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Relembrar a morfofisiologia do fígado. ANATOMIA: - O fígado é a glândula mais pesada do corpo, pesando aproximadamente 1,4 kg em um adulto médio. - O fígado encontrasse inferiormente ao diafragma e ocupa a maior parte do hipocôndrio direito e parte das regiões epigástricas da cavidade abdominopélvica. - Em uma depressão da face posterior do fígado está a vesícula biliar que é um saco em forma de pera. - O fígado é quase totalmente recoberto pelo peritônio visceral e é completamente coberto por uma camada de tecido conjuntivo denso irregular que se encontra profundamente ao peritônio. - O fígado é dividido em dois lobos principais – um lobo hepático direito grande e um lobo hepático esquerdo menor – pelo ligamento falciforme, uma prega do mesentério. - O ligamento falciforme se estende da face inferior do diafragma entre os dois lobos principais do fígado até o seu aspecto superior, ajudando a suspender o fígado na cavidade abdominal. - Possuindo lobos acessórios que são o lobo quadrado e lobo caudado que são parte do lobo direito do fígado. O quadrado é situado anterior e inferior enquanto o caudado está posterior e superior. Este último é assim denominado porque forma uma cauda que é um processo papilar alongado em alguns indivíduos. Atente-se ao lobo caudado, pois ele possui vascularização independente da bifurcação da tríade portal recebendo vasos de ambos os feixes e é drenado por veias hepáticas que penetram pela veia cava inferior. - Na margem livre do ligamento falciforme está o ligamento redondo, um remanescente da veia umbilical do feto; este cordão fibroso se estende do fígado ao umbigo. Os ligamentos coronários direito e esquerdo são extensões estreitas do peritônio parietal que suspendem o fígado do diafragma. - O fígado recebe sangue proveniente de duas fontes. Pela artéria hepática obtém sangue oxigenado, e pela veia porta do fígado recebe sangue venoso contendo nutrientes recém absorvidos, fármacos e, possivelmente, microrganismos e toxinas do canal alimentar. Ramos tanto da artéria hepática quanto da veia porta do fígado levam o sangue para os vasos sinusoides hepáticos, onde o oxigênio, a maior parte dos nutrientes e determinadas substâncias tóxicas são absorvidas pelos hepatócitos. - Os produtos dos hepatócitos e os nutrientes necessários por outras células são secretados de volta para o sangue, que então drena para a veia central e, por fim, para uma veia hepática. Como o sangue do canal alimentar passa pelo fígado como parte da circulação porta hepática, o fígado é frequentemente o local para metástases de câncer que se originam no canal alimentar. HISTOLOGIA: Hepatócitos: Os hepatócitos são as principais células funcionais do fígado e realizam uma grande variedade de funções metabólicas, secretoras e endócrinas. São células epiteliais especializadas com 5 a 12 lados que compõem aproximadamente 80% do volume do fígado. Os hepatócitos formam arranjos tridimensionais complexos chamados lâminas hepáticas. As lâminas hepáticas são placas de hepatócitos de uma célula de espessura limitada em ambos os lados por espaços vasculares revestidos por células endoteliais chamados sinusoides hepáticos. As lâminas hepáticas são estruturas irregulares altamente ramificadas. Os sulcos nas membranas celulares entre hepatócitos vizinhos fornecem espaços para os canalículos para os quais os hepatócitos secretam bile. A bile, um líquido amarelo, marrom ou verde-oliva secretado pelos hepatócitos, atua tanto como um produto de excreção quanto como uma secreção digestória. Canalículos de bile: Os canalículos de bile são pequenos ductos entre os hepatócitos que coletam a bile produzida pelos hepatócitos. Dos canalículos de bile, a bile passa para os dúctulos biliares e, em seguida, para os ductos biliares. Os ductos biliares se unem e, por fim, formam os ductos hepáticos esquerdo e direito, que são maiores e se unem e saem do fígado como o ducto hepático comum. O ducto hepático comum junta-se ao ducto