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Da Teoria à Terapia: A Gestalt

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49
REFLEXÃO / REFLECTION / REFLECIONE
Submissão: 30/10/2009
Aprovação: 30/11/2009
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.49-53, Jan-Fev-Mar. 2010.
Da teoria à terapia: o jeito de ser da gestalt
From the theory to the therapy: the way of being of gestalt
De la teoría a terapia: la manera de dar de la gestalt
RESUMO
Trata-se de uma reflexão teórica acerca da evolução do conceito de Gestalt, palavra de origem ale-
mã, passando pela Psicologia da Gestalt, até sua aplicabilidade prática dentro do processo terapêu-
tico, quando vem a ser chamada de Gestalt-terapia. Partindo da perspectiva do “todo” gestáltico, o 
sujeito é visto em seu aspecto mais dinâmico e completo, sendo parte integrante e inalienável do 
universo que o rodeia. Universo esse holístico, onde todas as coisas estão interconectadas entre 
si de modo indissociável. O gestalt-terapeuta é aquele que enxerga além do outro para que esse 
outro enxergue além dele próprio, quebrando seus bloqueios de contato e proporcionando-lhe um 
encontro pleno para consigo e com o mundo. Para tal, o gestalt-terapeuta precisa entrelaçar-se com 
a teoria, fazer dela uma arte vivencial, confundir-se com ela e permitir que seja transformadora tanto 
para si quanto para o cliente.
Descritores: Gestalt. Psicologia. Terapia.
ABSTRACT
It is treated of a theoretical reflection about the evolution of the concept of Gestalt, word of German 
origin, going by the Psychology of Gestalt, until your practical applicability inside of the therapeu-
tic process, when it comes to be called Gestalt-therapy. Leaving of the perspective of the gestaltic 
“whole”, the subject is seen in your more dynamic and complete aspect, being integral and inalie-
nable part of the universe that surrounds him. Universe that holistic, where all the things are inter-
connected to each other inseparably. The gestalt-therapist is that that sees besides the other for that 
another to see besides him own, breaking the contact blockades of him and providing him a full 
encounter for I get and with the world. For such, the gestalt-therapist needs to interlace with the 
theory, to do a living art of it, to get confused with it and to allow that is so much changed for itself 
as for the client.
Descriptors: Gestalt, Psychology, T herapy.
RESUMEN
Se trata de una reflexión teórica sobre la evolución del concepto de Gestalt, palabra de origen 
alemán, pasando por la Psicología de la Gestalt, hasta su aplicabilidad práctica dentro del proceso 
terapeutico, cuando viene a ser llamada de Gestalt-terapia. Partiendo de la perspectiva del “todo” 
gestáltico, el sujeto es visto en su aspecto más dinámico y completo, siendo parte integrante e 
inalienable del universo que está a su alrededor. Universo ese holístico, donde todas las cosas están 
interconectadas entre si de modo indisociable. El gestalt-terapeuta es aquél que ve además de otro 
para que ese otro vea además de él própio, quebrando sus bloqueos de contacto y proporcionándo-
le un encuentro pleno para consigo y con el mundo. Para tal, el gestalt-terapeuta necesita enlazarse 
con la teoría, hacer de ella un arte vivencial, confundirse con ella y permitir que sea transformadora 
tanto para si cuanto para el cliente.
Descriptores: Gestalt. Psicología. Terapia.
Francisco Alberto de Brito Monteiro 
Júnior
Psicólogo. Especialista em Psicologia da Educação. 
Aluno do Curso de Comunicação – Jornalismo da 
UFPI.
50 Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.49-53, Jan-Fev-Mar. 2010.
1 INTRODUÇÃO
Segundo William Shakespeare (1564-1616), ‘Você faz suas escolhas 
e suas escolhas fazem você’. Essa frase de gênio, de alguém que não era 
psicólogo, mas que entendia, ou pelos menos tentava compreender, a 
complexidade da existência e, sobretudo, do ser humano, parece refletir 
a experiência-vivência de ser um gestalt-terapeuta. O indivíduo escolhe a 
Gestalt-terapia e a Gestalt-terapia escolhe o indivíduo. 
