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ELOISA DE ALMEIDA, TXX SAÚDE MENTAL TRANSTORNOS ALIMENTARES INTRODUÇÃO • Alimentação = sobrevivência; • Comer é cultura; • Social, ritual, status, prazer; PARADOXO! • Comida sempre disponível, porém: • Corpo magro = beleza, poder e sucesso → transtornos alimentares. • Transtorno alimentar é consequência: • Inicialmente medo excessivo em ganhar peso, com diferentes comportamentos para evitar tal consequência. • Perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que compromete a saúde física ou o funcionamento psicossocial → conceito DSM 5. ETIOLOGIA • Multifatorial; FATORES AMBIENTAIS • Ambiente familiar: • Sistema homeostático rígido; • Super proteção; • Envolvimento excessivo entre os membros; • Pouca motivação para mudanças. GENÉTICA • 56% monozigóticos x 5% dizigóticos; • Família do paciente de anorexia nervosa: traços de personalidade perfeccionista, obsessivo e ansioso. ANOREXIA NERVOSA (AN) • Anorexia = sem fome → tradução inadequada; • Paciente constantemente pensando em comida e como resistir a fome; • Restrição ingesta alimentar levado a baixo peso; • Medo intenso de ganhar peso ou ficar gordo; • Distorção de imagem corporal. QUADRO CLÍNICO • Trazido pela família; • Procura espontânea em casos de repercussões físicas ou somáticas da desnutrição • Ex: alteração menstrual, fratura espontânea, alterações de pele, alterações de cabelo etc. • Peso saudável: 20 – 25 kg/m2 • IMC: peso (kg) / altura2 (m); • Problemas: o Leve: IMC >17 kg/m2; o Moderada: IMC 16 – 16,99 kg/m2; o Grave: IMC 15 – 15,99 km/m2; o Extrema: IMC < 15 kg/m2. • Medo de engordar pode piorar após a perda de peso; IMAGEM CORPORAL • Distorção global ou apenas de partes do corpo (barriga, quadril ou coxas); • Avaliações frequentes: peso, medidas e espelho; • A ↓ do peso é considerada “conquista” e sinal de autocontrole; • O ↑ do peso é interpretado como perda inaceitável do autocontrole; • Esquiva: não usar trajes de banho e evitar comer em público; • Comportamento violento, agressão verbal e autoagressão se forçadas a mudar o padrão alimentar. COMPLICAÇÕES CLÍNICAS • Semelhante desnutrição crônica; • Interfere na curva de crescimento → atraso da puberdade; • Amenorreia; • Lanugo; • Edema periférico; ELOISA DE ALMEIDA, TXX • Osteopenia/osteoporose (nem sempre reversível); • Reversível com melhora do estado nutricional. CRITÉRIOS DIANÓSTICOS DSM-V • Restrição da ingestão de energia → significante baixo peso corporal no contexto da idade, sexo, trajetória de desenvolvimento e saúde física; • Medo intenso do ganho de peso ou de se tornar gordo, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso mesmo com o peso inferior; • Perturbação no modo de vivenciar o peso, tamanho ou formas corporais • Excessiva influencia do peso ou da forma corporal na autoavaliação; • Persistente falta de reconhecimento da seriedade do atual baixo peso corporal. SUBTIPOS RESTRITIVO • Durante os últimos 3 meses, o indivíduo não teve episódios recorrentes de comportamentos compulsivos ou purgativos; • A perda de peso é alcançada através de dietas, jejuns e/ou atividades físicas para perder peso. COMPULSIVO - PURGATIVO • Durante os últimos 3 meses, o indivíduo teve episódios recorrentes de comportamentos compulsivos e/ou purgativos; • Vômitos, abusos de laxantes e diuréticos ou enemas. BULIMIA NERVOSA (BN) • Episódios recorrentes de BINGE (compulsão alimentar): • Comer grande quantidade em pouco tempo; • Sensação de perda de controle sobre a comida. • Comportamento compensatório para evitar o ganho de peso: • Vômitos induzidos; • Laxantes; • Diurético. • Alteração de imagem corporal; • Peso normal ou sobrepeso. QUADRO CLÍNICO BINGE • Ingestão de