cístico da vesícula biliar para formar o ducto colédoco. Por ele, a bile entra no duodeno do intestino delgado para participar da digestão. Sinusoides hepáticos: Os sinusoides hepáticos são capilares sanguíneos altamente permeáveis entre fileiras de hepatócitos que recebem sangue oxigenado de ramos da artéria hepática e sangue venoso rico em nutrientes de ramos da veia porta do fígado. Recorde- se de que a veia porta do fígado traz o sangue venoso dos órgãos gastrintestinais e baço para o fígado. Os sinusoides hepáticos convergem e entregam o sangue a uma veia central. A partir das veias centrais, o sangue flui para as veias hepáticas, que drenam para a veia cava inferior . Em contraste com o sangue, que flui em direção à veia central, a bile flui na direção oposta. Nos sinusoides hepáticos também estão presentes fagócitos fixos chamados células estreladas do fígado, que destroem eritrócitos e leucócitos envelhecidos, bactérias e outros materiais estranhos do sangue venoso que drena do canal alimentar. Juntos, o ducto biliar, um ramo da artéria hepática e um ramo da veia hepática são chamados tríade portal. - Além das células endoteliais os lobos hepáticos possuem outro tipo de célula bastante importante que são as células de Kupffer, com proporção em torno de 15% das células hepáticas, situadas na superfície luminal das células endoteliais tendo como principais funções: metabolização de eritrócitos envelhecidos, digestão de hemoglobina, secreção proteica e destruição de bactérias invasoras. Células de Ito :Essas são células também conhecidas como ‘células estreladas hepáticas’ ou perisinusoidais. Estão presentes nos espaços de Disse e tem a função de captação, armazenamento e liberação de retinoides, além de síntese e secreção de proteínas de matriz extracelular e proteoglicanos, fatores de crescimento celular, citocinas e regulação do diâmetro do lumem sinusoidal. Espaço de Disse é a região composta por fibras reticulares que separa os hepatócitos dos sinusoides hepáticos. FISIOLOGIA: -Além de secretar bile, que é necessária para a absorção das gorduras dietéticas, o fígado desempenha outras funções vitais como : Metabolismo de carboidratos. O fígado é especialmente importante na manutenção de um nível normal de glicose no sangue. Quando a glicose no sangue está baixa, o fígado cliva o glicogênio em glicose e libera glicose para a corrente sanguínea. O fígado também pode converter determinados aminoácidos e o ácido láctico em glicose, e pode converter outros açúcares, como a frutose e a galactose, em glicose. Quando a glicemia está elevada, como ocorre logo depois de uma refeição, o fígado converte a glicose em glicogênio e triglicerídios para armazenamento Metabolismo de lipídios. Os hepatócitos armazenam alguns triglicerídios; clivam ácidos graxos para gerar ATP; sintetizam lipoproteínas, que transportam ácidos graxos, triglicerídios e colesterol de e para as células do corpo; sintetizam colesterol; e utilizam o colesterol para produzir sais biliares. Metabolismo de proteínas. Os hepatócitos desaminam (removem o grupo amino, NH2) dos aminoácidos, de modo que eles possam ser utilizados para a produção de ATP ou ser convertidos em carboidratos ou gorduras. A amônia (NH3) resultante é então convertida em ureia, que é muito menos tóxica e é excretada na urina. Os hepatócitos também sintetizam a maior parte das proteínas plasmáticas, como a alfaglobulina e betaglobulina, a albumina, a protrombina e o fibrinogênio. Processamento de fármacos e hormônios. O fígado desintoxica substâncias, como o álcool etílico, e excreta medicamentos como a penicilina, a eritromicina e as sulfonamidas na bile. Excreção de bilirrubina. Conformeobservado anteriormente, a bilirrubina, derivada do grupo heme de eritrócitos envelhecidos, é absorvida pelo fígado a partir do sangue e secretada na bile. A maior parte da bilirrubina da bile é metabolizada no intestino delgado por bactérias e eliminada nas fezes Síntese de sais biliares. Os sais biliares são utilizados no intestino