 A Gestalt-terapia trabalha os sentimentos do outro, a fim de 
que esse outro cumpra sua missão, perceba-se vivo e dinâmico e, sobre-
tudo, cheio de infinitas possibilidades. O gestalt-terapeuta assume, por-
tanto, função de catalisador da auto-percepção de si mesmo e do mundo, 
popularmente conhecida como awareness, a redescoberta de que ainda 
se está vivo e pronto para fechar velhas portas, atravessar novas janelas e 
fazer outros contatos plenos, necessitando, o gestalt-terapeuta, sentir re-
almente a interconexão de todas as coisas e ser um ser-no-mundo, tendo 
também consciência de sua própria consciência e do seu importantíssimo 
papel nessa redescoberta do outro. No dizer do personagem Melquíades, 
no livro Cem anos de solidão, “as coisas (todas) têm vida própria. Tudo é 
uma questão de despertar a sua alma” (MÁRQUEZ, 2009).
Este trabalho tem, pois, como objetivo fazer uma reflexão acerca 
de como a Gestalt passou de um conceito, a princípio abstrato, para se 
tornar uma psicoterapia de fato, hoje absolutamente difundida dentro da 
Psicologia e com métodos eficazes de ajuda terapêutica, pondo o cliente 
em contato tanto consigo mesmo quanto com o outro, ampliando seu 
campo perceptivo. Do lado do terapeuta, a Gestalt-terapia implica toda 
uma gama de sentimentos e sensações, uma vez que se faz necessário 
vestir realmente a camisa e vivenciar essa experiência humanista. O máxi-
mo que pode acontecer é todos saírem transformados ao final, na grande 
maioria das vezes para melhor – terapeuta e cliente.
2 DA PSICOLOGIA DA GESTALT À GESTALT-TERAPIA
Gestalt é uma palavra alemã que não possui tradução exata para 
o português ou para qualquer outra língua, mas que, segundo Braghirolli 
et al (1997), significa, aproximadamente, o todo, a estrutura, a forma, a 
organização. Engelmann (2002) credita isso ao fato de desde o século XIX 
o substantivo alemão “Gestalt” possuir dois significados: um como forma e 
outro como entidade concreta. Este último foi utilizado pelos gestaltistas 
de Berlim; por isso não se encontra a palavra em outras línguas, de modo 
que quando escreviam em outro idioma decidiam mantê-la no original. 
Mais do que Gestalt, Ginger e Ginger (1995) colocam que o correto mes-
mo seria dizer Gestaltung, pois indica ação prevista, acabada ou ainda em 
curso, implicando assim um processo de “formação”.
 Durante o século XIX e início do século XX, a Psicologia havia se 
consolidado como um ramo da Biologia, e limitava-se a estudar o compor-
tamento do cérebro do homem. Época em que os estudos sobre a percep-
ção humana da forma tinham em comum a análise atomista, procuravam 
o conjunto a partir de seus elementos. Sob esse ponto de vista, o homem 
tenderia somente a perceber uma imagem por meio de suas partes com-
ponentes, compreendendo-as por associações de experiências passadas.
 Em oposição direta a isto, ainda no início do século XX, surgiu 
a Teoria da Gestalt, ou “configuração”, com as idéias de psicólogos alemães 
e austríacos, como Christian von Ehrenfels (1859-1932), Wolfgang Köhler 
(1880-1943) e Kurt Koffka (1886-1941), juntamente com Max Wertheimer 
(1880-1943), inicialmente voltada apenas para o estudo da psicologia e 
dos fenômenos psíquicos. A Gestalt, entretanto, acabou ampliando seu 
campo de aplicação e tornou-se uma verdadeira corrente de pensamento 
filosófico. Segundo Schultz e Schultz (2001), o foco primordial da rebelião 
gestaltista foi o aspecto da obra de Wilhelm Wundt acerca do seu atomis-
mo ou elementarismo, o pressuposto wundtiano da condição fundamen-
tal dos elementos sensoriais. 