grande quantidade de comida em período de até 12hr; • Não necessariamente no mesmo local; • Não consegue parar de comer após começar ou não consegue evitar • Pode ser planejado. • Pode iniciar após ou durante uma dieta para emagrecer; • Geralmente acontece em segredo; • Precedido por afeto negativo • Conflitos interpessoais, restrição alimentar ou tédio; • Inicialmente ocorre um alivio desses sentimentos, mas é seguido de disforia e sentimento de culpa. PURGAÇÃO • Vômito é o mais comum; • Alívio de desconforto físico; • Medo de ganho de peso; • Em alguns casos é o objetivo principal: o BINGE para vomitar; o Ou vomitar após pouca comida. • Laxantes, diuréticos, jejum; • Exercícios excessivos: • Interfere em atividades importantes, local ou horário inapropriado; • Ou continua apesar das lesões. COMPLICAÇÕES CLÍNICAS • Irregularidades menstruais; • Problemas de infertilidade; • Crises convulsivas; • Arritmias; • Cansaço crônico; • Lesão esofágica e ruptura gástrica (pode ser “causa” ou “consequência”; • Perda de esmalte dentário → cáries; • Aumento das glândulas parótidas; • Calo ou cicatrizes na região dorsal da mão (sinal de Russel). ELOISA DE ALMEIDA, TXX CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DSM-V • Episódios recorrentes de compulsão alimentar • Um episódio é caracterizado por ambos os seguintes critérios: o Ingestão, em um período limitado de tempo (ex: em 2hr), de uma quantidade de alimentos maior do que a maioria das pessoas consumiria em um período similar, sob circunstancias similares; o Um sentimento de falta de controle sobre o episódio (sentimento de não conseguir para ou controlar o que/quanto se come). • Comportamentos compensatórios inapropriados para prevenir o ganho de peso; • A compulsão e o comportamento compensatório inapropriado devem ocorre, no mínimo, pelo menos 1x por semana, por 3 meses; • Autoavaliação indevidamente influenciada pelo peso e pela forma corporal; • O transtorno não ocorre exclusivamente durante episódios de AN. EPIDEMIOLOGIA • AN foi relatada em todos os períodos históricos e em todas as regiões geográficas • Incidência reflete > acesso a saúde (diagnóstico e tratamento). • Incidência de BN sofre influencia cultural e da disponibilidade de comida. EPIDEMIOLOGIA AN • Idade média: 15 anos; • Causa mais comum de baixo peso em adolescentes mulheres; • Mulher 10:1 homem • Na adolescência, incidência em homens maior em outras fases da vida → obsessão por ganho de massa muscular. • 0,7% dos adolescentes: • 0,2% homens; • 1,1% mulheres. EPIDEMIOLOGIA BN • Houve um aumento no final do séc. XX • Imagem do corpo magro + lanches calóricos + abandono “ritual” da refeição; • Inicio na adolescência, porém diagnostico apenas após 6 anos; • 12% das mulheres na adolescência preenchem critérios pelo menos transitoriamente. FATORES DE RISCO • Faixa etária (adolescência e adulto jovem) e sexo; • Sem associação com o nível sócio-econômico; • AN: transtornos ansiosos e traços obsessivos • Modelos, atletas, bailarinas. • BN: preocupação com o peso, baixa autoestima, sinais depressivos e traços ansiosos, abuso sexual ou físico na infância, obesidade na infância e puberdade precoce. GATILHOS • Mudanças no corpo; • Alterações hormonais; • Expectativas culturais; • Demandas sexuais, intelectuais e sociais. COMORBIDADES AN • Depressão: pode ser secundária a desnutrição • 53% das pacientes que buscam tratamento. • Transtorno ansioso: fobia social, TOC → 65%; • Transtorno de personalidade: 20 – 80% (compulsivo e esquiva); • Traços de personalidade: obsessiva, dependente, rigidez, perfeccionismo, controle de impulsos. COMORBIDADES BN • Depressão e TAB; • Transtorno ansioso: geralmente remitem com tratamento de BN; • Abuso de