delgado durante a emulsificação e absorção de lipídios Armazenamento. Além do glicogênio, o fígado é o principal local de armazenamento de determinadas vitaminas (A, B12, D, E e K) e minerais (ferro e cobre), que são liberadas do fígado quando necessárias em outras partes do corpo Fagocitose. As células estreladas do fígado fagocitam eritrócitos envelhecidos, leucócitos e algumas bactérias Ativação da vitamina D. A pele, o fígado e os rins participam na síntese da forma ativa da vitamina D. Compreender a fisiopatologia da cirrose hepática. CONCEITO: A cirrose hepática histologicamente é definida como uma alteração difusa do fígado, em que a arquitetura normal é substituída por nódulos regenerativos, separados por faixas de tecido fibroso, que determina a diminuição das funções de síntese e excreção hepáticas, hipertensão portal com anastomoses portossistêmicas e risco de carcinoma hepatocelular. Pode ser consequência de vários fatores etiológicos, nomeadamente álcool, infecções virais, doenças metabólicas, processos autoimunes ou patologia da via biliar. É uma doença severa proveniente de diversos fatores que levam à inflamação crônica do fígado. Entre as causas mais comuns estão as hepatites virais (B e C) e o abuso de substâncias, como álcool, embora a esteatose hepática seja considerada uma causa de cirrose emergente. Independentemente da causa da cirrose, as características patológicas consistem no desenvolvimento de fibrose até o ponto em que se observa distorção arquitetônica com formação de nódulos regenerativos. Isto resulta na diminuição da massa hepatocelular e, assim sendo, em sua função, assim como em uma alteração do fluxo sanguíneo. A indução da fibrose ocorre com a ativação de células estelares hepáticas, resultando na formação de maior quantidade de colágeno e de outros componentes da matriz extracelular.10 A cirrose foi historicamente classificada morfologicamente como micronodular, macronodular ou mista [ 3 ]. A cirrose micronodular, caracterizada por nódulos com menos de 3 mm de diâmetro, era considerada causada por álcool, hemocromatose, causas colestáticas de cirrose e obstrução do fluxo venoso hepático. A cirrose macronodular, caracterizada por nódulos de vários tamanhos maiores que 3 mm, era considerada secundária à hepatite viral crônica. https://www.uptodate.com/contents/cirrhosis-in-adults-etiologies-clinical-manifestations-and-diagnosis/abstract/3 ETIOLOGIA: O abuso no consumo de bebidas alcoólicas também pode causar danos aos hepatócitos. O álcool é degradado no fígado pela enzima álcool desidrogenase (ADH), a qual é responsável por degradar quantias limitadas de álcool, e pelo citocromo P-450E1 (CYP2E1), que degrada quantias excessivas. Ambos convertem o álcool em acetaldeído (etanol). O etanol promove a formação de ERO na mitocôndria, implicando em estresse oxidativo devido à escassez de antioxidantes hepáticos.5 Nos pacientes cirróticos compensados, sem manifestações clínicas de doença hepática avançada (ascite, icterícia, encefalopatia ou hemorragia digestiva), uma ou mais dessas complicações desenvolvem-se em uma taxa de 25- 30% por década. Entretanto, até que ocorram complicações relacionadas com a cirrose, a mortalidade secundária à doença hepática é rara, sendo inferior a 10% em 10 anos. Todavia, uma vez que o paciente apresenta complicações, a mortalidade aumenta para 50% em 5 anos. O uso de álcool acelera a frequência da descompensação hepática e dobra o risco de mortalidade nos cirróticos. EPIDEMIOLOGIA: Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cirrose hepática é a 18ª causa de morte no mundo. A infeção crónica pelo VHC é a 3ª causa de cirrose hepática. A cirrose é uma causa importante de morbidade e mortalidade por todo o mundo. Apesar da dificuldade em se estabelecer a incidência e prevalência real dessa doença, estima-se que ela seja responsável por 1,1% das mortes no mundo e por 9,3 mortes para cada 100 mil nos Estados Unidos, representando a 12ª causa de morte mais comum. No Brasil, a taxa de