 A Teoria da Gestalt ou psicologia da Gestalt, afirma, entre outras 
coisas que não se pode ter conhecimento do todo por meio das partes, e 
sim das partes por meio do todo; os conjuntos possuem leis próprias e que 
são regidas por seus elementos (e não o contrário, como antes se pensa-
va); e só por intermédio da percepção da totalidade éque o cérebro pode 
de fato perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um conceito. 
Schultz e Schultz (2001) citam duas grandes influências para essa noção 
gestaltista da percepção: o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), 
com a sua ênfase na unidade de um ato perceptivo, e o movimento feno-
menológico, quando refere à descrição imparcial da experiência imediata 
tal como ela ocorre.
 Ginger e Ginger (1995) conceituam Gestalt como a psicologia 
segundo a qual o campo receptivo se organiza de maneira espontânea, 
sob a forma de conjuntos estruturados e significantes. Não se pode reduzir 
a percepção de uma totalidade à soma dos estímulos percebidos, uma vez 
que o todo é diferente de suas partes. Máxima essa atribuída aos gestal-
tistas que Engelmann (2002), por outro lado, considera errada, afirmando 
que a psicologia da Gestalt é anterior à existência das partes, pois a Gestalt 
de início vai ser dividida em partes.
 De acordo com Rodrigues (2006), a psicologia da Gestalt foi 
um campo estritamente experimental, que se ocupou em trazer questio-
namentos que foram contrários à visão mecanicista (causa-efeito) e à ato-
mística (que tem o átomo como a menor parte ou elemento constitutivo 
das coisas). Psicologia da Gestalt e Gestalt-terapia são, portanto, campos 
de atuação diferentes e preocupações distintas. Enquanto a psicologia da 
Gestalt foi um campo de pesquisa que trouxe novas perspectivas para 
entender a maneira com a qual o homem se relaciona com o mundo, a 
Gestalt-terapia se preocupa com o campo clínico, com as técnicas de tra-
balho e estudos que visam dar ao homem as condições necessárias para 
seu próprio crescimento.
 Fritz Perls (1893-1970) é tido como o criador da Gestalt-terapia, 
que além de ser uma psicoterapia é também compreendida como uma 
autêntica filosofia existencial, uma “arte de viver”. Essa forma particular de 
conceber as relações do indivíduo com o mundo enfatiza a tomada de 
consciência da experiência atual (“o aqui e o agora”, que inclui o ressur-
gimento eventual de uma vivência antiga) e reabilita a percepção emo-
cional e corporal, pondo em destaque os processos de bloqueio, quando 
desmascara evitações, medos e inibições, assim como as ilusões, deixando 
claro que cada um é responsável por suas escolhas e suas evitações (GIN-
GER; GINGER, 1995).
 A princípio, de acordo com Ginger e Ginger (1995), Perls, no 
ano do “batismo oficial” da nova terapia, 1951, nomeara seu método tera-
pêutico de “terapia da concentração”, em oposição ao método psicanalíti-
co da livre associação. Entretanto, essa concentração do cliente no presen-
te, na experiência vivida no “aqui e agora”, à época já não passava de um 
mero aspecto técnico, levando Perls a sugerir “Gestalt-terapia”, um nome 
mais global para o novo método. Apesar dos protestos dos pesquisadores 
gestaltistas, que acreditavam que o método de Perls não se encaixava na 
Teoria da Gestalt, o termo prevaleceu e se impôs em todo o mundo.
 Para Perls, Hefferline e Goodman (1997), a Gestalt-terapia se ali-
51Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.49-53, Jan-Fev-Mar. 2010.
menta da noção da psicologia da gestalt clássica. Advém, portanto, de um 
conjunto de dados sem fim e rudimentar que é apresentado pelo ambien-
te e organizado e moldado pelo sujeito da percepção em “todos” que pos-
suem forma e estrutura. “Todos” que são subjetivamente estruturados, e 
não os dados brutos incognoscíveis componentes da experiência de uma 
pessoa. De acordo com Braghirolli et al (1997), os gestaltistas ilustram essa 
noção de “todo” mostrando que uma melodia, por exemplo, não pode ser 
decomposta em suas notas musicais componentes sem que perca a es-
trutura que a identifica e, inversamente, se constituirá na mesma melodia 
tocada com outras notas (por exemplo, com uma mudança de escala).
