA - TIPO B: tem a maioria, mas não todas as características clássicas, podendo ser até inteiramente típicas sob alguns aspectos. Fazem da ICO a primeira opção diagnóstica. · PROVAVELMENTE NÃO-ANGINOSA - TIPO C: tem algumas poucas características da dor anginosa clássica. A ICO não é a primeira opção diagnóstica. · DEFINITIVAMENTE NÃO-ANGINOSA - TIPO D: não tem nenhuma característica de dor clássica. A ICO não é opção diagnóstica. · Diagnostico diferencial · Quanto ao ritmo: · Gradual: SCA · Aguda (súbita e intensa): EP, dissecção de aorta, PNTX · Características · Se pleurítica ou posicional: pericardite, pneumonia, EP, musculoesqueléticas Fatores de risco · Fatores de risco clássicos para SCA · Idade > 60 anos · HAS · Dislipidemia · Tabagismo · Antecedente de IAM prévio · Antecedentes familiares de DAC precoce (parentes de 1ºgrau) · Homens <55 anos · Mulheres <60 anos · Obesidade abdominal · IRC Exame físico · Normalmente, não apresenta alterações, se tiver indica gravidade · Identificar potenciais precipitantes de isquemia miocárdica (HAS…). · Pesquisar comorbidades importantes (ex; DPOC). · Identificar complicações hemodinâmicas (ICC, IMi nova, hipotensão…). · Avaliação de sopros. · Diminuição de pulsos · Frequentemente normal. · Hipotensão, terceira bulha, taquiarritmia, bradiarritmia, sopro de insuficiência mitral, atrito pericárdico, edema pulmonar, perfusão periférica lenificada, sonolência… · Quando presentes - conferem pior diagnóstico Eletrocardiograma · Importante na abordagem diagnostica, prognostica e terapêutica · Deve ser feito brevemente- MENOS DE 10 MINUTOS DA ENTRADA DO PACIENTE · Alterações são fundamentais para decisão da terapia nas SCA com supra ST e sem supra ST · Supra de ST > 1mm tem VPP superior a 80% Fazer diagnóstico diferencial: hipercalemia, pericardite, repolarização precoce, BRE, HVE. · Infra de ST e inversão de onda T tem VPP de aproximadamente 20%. · ECG completamente normal não exclui isquemia. · Pacientes com ECG normal, têm melhor prognóstico quando comparados com aqueles com alterações isquêmicas grosseiras. (ELETRO NORMAL NÃO DESCARTA INFARTO) · Baixa acurácia. · Se avaliação inicial insuficiente - repetir de 3/3h ou na recorrência de sintomas. Traçados seriados melhoram a capacidade de diagnóstico de SCA. · Aumenta-se a sensibilidade e auxilia na diferenciação de alterações agudas das crônicas. · Alteração dinâmica é altamente específica de SCA. · Disponibilidade de ECG prévio melhora a acurácia. Radiografia de tórax · Geralmente, não é diagnóstica para SCA, mas pode mostrar congestão secundária à disfunção ventricular. · Mais útil para diagnóstico diferencial. · Diagnóstico diferencial · Dissecção de aorta: aumento do mediastino ou botão aórtico. · Embolia pulmonar: pode ser normal. Elevação do hemidiafragma, corcova de Hampton, sinal de Westermark. · Pneumonia · Pneumotórax Marcadores de necrose miocárdica · Presentes precocemente após IAM · Altas concentrações no miocárdio · São rapidamente liberados no sangue · Relação linear entre a concentração plasmática e a extensão da lesão miocárdica · Persistência plasmática por tempo suficiente para prover boa janela diagnostica · Dosam-se principalmente: troponina (mais específica do coração) e CKMB · A troponina leva um tempinho para aumentar após o IAM. Começa a subir com 3 horas, atinge o pico com 24-48hrs e começa a cair, depois vai permanecer na corrente sanguíneaate 10-15 dias · A CKMB também demora 3 horas para subir, atinge o pico com 18-24hrs, cai rápido, em torno de 48-72 hrs já está negativa no sangue · É fundamental para identificar infartos precoces de tardios Probabilidade de SCA · Baixa probabilidade: até um FR (diferente de DM) e idade <60 anos · Intermediaria: dois FR (diferentes da DM) e idade <60 anos · Alta probabilidade: mais de 2 FR, DM, idade > 60 anos ou doença aterosclerótica estabelecida Protocolo de dor torácica · Observação, por no mínimo, 9h do início da dor (para tempo hábil de alteração de MNM). · Repetir exame físico de 3/3h ou se houver dor. · Marcadores de necrose miocárdica de 3/3h (CK-MB e troponina I) · Se troponina ultrassensível esteja disponível, o protocolo pode ser abreviado. · Protocolo positivo · Iniciar tratamento adequado para SCA · Protocolo negativo · Não descarta SCA, porém elimina IAM. · Opções: alta com retorno ambulatorial ou realização de teste não invasivos provocativos de isquemia. · Se testes positivos, trata. Se negativos, alta hospitalar.
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