mortalidade específica por cirrose hepática é de 4,6 por 100.000 habitantes. No Brasil, a taxa de mortalidade específica por cirrose hepática é de 4,6 por 100.000 habitantes. Estima-se que cerca de 40% dos pacientes com cirrose são assintomáticos. PATOGÊNESE: Os processos patogênicos centrais da cirrose consistem na deposição de matriz extracelular (colágeno I e III, proteoglicanos sulfatados e glicoproteínas), morte dos hepatócitos e reorganização vascular. A deposição de colágeno tipo I e III ocorre no espaço de Disse e é consequência da ativação das células estreladas hepáticas pela lesão. Essa deposição forma tratos septais fribróticos e é acompanhada pela perda das fenestrações das células endoteliais dos sinusoides hepáticos, impedindo a troca de solutos entre os hepatócitos e o plasma, uma vez que os sinusóides são responsáveis por realizar essa troca. Durante todo o processo de lesão hepática e fibrose, a regeneração dos hepatócitos sobreviventes é estimulada e estes se proliferam dando origem a nódulos esféricos circundados por septos fibrosos. O resultado é um fígado nodular e com muitas fibroses, com comprometimento severo do suprimento de sangue para os hepatócitos e da secreção de substâncias no plasma pelos hepatócitos. A degeneração da interface entre o parênquima e os tratos portais também pode obliterar os canais biliares, levando ao desenvolvimento de icterícia. COMPLICAÇÕES: As principais complicações da cirrose estão relacionadas com a redução da função hepática, hipertensão portal e aumento do risco de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, além de outras complicações resultantes. Hipertensão portal: Essa complicação ocorre devido a formação de fibrose, nódulos e capilarização dos sinusoides, pela cirrose, resultando no aumento da resistência vascular. Além disso, outros fatores como alterações da função renal, alterações de sistemas neuro-humorais e anormalidades da microcirculação hepática estão associados. A Hipertensão portal é responsável pela maioria das suas complicações da cirrose, podendo levar a formação de varizes no esôfago, ascite e outras sintomatologias. Insuficiência hepática: Com o evoluir da cirrose e da perda de hepatócitos funcionantes, algu- mas funções do fígado podem ficar comprometidas, gerando redução na formação de algumas proteínas, neutralização de toxinas e a destruição de bactérias e produtos bacterianos provenientes dos intestinos. Com isso, pode surgir eritema palmar, telangiectasias, ginecomastia, atrofia testicular, desnutrição com perda de massa muscular, coagulopatia e maior predisposição a infecções decorrentes da redução dos hepatócitos funcionantes, com consequente redução na síntese de proteínas plasmáticas; distúrbio no metabolismo de carboidratos e lipídios; alterações no catabolismo e biotransformação de aminoácidos, hormônios, drogas e xenobióticos e redução na neutralização e destruição de micro-organismos. Além disso, pode ocorrer encefalopatia hepática, decorrentes da ação no sistema nervoso central de toxinas não adequadamente metabolizadas pelo fígado. Encefalopatia hepática: A encefalopatia hepática é uma complicação neurológica que ocorre em pacientes portadores de disfunção hepática grave, Esta relacionada à falha de detoxificação de metabó- litos, principalmente a amônia, provenientes do intestino, atribuídos à presença de insuficiência hepáticae de shunts portossistêmicos. É mais frequentemente desencadeada por hemorragia digestiva alta, infecções agudas, distúrbios hidro- eletrolíticos, grande ingestão de proteínas, deterioração da função hepática e após derivações cirúrgicas portossistêmicas. Sua intensidade varia da forma clinicamente inaparente ou leve, até a forma aparente e clinicamente evidente Peritonite bacteriana espontânea (PBE): A PBE é uma infecção frequente em pacientes com cirrose hepática. Acredita-se que um paciente imunodebilitado, com alterações da motilidade gástri- ca, associado ao supercrescimento bacteriano intestinal, tem maior risco de