 Dessa perspectiva do “todo”, atribui-se à Gestalt um conceito 
holístico, no qual tudo está interconectado entre si, como fazendo parte, 
em essência, da mesma coisa, do mesmo todo que move o Universo. 
 Quem pontua essa questão muito bem é Ginger e Ginger 
(1995, p. 84):
A visão holística da Gestalt se insere, é evidente, nessa percepção do mundo 
– que poderíamos qualificar de taoísta – em que nunca interessa ao terapeu-
ta um sinal isolado, um gesto ou uma palavra, até um comportamento com-
plexo mais elaborado, mas antes a interconexão permanente do indivíduo 
global com seu meio geral, social e cósmico, o todo num fluxo incessante que 
só podemos apreender por uma vigilância constante, no aqui e agora, com 
seu cortejo ininterrupto de Gestalts que se formam, se realizam e se dissol-
vem num processo em perpétua turbulência. 
Dentro desse fluxo contínuo, a experiência do self (eu) varia de ta-
manho e finalidade dependendo do que esteja acontecendo. Pode, por 
exemplo, diminuir, ficar ínfimo, quando se perde na contemplação de uma 
obra de arte ou se estar embriagado de amor, ou expandir, tomar toda a 
figura do awareness (consciência da consciência), quando se sente dor, no 
caso o self se torna a dor (PERLS et al, 1997).
Pode-se compreender a partir desse contexto um outro conceito 
importante em Gestalt: figura/fundo. De maneira simples, como abordam 
Schultz e Schultz (2001), a figura seria o objeto observado para o qual te-
mos uma tendência em organizar a percepção, enquanto o fundo seria o 
segundo plano sobre o qual a figura se destaca. Para Perls et al (1997), o 
processo de formação de figura/fundo é dinâmico no qual as urgências e 
recursos do campo progressivamente emprestam suas forças ao interesse, 
brilho e potência dominante. Já Ponciano (1997), diz que a função do self 
é se colocar como figura e/ou fundo nas relações exteriores.
A Gestalt-terapia como conhecemos atualmente possui diversas 
influências, desde a psicologia da Gestalt à filosofia existencial, passan-
do pela psicanálise de Freud (reformulando as teorias dos mecanismos 
de defesa e trabalho com os sonhos), a teoria de campo de Kurt Lewin, 
as religiões orientais (como o Zen Budismo), a fenomenologia, e outras.
De acordo com Ginger e Ginger (1995), da fenomenologia a Ges-
talt-terapia reteve alguns aspectos. Entre os quais, podemos citar a impor-
tância maior em descrever do que explicar (o como precede o porquê) e a 
vivência imediata tal como é percebida ou sentida corporalmente. Outro 
aspecto refere-se ao aqui e agora, o que conduz à importância de uma 
tomada de consciência do corpo e do tempo vivido, como experiência 
única de cada ser humano. Do existencialismo, ela absorveu o primado 
da vivência concreta em relação aos princípios abstratos, a singularidade 
de cada existência humana e a noção de responsabilidade de cada pes-
soa que participa ativamente da construção de seu projeto existencial e 
confere um sentido original ao que ocorre e ao mundo que a rodeia, cons-
truindo assim sua liberdade.
Da psicologia da gestalt apresentada por Wertheimer, Kohler e Ko-
ffka, a Gestalt-terapia herdou alguns princípios gestataltistas da organi-
zação da percepção. Schultz e Schultz (2001) falam que esses princípios 
são essencialmente leis ou regras a partir das quais organizamos o nosso 
mundo perceptivo. Essa organização acontece de forma espontânea e ins-
tantânea sempre que se vê ou se ouve diferentes formas ou padrões; assim 
partes do campo se combinam e se unem para formar estruturas que são 
distintas do fundo. 