substancias: álcool ou estimulantes • 30%; • Tentativa de controlar o apetite e o peso, ou induzir náuseas. • Transtorno de personalidade Borderline. EXAMES LABORATORIAIS • ↓ glicemia; • Tireoide hipofuncionante; • ↓ ureia (↓ ingestão proteica AN); •Hipocalemia (vômitos) e outras alterações eletrolíticas/ácido-base; • Função hepática (alterada em jejum extremo); • Anemia e neutropenia (AN); • ECG (arritmias BN); • Densidade óssea. ELOISA DE ALMEIDA, TXX EVOLUÇÃO ANOREXIA NERVOSA • Entre as doenças psiquiátricas + letais → 3ª causa de morte em adolescentes; • Curso prolongado → tempo médio de recuperação: 6 – 7 anos; • Intermitente; • Intervenção precoce não garante recuperação mais precoce. BULIMIA NERVOSA • Curso crônico e intermitente; • Sintomas diminuem com ou sem tratamento; • Remissão por >1 ano tem melhor prognóstico. Alternância de diagnóstico BN – AN: 10 – 15% CONDUTA APOIO FAMILIAR • Desgaste familiar; • Explicar diagnósticos, fatores mantenedores, tratamento e prognóstico; • Discutir causas não é o ideal • Foco nos fatores que contribuem para a manutenção de quadros e como combater. APOIO NUTRICIONAL • 1ª fase: modificar o comportamento relacionado a alimentação e peso; • 2ª fase: normalizar o comportamento alimentar e o ganho de peso. SÍNDROME DA RE-ALIMENTAÇÃO • Troca de fluidos e eletrólitos em pacientes desnutridos pode ser letal se for muito rápida ou não balanceada; • Hipofosfatemia, hipocalemia, hipomagnesia; • Dilatação gástrica; • ICC; • Edema; • Confusão mental; • Coma; • Morte. APOIO PSICOTERÁPICO • Produzir novos recursos de manejo emocional; • Criar motivação para a mudança; • Baixa autoestima; • Sentimento pronunciado de desesperança; • Desenvolvimento empobrecido da identidade; • Tendência a buscar aprovação externa; • Extrema sensibilidade a críticas; • Falta de assertividade; • Falta de autonomia e independência. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO • “Comida é o remédio” • Prescrita e seguir horário/dose; • Cuidadores que administram; • Paciente não gosta do efeito colateral (engordar); • Não negociável → muda apenas a via; • Medicação é coadjuvante. ANOREXIA NERVOSA • Ciproerptadina: anti-histamínico, orexígeno • Casos graves: primeiros dias de internação. • Clorpromazina: antiemético → melhora na aceitação de alimentos e nas preocupações obsessivas; • Metoclopramida: melhora sensação de plenitude gástrica • Usado no início do tratamento. • Antidepressivos: não usar no inicio do tratamento (os sintomas podem desaparecer com a melhora nutricional); • Ansiolíticos: ↓ a ansiedade relacionada à refeição. BULIMIA NERVOSA • Antidepressivos: ↓ na compulsão e vômitos; • Ansiolíticos: não recomendados pelo risco de dependência e associação com álcool. INTERNAMENTO • Fatores que justificam a internação de adolescentes com transtornos alimentares: • Desnutrição severa (peso < a 75% da média de peso aceita); • Desidratação; • Distúrbios eletrolíticos; • Arritmia cardíaca; • Instabilidade hemodinâmica: bradicardia severa, hipotensão e hipotermia; • Parada de crescimento e desenvolvimento; • Insucesso do tratamento ambulatorial; • Recusa em se alimentar; • Compulsão e episódios purgativos incontroláveis; • Complicações médicas agudas (síncope, convulsões, insuficiência cardíaca e pancreatite); • Emergência psiquiátrica (ideias suicidas, quadro psicótico agudo); • Comorbidades que interfiram no tratamento (depressão grave, TOC, disfunção familiar severa). ELOISA DE ALMEIDA, TXX PROGNÓSTICO COM TRATAMENTO AN • 40% recuperação total; • 30% melhora parcial; • 20% crônico; • 10% óbito. BN • 30% recuperação total; • 50% melhora parcial → com recaídas; • 20% crônico.
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