translocação bacteriana, que levam ao desenvolvimento da infecção peritoneal. Hemorragia digestiva alta (HDA): A HDA é um sangramento que se origina de um ponto lo- calizado entre a boca e o ângulo de Treitz, podendo se manifestar como hematêmese, vômitos, melena e enterorragia. Síndrome hepatorrenal: Essa doença é definida como o surgimento de insuficiência renal em pacientes com doença hepática, sem que haja evidências clínicas, laboratoriais ou anatômicas de causa conhecida que justifique o seu desenvolvimento. Carcinoma hepatocelular (CHC): O CHC é o tumor maligno primário mais comum do fígado. E possui associação com doenças hepáticas, como hepatite B e C e cirrose. MANIFESTAÇÕES CLINICAS: As manifestações clínicas da cirrose podem incluir sintomas inespecíficos (por exemplo, anorexia, perda de peso, fraqueza, fadiga) ou sinais e sintomas de descompensação hepática (icterícia, prurido, sinais de sangramento gastrointestinal superior, distensão abdominal por ascite, confusão devido a encefalopatia hepática) Os achados do exame físico podem incluir icterícia, angioma aranha, ginecomastia, ascite, esplenomegalia, eritema palmar, baqueteamento digital e asterixia. As anormalidades laboratoriais podem incluir bilirrubina sérica elevada, aminotransferases anormais, fosfatase alcalina / gama-glutamil transpeptidase elevada, tempo de protrombina prolongado / razão normalizada internacional elevada (INR), hiponatremia, hipoalbuminemia e trombocitopenia. Sintomas - Os pacientes com cirrose compensada podem ser assintomáticos ou podem relatar sintomas inespecíficos, como anorexia, perda de peso, fraqueza e fadiga. Pacientes com cirrose descompensada podem apresentar icterícia, prurido, sinais de sangramento gastrointestinal superior (hematêmese, melena, hematoquezia), distensão abdominal por ascite ou confusão devido à encefalopatia hepática. Pacientes com cirrose podem apresentar cãibras musculares, que podem ser graves. A causa não é completamente compreendida, embora possa estar relacionada a uma redução no volume plasmático circulante efetivo. Os pacientes devem ser questionados sobre fadiga, facilidade para hematomas, edema de membros inferiores, febre, perda de peso, diarreia, prurido, aumento da circunferência abdominal, confusão ou distúrbios do sono (possivelmente indicando encefalopatia). A causa da diarreia em pacientes com cirrose pode ser multifatorial (por exemplo, alterações na motilidade do intestino delgado, supercrescimento bacteriano do intestino delgado, alterações na permeabilidade intestinal e deficiência de ácido biliar). Em mulheres, a anovulação crônica é comum, que pode se manifestar como amenorréia ou sangramento menstrual irregular. Algumas das anormalidades podem ser devidas a variações nos níveis de testosterona, estradiol, prolactina e hormônio luteinizante em pacientes com cirrose em comparação com controles normais. Homens com cirrose podem desenvolver hipogonadismo. É manifestada por impotência, infertilidade, perda do impulso sexual e atrofia testicular. É uma característica observada predominantemente em pacientes com cirrose alcoólica e hemocromatose. Mais de um mecanismo parece estar envolvido. Em alguns casos, a lesão gonadal primária parece ser mais proeminente, como sugerido pelo aumento das concentrações séricas de hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH), enquanto em outros, a supressão da função hipotalâmica ou hipofisária parece ter um papel principal, como sugerido por concentrações séricas de LH que não estão elevadas. Os efeitos tóxicos do álcool ou do ferro também podem contribuir para o seu desenvolvimento. Pacientes com cirrose também podem apresentar diversos sinais e sintomas que refletem o papel central que o fígado desempenha na homeostase de muitas funções corporais diferentes. Além disso, eles podem ter características relacionadas à causa subjacente da cirrose, como crioglobulinemia da hepatite C, diabetes mellitus e artropatia em pacientes com hemocromatose ou doenças autoimunes extra-hepáticas (como anemia hemolítica ou tireoidite) em pacientes com hepatite autoimune. A cirrose pode ser classificada em : Compensada: fase inicial; nela o paciente pode se apresentar assintomático ou com sintomas inespecíficos, como fadiga, perda de peso, fraqueza e anorexia. Descompensada: paciente pode apresentar icterícia, prurido, ascite (manifestação mais comum de descompensação), edema de membros inferiores, diarreia, sangramento gastrointestinal (hematêmese, hematoquezia, melena), confusão mental, entre outros. Entender os métodos diagnósticos, diagnósticos diferencial e tratamento para a cirrose. A biópsia hepática é o exame padrão ouro para documentar a cirrose, identificar a causa e avaliar extensão do comprometimento hepático. Alguns exames de imagem como a ultrassonografia e a tomografia computadorizada podem delinear as características típicas de um fígado cirrótico e a presença de hipertensão portal quando associados com dados laboratoriais e quadro clínico compatíveis podem auxiliar no diagnóstico de cirrose hepática Exame físico - vários achados físicos foram descritos em pacientes com cirrose, incluindo icterícia, angioma, ginecomastia, ascite, esplenomegalia, eritema palmar, baqueteamento digital e asterixia. Diminuição da pressão arterial - À medida que a cirrose progride, os pacientes freqüentemente apresentam uma diminuição da pressão arterial média [ 15 ]. Pacientes que eram hipertensos anteriormente podem se tornar normotensos ou hipotensos. Achados cutâneos - Pacientes com cirrose freqüentemente desenvolvem icterícia e angiomas aranha. A icterícia é uma coloração amarela da pele e das membranas mucosas que resulta do aumento da bilirrubina sérica. Geralmente não é detectável até que a bilirrubina seja superior a 2 a 3 mg / dL. A hiperbilirrubinemia também pode fazer com que a urina pareça escura ou com uma coloração "cola" Achados de cabeça e pescoço - Os achados de cabeça e pescoço em pacientes com cirrose podem incluir aumento da glândula parótida e fetor hepático. O aumento da glândula parótida é tipicamente observado em pacientes com doença hepática alcoólica e provavelmente se deve ao álcool, não à cirrose em s Achados torácicos - a ginecomastia é observada em até dois terços dos pacientes com cirrose. É possivelmente causado pelo aumento da produção de androstenediona das supra-renais, aumento da aromatização da androstenediona em estrona e aumento da conversão de estrona em estradiol [ 21 ] Achados abdominais - os achados no exame abdominal incluem hepatomegalia, esplenomegalia, ascite, caput medusa e sopro de Cruveilhier- Baumgarten. Ultrassonografia - A ultrassonografia é usada rotineiramente durante a avaliação da cirrose. É não invasivo, bem tolerado, amplamente disponível e fornece informações valiosas. Na cirrose avançada, o fígado pode parecer pequeno e nodular. A nodularidade da superfície e o aumento da ecogenicidade com áreas de aparência irregular são consistentes com cirrose, mas também podem ser observados com esteatose hepática. Geralmente há atrofia do lobodireito e hipertrofia dos lobos caudados ou esquerdos. Tomografia computadorizada - A TC não é usada rotineiramente no diagnóstico e avaliação da cirrose. Ele fornece informações semelhantes à ultrassonografia, mas às custas da radiação e da exposição ao contraste. Os achados da TC de nodularidade hepática, atrofia do lobo direito e hipertrofia dos lobos caudados ou esquerdos, ascite ou varizes sugerem a presença de cirrose, mas não são diagnósticos. A desobstrução da veia porta pode ser demonstrada com imagens da fase portal da TC, mas a direção do fluxo sanguíneo não pode ser determinada. Imagem por ressonância magnética - O papel da imagem por ressonância magnética (MRI) no diagnóstico da cirrose não é claro. Apesar do grande entusiasmo com o potencial da RM na avaliação de pacientes com cirrose, seu uso é limitado pelos custos, pouca tolerância do exame por parte de alguns pacientes e pela capacidade de obter informações fornecidas pela RM por outros