Uma influência importante para a Gestalt-terapia foi a teoria do 
campo de Kurt Lewin (1890-1947). Este, de acordo com Ginger e Ginger 
(1995), extrapolou os princípios da teoria da Gestalt para uma teoria geral 
do campo psíquico, estudando a interdependência entre a pessoa e seu 
meio social, o que proporcionou a criação da dinâmica de grupos. Pon-
ciano (1999) coloca que o pressuposto básico metodológico da teoria de 
campo é a relação pessoa/campo (ambiente), e que éa partir da noção 
de campo (pessoa/meio) que se pensa a questão da energia como força 
transformadora, por meio da emoção e das relações pessoa-mundo.
O campo é a totalidade dos fatos co-existentes em dado momen-
to e concebido em termos de mútua interdependência. Sua significação 
depende da percepção de correlação entre sujeito e objeto. O compor-
tamento é determinado por forças subjacentes no campo, que deve ser 
compreendido partindo de descrições psicológicas e não somente de 
forças físicas ou fisiológicas. Pode-se perceber a tendência de a teoria de 
campo formar um conjunto de informações e postulados que aponta, em 
sua totalidade, para um novo modelo, um novo paradigma de se entender 
a pessoa humana de maneira inteira e integradora (PONCIANO, 1999).
Abordando a “fronteira de contato”, margem flutuante onde ego e 
outro se encontram e algo acontece, Perls et al (1997) fala que é, precisa-
mente, nesse local de encontros entre self e outro e de afastamento para 
ambos que a psicologia pode explicar melhor a responsabilidade que as 
pessoas têm em moldar sua própria experiência. Ademais, é na fronteira 
de contato que ocorre o crescimento, pois é onde a necessidade emer-
gente de uma pessoa e o que está disponível no ambiente para satisfazê-
-la se juntam ou se digladiam, dependendo se o encontro for amigável ou 
não-amigável. Esse “ciclo de satisfação de necessidades” também pode ser 
chamado de “ciclo de auto-regulação organísmica”, “ciclo de experiência” 
ou, como é popularmente conhecido, “ciclo do contato”.
Em sua obra O Ciclo do Contato, Ponciano (1997) define contato 
como sendo sinônimo de encontro pleno, de mudança, de vida. Contato 
possui um significado especial para o gestalt-terapeuta, uma vez que a 
Gestalt está centrada no conceito de contato e na natureza das relações 
de contato da pessoa consigo e com o mundo exterior. O contato é, por-
tanto, a matéria-prima da relação psicoterapêutica e define a qualidade do 
processo. Tudo na natureza é contato e sem contato tudo perde o sentido.
O universo do contato é o da totalidade, por isso é que a psicotera-
pia, como função do contato, ocorre somente quando se faz a totalidade. 
Nesse sentido, totalidade, consciência e contato formam o tripé da mu-
dança. Trata-se de uma força mobilizadora, síntese harmoniosa das dife-
renças, fruto da relação de diferença eu-mundo e eu-no-mundo. O con-
tato pleno acontece quando as funções sensitivas, motoras e cognitivas 
se unem, num dinâmico movimento dentro-fora-dentro, para, por meio 
de uma consciência emocionada, proporcionar no sujeito bem-estar, uma 
escolha, uma opção real por si mesmo (PONCIANO, 1997). 
3 APLICANDO A GESTALT-TERAPIA
Como terapia, a Gestalt permite ao terapeuta lançar mão de alguns 
conceitos e técnicas no processo de ajuda ao cliente. Estando a Gestalt 
52 Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.49-53, Jan-Fev-Mar. 2010.
centrada no conceito de contato, fala-se muito em “fechar gestalt”, quando 
o processo foi adiante e não ficou nada em aberto. Quando fica, quando as 
gestalts não se fecham, é porque ocorreu um bloqueio em uma das fases 
do ciclo, como postula Ponciano (1997).
Dentre os bloqueios de contato, pode-se destacar: fixação, o pro-
cesso pelo qual o sujeito se apega excessivamente a pessoas, idéias ou coi-
sas, e temendo surpresas diante do novo e da realidade, sente-se incapaz 
de explorar situações que flutuam rapidamente, permanecendo fixado 
em coisas e emoções – medo de correr riscos; introjeção, que é o processo 
através do qual o sujeito obedece e aceita opiniões arbitrárias, normas e 
valores que pertencem aos outros, engolindo coisas dos outros sem que-
rer, e sem conseguir defender seus direitos por medo da sua própria agres-
sividade e da dos outros – gosta de ser mimado; e projeção, processo pelo 
qual o sujeito possui dificuldade de identificar o que é seu, atribuindo ao 
outro, ao mau tempo, coisas de que não gosta em si próprio, bem como 
a responsabilidade pelos seus fracassos. Desconfia de todo mundo como 
prováveis inimigos – gosta que os outros façam as coisas no seu lugar.
Em contraposição aos bloqueios de contato, temos os fatores de 
cura, que estão sempre atrelados aos primeiros, destacando-se: fluidez, 
processo pelo qual o sujeito se movimenta, localiza-se no tempo e no 
espaço, deixando posições antigas e renovando-se, mais solto e espontâ-
neo e com vontade de criar e recriar a própria vida; consciência: processo 
pelo qual se dá conta de si mesmo de maneira mais clara e reflexiva, está 
mais atento ao que ocorre à sua volta, percebe-se relacionando com mais 
reciprocidade com as pessoas e coisas; e mobilização, processo pelo qual 
sente necessidade de se mudar, de exigir seus direitos, de separar suas 
coisas das dos outros, de sair da rotina, de expressar seus sentimentos exa-
tamente como sente e de não ter medo de ser diferente.
Ponciano (1997) postula que a idéia do ciclo como processo tera-
pêutico passa pela compreensão de que o processo da saúde ou da cura 
possui uma lógica, uma seqüência na qual uma coisa depende da outra 
e onde tudo afeta tudo. Entretanto, nenhuma pessoa está em um único 
ponto no Ciclo do Contato, e sim em vários, seja na direção da cura, seja na 
direção dos bloqueios, mesmo porque cada ponto do ciclo contém todos 
os outros. Por outro lado, a pessoa geralmente está mais em um ponto do 
que em outro, por isso se pode dizer que alguém é mais tipicamente um 
introjetor, um confluente e assim por diante.
Em relação às técnicas utilizadas pela Gestalt, Ginger e Ginger 
(1995) colocam que elas só têm sentido em seu contexto global, isto é, 
integradas em um método coerente e praticadas de acordo com uma filo-
sofia geral. Assim, o essencial da Gestalt não está em suas técnicas, e sim 
no espírito geral do qual ela procede e que as justifica.
Ginger e Ginger (1995) citam também algumas das técnicas que 
a Gestalt usa, como, por exemplo, o exercício de awareness, que se trata 
de estar atento ao fluxo constante das sensações físicas (exteroceptivas 
e proprioceptivas), dos sentimentos, de tomar consciência da sucessão 
ininterrupta de “figuras” que aparecem no primeiro plano, sobre o “fundo” 
formado pelo conjunto da situação que se vive e do sujeito que se é, no 
plano corporal, emocional, imaginário, racional ou comportamental. Tem-
-se, também, o hot seat (cadeira quente), uma das técnicas mais utilizadas 
pelos gestalt-terapeutas. Coloca-se o cliente diante de uma cadeira vazia, 
na qual, conforme sua vontade, ele pode projetar um personagem imagi-
nário com o qual deseja se relacionar. Esta é uma oportunidade do cliente 
expressar o que está preso em sua garganta. Depois, ele se coloca no lugar 
desse personagem imaginário e elabora uma resposta para si mesmo. Ge-
ralmente, obtém uma nova dimensão para a sua angústia. 
Uma outra técnica, o monodrama se trata de uma variação do 
psicodrama, em que o próprio protagonista desempenha, de maneira 
alternada, os diferentes papéis da situação por ele evocada (ele mesmo, 
a esposa, os filhos, o chefe). Troca sempre de lugar quando for mudar de 
papel para que a situação fique clara. Essa técnica facilita a encenação do 
próprio sentimento, à medida que este emerge da situação, sem inter-
ferência eventual na problemática pessoal de um parceiro anterior, que 
pode não estar na mesma sintonia, como ocorre no psicodrama. Por fim, a 
amplificação, que torna mais explícito o que está implícito, projetando na 
cena exterior aquilo o que acontece na cena interior. Permite, assim, que 
todos adquiram mais consciência do modo como se comportam aqui e 
agora, na “fronteira do contato” com o meio. 