meios. Elastografia - O aumento da cicatrização do fígado está associado ao aumento da "rigidez" do tecido. Vários métodos foram desenvolvidos para avaliar a rigidez do fígado As provas de função hepática (PFH) são exames de sangue para medir a presença de determinadas substâncias químicas liberadas pelos hepatócitos. Estas incluem a globulinase albumina, a alanina aminotransferase (ALT), a aspartato aminotransferase (AST), a fosfatase alcalina (ALP), a gamaglutamil-transpeptidase (GGT) e a bilirrubina. As PFH são utilizadas para avaliar e monitorar doenças ou danos hepáticos. As causas mais comuns de elevação nas enzimas hepáticas incluem anti-inflamatórios não esteroides, hipolipemiantes, alguns antibióticos, álcool etílico, diabetes, infecções (hepatite viral e mononucleose), cálculos biliares, tumores do fígado e uso excessivo de fitoterápicos, como cava-cava, confrei, poejo, raiz do dente-de-leão, solidéu (escutelária) e éfreda. https://www.uptodate.com/contents/cirrhosis-in-adults-etiologies-clinical-manifestations-and-diagnosis/abstract/15 https://www.uptodate.com/contents/estrone-united-states-not-available-drug-information?search=cirrose+hep%C3%A1tica&topicRef=1253&source=see_link https://www.uptodate.com/contents/cirrhosis-in-adults-etiologies-clinical-manifestations-and-diagnosis/abstract/21 https://www.uptodate.com/contents/cirrhosis-in-adults-etiologies-clinical-manifestations-and-diagnosis/abstract/55,56 TRATAMENTO Até o momento, o transplante de fígado continua sendo a única opção de cura, mas terapias farmacológicas que podem deter a progressão para cirrose descompensada estão sendo desenvolvidos. Os principais objetivos do tratamento de pacientes com cirrose incluem: ●Retardar ou reverter a progressão da doença hepática ●Prevenindo insultos sobrepostos ao fígado ●Identificação de medicamentos que requerem ajustes de dose ou devem ser totalmente evitados (mesa 2) ●Gerenciamento de sintomas e anormalidades laboratoriais ●Prevenir, identificar e tratar as complicações da cirrose ●Determinar a adequação e o momento ideal para o transplante de fígado Prevenindo Vacinas - A vacinação contra as hepatites A e B para aqueles que ainda não estão imunes pode ajudar a prevenir agressões sobrepostas ao fígado. Outras vacinações, como a vacinação anual contra influenza, também são recomendadas. Medicamentos para evitar complicações: O prognóstico da cirrose depende da etiologia, da gravidade da hepatopatia, da presença de doenças associadas e outras complicações. Várias pesquisas têm sido feitas com o intuito de encontrar o melhor instrumento, não invasivo e de fácil utilização, para avaliar o grau de comprometimento hepático bem como o prognóstico dos pacientes. Dentre os mais utilizados estão os escores Child-Pugh e MELD (The Model for End Stage Liver Disease). O escore Child-Pugh inclui três variáveis contínuas (tempo de protrombina, bilirrubina total e albumina) e duas quantitativas (ascite e encefalopatia hepática). Uma pontuação 1, 2 ou 3 foi atribuída às variáveis, a fim de definir três grupos de pacientes com doenças de gravidade crescente, identificadas pelas letras A, B e C. O grupo A é formado por pacientes com escore (soma de pontos) entre 5 e 6, o B entre 7 e 9 e o C entre 10 e 15. Estudo realizado com 177 pacientes cirróticos, para avaliar a validade prognóstica do escore Child-Pugh, concluiu que a taxa de sobrevida de um ano é de 100% para pacientes Child A, 80% para B e 45% para C. O escore MELD resulta num valor numérico obtido através de uma fórmula logarítmica em que as variáveis são os níveis séricos de creatinina e bilirrubina e o valor do RNI (Relação Normalizada Internacional). É utilizado, atualmente, como um dos preditores de mortalidade em pacientes cirróticos, além de ser um marcador de prioridade para pacientes em lista de transplante hepático. https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=GAST%2F90196&topicKey=GAST%2F1263&search=cirrose+hep%C3%A1tica&rank=2%7E150&source=see_link Relacionar hepatites e cirrose