Além das citadas, existem diversas outras técnicas e maneiras de 
se trabalhar em Gestalt-terapia. Isso dependerá do estilo pessoal de cada 
terapeuta, de seu modo de ser, uma vez que ser gestalt-terapeuta estáintimamente associado à própria vivência do terapeuta como humanista, 
ao modo de perceber o mundo e a si mesmo. 
 No entender de Erthal (2004), o principal instrumento de tra-
balho do psicólogo é ele próprio. Ela defende uma compreensão feno-
menológica do cliente, apoiada na descrição que ele traz para dentro do 
consultório, na vivência dele de sua própria situação. Cabe ao terapeuta a 
função de receptor sem valores morais (ou seja, neutralidade absoluta), 
considerando o contexto, a díade e o sentido certo da comunicação desse 
cliente. A interação profissional-cliente nunca pode ser considerada unila-
teral, uma vez que existe um impacto que cada parte da díade estabelece 
na relação.
É pela fala e pela linguagem que as pessoas comunicam seus sen-
timentos, pensamentos e intenções. Mas, apesar dessa função social, há 
ainda a função egocêntrica, na qual não existe preocupação em saber 
com que se está falando. Trata-se de um falar para si mesmo, o que ex-
pressa uma forma alienada e onipotente. Toda linguagem é uma forma 
de comportamento interpessoal. A personalidade do falante está incluí-
da no comunicado pela própria forma sutil ou discreta como se expressa. 
Não se pode não comunicar (no sentido de que não é possível conceber 
a não-expressão), pois o silêncio, a forte introspecção, já é em si uma co-
municação. O trabalho do terapeuta é, praticamente, seguir as falas de 
seu cliente, mescladas pela criteriosa escolha de cada intervenção feita 
(ERTHAL, 2004).
Erthal (2004) articula dez tipos de intervenções para que o tera-
peuta baseie cada vivência, cada momento entre ele e o cliente, e assim 
conduza a sessão sempre se apoiando na verdade do seu cliente, naquilo 
o que ele está, de uma forma ou de outra, trazendo para o âmbito do 
consultório e para a realidade da terapia. Dentre as intervenções, pode-se 
destacar: a refletora de vivências emocionais (interpretação vivencial), na 
qual o terapeuta transcende o conteúdo verbal daquilo que é expresso 
pelo cliente a fim de obter uma compreensão do sentimento contido nas 
formulações e assim expressar esse sentimento de maneira correta; a in-
quisitiva, talvez uma das mais usadas, na qual a intenção do terapeuta é 
obter dados maiores sobre um determinado assunto, estimulando o clien-
te a continuar falando, com especificação do foco de atenção. As pergun-
tas podem facilitar o campo perceptual do cliente, transmitir o interesse 
do terapeuta em pesquisar com mais profundidade o assunto, no entanto 
é preciso cuidado para não usar em demasia e banalizar a intervenção. O 
psicólogo iniciante geralmente fica ansioso e conduz a entrevista com um 
bombardeamento de perguntas que “facilitam” a sua atuação, bloqueando 
o fluxo espontâneo da comunicação do cliente, que por sua vez termina se 
53Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.49-53, Jan-Fev-Mar. 2010.
acostumando a ser indagado e apenas espera pela próxima pergunta; e o 
confronto, cujo objetivo é mostrar as contradições que o cliente apresenta, 
a fim de possibilitar maneiras novas de se perceber. As respostas de conte-
údo não-verbal facilitam esse confronto ao apontar para as discrepâncias, 
como, por exemplo, o cliente relatar algum acontecimento triste só que 
com uma expressão de felicidade. Isso demonstra uma incongruência que 
pode ser a indicação de alguma coisa com o poder de acarretar efeitos de 
significativa mudança no jeito em que a pessoa vê a si mesma e sente a si 
mesma na frente do outro.
É fácil, por fim, obter a percepção de que a Gestal-terapia se apóia 
na relação terapeuta-cliente, dentro de uma visão holística e, sobretudo, 
humanista, para alcançar o resultado a que se propõe – um resgate da 
harmonia e do bom funcionamento do organismo, em todos os aspectos 
(físicos, psicológicos) que o circundam. 