com o hepatocarcinoma O carcinoma hepatocelular (CHC) é a neoplasia maligna primária do fígado mais frequente (90% dos casos), o 6º tipo mais frequente de cancro e a 3ª causa de morte por cancro no mundo, com 695.000 mortes estimadas em 2008. Existem grupos com risco aumentado de CHC, nos quais o rastreio está recomendado: Apresentação clínica A apresentação clínica depende do estádio tumoral. De uma forma geral, a sintomatologia só está presente numa minoria dos doentes, habitualmente com CHC avançado, e pode estar relacionada com o crescimento tumoral (dor abdominal no hipocôndrio direito ou sintomas constitucionais - perda ponderal, febre, distensão abdominal, náuseas, anorexia) ou com descompensação da doença hepática de base (fadiga, prurido, distensão abdominal, ascite, hemorragia digestiva). Os sinais clínicos mais Tabela 1. Principais grupos populacionais com risco aumentado de CHC 1. Doentes cirróticos, Child-Pugh A e B 2. Doentes cirróticos, Chlid-Pugh C, que aguardam transplante hepático 3. Infecção crónica pelo VHB/ hepatite B crónica com fatores de risco relacionados com o vírus/hospedeiro ou antecedentes familiares de CHC 4. Doentes não cirróticos com hepatite C crónica e fibrose hepática avançada (F3) frequentes são hepato/esplenomegália, icterícia, ascite e edema dos membros inferiores, confusão mental, asterixis e hematemeses/melenas. Diagnóstico O diagnóstico de CHC faz-se na maioria dos casos por métodos imagiológicos. A alfa-fetoproteína (AFP), apesar do seu valor prognóstico, não tem acuidade suficiente para rastreio e diagnóstico. Contudo, um cut-off > 400 ng/mL permite aumentar a especificidade do teste para 99%. Para rastreio nos grupos de risco está recomendada a ecografia abdominal em intervalos de 6 meses (com ou sem doseamento sérico de alfa-fetoproteína). A realização de biópsia hepática percutânea eco-guiada pode ser necessária nos casos de nódulos indeterminados, nomeadamente nos nódulos que não exibem características típicas de CHC nos métodos de imagem ou nos doentes sem cirrose hepática. Ainda assim, nos doentes com cirrose, as guidelines mais recentes não recomendam a realização por rotina de biópsia hepática em todas as situações de nódulos indeterminados (especialmente se < 2cm), dado o risco de disseminação que poderia inviabilizar uma estratégia curativa. É essencial a discussão multidisciplinar em centro de referência. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial de nódulo(s) de CHC deve ter em conta a história clínica e antecedentes do doente, bem como os aspetos distintos dos exames imagiológicos. O diagnóstico diferencial num doente cirrótico faz-se, essencialmente, com: • Nódulos de regeneração; • Nódulos displásicos; • Colangiocarcinoma intra-hepático. 21 Em doentes não-cirróticos, o diagnóstico diferencial deve fazer-se com: • Nódulos malignos (metástases, colangiocarcinoma intra-hepático,linfoma); • Nódulos benignos (hemangioma, hiperplasia nodular focal, adenoma e hiperplasia nodular regenerativa). Estadiamento O sistema de estadiamento BCLC (Barcelona Clinic Liver Cancer) estratifica os doentes com CHC em 5 estádios (0, A, B,C e D). REFERÊNCIAS: TORTORA G.J.DERRICKSON. Principios de anatomia e fisiologia.14° edição. FERREIRA, A. Aguiar et al. ALTERAÇÕES DA MORFOLOGIA HEPÁTICA NA CIRROSE. In: Congresso Nacional de Radiologia. 2018. REIS, J. et al. Abordagem clínica da cirrose hepática: protocolos de atuação. Abordagem clínicada cirrose hepática: protocolos de atuação, p. 1-51, 2018. UpToDate; Goldberg Eric , et al. Cirrhosis in adults: Etiologies, clinical manifestations, and diagnosis.2020. UpToDate; Goldberg Eric , et al. Cirrhosis in adults: Overview of complications, general management, and prognosis.2020. https://www.uptodate.com/contents/cirrhosis-in-adults-etiologies-clinical-manifestations-and-diagnosis/contributors https://www.uptodate.com/contents/cirrhosis-in-adults-etiologies-clinical-manifestations-and-diagnosis/contributors
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