Segundo Cardella (1994), para que a relação tenha realmente na-
tureza terapêutica, deve ocorrer o fenômeno do amor, concebido pela 
autora como um estado e um modo de ser caracterizados pela integração 
e diferenciação de um indivíduo, que lhe permite ver, aceitar e encontrar 
o outro como único, singular e semelhante na condição de humano. O 
amor é a polaridade oposta do egocentrismo e do sofrimento emocio-
nal, o amor é de natureza incondicional, o que implica a capacidade de 
amar o diferente e não apenas o semelhante, e, quando recíproco na re-
lação, proporciona aos indivíduos um sentimento mútuo (do latim muto, 
que significa mudar) de plenitude. Além de tornar possível o verdadeiro 
Encontro, proporciona também um sentimento de transcendência de si 
mesmo e de harmonia com a humanidade e a existência. Envolve fatores 
como maturidade emocional, responsabilidade e posse da própria vida, 
auto-sustentação e independência em relação aos outros. Nas palavras ro-
mânticas do grande poeta Dante Alighieri (1265-1321): ‘O amor me move: 
só por ele eu falo’.
Refletindo sobre o “amor terapêutico”, Cardella (1994) acredita que 
na relação terapeuta-cliente o amor pode acontecer e se manifesta sob 
características distintas das demais formas de amar. As atitudes amoro-
sas do terapeuta facilitam o desenvolvimento do potencial de amor do 
cliente, devendo ser a base para o trabalho psicoterapêutico, juntamente 
com conhecimentos teóricos, filosóficos e técnicos, sem os quais a relação 
terapêutica seria, obviamente, descaracterizada. O trabalho terapêutico é, 
em si, uma prática de amor, pela qual o terapeuta cria condições para que 
o cliente possa ouvir, ver, compreender, aceitar e amar a si mesmo.
Parafraseando seu próprio conceito de amor, Cardella (1994, p. 
59) define: “O amor terapêutico manifesta-se através de um estado e um 
modo de ser caracterizados pela integração e diferenciação da personali-
dade que nos permite ver, aceitar e encontrar o outro (cliente) como um 
ser único, diferenciado, e semelhante na sua condição de humano”.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ser um gestalt-terapeuta é estar em contato pleno com todas as 
coisas, com todos os pontos infinitos que integram o Universo, seja o físi-
co ou o psicológico. E isso constantemente, pois não existe hora marcada 
para se ajudar uma pessoa; o gestalt-terapeuta não permanece gestalt-te-
rapeuta somente dentro do consultório, mas, sobretudo, fora dele, quando 
vai para casa, quando enfrenta a fila do pão, quando está entre amigos, 
quando também precisa de ajuda.
Trata-se da responsabilidade que temos perante nós mesmos e o 
outro, esse outro que é a essência do gestalt-terapeuta, cuja meta é ajudá-
-lo, abraçá-lo, mostrar que ele não está sozinho. O filósofo Platão (428/27 
a.C. – 347 a.C.) postulou algo inusitado, que nem por isso deixa de ser 
verdadeiro: ‘O corpo humano é a carruagem, eu, o homem que a conduz, 
os pensamentos as rédeas, os sentimentos são os cavalos’. O gestalt-tera-
peuta seria aquele que alimentaria os cavalos na noite anterior para que a 
viagem flua harmoniosa e chegue ao seu destino, a fim de que a carrua-
gem cumpra sua missão existencial e tenha, ela própria, sentido. 
Para ser gestalt-terapeuta, portanto, é preciso amar incondicional-
mente e ver o outro (cliente) como a si próprio, transcender o técnico e o 
profissional e ser, sobretudo, um artista, já que Perls diz que a Gestalt-tera-
pia é uma arte, uma arte do bem, da paz e da harmonia que precisam ser 
buscadas dentro de cada um. Não basta apenas ter afinidade e conhecer 
a teoria, é necessário confundir-se com ela, uma vez que Gestalt-terapia é, 
acima de tudo, um jeito de ser.
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REFERÊNCIAS

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